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A universidade e os novos contextos

No documento INCT-TB (páginas 101-107)

4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: CONCEITOS CATEGORIAIS E DEFINIÇÕES PRÉVIAS

4.2 A universidade e os novos contextos

mas necessitam também de um espaço físico e uma orientação intelectual independente dos departamentos tradicionais das universidades.

Para que exista espaço para a interdisciplinaridade dentro das práticas universitárias, faz-se necessária a mobilização, principalmente dos líderes institucionais frente a organização da gestão de reuniões e discussões, com abertura à pesquisadores e professores, abrindo, assim, precedentes para obtenção de recursos e mudança curricular, incentivando o novo dentro da instituição. (ALVARENGA, 2005). Em termos práticos, a interdisciplinaridade na universidade, depende primeiramente da implementação de políticas que partam de uma gestão inovadora. Barreiras institucionais, que muitas vezes emergem de tradicionalismos e costumes, aos poucos são quebradas, em favor, principalmente da formação das futuras gerações de cientistas.

A promoção de um ambiente de colaboração parte da reflexão de novas políticas e práticas.

paradigmas historicamente construídos. O individualismo institucional, os métodos de ensino-aprendizagem e os exercícios docentes, antes tão austeros, dão lugar à flexibilidade e adaptação de postura. Contudo, a ascendência da universidade como um lugar para seres humanos em contato com o conhecimento não mudou, como explicita Hammes (2006, p.406) “embora seja um lugar-comum, sempre é bom lembrar a origem da universidade como comunidade humana de estudantes e mestres”.

Diante da intensa globalização que tornou a internacionalização23 peça chave das políticas de educação superior, esse nível de ensino antes considerado “quase intocável” por Franco e Morosini (2009), hoje, contextualiza uma teia de possibilidades e inovações que ultrapassam sua relação com o saber e renovam princípios e sistemas em uma era sitiada por tecnologias, célere informativo em contraponto com desafios sociais e ambientais. A internacionalização da educação superior pode ser entendida por

“qualquer esforço sistemático que tem como objetivo tornar a educação superior mais respondente às exigências e desafios relacionados à globalização da sociedade, da economia e do mercado de trabalho. É a análise da educação superior na perspectiva internacional.” (MOROSINI, 2006 p.97).

A universidade brasileira que ao longo dos anos idealizou modelos predominantes em países centrais (FRANCO, 2006), hoje, sobrevém de uma superposição de modelos universitários. Franco (2006) cita Sguissardi ao afirmar que o critério para definição de um modelo de universidade, envolve, fundamentalmente dois elementos: associação entre ensino, pesquisa e extensão e integração de um conjunto de unidades (faculdades, institutos, centros...), sem esquecer indicadores como regime de trabalho do corpo docente, qualificação docente para a pesquisa estrutura de produção e divulgação científica e pós-graduação stricto sensu consolidada.

As universidades estão se reorganizando gradualmente para responder às novas demandas governamentais, industriais e de grupos sociais. (CLARK, 2004). Fenômenos econômicos e sociais em uma globalização impulsionada pelas tecnologias da

23 A internacionalização da educação superior é baseada em relações entre nações e suas instituições (MOROSINI, 2006)

informação e comunicação implicam no conhecimento, como atributo da competitividade, em uma demanda de inovação contínua. Assim, a gestão do conhecimento emerge como alternativa de ação para a universidade, uma vez que a partir dela, é possível vislumbrar novos arranjos colaborativos, sendo que estes são desenvolvidos e implementados com vias de adquirir e compartilhar conhecimentos do ambiente externo, visando encontrar potenciais soluções para atender necessidades institucionais, empresariais e sociais. (EGBU; ROBINSON, 2005). Para atender as novas demandas econômicas, políticas, sociais (...), emerge um movimento de reestruturação no contexto universitário, alavancado principalmente pelo fenômeno da globalização. Esta circunscreve as relações atuais, interferindo diretamente nas ações dentro da instituição.

As universidades são um amplo espaço de discussão, aprendizagem, compartilhamento e criação de valor. A sua interação com a sociedade e a aplicação do conhecimento nas atividades cotidianas comunitárias e nas de teor profissional, fazem dela, referência como provedora de conhecimento. (SCHARF et al., 2005). No entanto, autores como Meneghel (2001) e Santos (2004) apontam para algumas crises enfrentadas por essas IES, uma vez que a tendência de mercado influência, cada vez mais, a gestão das instituições e essas, consequentemente, atravessam uma fase que requer atenção voltada à competitividade do setor. Para os novos tempos, a gestão do conhecimento na universidade, tem sido alvo de estudo, tanto por acadêmicos, como por gestores do setor produtivo, uma vez que esses perceberam a importância do conhecimento enquanto força propulsora da inovação e da vantagem competitiva.

(DAYAN & EVANS, 2006).

O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, teve como duas de suas principais consequências, a propagação da internet e o movimento pró-informação, os quais deram um novo sentido ao conhecimento. Para Luchesi (2012) é necessária a criação e a implantação de processos que gerem, armazenem, gerenciem e disseminem esse conhecimento, ações essas, que devem ser voltadas não só à academia, mas também ao setor produtivo do país. Do mesmo modo que a instituição universidade se reconfigura para atender novas demandas, as empresas também vêm sendo desafiadas, em suas capacidades inovadoras, intelectuais e de capital humano.

