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CAPÍTULO 2 – O UNIVERSO E O PERCURSO DA PESQUISA-INTERVENÇÃO

2.4 A PESQUISA-INTERVENÇÃO: ALGUNS FUNDAMENTOS TEÓRICO-

A pesquisa é um procedimento reflexivo, sistemático, rigoroso e crítico que permite descobrir novos fatos ou dados, soluções ou leis, em qualquer área do conhecimento. Dessa forma, a pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas por meio dos processos do método científico. Podemos, assim, indicar os três elementos que caracterizam a pesquisa: o levantamento de algum problema, a solução a qual se chega e os meios escolhidos para chegar a essa solução, o que implica em saber os instrumentos científicos e os procedimentos adequados (RAMPAZZO, 2010). E ainda, segundo Chizzotti (2010, p. 19), pode-se afirmar que

do interesse em aprofundar as análises e fazer novas descobertas em favor da vida humana. Essa atividade pressupõe que o pesquisador tenha presente as concepções que orientam sua ação, as práticas que elege para a investigação, os procedimentos e técnicas que adota em seu trabalho e os instrumentos de que dispõe para auxiliar o seu esforço. É, em suma, uma busca sistemática e rigorosa de informações, com a finalidade de descobrir a lógica e a coerência de um conjunto, aparentemente, disperso e desconexo de dados para encontrar uma resposta fundamentada a um problema bem delimitado, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento em uma área ou em problemática específica.

No estudo de uma pesquisa qualitativa, segundo os conceitos referenciados por Lüdke e André (1986, p. 13),

Os dados coletados são predominantemente descritivos. O material obtido nessas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos, incluem transcrições de entrevistas e de depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos. Citações são frequentemente usadas para subsidiar uma afirmação ou esclarecer um ponto de vista. Todos os dados da realidade são considerados importantes. O pesquisador deve assim atentar para o maior número de elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto supostamente trivial pode ser essencial para melhor compreensão do problema que está sendo estudado. Sob o enfoque da pesquisa qualitativa, Bogdan e Biklen (1982 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986) apontam cinco características relevantes, com destaque para os utilizados nesta pesquisa: a) apresentar um ambiente natural como fonte de dados, sendo o pesquisador seu principal

instrumento, através de um trabalho intensivo de campo;

b) os dados coletados trarão descrições de pessoas, situações e acontecimentos; c) o processo terá maior ênfase, levando-se em conta as interações cotidianas;

d) o “significado” das ações cotidianas (foco de atenção da pesquisadora), demanda o estabelecimento de diálogo aberto com os participantes;

e) as análises dos dados deverão seguir um processo indutivo, sem a preocupação com a busca de evidências.

É importante ressaltar que essa forma de pesquisar pressupõe a concomitância de pesquisa e intervenção, de pesquisadores e práticas com a finalidade de transformação social. Nessa pesquisa não existe a prioridade de uma ação planejada, mas sim de uma investigação por parte da pesquisadora que propicie autorreflexão com o intuito de se compreender, analisar a prática e transformá-la em um movimento, não somente individual, mas, sobretudo, coletivo. Conforme aponta Pimenta (2002, p. 36),

O movimento de professor-pesquisador é estratégico, pois investe na valorização e no desenvolvimento dos saberes dos professores e na consideração destes como sujeitos e intelectuais capazes de produzir conhecimentos, de participar e de decidir nas questões da gestão das escolas e dos sistemas, o que traz perspectivas para reinvenção da escola democrática.

Segundo Demo (2012), a pesquisa está ligada ao diálogo, o que possibilita a produção de conhecimento do outro para si e de si para o outro, viabilizando o estabelecimento de uma comunicação na qual os atores se encontram e se defrontam, num processo entre pessoas criativas e emancipadas que demarcam seu espaço próprio e compreendem o espaço do outro. Sendo assim, a pesquisa se caracteriza por ser um processo político de conquista, de construção e de criação, partindo sempre de uma realidade concreta.

