6.1 Descaso com o bem público
6.1.1 Reportagem 1
HOSPITAIS/CORREDÔMETRO - CE
CABEÇA: EM FORTALEZA OS HOSPITAIS PÚBLICOS ANDAM TÃO CHEIOS QUE OS MÉDICOS CRIARAM UM MEDIDOR DO
NÚMERO DE PACIENTES ATENDIDOS NOS CORREDORES.
OFF: É TANTA MACA PELOS CORREDORES DO MAIOR HOSPITAL PÚBLICO DO CEARÁ QUE OS MÉDICOS
TIVERAM QUE CRIAR UMA ESPÉCIE DE MAPA PARA SABER ONDE ESTÃO OS PACIENTES. AS INDICAÇÕES MOSTRAM QUEM ESTÁ PERTO DO REFEITÓRIO, DAS JANELAS OU ATÉ MESMO PRÓXIMO AO SAGUÃO. ESTAS
FOTOS REVELAM QUE NO HOSPITAL MUNICIPAL HÁ PACIENTES NO CHÃO DOS CORREDORES. A SITUAÇÃO LEVOU OS MÉDICOS A CRIAREM O QUE CHAMARAM DE
CORREDÔMETRO: UMA CONTAGEM DIÁRIA PUBLICADA NA INTERNET DE QUEM ESTÁ SENDO ATENDIDO NOS CORREDORES. HOJE, NOS CINCO MAIORES HOSPITAIS DE
EMERGÊNCIA E NAS NOVE UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO DE FORTALEZA, QUASE 400 ESTÃO NOS CORREDORES.
PASSAGEM: A SITUAÇÃO SE REFLETE AQUI, NAS PESSOAS QUE PRECISAM DE ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA, E MUITAS VEZES ACABAM DESISTINDO, DEPOIS DE HORAS
DE ESPERA. E QUEM PRECISA DE EXAMES, INTERNAÇÕES
BÁSICOS. (SONORA), ESTA MULHER ESPERA POR UM RAIO
X PARA SABER SE QUEBROU A PERNA (SONORA). O PREFEITO DE FORTALEZA DIZ QUE O HOSPITAL MUNICIPAL, AQUELE QUE OS PACIENTES ESTÃO NO CHÃO DOS CORREDORES ESTÁ SOBRECARREGADO PORQUE RECEBE PACIENTES DE OUTRAS CIDADES (SONORA). A PRESIDENTE DO SINDICATO DOS MÉDICOS CRITICOU DECLARAÇÃO DO PREFIETO (SONORA). ONTEM O GOVERNO ANUNCIOU A EXONERAÇÃO DO SECRETÁRIO ESTADUAL HOJE DE SAÚDE, O INTERINO DISSE QUE A SITUAÇÃO ESTÁ SE NORMALIZANDO. (SONORA).
TEMPO: 2:21
Figura 6: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre os hospitais do Ceará
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/05/12.html. Acesso em: 27 ago. 2016.
Na reportagem (Figura 6), as representações sociais do Descaso com o bem público são objetivadas pelas expressões em negrito: “Os médicos tiveram que criar uma espécie de mapa para saber onde estão os pacientes” e ainda: “A situação levou os médicos a criarem o que chamaram de corredômetro: uma contagem diária publicada na internet de quem está sendo atendido nos corredores”. Dessa forma, a reportagem vai mostrando a gravidade da situação ao enquadrar a ideia do “corredômetro”, que fica visível nas imagens que enquadram os pacientes em macas distribuídas pelos corredores do hospital ou até mesmo espalhados pelo chão. Outras expressões como, “depois de horas de espera” e “esbarra na falta de materiais” são termos utilizadas para representar o descaso do serviço prestado à população.
