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CAPÍTULO 2 – O UNIVERSO E O PERCURSO DA PESQUISA-INTERVENÇÃO

2.2 A CRECHE PROFESSORA FÚLVIA ROSEMBERG

Para a realização da pesquisa na Creche Professora Fúlvia Rosemberg, o Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental (DEIF) da Secretaria de Educação de Santo André foi contatado, mediante encontro pessoal agendado com o responsável, com o objetivo de se obter autorização, segundo os trâmites legais. Sendo assim, o referido departamento solicitou, por parte da pesquisadora, o encaminhamento de vários documentos, entre os quais: carta de indicação da Universidade Nove de Julho (Apêndice A); justificativa da pesquisa (Apêndice B); pedido de afastamento docente e autorização com a indicação de dias e horários de dispensa do trabalho, dentro da carga horária de 12h, aprovada em lei municipal, para a realização das atividades do mestrado (Anexo A), uma vez que a pesquisadora atua na função de diretora da unidade escolar pesquisada.

Já na creche, a intenção de realizar a pesquisa naquele contexto escolar foi explicitada pela pesquisadora, assim como a possibilidade de contar com sujeitos de pesquisa, com a assistente pedagógica e as dez professoras que até o presente atuam, desde o período de agosto de 2015 até junho de 2016, com as crianças de 0 a 3 anos. Para tanto, foram firmados, verbalmente, acordos de anuência versando sobre a participação dos sujeitos, o período de início da pesquisa de campo, assim como a participação da pesquisadora nos diferentes momentos da rotina da creche, junto com as profissionais.

fazendo parte das três primeiras creches construídas na rede de Santo André.

Está localizada nos limites entre os municípios de Santo André e São Paulo, mais especificamente no bairro da Vila Industrial, zona leste da cidade paulistana. Localiza-se no bairro chamado Vila Metalúrgica, popularmente conhecido por Vila Sá, fazendo divisas com os bairros Camilópolis e Utinga.

As crianças atendidas são, em sua maioria, moradoras próximas à creche, incluindo, também, crianças moradoras de bairros vizinhos e até do município de São Paulo.

Muitas famílias são originárias do Nordeste, mas também alguns são provenientes do interior de São Paulo. Entretanto, os filhos desses habitantes nasceram em Santo André. Nos últimos dois anos, a creche tem recebido crianças de famílias provenientes do Haiti; famílias essas de refugiados que foram alocados no bairro de Utinga, chamado “Núcleo dos Ciganos”, em cumprimento a uma política pública do município. Trata-se de um local com condições precárias de saneamento básico, sem asfalto e as ruas de acesso às casas são por vielas estreitas. A maioria das residências não possui quintal para as crianças brincarem, o que tem permitido a sua permanência dentro das pequenas casas ou nas ruas, segundo dados coletados do projeto político-pedagógico da unidade escolar, ano base 2016.

As vias públicas próximas da creche têm satisfatória pavimentação, mas nem sempre são suficientemente iluminadas, o que dificulta a saída das famílias e dos funcionários. O transporte público para quem reside no bairro é precário, pois conta com apenas duas linhas intermunicipais e uma municipal. Diante desse contexto, 80% das crianças utilizam o transporte escolar pagopara chegar até a creche. Os demais utilizam o transporte próprio ou trazem os seus filhos a pé, sendo esse trajeto distante da unidade aproximadamente dois quilômetros.

Conforme levantado nas caracterizações, no ano de 2016, as famílias que têm a vaga com filhos em período integral trabalham fora; as crianças cujos pais têm serviço remunerado

e usufruem da vaga do semi-integral deixam seus filhos no período contrário, com familiares e parentes. As famílias haitianas, com vagas de semi-integral, por não terem parentes no Brasil, pagam para cuidadoras ficarem com seus filhos enquanto trabalham.

A região próxima à creche possui quatro EMEIEFs, três creches municipais, quatro escolas particulares de educação infantil e um centro comunitário. A Creche faz parte de um complexo chamado Centro Educacional Santo André (CESA), juntamente com a EMEIEF e o Centro Comunitário.