Em Oliveira e Oliveira (1985), as pesquisas participativas são afirmadas como estratégias de pesquisa que têm como proposta a participação dos grupos sociais na busca de soluções para os problemas vividos, envolvendo um processo de compreensão e mudança da realidade. Dessa forma, pesquisador e pesquisados são coautores do processo de diagnóstico da situação-problema e da construção de caminhos que possam resolver as questões. É um processo contínuo que acontece no curso da vida cotidiana. A pesquisa afirma seu caráter desarticulador das práticas e dos discursos instituídos, inclusive os produzidos como científicos, substituindo-se a fórmula “conhecer para transformar” por “transformar para conhecer”. A pesquisa-intervenção, por sua ação crítica e implicativa, amplia as condições de um trabalho compartilhado baseado na ação, construção e transformação coletiva.

Freire (1983) afirma que todo sujeito pensa num determinado objeto com a coparticipação de outros sujeitos pensantes, configurando esse ato num pensamento coletivo e determinado pelo estabelecimento de uma comunicação baseada no diálogo. Nessa perspectiva, para que haja uma educação verdadeiramente humanista e libertadora exige-se dos sujeitos o aprofundamento da tomada de consciência, enquanto trabalham; tal movimento só se torna possível quando os sujeitos encontram-se em uma ambiência coletiva.

Nesse sentido, o Programa de Mestrado em Gestão e Práticas Educacionais (PROGEPE) da Universidade Nove de Julho tem como principal linha de trabalho o processo de pesquisa e intervenção, de forma que se torna,

[...] necessário que o objeto a ser investigado esteja diretamente vinculado às demandas concretas da educação, nas esferas escolares da gestão, das práticas pedagógicas ou das práticas políticas sociais. O produto que daí resulta pode ser tanto uma proposta de intervenção na realidade quanto a apresentação de subsídios teórico- práticos, para melhor qualificar a ação educativa. Assim, um projeto de pesquisa e intervenção não se confunde com as metodologias das pesquisas participativas (pesquisa-ação, pesquisa-participante, etc.), embora estas possam fazer parte, obviamente. (MAFRA, 2013, p. 13).

Dessa forma, pesquisar a realidade, os acontecimentos diários da escola, como objeto de estudo a ser analisado, proporciona aos sujeitos a construção de práticas pensadas, refletidas e intencionais, partindo do pressuposto que os sujeitos são capazes de construir autonomia por

meio do diálogo e da busca de caminhos para o trabalho no cotidiano. Assim, esse processo de investigação acontecerá por meio da problematização e da reflexão sobre a prática. Nesse percurso, os dados empíricos levantados a partir da problematização e reflexão vão sendo sistematizados em diálogo com o referencial teórico que fundamenta o estudo, possibilitando ao pesquisador e aos sujeitos envolvidos o fortalecimento de suas concepções e práticas escolares com base no processo ação-reflexão-ação, pois

A investigação-intervenção proposta nessas pesquisas tem buscado elaborar estratégias de levantamento e de análise de dados que, no processo investigativo, possibilitem partir das práticas escolares, problematizar, refletir, elaborar sínteses e voltar a essas práticas com conhecimentos (re) construídos e sistematizados em diálogo com os professores participantes das pesquisas e com as referências teórico- metodológicas que fundamentam os estudos em andamento. (STANGHERLIM et al., 2013, p. 7).

Isto posto, esta pesquisa-intervenção orienta-se pela perspectiva da ação-reflexão-ação, em conformidade com o pensamento de Paulo Freire (1997), com o objetivo de garantir o diálogo entre a teoria e a prática, o qual permite a transformação de uma curiosidade inicial que o autor denomina de “ingênua” para uma curiosidade crítica e, dessa forma, cria-se um movimento que tem como ponto de partida as práticas de planejamento e de rotina na creche para problematizá-las, para provocar reflexões e elaboração de sínteses, com vistas a ressignificar os conhecimentos teórico-práticos construídos.

2.5 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA-INTERVENÇÃO: CAMINHOS