O estabelecimento de processos interdisciplinares na universidade, tanto na área do ensino quanto na área da pesquisa, pode ser considerado uma das formas propulsoras de gestão do conhecimento, uma vez que as implementações desses processos promovem iniciativas voltadas à partilha de informação, disseminação de práticas transversais e avanços científicos, sugerindo, assim, a relevância desses, na inovação universitária. A inovação, aqui referida, aponta este conceito a um sentido mais transversal e abrangente, seja orientada à pesquisa, ao ensino ou à gestão, já que o seu contributo se dá nas mais variadas áreas. Assim, é importante que as organizações direcionem suas estratégias para ações interdisciplinares estruturadas, principalmente nas áreas de pesquisa, o que contribui com o crescimento sustentável da instituição, amplifica sua capacidade competitiva e permite potencializar a construção de novos conhecimentos.

As práticas de gestão do conhecimento permitem que a universidade tenha parcerias com os setores privado e público, superando, assim, os desafios da atualidade, aumentando a capacidade competitiva de cada organização e contribuindo para uma formação mais global dos novos profissionais.

Para Etzkowitz (1994), as universidades, além de suas clássicas atividades de ensino e pesquisa, estão, crescentemente, incorporando uma terceira atividade: a atuação em desenvolvimento econômico local e regional. Estes fatos apontam para um movimento integrador entre universidade e sociedade, no qual o financiamento público para a universidade está condicionado à sua contribuição direta para a economia.

(NEVES, 2006). Para esses autores, é também possível, que as universidades, ao adicionar desenvolvimento econômico às suas atividades anteriores, venham a assumir novos formatos, tal como ocorreu com as instituições de ensino ao incorporar atividades de pesquisa, (ETZKOWITZ, 1994). Esse novo formato sugere indagações sobre o futuro da universidade, porém, defende-se que uma maior participação da universidade no desenvolvimento local poderá auxiliar no fortalecimento da mesma. Ou, como afirma Etzkowitz (1994, p. 151), pode “transformar-se num processo de renascimento”.

A gestão do conhecimento, voltada a integração de diversos atores, proporciona para a universidade, o estímulo da interação, da integração, da participação, da cooperação, do compartilhamento, da socialização, da criatividade, do trabalho em

equipe e da sinergia, indispensáveis ao crescimento da organização e à obtenção de vantagem competitiva no mercado.

Têm-se exemplos dos últimos anos na Europa, onde foram feitos esforços importantes para aproveitar ao máximo a pesquisa realizada nas universidades com fundos públicos e transferi-la para a sociedade e para a empresa. O continente se acha na vanguarda de muitos campos científicos e técnicos. Por enquanto, não foram obtidos os resultados esperados por falta de uma rede de cooperação. Por isso, a União Europeia propôs a criação de um mercado comum de ciência, semelhante ao que existe para bens e serviços. A intenção da UE era que, em 2010, 3% do PIB (Produto Interno Bruto) dos países seja destinado à pesquisa. Talvez assim seja possível competir com países que atualmente ocupam o primeiro lugar em ciência e tecnologia, como EUA e Japão.

(UNIVERSIA, 2006).

Na visão de Tavares et al. (2011), o estímulo na aproximação entre universidade e empresa proporciona: a) o aumento crescente dos custos de pesquisa e desenvolvimento, tanto para os departamentos de P&D das empresas industriais, como da pesquisa acadêmica; b) a diminuição dos recursos governamentais para a pesquisa universitária, associada às mudanças nas políticas governamentais, estimulou os pesquisadores a procurar novas fontes de apoio; c) a emergência de um novo paradigma científico que diminuiu a distância entre inovação e aplicação tecnológica; d) a disseminação da busca de novas formas organizacionais para aproximar universidades e empresas, em razão da divulgação dos resultados alcançados por universidades líderes;

a necessidade de maior interdisciplinaridade e da adoção de um enfoque globalizado para as soluções dos problemas industriais, que tem conduzido à intensificação da colaboração entre diferentes agentes econômicos e à estruturação de redes e consórcios.

(ETZKOWITZ 1989; OCDE 1992; CALLON 1992; LEYDESDORFF E ETZKOWITZ 1997, APUD TAVARES, 2011). Ou seja, “sente-se a necessidade de relações multifacetadas entre organizações, para levar adiante inovações e trazer novos produtos para o mercado no ambiente de competição internacional acirrada dos anos 90.”

(ETZKOWITZ E LEYDESDORFF 1997, p. 4).

No Brasil, inúmeras ações institucionais e políticas estão voltadas para parcerias entre universidade e empresa, o que contribui para sanar as deficiências

tecnológicas das empresas e melhorar a formação profissional dos estudantes. Mesmo que as universidades e as empresas tenham missões e valores distintos, é possível que exista uma troca produtiva entre elas. Tavares et al. (2011), identifica vários mecanismos de relacionamento: a) adequação de currículos, de cursos e de programas de curso de forma a atender a algumas especificidades do mercado de trabalho; b) realização de eventos e programas de extensão universitária e de estágios curriculares ou não; c) possibilidade de transferência de tecnologia produzida na universidade para as empresas privadas. Este último mecanismo citado tem sido pauta de discussões no meio acadêmico e base para estratégias institucionais e para formulação de políticas públicas, nas áreas da tecnologia e inovação.

Hoje, é visível a caminhada da universidade brasileira na geração de conhecimento científico-tecnológico, o que sugere uma nova epistemologia da educação superior, que vai ao encontro do global e do internacional. (LEITE E GENRO, 2012).

Esta instituição tem se configurado como elo importante entre a formação profissional e social dos estudantes e a produção de tecnologia de ponta, a comparar com os países mais desenvolvidos.

No documento INCT-TB (páginas 101-107)