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A pluralidade da pesquisa interdisciplinar

No documento INCT-TB (páginas 98-101)

4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: CONCEITOS CATEGORIAIS E DEFINIÇÕES PRÉVIAS

4.1 Interdisciplinaridade e seus contextos

4.1.3 A pluralidade da pesquisa interdisciplinar

A pesquisa interdisciplinar é pluralista no método e foco. Pode ser conduzida por indivíduos ou grupos e pode ser motivada por curiosidade científica ou necessidades práticas.

Pesquisadores como elos disciplinares, precisam de oportunidades para operar em duas ou mais disciplinas e para trabalhar em parceria com outros pesquisadores, docentes, estudantes e demais envolvidos na prática científica. Tais determinações, partem de critérios culturais e intelectuais e são pré-requisitos do trabalho interdisciplinar. (NAS, 2005). Estudos indicam que, muitas vezes, práticas interdisciplinares dentro da universidade não são institucionalizadas, o que exige, dos profissionais, um tempo adicional além daquele reservado para suas atividades regulares voltadas ao ensino, pesquisa e extensão. Acrescenta-se o fato da escassez de recursos financeiros necessários para tais práticas.

As maneiras como ocorrem as participações de pesquisadores, são determinantes na prática da pesquisa interdisciplinar. Um pesquisador pode integrar diversas áreas, arquitetando novos problemas ou métodos, ou ainda, ir mais longe da sua disciplina de origem, criando um novo campo científico. (NAS, 2005). Por exemplo, Albert Einstein ligou a Física, seu campo disciplinar, com a geometria de Riemann para descrever a Teoria Geral da Relatividade. Em um segundo modelo de participação, um grupo de pesquisadores, cada um com domínio de um campo, aprende a se comunicar e colaborara em um único problema. (NAS, 2005). Os resultados que serão oriundos dessa comunicação devem ter, em um mesmo produto, a participação de (quase) todos os envolvidos.

Visto que o sistema brasileiro de avaliação, prevê a produção de um esperado número de publicações e outros indicadores de produtividade, as práticas interdisciplinares permitem que novos e emergentes conhecimentos sejam disseminados nessas produções, uma vez que ao se analisar rapidamente bancos de publicações, como os disponíveis pela rede Universitas e Sciello, muitas vezes não mostram traços de inovação nos estudos. O incentivo às práticas de investigações interdisciplinares requer que existam mais agentes facilitadores para o processo, propiciando, assim, que cada

vez mais se tenham experiências interdisciplinares docentes e discentes no meio acadêmico.

A pesquisa interdisciplinar pode ser considerada um complemento riquíssimo às práticas de ensino interdisciplinar. Segundo levantamentos e análises do NAS (2005), os estudantes da Brown University têm mostrado crescentes interesses em programas interdisciplinares, assim como na Columbia University, onde o número de estudantes que se formaram em programas interdisciplinares aumentou significativamente ao longo dos últimos 10 anos. Na Stanford University, o curso de Ciências da Terra, por anos seguidos diminuiu seu corpo discente, situação essa, que foi revertida pelo fato de que o currículo original que tinha como base uma única disciplina, a geologia, foi reformulado para uma base interdisciplinar, passando a se chamar "Sistemas da Terra", o que proporcionou um campo de estudo, e, consequentemente de oportunidades maiores para os estudantes.

Para o Comitte on Facilitating Interdisciplinary Reseacrh (2005), os alunos são componentes centrais na pesquisa interdisciplinar. Estes devem estar preparados para a complexidade desta modalidade, sendo estimulados a compreender e buscar soluções em várias disciplinas, sabendo abordar problemas complexos a partir da perspectiva de vários campos. É importante que este processo ocorra, tanto em seus estudos de graduação, como de pós-graduação.

