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Escola Náutica: intervenção na orla do lago Paranoá Izabel Torres Cordeiro, UnB

COMO MELHORAR A DISCUSSÃO DA SUSTENTABILIDADE NA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO?

4.2.2 Opera Prima

4.2.5.2 Escola Náutica: intervenção na orla do lago Paranoá Izabel Torres Cordeiro, UnB

A área de intervenção escolhida foi o Parque Ecológico das Garças, situado na orla do lago Paranoá, em Brasília. Essa região não possui grande dimensão e sua vegetação nativa estava em fase de degradação, não sendo assim uma área rigorosamente de preservação. Dessa forma foi proposto um caráter de conservação e uso de múltiplo para o Parque. Para principal edificação projetou-se uma escola de esportes náuticos, para incentivar a convivência e o uso cotidiano deste espaço pelos moradores da região.

Desde os primeiros estudos para a implantação da cidade, o Lago Paranoá participa como elemento fundamental do cenário paisagístico e urbano do Plano Piloto de Brasília. Proporciona aos moradores e visitantes da cidade, em cerca de 87 quilômetros de orla, belíssimas visuais, ainda que em processo crescente de desfiguração. É certo que este processo não é mais nenhuma novidade para os habitantes de Brasília. Todos temos acompanhado, nos últimos anos, uma série de intervenções negativas nessa área, como a incorporação de áreas públicas ao domínio privado e a proliferação de loteamentos irregulares, causando impacto, direto ou indireto sobre o Lago Paranoá. [...] Brasília ainda não privilegiou o acesso público ao lago, e apenas recentemente, vem tornando seus espaços atrativos a comunidade. De fato, é expressivo o potencial do Lago Paranoá para as práticas relacionadas, principalmente, às atividades recreativas, turísticas e econômicas. O usufruto desse potencial, entretanto, deve ser pautado na sensibilidade ambiental para evitar uma intensificação de uso acima da capacidade do corpo hídrico.

Aproveitou-se como objeto de intervenção, a área conhecida como Pontão do Lago Norte e destinada, recentemente, a implantação do Parque Ecológico das Garças, a pedido da associação dos moradores. Esta área, de localização privilegiada e enorme potencial para o uso público em atividades relacionadas, principalmente, à prática de esportes e lazer, encontra-se abandonada, sujeita à ação de invasores e conseqüente desfiguração da paisagem natural, com forte impacto sobre a flora e fauna nativa. Compreende-se que o estímulo ao uso, mediante o acesso público e democrático de suas margens, é uma ação indispensável para sua conservação, tanto do ponto de vista cultural como ambiental. Atualmente, os amantes do lago, que não são sócios dos clubes existentes e que insistem em freqüentá-lo, deparam-se com uma orla privatizada, com falta de informação, dificuldade de transporte coletivo, e alguns poucos espaços públicos completamente desqualificados, sem qualquer tipo de conforto ou segurança para o usuário. O resultado do uso popular dos espaços sem infra-estrutura é a degradação do meio ambiente, com os carros fazendo trilhas no cerrado e o lixo espalhado por toda parte.[...]

A proposta de uma escola de esportes náuticos, dentro do parque, busca incentivar o uso cotidiano deste espaço pelos moradores da região e a socialização através do culto ao esporte.

Complementando o projeto, o parque será contemplado com diversas áreas de lazer, com espaços voltados para as variadas faixas etárias, sempre a reverenciar o cenário paisagístico configurado pelo Lago Paranoá. Será agregada à área de intervenção, a faixa lindeira ao canteiro central, próxima à QL 15, formando um prolongamento paisagístico, de modo a integrar harmoniosamente o parque ao conjunto de residências.

As áreas de lazer serão divididas em duas categorias: lazer esportivo e entretenimento. Voltados para a utilização cotidiana, equipamentos como ciclovias, circuito de caminhadas integrado ao calçamento da EPPN (Estrada Parque Península Norte), quadras de areia, pista de patinação e skate, parque infantil e espaços para oficinas ao ar livre compõem a primeira categoria. A segunda busca aproveitar o potencial turístico e cenográfico da região, compreendendo, assim, um restaurante, um mirante, uma praça para eventuais feiras-livres e um anfiteatro. Os diversos usos do parque estão articulados por um passeio. Este, nostalgicamente pretende ser um calçadão, que em dias de maior vitalidade, aguarda aquelas manifestações desordenadas desenvolvidas por capoeiristas, músicos e artesãos.