6.1.2 Reportagem 2
CARROS/ABANDONADOS – MA
CABEÇA: EM SÃO LUÍS, CARROS OFICIAIS, COMPRADOS COM DINHEIRO PÚBLICO, ESTÃO AGORA ABANDONADOS E
OFF: O JORNAL NACIONAL FOI AO PÁTIO DA BLITZ URBANA, O DEPARTAMENTO DA PREFEITURA DE SÃO LUÍS QUE FISCALIZA O CUMPRIMENTO DE LEIS MUNICIPAIS. ALGUNS CARROS USADOS NA FISCALIZAÇÃO FORAM COMPRADOS HÁ MENOS DE CINCO ANOS. DEZ DELES ESTÃO ABANDONADOS,
SEM RODA, QUEBRADOS. O MATO TOMOU CONTA DA CARROCERIA DO CAMINHÃO QUE RECOLHE O MATERIAL
APREENDIDO NAS FISCALIZAÇÕES.
A SITUAÇÃO SE REPETE EM OUTROS ÓRGÃOS PÚBLICOS. EM MUITOS CASOS, CARROS NOVOS SÃO COMPRADOS E A
FROTA ANTIGA SIMPLESMENTE É DESCARTADA. ENQUANTO AGUARDA DESTINAÇÃO, SOFRE OS EFEITOS DO TEMPO. AÍ OS CARROS VÃO FICANDO... VÃO FICANDO... ATÉ VIRAREM SUCATA. É QUANDO O DINHEIRO PÚBLICO SE TRANSFORMA EM LIXO. NO PÁTIO DO INCRA, EM SÃO LUÍS, MAIS UM EXEMPLO DE DINHEIRO PÚBLICO JOGADO FORA. DEZENAS DE VEÍCULOS DA FROTA ANTIGA NUNCA
FORAM NEGOCIADOS, E HOJE ESTÃO TODOS ESTRAGADOS,
TOMADOS PELA FERRUGEM. NO PÁTIO DA SECRETARIA DE
ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA, CARROS COMPRADOS COM DINHEIRO DO GOVERNO FEDERAL HÁ MENOS DE 10 ANOS TAMBÉM ESTÃO DETERIORADOS OU DEPENADOS. TEM VIATURAS E ATÉ UMA AMBULÂNCIA. EM UM PÁTIO ALUGADO PELA AGÊNCIA ESTADUAL DE DEFESA AGROPECUÁRIA, MAIS UM CEMITÉRIO DE CARROS EM
BOAS CONDIÇÕES. CARROS POPULARES E PICK-UPS DE
LUXO. UMA DELAS CUSTA MAIS DE R$ 50 MIL. DE ACORDO COM O MINISTÉRIO PÚBLICO, CABE AO ADMINISTRADOR
DAR DESTINO CORRETO AOS VEÍCULOS. FAZER MANUTENÇÃO SE ESTIVEREM QUEBRADOS OU LEILOAR O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL ANTES QUE SE ESTRAGUEM, SE NÃO TIVEREM MAIS CONDIÇÕES DE USO. E EM PLENO PERÍODO DE VACINAÇÃO DO GADO CONTRA A FEBRE AFTOSA NAS FAZENDAS DO INTERIOR, CARROS QUE PODERIAM REFORÇAR AS EQUIPES ESTÃO COBERTOS PELO MATO E
ATOLADOS NO ABANDONO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO
MARANHÃO DECLAROU QUE VAI INVESTIGAR ESSAS DENÚNCIAS. O JORNAL NACIONAL TENTOU OUVIR OS RESPONSÁVEIS PELOS PÁTIOS MOSTRADOS NA REPORTAGEM, MAS NENHUM DELES QUIS GRAVAR ENTREVISTA. O INCRA AFIRMOU QUE JÁ FORMALIZOU O PROCESSO PARA LEILOAR OS CARROS. A PREFEITURA DE SÃO LUÍS E A AGÊNCIA ESTADUAL DE DEFESA AGROPECUÁRIA INFORMARAM QUE AGUARDAM O FIM DE ALGUNS PROCEDIMENTOS LEGAIS PARA COMEÇAR O LEILÃO. A SECRETARIA ESTADUAL DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA AFIRMOU QUE ESTÁ APURANDO A ORIGEM DOS CARROS.