A comunidade escolar aponta que o bairro no qual a creche está localizada necessita de maior segurança, de atendimento em período integral para todos, mais comércio, mais opções

de transporte público, bem como a construção de uma creche próxima ao bairro de Utinga, pois a unidade fica muito distante do Núcleo dos Ciganos.

Conforme dados levantados no projeto político-pedagógico (PPP), a Creche Professora Fúlvia Rosemberg, em 2016, atende 192 crianças matriculadas na faixa etária de 4 meses a 3 anos e 11 meses, nos períodos integral, semi/manhã e semi/tarde. A inserção das crianças acontece primeiramente por meio das inscrições, que são contínuas no decorrer do ano letivo. Em seguida, as inscrições são cadastradas no sistema da Secretaria de Educação, trimestralmente, gerando uma lista de classificação, segundo os seguintes critérios:

a) Prioridade 1 – ser munícipe;

b) Prioridade 2 – ser cadastrado em programas sociais; c) Prioridade 3 – ter irmão matriculado na creche.

Para efetivação desse atendimento, a creche conta com cinco salas de aula, quatro banheiros adequados para faixa etária, um pátio coberto, um parque, um refeitório, uma sala de vídeo, uma biblioteca, um lactário, uma cozinha industrial, uma lavanderia, uma secretaria, uma sala de reunião, quatro trocadores, dois solários, banheiros para adultos e uma cozinha para funcionários. A creche possui dois andares, sendo que as salas de aula ficam no piso superior. Assim sendo, as crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos necessitam se deslocar para o andar inferior para se alimentarem e utilizarem o parque, os espaços lúdicos e a sala multiuso. Os bebês de 4 meses a 1 ano e 6 meses são alimentados no andar superior, porém para utilizarem os demais espaços, além dos solários e do espaço lúdico, montado no ano de 2015, é preciso que sejam deslocados para o piso inferior. Essa ação é bastante complexa, pois exige, por vezes, uma demanda grande de adultos para auxiliar na locomoção das crianças que são pequenas.

A equipe da creche é composta por quarenta e nove profissionais, sendo: uma diretora, uma assistente pedagógica, dois auxiliares administrativos, dez professoras, dezoito agentes de desenvolvimento infantil, quatro estagiárias de pedagogia, sete profissionais operacionais, três funcionárias da cozinha, duas lactaristas e uma assessora de educação inclusiva.

Visando a eficiência no processo de formação continuada, a Prefeitura de Santo André realizou, em 2015, encontros de formação com diretores e assistentes pedagógicas, sobretudo com o foco na infância, coordenados pela professora Dra. Marta Regina Paulo Silva. Ainda, nesse mesmo ano, foram realizados encontros de formação com as diretoras de unidade escolar, com a finalidade de explicitar e debater questões que envolviam as políticas públicas do município, levando-se em consideração, também, o número de diretoras novas no exercício da função. Em 2016, a formação com as assistentes pedagógicas está sendo realizada por uma

assessoria externa denominada Converso, assim como pelas coordenadoras de serviços educacionais, com o foco nos fazeres e saberes do exercício da função. A formação com as diretoras teve continuidade sob a organização da Fundação Florestan Fernandes.

A Secretaria de Educação, nos anos de 2015 e 2016, também vem estabelecendo parcerias com outras secretarias no sentido de oferecer formações às equipes e professoras, entre elas: Rede em Roda, realizada nos anos de 2014 e 2015, com ênfase na troca de experiências das professoras dos diferentes setores da rede; Formação para conselheiros escolares, oferecida pela gerência da Gestão Democrática; Quem ama abraça, oferecida pela Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, com ênfase nas questões de gênero e empoderamento das mulheres; Projeto Pela vida não à Violência, com foco na violência doméstica; no ano de 2016, a formação do Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), encontro aberto também à participação das professoras de creche, o que, até então, não acontecia, uma vez que era oferecido apenas às professoras que atuavam nas EMEIEFs, exclusivamente com o 1° ciclo do ensino fundamental.

Quinzenalmente, às sextas-feiras, com duração de quatro horas, as diretoras e assistentes pedagógicas das creches e EMEIEFs se reúnem, por setor, com a coordenadora de serviços educacionais. Essas reuniões têm caráter formativo e informativo. Nelas, a coordenadora abre para discussão, questões relacionadas ao cotidiano de cada unidade e traz demandas da Secretaria de Educação.

