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CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS:

I. GENERAL CONSIDERATIONS

4 A PESQUISA E O OPERA PRIMA

O presente estudo classifica-se como uma pesquisa aplicada. A pesquisa aplicada caracteriza-se por seu interesse prático, busca gerar conhecimentos dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais (LAKATOS; MARCONI, 1999). Seu objetivo é primeiramente confirmar a existência de um problema identificado na formação do arquiteto e urbanista, para então sugerir soluções para este problema.

Essa pesquisa, em relação à forma de abordagem do problema, trabalha sob dois enfoques: quantitativo e qualitativo. Nas primeiras etapas a análise foi predominantemente quantitativa, posteriormente o trabalho foi aplicado de forma qualitativa.

A pesquisa quantitativa é traduzida em números, opiniões e informações, empregando um instrumental estatístico para classificá-los e analisá-los. Procura entender e explicar fenômenos de forma estruturada, procurando eximir os resultados de motivos, crenças, valores, comportamentos e percepções individuais (ROSETTO, 2003).

Já a pesquisa qualitativa, considera o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento, os dados coletados são predominantemente descritivos, a preocupação com o processo é tão importante quanto o produto e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Esta abordagem é descrita como um “guarda-chuva” cobrindo técnicas interpretativas que buscam descrever, decodificar, traduzir e dar significado aos termos de certos fenômenos que ocorrem naturalmente no mundo social. Nas ciências sociais e humanas esta abordagem é utilizada em alternativa à intensa aplicação de métodos quantitativos de base positivista (ROSETTO, 2003).

O que diferencia a abordagem qualitativa é a crença de que o ambiente no qual as pessoas encontram-se tem uma grande relevância sobre o que elas pensam e como elas agem. Assim, as ações devem ser interpretadas dentro destes contextos, com a clara convicção de que as ações humanas são sensíveis ao mesmo (ROSETTO, 2003).

A utilização das duas abordagens, simultaneamente, tem o objetivo de preencher as lacunas que seriam deixadas caso fossem aplicadas isoladamente, tendo em vista que o fenômeno a ser observado, a formação do arquiteto e urbanista, é por demais complexo para ser estudado, senão a partir de uma ótica diversificada.

Em relação aos objetivos, essa pesquisa pode ser classificada como exploratória e analítica. Exploratória, pois, a fim de responder às perguntas norteadoras da pesquisa, é

necessário levantar dados sobre o objeto do estudo, o contexto do estudo, as dimensões e variáveis envolvidas. Esta abordagem é recomendada quando há pouco conhecimento sobre o problema estudado, como é o caso da sustentabilidade na formação do arquiteto. Entretanto, por ser uma pesquisa aplicada, não basta explicitar o problema, é também preciso propor soluções, exemplificá-las e descrevê-las (ROSETTO, 2003).

A pesquisa analítica observa, registra, analisa e correlaciona fatos e variáveis e procura descobrir, a freqüência, as relações, as conexões de fenômenos, sua natureza e características. Na aplicação do sistema proposto, ao descrever detalhadamente suas características, analisando os resultados obtidos e as relações entre as variáveis envolvidas, o estudo também se caracterizou como uma pesquisa analítica (ROSETTO, 2003).

Depois de identificado o caráter da pesquisa, vários procedimentos foram definidos a fim de ordenar as ações necessárias ao andamento do trabalho e responder ao problema proposto.

Foi escolhida a observação direta extensiva através de questionário, que de acordo com Lakatos e Marconi (1999) é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas respondidas por escrito sem a presença do entrevistador.

As vantagens da utilização do questionário como instrumento de coleta de dados são que os entrevistados se sentem mais à vontade para responder as questões e expor seu ponto de vista, podem responder o questionário na hora escolhida, atinge um maior número de pessoas ao mesmo tempo, há menor risco de interferência do pesquisador nas respostas, entre outras. A principal desvantagem é que o entrevistado tem maior tempo de elaborar as respostas, e então nem sempre são espontâneas (MARCONI; LAKATOS, 1996).

As questões podem ser abertas, permitindo que o respondente escreva livremente, mas dificulta a interpretação dos dados apesar de possuir um resultado mais rico de informações; fechadas, com apenas duas alternativas de resposta; ou de múltipla escolha, com várias opções de resposta, ambas facilitando a análise dos dados.

Nesta pesquisa optou-se por usar questões abertas e de múltipla escolha, de acordo com o que se pretendia em cada pergunta. As etapas da pesquisa foram: a especificação dos objetivos, a operacionalização dos conceitos e variáveis, a elaboração do instrumento de coleta de dados, o pré-teste do instrumento, a seleção da amostra, a coleta e verificação dos dados, a análise e interpretação dos dados e finalmente a apresentação dos resultados.

Para elaboração do questionário definitivo, foi realizado um pré-teste, através de entrevista com nove estudantes de arquitetura da UFMG. A partir da revisão desse pré-teste, para corrigir possíveis induções de respostas, extenso questionamento, perguntas desnecessárias,

ordem correta das questões e falta de vontade do respondente, foi desenvolvido um questionário aberto para estudantes de arquitetura, e outro para arquitetos.