Para os estudantes, é necessária que seja proporcionada, através de bases curriculares que atravessem as fronteiras disciplinares, a incorporação de conceitos práticos da interdisciplinaridade nos cursos de graduação e pós-graduação. (NAS 2005) Além disso, para que alunos possam praticar conhecimentos interdisciplinares, é necessário que haja oportunidade da aproximação discente com a relação ensino e pesquisa. Atualmente, ao sair do meio acadêmico, os campos profissionais exigem uma gama de sabedorias que vai além do ensino teórico, buscando a prática e além do campo disciplinar, buscando a totalidade dos saberes.

A caminhada conjunta de alunos, orientadores e demais pesquisadores da pós-graduação, pode ser um agente facilitador da pesquisa interdisciplinar. Pesquisas ligadas a grupos ou redes com pesquisadores de várias áreas, muitas vezes, fornece grandes

oportunidades para que alunos de mestrado e doutorado, em parceria com seus orientadores, possam treinar trocas disciplinares. Essas parcerias, além de alavancar a qualidade de formação desses estudantes, proporcionam a ebulição de novas ideias de pesquisas para os grupos, resultam, consequentemente, em novos conhecimentos. Como promotor a esse fenômeno, os editais de Observatórios da Educação, são bons exemplos. Ao reunir mais de um departamento de universidades ou, em outros casos, departamentos de mais de uma universidade, os editais preveem o envolvimento de bolsistas de todos os níveis de ensino, em parceria com professores e orientadores. Os trabalhos de conclusão desses estudantes, sendo dissertações ou teses, mostram direta ou indiretamente, os resultados interdisciplinares dessas pesquisas. Estudantes envolvidos em pesquisas interdisciplinares são, ainda, motivados a transição natural de graus acadêmicos.

Políticas universitárias têm o poder de dificultar ou facilitar o ensino e a pesquisa interdisciplinar. Cursos e editais podem ser pensados e formulados desde suas bases com princípios que favoreçam as trocas disciplinares. Exemplos brasileiros mostram que grandes universidades já têm setores de atividades interdisciplinares institucionalizadas. É o caso da PUCRS, que voltada às investigações interdisciplinares, criou um Fórum que tem como objetivos principais: a) divulgar a pesquisa interdisciplinar que se faz na universidade; b) ouvir a sociedade sobre problemas complexos, de grande abrangência e de relevância social, que possam nuclear e induzir pesquisas interdisciplinares e; c) estimular a pesquisa interdisciplinar. No final de cada mês, é aberto um espaço para que os grupos e/ou pesquisadores envolvidos nestas atividades apresentem seus projetos e resultados, abertos a discussão e debates.

(PUCRS, 2013).

Uma visão de interdisciplinaridade na pesquisa pode começar com passos simples e comportamentos que alimentam a prática de colaboração. (POMBO, 1994).

Isso pode ser feito, por exemplo, criando mais oportunidades para o trabalho de alunos e professores em diferentes disciplinas e departamentos. Poderia também ser feito através de financiamentos em espaços interdepartamentais e promissores de parceria. O NAS (2005), relata que centros interdisciplinares não precisam apenas ser bem financiados,

mas necessitam também de um espaço físico e uma orientação intelectual independente dos departamentos tradicionais das universidades.

Para que exista espaço para a interdisciplinaridade dentro das práticas universitárias, faz-se necessária a mobilização, principalmente dos líderes institucionais frente a organização da gestão de reuniões e discussões, com abertura à pesquisadores e professores, abrindo, assim, precedentes para obtenção de recursos e mudança curricular, incentivando o novo dentro da instituição. (ALVARENGA, 2005). Em termos práticos, a interdisciplinaridade na universidade, depende primeiramente da implementação de políticas que partam de uma gestão inovadora. Barreiras institucionais, que muitas vezes emergem de tradicionalismos e costumes, aos poucos são quebradas, em favor, principalmente da formação das futuras gerações de cientistas.

A promoção de um ambiente de colaboração parte da reflexão de novas políticas e práticas.

No documento INCT-TB (páginas 98-101)