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Graduação, cursos de capacitação, projetos de extensão e pesquisas

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

3.4.2 Graduação, cursos de capacitação, projetos de extensão e pesquisas

Foi feita uma breve análise das ementas das disciplinas ofertadas por algumas universidades brasileiras, como ponto de partida para verificar o quanto se está tratando e discutindo as questões ambiental, cultural e social no ensino de arquitetura. Esta pesquisa foi feita através das páginas na Internet das universidades, e procurou-se diversificar a amostra por regiões brasileiras. Pesquisou-se a presença de disciplinas isoladas sobre o tema, obrigatórias ou optativas, e também a existência deste assunto em questão nos programas. Também se procurou identificar projetos e pesquisas de extensão, bem como cursos de capacitação específicos voltados para a temática ambiental e de sustentabilidade. Assim, foram identificados alguns cursos e programas onde as atenções ao tema são mais presentes:

• Atualmente, no 5o período do curso de arquitetura da UFRJ, existe a disciplina Urbanismo e Meio Ambiente - UMA:

Ementa: Conceito de Meio Ambiente. A evolução do pensamento ecológico. A crítica ecológica. Meio ambiente e desenvolvimento – o desafio urbano, a degradação ambiental e a sustentabilidade. Meio ambiente e planejamento. A política municipal de meio ambiente. O Plano Diretor. A qualidade ambiental nas cidades. Meio ambiente e desenho urbano (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO -UFRJ, [200-]).

Essa disciplina, que anteriormente era optativa, foi inserida no currículo da FAU/UFRJ como obrigatória a partir de 1997. O professor Luiz Manoel Cavalcanti Gazzaneo defende que os alunos têm o primeiro contato com a apropriação do espaço urbano e adquirem conhecimentos sobre meio ambiente, além de noções genéricas sobre urbanismo. A metodologia adotada abrange um trabalho prático em equipe, de pesquisa de uma área (um bairro) conhecida pelos alunos. A disciplina se divide neste trabalho prático, na apresentação ao aluno da morfologia da cidade do Rio de Janeiro, de informações genéricas sobre o meio ambiente e sobre a estruturação do espaço urbano. Para o professor, de uma maneira geral, o resultado tem apresentado resultados positivos, principalmente no despertar do alunato à pesquisa (GAZZANEO, 1998).

Apesar de atualmente essa disciplina ser obrigatória, tanto por opinião particular (pois cursei esta disciplina em 1998), quanto de outros estudantes e arquitetos formados na UFRJ, parece não ser suficiente, colaborando apenas com o interesse em pesquisa, sendo superficial e sem integração às outras matérias.

Outra disciplina optativa que trata do tema, no curso de arquitetura da FAU/UFRJ é Arquitetura e Sustentabilidade, do Departamento de História e Teoria.

Ementa: O conceito de desenvolvimento sustentável e sua relação com a arquitetura. A sustentabilidade no ambiente construído e as conseqüências para a linguagem arquitetônica. O belo nos dias de hoje, a provável estética do sustentável. Arquitetura vernacular (UFRJ, [200-]).

No geral, é interessante ressaltar, como o faz o professor Paulo Afonso Rheingantz (2003, p. 148); “As bases teóricas para a ação educadora - formadora da FAU/ UFRJ, deve buscar incessantemente o aprimoramento das relações entre as suas diversas disciplinas, que devem estar voltadas para conceitos de sustentabilidade, democracia e compromisso social.” Porém ainda não são satisfatórias, nem as relações entre as disciplinas, nem a inserção de um discurso ambiental, social e cultural nas mesmas.

Na FAU/USP, no departamento de Projeto, há atualmente uma disciplina optativa: Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentável – Moradia Social.

Ementa: A disciplina articula intervenção urbanística aos processos de gestão da cidade, visando melhoria da qualidade de vida urbana. Dá sequência à parceria já estabelecida com o Ministério Público com objetivo de criar referências e soluções urbanísticas adequadas para situações de irregularidade ou de conflito urbano onde interesses difusos da sociedade são afetados. Trabalha sobre casos concretos, visando formular propostas e alternativas que propiciem qualidade ambiental e soluções de legalização e inclusão social.