Os questionários foram enviados pela Internet, via e-mail, para arquitetos e estudantes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Brasília e Paraná e, através de terceiros, para outros estados brasileiros, Rio Grande do Sul, Amazonas e Ceará, como também outros países, como EUA, Colômbia, Chile, Itália e Índia.

No total foram recebidos 115 questionários respondidos. Todos eles foram analisados e interpretados, com os dados reunidos em gráficos, e em seguida descritos os resultados.

Posteriormente, essa pesquisa quantitativa teve seu questionário aberto revisado e alterado para um questionário misto – questões abertas e questões de múltipla escolha - com o objetivo de ser aplicado de forma qualitativa entre os premiados do Concurso Opera Prima.

Depois de iniciada a pesquisa, foi encontrado um interessante exemplo de pesquisa semelhante, realizada por Gustavo Focesi Pinheiro, da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, para sua dissertação de mestrado em Engenharia Civil, na área de concentração de Edificações, intitulada O gerenciamento da construção civil e o desenvolvimento sustentável: um enfoque sobre os profissionais da área de edificações e defendida em junho de 2002. Pinheiro (2002) aplicou questionários entre engenheiros e arquitetos para verificar se os mesmos estão preparados para reduzir o impacto das edificações sobre o meio ambiente.

Para o autor (2002, p. 127) “a conscientização dos profissionais e o incentivo ao estudo e aplicação de práticas que aproximem a construção civil do desenvolvimento sustentável e do ambiente, é possível e indispensável, pois, as cidades com suas edificações são um dos maiores instrumentos de transformação do meio”.

Pinheiro complementa que, de acordo com Coelho, Cesarini e Brito44 (citado por PINHEIRO, 2002, p.102) o arquiteto “como inventor no espaço urbano construído, tem grande responsabilidade na geração de qualidade de vida dos habitantes das cidades”; o processo de intervenção “tem um enorme custo que recai sobre a sociedade e que, ao longo do tempo, vem perdendo suas referências do que seja coletivo e do que seja qualidade de vida”. Os autores acham que é fundamental repensar a formação dos arquitetos para que compreendam as conseqüências “dos seus atos a médio e longo prazos”.

44 COELHO, Silvio C.; CESARINI, Cláudio J.; BRITO, Ivana R. C. Cidades saudáveis: percepção e qualidade de vida no meio ambiente construído. In: PHIPIPPI JR, Arlindo; PELICIONI, Maria Cecília Focesi (Org.). Educação

Em sua pesquisa, o resultado mostrou que a maioria dos profissionais tem pouco conhecimento sobre o conceito de sustentabilidade, apesar de reconhecerem os diversos impactos das edificações sobre o meio ambiente. Além disso, tem interesse em aprender para então tentar diminuir estes impactos.

Pinheiro distribuiu 370 questionários e 89 foram respondidos, entre eles engenheiros e arquitetos, a maioria atuando na área de projeto e obra. A primeira questão da pesquisa era sobre o conhecimento do entrevistado quanto ao conceito de “desenvolvimento sustentável”. Isso porque Pinheiro (2002, p. 112) defende que:

Somente quando os profissionais têm total conhecimento e consciência sobre o conceito e sua importância é que podem efetivamente mudar sua conduta e atuar em prol da sustentabilidade em sua área de trabalho, escolhendo, desenvolvendo e aplicando técnicas que poderão obter êxito e se disseminar no mercado, seja no gerenciamento de projetos ou da obra. E neste ponto, a educação ambiental pode auxiliar muito, tanto os profissionais já formados, quanto e principalmente com os em formação, pois, pode ser incorporada aos cursos como uma disciplina complementar.

Do total, 22,47% das pessoas responderam que não ouviram falar do conceito. Para quem respondia “sim”, era necessário escrever sobre o significado. O autor classificou as respostas em corretas, parcialmente corretas, erradas e em branco, e utilizou para resposta correta a definição da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Pinheiro definiu por parcialmente correta quando a resposta era incompleta, só enfocava alguns aspectos ou quando iam além de seu significado. A maioria dos arquitetos respondeu incorretamente, e dos engenheiros, em branco, e apenas 9,42% dos entrevistados acertaram a resposta. (TAB. 1).

TABELA 1

Questão sobre a definição de desenvolvimento sustentável (avaliação das respostas por profissão)

Correção das respostas

Arquiteto (%) Engenheiro (%) Total (%)

Erradas 47,22 20,41 31,76 Parcialmente corretas 36,11 30,61 32,94 Corretas 8,33 10,20 9,42 Em branco 8,33 38,78 25,88 TOTAL 100 100 100 Fonte: PINHEIRO, 2002, p. 113.

Foi perguntado por quais meios de comunicação o respondente teve acesso aos conceitos de sustentabilidade aplicados na construção civil, e a maioria respondeu em revistas/magazines, conversas com profissionais, e pesquisa e leitura de revistas técnico-

científicas. Numa outra pesquisa, dos autores Argollo Ferrão e Pinheiro, mais da metade dos entrevistados declara que teve acesso aos conceitos referentes à sustentabilidade e eco-eficiência pela mídia, revistas, jornais, Internet e televisão, e a outra parte por programas de informação como palestras, conferências, congressos, cursos de extensão e pós-graduações (PINHEIRO, 2002).