A Creche Professora Fúlvia Rosemberg socializa o seu trabalho realizado por meio de cartazes e murais informativos, painéis de fotos e exposições de atividades das crianças fixados na própria Unidade Escolar.

A organização da rotina nas creches de Santo André tem alguns princípios estabelecidos pela Secretaria de Educação, principalmente no que diz respeito aos horários de entrada e saída das crianças, conforme consta no Regimento Escolar comum para todas as unidades. Porém cada uma tem autonomia para organização dos demais momentos em que a rotina acontece, tendo em vista as reais necessidades das crianças atendidas.

A rotina é pensada de forma que as atividades possam ocorrer simultaneamente nos diferentes espaços e tempos da creche, tendo escalonamento dos horários das salas, das professoras, educadores e demais funcionários.

Dessa forma a gestão do tempo na creche necessita ser flexível e planejada constantemente, tendo como prioridade o atendimento às crianças, com necessidades de cuidados e aprendizagens próprias, de acordo com a especificidade da faixa etária.

Algumas particularidades na organização dos horários da Creche Fúlvia Rosemberg diferem de outras da rede municipal, tendo em vista que atende-se dois berçários, sendo feita uma organização diferenciada para o almoço; ou seja, para as crianças que frequentam o período integral o almoço é oferecido no primeiro horário e após a higienização vão para o descanso. Posteriormente, almoçam as crianças que frequentam o semi/manhã e saem às 13h. Concomitante a esse movimento, as crianças do semi/tarde vão chegando às 12h e já vão realizando suas refeições sob a supervisão dos agentes de desenvolvimento infantil, seguindo a rotina estabelecida até a chegada da professora do período da tarde. Nesse momento, as crianças das diferentes faixas etárias permanecem juntas, com exceção daquelas que frequentam o berçário, pois recebem uma alimentação diferenciada.

É importante ressaltar que na Creche Fúlvia Rosemberg a organização do agrupamento de educadores possibilita que os mesmos acompanhem todos os momentos da rotina. O que a creche tem feito é rodiziar os seus educadores, que ora acompanham o almoço, ora o descanso – a fim de que conheçam as peculiaridades das crianças durante a rotina.

Outro fator importante a ser observado e destacado diz respeito à limpeza dos espaços. Existe sempre a necessidade de retomada com a equipe de operacionais na organização da limpeza das salas, banheiros e demais espaços de modo que não interfira na rotina dos grupos, levando-se em conta que não existe um intervalo para que esse serviço seja executado. Sendo assim, o quadro de uso dos espaços e horários serve tanto para organizar a rotina dos grupos como também favorece o trabalho das demais equipes da creche. Segue abaixo a organização da rotina dos diferentes grupos da Creche Professora Fúlvia Rosemberg.

ATIVIDADE BERÇARIO I BERÇÁRIO II CICLO I INICIAL

CICLO I FINAL Entrada 7h00 às 7h30 7h00 às 7h30 7h00 às 7h30 7h00 às 7h30 Café da Manhã 7h30 às 7h45 7h45 às 8h00 7h30 às 7h45 7h45 às 8h00

Suco de Frutas 9h15 9h15 Não faz parte do

cardápio

Não faz parte do cardápio Atividades diversificadas 9h30 às 10h30 9h30 às 10h30 9h30 às 10h30 9h30 às 10h30 Almoço 10h45 às 11h15 11h15 às 11h45 10h45 às 11h15 11h15 às 11h45 Descanso 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00 Saída do semi/manhã 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00 12h00 às 13h00

Recepção do semi/tarde com almoço 12h00 às 12h30 12h00 às 12h30 12h00 às 12h30 12h00 às 12h30 Lanche da Tarde 14h00 às 14h15 14h15 às 14h30 14h00 às 14h15 14h15 às 14h30 Atividades diversificadas 14h30 às 15h30 14h30 às 15h30 14h30 às 15h30 14h30 às 15h30 Jantar 15h45 às 16h15 15h15 às 16h45 15h45 às 16h15 16h15 às 16h45 Saída 17h00 às 18h00 17h00 às 18h00 17h00 às 18h00 17h00 às 18h00

Quadro 6 – Organização da rotina na Creche Fúlvia Rosemberg

Fonte: Projeto político-pedagógico da unidade, do biênio 2015-2016, construído coletivamente.