Figura 7: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre carros abandonados em São Luís do Maranhão
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/05/16.html. Acesso em: 20 nov. 2015.
O descaso com o bem público (Figura 7) é ancorado logo na cabeça da reportagem pelas expressões: “abandonados e apodrecendo”. “O mato tomou conta da carroceria do caminhão”. A representação sobre o abandono dos automóveis, comprados com dinheiro público, vai sendo enquadrada e objetivada ao longo do texto: “Um cemitério de carros em boas condições”, “lixo”, “carros depenados”, reforçando a ideia de destruição pelo efeito do tempo e do descaso do homem, transformando os automóveis que acabam virando sucata. As objetivações vão transformando a ideia do descaso numa imagem de abandono: “É quando o dinheiro público se transforma em lixo”, “Mais um cemitério de carros em boas condições”, “No pátio do Incra, em São Luís, mais um exemplo de dinheiro público jogado fora” ou ainda “E em pleno período de vacinação do gado contra a febre aftosa nas fazendas do interior, carros que poderiam reforçar as equipes estão cobertos pelo mato e atolados no abandono”.
6.1.3 Reportagem 3
MICROCEFALIA/AUMENTO - PE
CABEÇA: PERNAMBUCO CONCENTRA O MAIOR NÚMERO DE CASOS DE MICROCEFALIA. ALÉM DO ZIKA VÍRUS, O MOSQUITO AEDES AEGYPTI TRANSMITE OUTRAS DOENÇAS, COMO DENGUE E CHIKUNGUNYA. E O RECIFE FEZ NESTE
SÁBADO (28) UM MUTIRÃO PARA COMBATÊ-LO.
OFF: NAS EMERGÊNCIAS LOTADAS NO RECIFE, PACIENTES
COM SINTOMAS SEMELHANTES.
“MUITAS DORES, PRINCIPALMENTE NAS JUNTAS”, QUEIXA-SE UM PACIENTE.
PODER DE FOGO DO MOSQUITO ESTÁ DANDO MUITO TRABALHO PARA OS O MÉDICOS.
“O AEDES AEGYPTI ESTÁ LEVANDO TRÊS TIPOS DE VÍRUS, DENGUE, CHIKUNGUNYA E ZIKA. HOJE, DAS CONSULTAS QUE NÓS ESTAMOS FAZENDO, 40% A 60% DE AUMENTO”, DIZ O MÉDICO HONÓRIO JUSTINO JUNIOR. O MOVIMENTO NOS HOSPITAIS NÃO PARA DE CRESCER. SÓ EM 2015, NO RECIFE, FORAM REGISTRADOS 15.168 CASOS DE DENGUE. O NÚMERO É 20 VEZES MAIOR DO QUE EM 2014.
UM MUTIRÃO ENVOLVENDO VÁRIAS AUTORIDADES E 600
AGENTES DE SAÚDE AMBIENTAL REFORÇOU O COMBATE
AO AEDES AEGYPTI. A ESTRATÉGIA AGORA É IR ATÉ ONDE MORA O PERIGO. E ELE ESTÁ MAIS PERTO DO QUE MUITA GENTE IMAGINA. NO RECIFE, 80% DOS FOCOS DO
AEDES AEGYPTI ESTÃO DENTRO DAS CASAS DO CIDADÃO
COMUM. E MESMO SEM QUERER, SÃO OS MORADORES QUE ESTÃO ATRAINDO OS MOSQUITOS. COM A FALTA
D’ÁGUA, É COMUM ENCHER DEPÓSITOS QUE ATRAEM OS MOSQUITOS. OS TÉCNICOS DIZEM QUE UMA FAXINA DE DEZ
MINUTOS UMA VEZ POR SEMANA NOS LOCAIS QUE JUNTAM ÁGUA É ESSENCIAL. NÃO SE ESQUECENDO DAS
CAIXAS D’ÁGUA, VASOS E GARRAFAS E ATÉ DE POTES DE ÁGUA PARA OS ANIMAIS DOMÉSTICOS. “O CICLO DE REPRODUÇÃO DO MOSQUITO É ALGO EM TORNO DE NOVE A 12 DIAS. ENTÃO DEZ MINUTOS DE DEDICAÇÃO A IDENTIFICAÇÃO DOS FOCOS, NÓS TEREMOS A INTERRUPÇÃO DO CICLO”, DIZ JURANDIR ALMEIDA, GERENTE DA VIGILÂNCIA AMBIENTAL E CONTROLE DE ZOONOSES. SIMONE JÁ COMEÇOU A LIMPEZA. “A PREGUIÇA FICA LÁ ATRÁS, VAMOS COMBATER A DENGUE”, AFIRMA.