Fluindo paisagem com arquitetura, brinca-se com os planos e as rampas aplicando sobre faces dos taludes ou como muros de contenção, diferentes texturas. Tanto naturais, como grama e outras forrações, quanto sintéticas, como azulejos, murais em grafite ou chapas inteiras de aço corten. Os materiais selecionados apresentam maior durabilidade e demandam poucos esforços em sua manutenção.[...]

O partido paisagístico adotado nesta intervenção propõe recuperar a paisagem natural degradada com a utilização exclusiva de espécies nativas. Isso diminuiria expressivamente os custos de manutenção, considerando o caráter público do espaço. Além disso, estar-se-ia promovendo o encontro dos usuários com elementos representativos da natureza local, valorizando o potencial plástico da vegetação típica do cerrado.52

FIGURA 27 - Escola Náutica: Foto da maquete Fonte: Arquivo de Izabel Torres Cordeiro

A intervenção proposta para o Parque Ecológico das Garças, na orla do lago Paranoá, busca a conservação e revitalização do meio ambiente aliando atividades recreativas, turísticas e econômicas. Possui implantação adequada à identidade da arquitetura da cidade bem como ao entorno e topografia local. Os materiais utilizados foram selecionados por apresentarem maior durabilidade e demandarem pouca manutenção. Percebe-se neste trabalho a preocupação, principalmente, com as questões ambientais, culturais e econômicas.

4.2.6 Opera Prima 2005

Ganhadores:

Akemi Tahara – Abrigo - Origami - Contêiner – UFBA

Fabiana Colares Casali – Museu da Casa Brasileira - Brasília – UnB

Gustavo Oliveira Policarpo da Luz – Requalificação urbana em áreas centrais - Polo Luz – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Ricardo Alexandre Packer – Núcleo de Difusão Cultural – Universidade Regional de Blumenau

Taís Lie Okano – Centro Cultural Sacomã – Universidade Presbiteriana Mackenzie Menções honrosas:

Fernando José Andrade dos Santos – Uma biblioteca pública para Belém – UFPA Gabriel Velloso da Rocha Pereira – Módulos de ocupação temporária – PUC MG Pablo Iglesias – Casa De Caranguejo Caminho Butantã / Zona Noroeste / Santos - USP

Rafael de A. Assiz – Museu Metropolitano De São Paulo – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Dos nove premiados (cinco ganhadores e quatro menções honrosas) apenas um questionário não foi respondido, o de Gustavo Policarpo da Luz. Foi perguntado aos arquitetos sobre suas opiniões na discussão e abordagem da sustentabilidade na formação do arquiteto. Cinco autores disseram que é pouca e superficial, um disse que não existe, um alegou que é suficiente, e outro que a sustentabilidade é abordada até em um nível razoável, mas sem a devida relevância.

Algumas citações sobre se a sustentabilidade na formação do arquiteto seguem abaixo.

Interessante colocar que durante o curso senti o interesse de alguns professores no assunto, porém sempre de forma superficial e sem consistência. Parecia que o assunto deveria ser citado, porém nunca era aprofundado.

Fabiana Casali, UnB, 2005. Na minha opinião a discussão é levada apenas para o lado do “ecochatismo” ao invés de tratar este tema como parte do programa do projeto. A sustentabilidade deve ser avaliada de acordo com o programa do projeto, para termos um caminho onde possamos avaliar, e quantificar estas medidas sustentáveis que tomaremos para o projeto.

Gabriel Velloso, PUC-Minas, 2005. Acredito que hoje o mercado imobiliário não vende ainda o conceito de sustentabilidade, e como o consumidor final não participa do desenvolvimento dos projetos para qualquer fim, o arquiteto não vê como impor soluções sustentáveis em quase nenhum projeto hoje no Brasil. Seria preciso mais divulgação do assunto pois enquanto este conceito pertencer ao universo dos arquitetos somente, não teremos nada significativo no Brasil envolvendo sustentabilidade.

Rafael Assiz, Universidade Mackenzie, 2006.

Dos oito questionários recebidos, apenas um arquiteto respondeu que não abordou a sustentabilidade, pois seu trabalho não estava voltado para o assunto; três disseram que algumas questões foram abordadas, três que estava muito voltado para o tema em questão, e um autor alegou que na boa arquitetura já está intrínseco o conceito de sustentabilidade. Destes trabalhos, dois destacaram-se: o de Pablo Iglesias e o de Ricardo Alexandre Packer.