MANHÃ

ESPAÇOS SALA 1 SALA 2 SALA 3 SALA 4 SALA 5

Parque 8h15 às 8h45 8h15 às 8h45 9h30 às 10h 7h45 às 8h15 10h às 10h30 Área interna 8h15 às 8h45 8h15 às 8h45 9h às 9h30 8h15 às 8h45 10h30 às 10h50 Área externa 8h15 às 8h45 8h15 às 8h45 10h às 10h30 8h15 às 8h45 9h30 às 10h Piso superior/ solário 10h às 10h30 9h30 às 10h 8h30 às 9h 9h às 9h30 9h às 9h30 Lactário 7h30 às 7h45 10h30 às 11h 7h45 às 8h 11h às 11h30 Café/almoço 7h45 às 8h 11h15 às 11h45 7h30 às 7h45 10h50 às 11h15 7h30 às 7h45 10h50 às 11h15 Sala leitura/TV

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

8h15 às 8h45 8h15 às 8h45 8h às 8h30 9h às 9h30 7h45 às 8h15 TARDE

ESPAÇOS SALA 1 SALA 2 SALA 3 SALA 4 SALA 5

Parque 13h30 às 14h 13h30 às 14h 15h15 às 15h45 14h15 às 14h45 14h45 Às 15h15

Área interna 13h30 às 14h 13h30 às 14h 15h45 às 16h15 14h45 às 15h15 15h15 às 15h45

Piso superior/ solário 13h30 às 14h 13h30 às 14h 15h45 às 16h15 15h15 às 15h45 14h15 às 14h45 Lactário 14h às 14h15 15h30 às 16h 14h15 às 14h30 16h às 16h30 Colação/jantar 14h às 14h15 16h30 às 17h 14h às 14h15 16h às 16h39 14h às 14h15 16h às 16h39 Sala leitura/TV

SEXTA QUINTA QUARTA TERÇA SEGUNDA

13h30 às 14h 13h30 às 14h 15h45 às 16h15 14h45 às 15h15 15h15 às 15h45

ESPAÇOS ENTRADA SEMI TARDE

Refeitório 12h às 12h30

Lactário 12h às 12h30

Parque/espaço interno 12h30 às 13h

Quadro 7 -Organização dos tempos e dos espaços na Creche Fúlvia Rosemberg Fonte: Projeto político-pedagógico da unidade, do biênio 2015-2016, construído coletivamente.

Nesse sentido, a rotina na creche tem por objetivo organizar o tempo, os espaços e as atividades que serão realizadas com as crianças, propostas essas definidas pelas professoras, com vistas à otimização dos trabalhos e à garantia de uma educação de qualidade que permita aos pequenos desenvolverem plenamente suas potencialidades. Enquanto prática pedagógica, essa rotina reflete as concepções que orientam o trabalho de cada criança, incluindo as noções de infância, de docência, de aprendizagem, entre outras.

Contudo, essa organização do trabalho não significa que todos os dias são realizadas as mesmas ações ou atividades ou que se tenha que cumprir exatamente o que foi planejado, pois existem questões determinantes da rotina, como a sistematização e a flexibilidade, de forma a considerar as capacidades, os interesses, as necessidades e o ritmo das crianças.

Vasconcellos (2004) considera que o projeto político-pedagógico refere-se a um plano da instituição, nunca definitivo, que vai se aperfeiçoando durante a caminhada do ano letivo, no qual o grupo necessita deixar seus objetivos claros, sempre constituído a partir da leitura da realidade na qual a escola encontra-se inserida.

Entende-se, portanto, que nesse processo de construção coletiva do projeto político- pedagógico é possível promover mudanças nas práticas de gestão e pedagógicas, desde que vinculadas a uma proposta conjunta da escola e não de forma isolada, buscando elaborar propostas em comum de atuação de todos os envolvidos no processo educacional.