TEMPO: 1:57
Figura 8: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre microcefalia em Pernambuco
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/11/forca-tarefa-combate-mosquito- transmissor-da-dengue-no-recife.html. Acesso em: 5 fev.2015.
As representações sociais das doenças provocadas pelo mosquito Aedes aegypti, como a microcefalia, a dengue e a chikungunya, são ancoradas como uma luta que deve ser combatida. As expressões que ancoram o problema são: “um mutirão para combatê-lo”, “O poder de fogo do
mosquito”, “O movimento nos hospitais não para de crescer” e ainda “A estratégia agora é ir até onde mora o perigo. E ele está mais perto do que muita gente imagina”. A representação do inimigo como um hóspede não desejado está presente em toda a construção da narrativa: “No Recife, 80% dos focos do Aedes aegypti estão dentro das casas do cidadão comum. E mesmo sem querer, são os moradores que estão atraindo os mosquitos”. Também fica claro nas reportagens um outro tipo de enquadramento dado ao problema. Algumas reportagens creditam a culpa pela epidemia e proliferação do mosquito à falta de esforço dos moradores no combate ao
Aedes aegypti, reduzindo, de certa forma, a complexidade do fato e isentando a responsabilidade
do Poder Público: “Os técnicos dizem que uma faxina de dez minutos uma vez por semana nos locais que juntam água é essencial”.
6.2. Conflito
6.2.1 Reportagem 1
VIOLÊNCIA/GRADES - AL
CABEÇA: EM MACEIÓ, O MEDO DE ASSALTOS PROVOCOU
UMA REAÇÃO DE DEFESA ENTRE OS COMERCIANTES.
OLHAR A RUA POR TRÁS DAS GRADES É A ROTINA DE
COMERCIANTES, REFÉNS DO MEDO.
OFF: DONA EDNA TRABALHA ASSIM HÁ 15 ANOS. "É MEDO DE ASSALTO", DIZ. CADEADO NO PORTÃO DA ESCOLA.
GRADES POR TODOS OS LUGARES. OS ASSALTOS OCORREM A QUALQUER HORA MESMO NAS AVENIDAS MAIS MOVIMENTADAS. NUMA É SEMPRE ASSIM: MUITA
GENTE, MUITOS CARROS E MUITO MOVIMENTO. MAS A
PAISAGEM REVELA O MEDO DOS COMERCIANTES. A MAIORIA DAS LOJAS ESTÁ PROTEGIDA POR GRADES.