Organizando-se em parte teórica e exercício prático, a disciplina discutirá conceitos de conflito urbano, de inclusão social e de desenvolvimento sustentável. Trabalhará sobre um caso concreto de núcleo residencial ilegal, já consolidado, em Área de Proteção aos Mananciais. Deverá elaborar soluções paradigmáticas que auxiliem a fixação de padrões compatíveis à demanda social (habitacional) e à questão ambiental, propiciando qualidade ambiental e soluções de legalização e inclusão social (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP, 2006).

• O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade FUMEC, em Belo Horizonte, de acordo com seus organizadores,

adota formação voltada às questões sociais, culturais, ambientais e fundamentalmente éticas, para o desenvolvimento crítico de temas pertinentes à area, não prescindindo do debate sobre o valor estético. Dentre eles, destacam-se a concepção e a organização do espaço - condensado no plano do edifício ou da cidade, nos âmbitos privado e público; a preservação do patrimônio ambiental e cultural, estabelecendo o debate entre o desenvolvimento sustentável e a geração de novos espaços; bem como a utilização racional dos recursos do ambiente como base para a definição projetual em todos os níveis (UNIVERSIDADE FUMEC, [200-]).

Dentre das disciplinas obrigatórias atualmente encontra-se no 8º período, Arquitetura e Sustentabilidade Ambiental. A universidade também possui cursos de pós-graduação lato sensu, tais como: Planejamento Urbano-Ambiental; e Meio Ambiente - Gestão Ambiental.

• Também em Belo Horizonte, o curso de arquitetura da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-Minas, tem como principais temas que norteiam as atividades desenvolvidas nos âmbitos do ensino, da extensão e da pesquisa, a Arquitetura e Inclusão, Arquitetura e Sustentabilidade e Arquitetura e Tecnologia. Para seus organizadores, há uma estreita relação entre esses três temas, pois a busca de um espaço inclusivo somente pode ser realizada através de uma arquitetura que transforme a realidade a partir de seu próprio potencial, e esta é a arquitetura

que efetivamente constrói. (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS - PUC MINAS, [200-])

Sobre Arquitetura e Inclusão,

esse primeiro tema vem de encontro à necessidade, cada vez mais premente, de se combaterem os mecanismos excludentes que marcam a dinâmica da sociedade brasileira, mecanismos estes responsáveis pela perpetuação de uma desigualdade que vem dramaticamente se manifestando nas condições de acesso aos direitos mais básicos do cidadão.

Trata-se, então, de delinear ao mesmo tempo as possibilidades e as estratégias de atuação do profissional da Arquitetura e do Urbanismo no sentido de reverter ou dirimir essa desigualdade também manifesta nas condições de acesso à habitação e à cidade. Isto significa que as atividades desenvolvidas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Minas deverão ser orientadas para a busca e a experimentação de soluções para a coletivização dos direitos à habitação e à cidade, sendo seus objetos prioritários o espaço urbano, o espaço público, os equipamentos de uso coletivo, a habitação popular (PUC MINAS, 200[-]).

Sobre o tema Arquitetura e Sustentabilidade,

vem de encontro à necessidade de se conterem os avanços da arquitetura praticada como uma ‘forma degradada de exploração do solo’. É esta a arquitetura, que, desconsiderando a um só tempo o ambiente natural e o ambiente construído, concorre sempre para a sua destruição. Trata-se, pois, de insistir na prática de uma outra arquitetura, que, considerando o patrimônio natural e o patrimônio construído, concorra sempre para potencializá-los.

O desenvolvimento sustentável é aqui compreendido, então, como aquele desenvolvimento em que a utilização racional dos recursos – naturais e culturais – sobrepõe-se à sua exploração e ao seu conseqüente aniquilamento. É fundamento desse conceito, portanto, não a degradação, mas a transformação do ambiente a partir do seu próprio potencial.

