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A poética de Patativa do Assaré enquanto um “exercício de fé”

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CAPÍTULO II – A RELIGIÃO NA POÉTICA DE PATATIVA DO ASSARÉ

3.1. A poética de Patativa do Assaré enquanto um “exercício de fé”

A este ponto não nos restam dúvidas de que Patativa trabalha claramente com temas do cristianismo. E, a nosso ver, se esta obra trabalha com tópicos tais como a imagem de Cristo em um nordeste de santos, conceitos de juízo divino, justiça humana e divina, bem como com imagens que podem ser classificadas como de personagens de um cristianismo nordestino, então não é exagero afirmar ser possível transformar esta obra, recheada de “temas teológicos”, em uma fonte teologal. Dito de outro modo, uma fonte que pode ser considerada, porque foi elaborada a partir da complexidade de relações de um povo, de suas alegrias, necessidades e, sobretudo, de seus anseios mais profundos, os quais admitem a fé em um Deus que serve de esperança para um povo sofrido.

Cremos que a intenção de ver a obra patativana sob o prisma de uma fonte teologal é possível, uma vez que ela trabalha com a religião cristã e a reinterpreta. Neste sentido, a obra de Patativa, enquanto uma obra poética e de arte, traz em sua composição uma sofisticada capacidade e sensibilidade para tratar de questões da condição humana. Diante disto, não vemos dificuldades em encará-la como uma “Bíblia reescrita”, forjada e interpretada a partir da realidade e do sofrimento concreto de um povo, o qual demonstra de forma muito clara sua crença em Deus e nos santos do catolicismo.

Também não entendemos como exagero a afirmação de que a poética de Patativa pode ser tida como um exercício de fé, visto que se trata de um católico que não esconde sua

confissão religiosa. Antes, a religião se torna algo constituinte no conjunto patativano e cuja influência é nítida em diversas poesias. Pode-se afirmar ainda que a poesia de Patativa do Assaré é um exercício de sua fé que precisa ser entendido dentro de sua estética, a partir da qual o poeta elabora seus escritos e os torna em instrumentos de propagação e veiculação de uma fé vivida.

Mas além da perspectiva da estética, é preciso mencionar que o exercício de fé efetuado através da poética de Patativa não se desenrola dentro da expressão “oficial” da religião, pois se assim fosse, estaria submetida a uma religião oficial, portadora de uma liturgia e de uma teologia bem definidas. Mas o exercício de fé ao qual nos referimos se desdobra na perspectiva da “religião popular, que elabora seu ritual em torno dos símbolos: a festa do santos padroeiros, as romarias, as procissões, o culto dos mortos”.190

A consideração de Oliveira é relevante, porque é dentro do conceito de religião popular, vivida e expressa no cotidiano do povo, que se encontra inserido o poeta Patativa do Assaré e também é neste sentido que usamos o termo “popular”, que seria:

aquilo que o povo ama, que é aceito e adotado pela maioria das pessoas. Nesse sentido, a palavra tem às vezes uma conotação pejorativa, pois tende a indicar tudo o que pertence às camadas inferiores da população.191

Acreditamos ainda que, de fato, a poesia patativana tenha algo de teológico em si, porque expressa o vínculo do autor com uma herança religiosa que lhe é cara. Pode-se afirmar que ela expressa o vínculo e adesão do autor ao catolicismo, utilizando sua arte poética para expressar sua devoção religiosa. Neste caso, a poesia não se dá apenas no plano da interdiscursividade, pois em Patativa, de alguma forma ela serve como um criativo mecanismo para manifestar tanto a sua experiência religiosa como do seu povo – uma experiência traduzida em uma linguagem que abrange dois mundos; uma escrita que atinge os diversos estratos da sociedade; uma linguagem poética que consegue transitar com desenvoltura e leveza em mundos que são aparentemente distintos: o mundo formal e letrado e o mundo marginal e “analfabeto” da maioria dos sertanejos.

190 OLIVEIRA, Hermínio Bezerra de. Formação histórica da religiosidade popular no nordeste (o caso de Juazeiro do Norte). São Paulo: Paulinas, 1985, p. 9.

Ao longo de sua vida, o poeta aperfeiçoou sua capacidade de se comunicar com os nordestinos pobres e desfavorecidos, numa clara intenção de manter-se permanentemente identificado com estes, através de uma escrita que, para muitos, não atende os “requisitos formais” da língua portuguesa. Mas também manteve a opção de construir um diálogo com os demais brasileiros habitantes de outras partes do Brasil que não o sertão, através de uma escrita formal e capaz de atender a todos os requisitos protocolares da língua, visando a cultivar o diálogo e a comunicação constantes, capazes de ultrapassar as barreiras geográficas do sertão nordestino.

O mundo de Patativa é verbalizado na escrita “normativa e culta” da língua portuguesa, mas é também o mundo expresso em uma forma que poderia ser classificada como “precária”, utilizada por ele em larga escala para traduzir as expressões e os anseios, as necessidades e as crenças mais caras ao caboclo sertanejo, cuja história é tecida nas mais longínquas paragens do sertão nordestino.

A grafia da poética de Patativa do Assaré na forma como o sertanejo se expressa, longe de ser marca de uma possível deficiência do autor no que se refere ao domínio de normas gramaticais, é, antes de tudo, um rico instrumento através do qual Patativa valoriza a união de expressões que aparentemente são opostas. São poesias que unem mundos socialmente distintos, mas marcados por necessidades afins. Expressam a exploração do sertanejo pobre, mas revelam, ao mesmo tempo, os conflitos de uma classe média receosa da possibilidade de cair para a classe pobre, enquanto se vê na expectativa de alcançar a tão cobiçada classe rica.