NUM BAIRRO A MENOS DE TRÊS QUILÔMETROS DO CENTRO DA CAPITAL, HOUVE UM AUMENTO DAS
ENCOMENDAS NAS SERRALHERIAS. DE UMA DELAS SAEM PELO MENOS DEZ GRADES POR SEMANA. "SE NÃO
FOR ESSAS GRANDES AS PESSOAS NÃO SE SENTEM PROTEGIDAS", DIZ PRISCILA APARECIDA PEREIRA, GERENTE E METALÚRGICA. A VIOLÊNCIA DEIXA TRAUMAS, E LEVA AS VÍTIMAS A ESCONDER O ROSTO. "EU ESTOU PRESA AQUI ENQUANTO O BANDIDO TÁ SOLTO. ATÉ PARA FECHAR O SALÃO EU TENHO QUE
CHAMAR ALGUMA PESSOA PARA FECHAR COMIGO, PORQUE EU FIQUEI COM MEDO DELE CHEGAR E BOTAR A ARMA EM CIMA DE MIM DE NOVO", DIZ UMA VÍTIMA QUE NÃO QUIS SE IDENTIFICAR. A SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL DE ALAGOAS REGISTROU, NOS DOIS PRIMEIROS
MESES DESTE ANO, 49 ASSALTOS A LOJAS E RESIDÊNCIAS. HOUVE UMA REDUÇÃO EM RELAÇÃO AO MESMO PERÍODO DO ANO PASSADO. PARA A SECRETARIA, FOI REFLEXO DO AUMENTO DE POLICIAMENTO NA REGIÃO. MAS OS MORADORES AINDA ESTÃO ASSUSTADOS. ESSA COSTUREIRA NÃO ABRE O PORTÃO NEM PARA FALAR
COM A NOSSA EQUIPE DE REPORTAGEM. RIVANEIDE
SOARES, COSTUREIRA – “TODO MUNDO AQUI, QUASE TODO MUNDO JÁ FOI ASSALTADO. VOCÊ PODE OLHAR TODO MUNDO É NA GRADE”. JORNAL NACIONAL - QUAL É A SENSAÇÃO DE TRABALHAR ASSIM? RIVANEIDE – “HORRÍVEL. TODA A HORA EU TENHO QUE ME LEVANTAR E ABRIR A PORTA”.
TEMPO: 1:41
Figura 9: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre assaltos em Alagoas
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/04/comerciantes-instalam-grades- em-lojas-por-medo-de-assaltos-em-maceio.html. Acesso em: 27 abr. 2015.
O enquadramento dado à representação Conflito é ancorado pela ideia de uma população refém dos assaltantes: “O medo de assaltos provocou uma reação de defesa entre os comerciantes. Olhar a rua por trás das grades é a rotina de comerciantes, reféns do medo”. O clima de violência na comunidade também é objetivado pela imagem de uma paisagem ilustrada por cadeados, grades, portões de ferro. “A paisagem revela o medo dos comerciantes. A maioria das lojas está protegida por grades”; “Houve um aumento das encomendas nas serralherias. De uma delas saem pelo menos dez grades por semana”.
O comportamento das pessoas em relação ao medo é classificado num sistema de denotação, de alocação de categorias e nomes. “No momento em que nós podemos falar sobre algo, avaliá-lo e então comunicá-lo [...], então nós podemos representar o não usual em nosso mundo familiar” (MOSCOVICI, 2009, p. 62).
6.2.2 Reportagem 2
FARRA/PRESÍDIO - PE
CABEÇA: NOVAS IMAGENS, OBTIDAS COM EXCLUSIVIDADE PELO JORNAL NACIONAL, REVELAM DIVERSAS IRREGULARIDADES NO MAIOR COMPLEXO PENITENCIÁRIO DE PERNAMBUCO. AS CENAS DESSA
FARRA DOS PRESOS ESTÃO NA REPORTAGEM DE ÉDISON
SILVA E BEATRIZ CASTRO.
OFF: FESTA COM JOGO DE LUZES E MÚSICA ELETRÔNICA. OS PRESOS SE DIVERTEM DENTRO DE UMA CELA DO PRESÍDIO ANTÔNIO LUIZ LINS DE BARROS,
NO RECIFE. UM OUTRO GRUPO PREFERE O VIDEOGAME.
ALGUMAS CELAS TÊM APARELHOS DE TV, VENTILADORES, FRIGOBAR E ATÉ FREEZER. COM A FACA NA MÃO, O PRESO PREPARA A COMIDA.