Nesse sentido, cabe incorporar às atividades desenvolvidas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas a preocupação em formar arquitetos capazes não só de reconhecer o valor do patrimônio natural e do patrimônio construído, mas também de revalorizá-los através de suas proposições (PUC MINAS, [200-]).

Analisando a grade de disciplinas e suas ementas não foi possível encontrar disciplinas isoladas sobre os assuntos em questão. Resta verificarmos adiante, através das próprias opiniões dos estudantes, se realmente estes temas estão sendo implantados nas aulas e palestras.

• Na área de pesquisa, em Belo Horizonte destaca-se a UFMG, que em 2005 desenvolveu jogos para ensinar a construir, no qual foram criados “games didáticos” para auxiliar na produção de moradias populares. Os jogos do Canteiro, da Marcação e da Fundação surgiram para permitir que o mutirante pudesse participar de decisões técnicas sobre a obra de sua casa (MALARD, 2006).

Atualmente, esta universidade desenvolve uma nova pesquisa envolvendo a criação de novas interfaces digitais e de ambientes imersivos direcionados a auxiliar o projeto arquitetônico participativo. O objetivo é permitir que o futuro morador de empreendimentos populares participe, além da construção, do planejamento de sua casa. Entre as novidades está

uma alternativa de baixo custo às sofisticadas e caras CAVEs (Cave Automatic Virtual Environments).

Apesar da idéia de usar a imagem projetada como forma de reproduzir ambientes não ser nova, o trabalho da UFMG é pioneiro por desenvolver tecnologia para uso social. O trabalho vem sendo desenvolvido junto ao Laboratório Estúdio Virtual de Arquitetura (EVA), coordenado pela professora Maria Lucia Malard, e integrado por arquitetos que estão fazendo pós-graduação, além de estudantes de graduação com bolsas de iniciação científica. O laboratório foi montado pelo Departamento de Projetos da Escola de Arquitetura da UFMG, com o objetivo de desenvolver pesquisas que façam avançar o processo de criação na arquitetura com o apoio do computador (HABITARE, 2007).

• A Universidade de Brasília, UnB, possui características interessantes na graduação e pesquisa, um dos exemplos é o estudo de novos materiais para construções, realizado pelo projeto Canteiro oficina de arquitetura (Cantoar). De acordo com o professor Jaime Almeida, coordenador do projeto, os alunos estudam a aplicação de fibras naturais, especialmente o bambu, na construção de projetos arquitetônicos. O trabalho envolve vários universitários e vai além do currículo convencional, pois é sempre solicitado por alguma comunidade. Um dos projetos mais expressivos, segundo Almeida, foi a construção de uma escola de bambu e palha na aldeia Kapèy dos índios Krahô, localizada no Tocantins, em 2000. Oito alunos participaram do projeto monitorado pelo professor. Outro bom exemplo, foi um grupo de estudantes apoiado pela professora Marta Romero, que em 2002 criou o escritório-modelo Centro de Ação Social em Arquitetura e Urbanismo Sustentável (Casas). Os estudantes atendem a associações de moradores, sindicatos, ONGs e outras instituições sem fins lucrativos que necessitam do trabalho de arquitetos e não têm condições de pagar os profissionais (UIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB, [200-]).

Ainda na graduação, o aluno da UnB pode participar de programas de intercâmbio entre universidades do Brasil e do exterior. O Consórcio Bilateral em Projeto Comunitário de Arquitetura e Urbanismo Sustentável (CBPS) permite, desde 2003, que graduandos façam intercâmbio na Universidade Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS), na Penn State University (PSU) e na State University of New York at Syracuse (SUNY). A cada ano, a UnB envia dois alunos para os Estados Unidos e recebe outros dois.

Analisando as ementas das disciplinas do curso, encontrou-se a disciplina obrigatória Estudos Ambientais- Bioclimatismo na Arquitetura e Urbanismo.

“Ementa: Bioclimatologia humana e percepção ambiental do ambiente higrotérmico, luminoso, sonoro e da qualidade do ar, métodos e técnicas de coleta e tratamento dos dados climáticos visando o projeto” (UNB, [200-]).