Outra questão de Pinheiro foi em relação ao conhecimento sobre os conceitos e técnicas que conduzam a uma maior integração entre construção civil e meio ambiente, maior economia nas edificações quanto à energia elétrica e água e outros assuntos relacionados à sustentabilidade aplicado às edificações, e o interesse dos mesmos em se aprofundar. A maioria disse conhecer, e ter interesse em se aprofundar, porém muitas pessoas disseram não conhecer sobre o assunto, apesar de também terem interesse (TAB. 2).

TABELA 2 Conhecimento e interesse

Interesse pelo assunto Total (%)

Não conhece e tem interesse 29,21

Não tem interesse 3,38

Conhece e tem interesse em se aprofundar 66,29

Não respondeu 1,12

Total 100

Fonte: PINHEIRO, 2002, p. 121.

Em seguida foi questionado quanto aos impactos das atividades de construção de edificações sobre o meio ambiente e assim é possível avaliar o grau de percepção e conscientização dos entrevistados. A grande maioria considera afirmativos os impactos ocorridos (TAB. 3).

TABELA 3 Impacto das edificações

Atividades produzem impacto? Total (%)

Não 4,60

Sim 95,40

Total 100

As justificativas citadas pelos entrevistados foram poluição e entulho, alterações no meio ambiente, impermeabilização do solo e destruição de mananciais, consumo de recursos, falta de planejamento e conscientização, impacto visual e desperdício.

O autor concluiu que a maioria dos profissionais sabe pouco sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, conhece alguma coisa da sustentabilidade na construção civil principalmente através da mídia, e tem grande interesse em se aprimorar nessa área para aplicar as técnicas.

Pinheiro (2002, p. 132-133) acredita que é grande a conscientização da necessidade de se alterar o atual estágio de ocupação e intervenção no meio, e defende que:

A capacitação profissional, a educação continuada, a educação ambiental e a melhor informação dos profissionais da área já formados, assim como, a melhor formação com relação a este tema dos alunos de graduação, é de suma importância para possibilitar que haja uma mudança efetiva da postura dos profissionais e da área em geral, em relação ao desenvolvimento sustentável e às atividades de construção civil.

4.1 Pesquisa quantitativa

A segunda etapa desse estudo constou da realização de uma pesquisa quantitativa através de questionário, com perguntas abertas, enviados a estudantes de arquitetura e arquitetos para verificar se a sustentabilidade vem sendo abordada suficientemente nas universidades. Inicialmente foi realizado um pré-teste, através de entrevista com nove estudantes de arquitetura da UFMG, em outubro de 2005. A partir daí, o questionário foi revisado e distribuído durante um ano entre diversos arquitetos e estudantes de distintas universidades brasileiras e uma pequena quantidade de estudantes universitários de outros países. Posteriormente, o questionário foi melhorado e aplicado de forma qualitativa, com perguntas abertas e de múltipla escolha, entre os premiados do Concurso Opera Prima de 2001 a 2006. Esses questionários foram enviados pela Internet, via e-mail, em junho de 2006, e recebidos entre julho de 2006 e abril de 2007.

Na primeira pesquisa, utilizou-se uma abordagem quantitativa, cujo público foi de estudantes de arquitetura e arquitetos de várias regiões e estados brasileiros, a saber: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Amazonas, Ceará, Rio Grande do Sul, e Paraná. Além disso, esses questionários, enviados pela Internet via e-mail, foram repassados para alguns arquitetos originados do Chile, Colômbia, Índia e EUA, que no ano de 2006 estavam cursando mestrado em arquitetura na University of Southern Califórnia - USC, em Los Angeles, Estados Unidos. O questionário também foi enviado para alguns estudantes do Istituto Europero di Design – IED Milano, na Itália.

Foram aplicados dois questionários distintos para estudantes e arquitetos (ver APÊNDICE A e B), no total de 115 questionários respondidos, sendo 67 estudantes e 48 arquitetos. Todas as questões foram discursivas. Antes das perguntas, o questionário solicitava o

preenchimento de alguns dados para caracterizar a população quanto ao sexo, idade, formação e trabalho que desempenha.

Devido à pouca variabilidade das respostas em função da universidade cursada, sexo, idade e atuação profissional, essas variáveis não foram consideradas na análise do questionário. Para melhor interpretação dos dados, os respondentes foram classificados em quatro níveis, quanto ao ano de formatura dos arquitetos, ou período cursado dos universitários. O primeiro nível é de estudantes cursando do 1º ao 5º período na graduação, o segundo nível, do 6º ao 10º período. O terceiro grupo é de arquitetos formados entre 1999 e 2005 e o último é de arquitetos formados entre 1980 e 1998 (GRAF. 1). Como os questionários foram recebidos entre outubro de 2005 e outubro de 2006, cada estudante assinalou o período que estava cursando na época que respondeu ao questionário.