EM UMA CELA FOI INSTALADA UMA FÁBRICA DE CACHAÇA ARTESANAL. A PRODUÇÃO É FARTA, O COMÉRCIO SE MULTIPLICA. SÃO DEZENAS DE PEQUENAS VENDAS COM COMIDA E MATERIAL DE LIMPEZA. A PROFISSÃO MAIS COMUM É A DE BARBEIRO, MAS TEM TAMBÉM QUEM CONSERTE RELÓGIOS. AS BRIGAS SÃO FREQUENTES. AS IMAGENS TAMBÉM MOSTRAM O CONSUMO DE MACONHA. UM EX-
DETENTO, QUE CUMPRIU PENA POR ASSALTO ATÉ O ANO PASSADO, CONTA O QUE ACONTECE DENTRO DO PRESÍDIO.
JORNAL NACIONAL: QUE DROGA VOCÊ CHEGOU A CONSUMIR DENTRO DO PRESÍDIO? EX-PRESIDIÁRIO: CACHAÇA, MACONHA, CRACK. JORNAL NACIONAL: COM DINHEIRO VOCÊ COMPRA QUALQUER TIPO DE DROGA ALI DENTRO? EX-PRESIDIÁRIO: QUALQUER TIPO DE DROGA. JORNAL NACIONAL: TEM MUITO FORNECEDOR LÁ DENTRO? EX-PRESIDIÁRIO: TEM, TEM. TODO PAVILHÃO TEM. JORNAL NACIONAL: E QUANDO ELE NÃO CONSEGUE PAGAR, O QUE QUE ACONTECE? EX-PRESIDIÁRIO: MUITAS VEZES ELE MORRE. FICA ALEIJADO, PERDE UM BRAÇO OU A VIDA. DENTRO DA UNIDADE, ELES PREPARAM O
CIMENTO PARA CONSTRUIR QUARTOS SOBRE AS CELAS. O PUXADINHO É CHAMADO DE “BARRACO” PELOS PRESOS. DEZENAS DE ESCADAS SÃO USADAS POR
QUEM MORA NA PARTE DE CIMA. ALGUMAS CELAS SÃO
BEM EQUIPADAS E CUSTAM CARO. “NO MÍNIMO MIL
REAIS. CHEGA ATÉ A 20, MAIS OU MENOS ISSO”, DIZ UM PRESO. NO CONJUNTO DE TRÊS PRESÍDIOS, COM CAPACIDADE PARA 1.800 PRESOS, ESTÃO 7 MIL. NESTA TERÇA-FEIRA (6) O JORNAL NACIONAL MOSTROU QUE
MURO NÃO TEM SIDO SUFICIENTE PARA EVITAR A ENTRADA DE DROGAS, ARMAS E CELULARES NOS PRESÍDIOS. APESAR DA COLOCAÇÃO DAQUELA TELA
PARA AUMENTAR A DIFICULDADE, SÃO COMUNS OS
ARREMESSOS DE PACOTES POR CIMA DO MURO. É O QUE OS PRESOS CHAMAM DE MALOTE. EM UMA
REVISTA FEITA NESTA QUARTA-FEIRA (7), TODO O MATERIAL FOI RECOLHIDO EM UM ÚNICO PAVILHÃO: 58 FACÕES, 56 FACAS, 14 CELULARES, ALÉM DE COLA DE SAPATEIRO, MACONHA E CRACK. “ESSA QUANTIDADE DE MATERIAL MOSTRA QUE NÓS PRECISAMOS TER UM EFETIVO AINDA MAIOR, PRECISAMOS TER UM CONTROLE AINDA MAIOR E PRECISAMOS TER UMA EFICÁCIA MAIOR NO TRABALHO”, AFIRMA O JUIZ CORREGEDOR DOS PRESÍDIOS LUIZ ROCHA. NESTA QUARTA DE MANHÃ, O SECRETÁRIO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PERNAMBUCO, HUMBERTO INOJOSA, RESPONSÁVEL PELOS PRESÍDIOS DO ESTADO, PEDIU DEMISSÃO DO CARGO. O SECRETÁRIO DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS DE PERNAMBUCO, PEDRO EURICO, AFIRMOU QUE NOVOS PRESÍDIOS VÃO SER CONSTRUÍDOS PARA REDUZIR A SUPERLOTAÇÃO. ELE TAMBÉM DISSE QUE AS REVISTAS SERÃO PERIÓDICAS, E QUE NÃO VAI ADMITIR A CIRCULAÇÃO DE PRESOS COM ARMAS.
TEMPO: 3:12
Figura 10: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre rebelião numa penitenciária de Pernambuco
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/01/imagens-mostram-farra-de- presos-em-complexo-penitenciario-de-pe.html. Acesso em: 9 mar. 2015.
As representações do conflito provocado pela rebelião no maior complexo penitenciário do Estado de Pernambuco são objetivadas nas imagens de que a cadeia é um ambiente de festas, jogos e dança: “Festa com jogo de luzes e música eletrônica. Os presos se divertem dentro de uma cela do presídio [...]. Um outro grupo prefere o videogame. Algumas celas têm aparelhos de TV, ventiladores, frigobar e até freezer. Com a faca na
mão, o preso prepara a comida”. Em toda a narrativa, a falta de disciplina e anarquia, num lugar onde deveriam existir regras rigorosas de comportamento e conduta, são ancoradas pela tentativa de explicar o inexplicável. “Em uma cela foi instalada uma fábrica de cachaça artesanal. A produção é farta, o comércio se multiplica. São dezenas de pequenas vendas com comida e material de limpeza. A profissão mais comum é a de barbeiro, mas tem também quem conserte relógios”.
De acordo com Moscovici (2009), a generalização ou a particularização para classificar o objeto é um desejo de defini-lo como normal ou aberrante. “É isso que está em jogo em todas as classificações de coisas não-familiares — a necessidade de defini-las como conformes, ou divergentes, da norma” (MOSCOVICI, 2009, p. 65). A representação social do Conflito é enquadrada numa tentativa de mostrar como a cena é aberrante: “[...] eles carregavam facões tranquilamente. O muro não tem sido suficiente para evitar a entrada de drogas, armas e celulares nos presídios. [...] são comuns os arremessos de pacotes por cima do muro. É o que os presos chamam de malote”.
6.2.3 Reportagem 3
ESCOLA/TERROR – PB
CABEÇA - OS ALUNOS E OS PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA PERIFERIA DE JOÃO PESSOA PASSARAM POR
MOMENTOS DE TERROR NESTA SEGUNDA-FEIRA (1). ASSALTANTES FIZERAM UM ARRASTÃO.
OFF - EM 15 ANOS DE PROFISSÃO, A PROFESSORA NÃO IMAGINOU QUE VIVERIA 15 MINUTOS DE TANTO DESESPERO. "FORAM 15 MINUTOS DE MEDO, DE PÂNICO, DE
TERROR. NÓS SOMOS UMA ESCOLA, A GENTE SÓ QUER ENSINAR E QUE OS MENINOS TENHAM DIREITO DE APRENDER. A GENTE SÓ QUER ISSO", AFIRMA A DIRETORA ANA KARLA. OS BANDIDOS CHEGARAM POR UM DESCAMPADO NOS FUNDOS DA ESCOLA E NÃO TIVERAM
DIFICULDADE PARA PASSAR PELO PORTÃO, QUE JÁ
ESTAVA DESTRANCADO, E ENCONTRAR ALGUMA JANELA ABERTA. NO MEIO DA AULA DE INGLÊS, ELES INVADIRAM A SALA E COMEÇARAM O ARRASTÃO. ARMADOS COM REVÓLVERES, OS CRIMINOSOS ROUBARAM A PROFESSORA E OS ESTUDANTES. EM SEGUIDA, FORAM EM OUTRAS SETE SALAS DE AULA. SEGUNDO A POLÍCIA, OS BANDIDOS LEVARAM PELO MENOS 80 CELULARES. “ELE PULOU PELA JANELA E ME PEGOU PELOS CABELOS. ASSALTOU NAS SALAS, EU SAÍ CORRENDO GRITANDO”, RELEMBRA UMA PROFESSORA. NO DESESPERO, OS ESTUDANTES
ARROMBARAM JANELAS PARA FUGIR. ALGUMAS TINHAM SIDO TRANCADAS COM PREGOS, JUSTAMENTE PARA EVITAR ASSALTOS. TRÊS ALUNAS PASSARAM MAL E PRECISARAM
SER SOCORRIDAS. DUAS DELAS ESTÃO GRÁVIDAS. A
ESCOLA FOI FECHADA E SÓ DEVE VOLTAR A FUNCIONAR APÓS UMA REUNIÃO COM PROFESSORES, PAIS E ALUNOS. NO LOCAL, NÃO HÁ CÂMERAS DE SEGURANÇA. AS POLÍCIAS CIVIL E MILITAR ESTÃO TENTANDO IDENTIFICAR OS ASSALTANTES. “OS DEPOIMENTOS JÁ ESTÃO SENDO TOMADOS TANTO DAS VÍTIMAS QUANTO POSSÍVEIS TESTEMUNHAS”, DIZ O DELEGADO ISAÍAS GUALBERTO "ME SENTI INCAPAZ. SOU PROFESSORA, ESTOU DIRETORA, MAS ME SENTI UM SER HUMANO INCAPAZ DE AJUDAR O PRÓXIMO, INCAPAZ DE SALVAR MEUS ALUNOS", LAMENTA ANA KARLA.
TEMPO: 1:49
Figura 11: Imagens da reportagem exibida no “Jornal Nacional” sobre assalto numa escola da Paraíba
Fonte: G1. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/06/01.html. Acesso em: 30 mar. 2016.
O terror dos alunos assaltados dentro de uma escola é ancorado na reportagem por expressões como: “ [...] 15 minutos de tanto desespero”, “[...] Passaram por momentos de terror”. A palavra “arrastão”, expressão que já entrou na categoria das representações sobre a violência no País, serviu para unir a ideia de não-familiaridade com a de realidade, num processo de representação que Moscovici (2009) chama de “objetivação”, para dar sentido à impotência sofrida pelos professores e alunos durante o assalto: “Assaltantes fizeram um arrastão”. Para o autor, a objetivação é percebida primeiramente como um universo puramente intelectual e remoto, aparecendo diante dos olhos, física e acessível, sendo a materialização de uma abstração: “[...] é a arte de transformar uma representação na realidade da representação: transformar a palavra que substitui a coisa, na coisa que substitui a palavra” (MOSCOVICI, 2009, p. 71).
6.3 Manifestações Culturais
6.3.1 Reportagem 1
DIA DE REIS/CEARÁ - CE
CABEÇA: HOJE É SEIS DE JANEIRO. EM FORTALEZA, O DIA
DE REIS É MARCADO PELA TRADIÇÃO E POR MUITA FESTA.
OFF: UM COLORIDO ANIMADO SURGE POR TODA PARTE.
OS REIS ESTÃO NAS PRAÇAS. NO MEIO DA RUA. UM
GRUPO DE ESTUDANTES, SERVIDORES E EX-ALUNOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ SE REÚNE TODOS OS ANOS EM FORTALEZA PARA MANTER A TRADIÇÃO
CRISTÃ QUE CHEGOU COM OS PORTUGUESES.
"PENSANDO NO REISADO COMO UMA BRINCADEIRA POPULAR TRADICIONAL, QUE LEVA O ENCANTAMENTO, DIVERSOS PERSONAGENS", AFIRMA O MESTRE DO REISADO PAULO HENRIQUE LEITÃO DOS SANTOS. "DESDE QUANDO EU ERA PEQUENA, EU SEMPRE VIA ELES SE APRESENTANDO, DANÇANDO, ENSAIANDO, AÍ EU TIVE VONTADE DE VIM", CONTA A RAINHA DO REISADO KAREN BRAZ LIMA DE PAULA. VONTADE ESTIMULADA LOGO NO
PRIMEIRO ANO DE VIDA. É ASSIM QUE O REISADO ATRAVESSA GERAÇÕES. E JÁ QUE A RAZÃO PRINCIPAL
DO REISADO É RELEMBRAR A VISITA DOS REIS MAGOS AO