É através das linhas e das rimas de suas poesias que Patativa pratica a sua devoção, evidencia sua crença no conceito de vida após a morte e declara com aguda e cristalina convicção sua esperança em um mundo e em uma vida que ele não pode ver fisicamente, mas que pode perceber com os olhos nítidos de sua fé, a exemplo do que ocorre na poesia Meu

recado a São Pedro:192

Amigo Fernando Amaro Se a vida nos traz beleza, A morte vem de surpresa E acaba todo preparo, É este o prêmio, meu caro,

Que o fim da vida nos dá, No caixão você está E eu serei o mesmo réu, Diga a São Pedro no Céu Que breve eu chegarei lá. Lhe diga que a morte ingrata Tem abatido bastante

E ainda vai muito adiante Porque velho aqui é mata, Meu cabelo cor de prata A minha morte anuncia, Quando chegar meu dia Quero meu cantinho lá Ao lado do meu xará Castro Alves da Bahia.

De imediato, pode-se pensar e chegar à conclusão de uma visão extremamente pessimista do poeta em face da finitude humana. De início, há a condicional quanto à existência ou não da felicidade na vivência humana. Daí a forma como Patativa se expressa: “se a vida nos traz beleza, a morte vem de surpresa”. Ainda que a vida seja permeada pela beleza, todavia, toda beleza e felicidade que porventura possam fazer parte de uma existência são exterminadas de forma súbita diante da inexorável presença da morte, que “vem de surpresa e acaba todo preparo”.

No final das contas, a morte é o único “prêmio” que a vida reserva a todos os mortais, cujo desfecho na vida de Patativa é a contemplação de um amigo que agora jaz em um caixão – destino a ser repetido de forma semelhante também na realidade futura do poeta, da qual não pode fugir, chegando à indubitável constatação: “no caixão você está e eu serei o mesmo réu”. O réu de uma vida que, apesar de ser portadora de beleza, o é também de tristeza, marcada pela permanente dualidade entre beleza e morte, tristeza e alegria, quer seja por causa da partida dos que mais amamos, quer seja pela inevitável conclusão de que cedo ou tarde a morte também nos atingirá.

Porém, com a constatação da chegada do fim da vida, uma outra visão de Patativa no que diz respeito à morte é observável em suas poesias. É a concepção de um católico crente na possibilidade de um dia vir a ser recebido no céu por São Pedro após sua morte: “diga a São Pedro no Céu que breve eu chegarei lá”. É o céu onde se dará o reencontro, inclusive com outros poetas, a exemplo de Castro Alves: “Quando chegar meu dia quero meu cantinho lá, ao

lado do meu xará, Castro Alves da Bahia”. Patativa sem dúvida, conforme afirma Tillich, preocupa-se com muitas outras coisas presentes no seu cotidiano, tais como o alimento e a moradia. Mas é inegável que o poeta “também tem preocupações espirituais, isto é, estéticas, sociais, políticas e cognitivas”.193

É perceptível a presença de uma fé, a qual Patativa faz questão de expressar em seus escritos. Não é algo superficial, não é, como afirmamos anteriormente, apenas um recurso de sua estética. Mais que isto, é uma fé vista como “o ato mais íntimo e global do espírito humano. Ela não é um processo que se dá numa seção parcial da pessoa nem uma função especial da vivência humana”.194

Talvez pelo fato deste processo descrito por Tillich não ser algo parcial é que a fé do poeta cearense seja demonstrada e professada de forma concreta, ou seja, dentro de um contexto no qual pessoas são marginalizadas, exploradas e roubadas. Pois é uma fé voltada para o ambiente vivenciado na cotidianidade do nordeste de Patativa e, sendo assim, “ela se orienta para um objeto ou uma pessoa”.195

A poesia de Patativa é permeada pela fé que se orienta e aponta para um objeto ou uma pessoa. Neste caso, o objeto, ou melhor, a pessoa é o Deus apresentado pelo catolicismo, para quem o poeta dirige suas poesias em forma de preces. Estas preces contemplam a vida dos que vivem à margem de um sistema político, econômico, jurídico e educacional que jamais os considera. Pelo contrário, ao que tudo indica, tal sistema parece sempre estar em sintonia quando se trata da omissão no que se refere aos direitos dos sertanejos.

Patativa é dotado de uma sabedoria adquirida no decorrer de uma longa vida, pois a chegada da morte é pressentida pela velhice como inevitável e da qual não existem formas de esquivar-se. Mas a morte é esperada com a expectativa de morada em uma nova terra, ou melhor, um novo lugar (o céu), exatamente “ao lado do meu xará Castro Alves da Bahia”. Ainda considerando a chegada da morte, designada por Patativa como “morrer sem morrer de veras”196, o poeta elabora e traça sua visão sobre a realidade da morte tão presente

193 TILLICH, Paul. Dinâmica da fé. 3 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1985, p. 5. 194 Ibid., p. 7.

195 Ibid., p. 16.

na existência humana, embora insistentemente seja também tão presente nossa insistência em querer negá-la.

Uma coisa é certa: Patativa elaborou com clareza sua idéia em relação ao lugar e/ou espaço que o espera após o término de sua vida:

Do meu fúnebre caixão sem soluços nem gemidos eu subi para a mansão da pátria dos escolhidos alegre me receberam e uma festa promoveram eu fiquei muito feliz vivo a recordar ainda foi a viagem mais linda que durante a vida eu fiz. Disseram, vendo o troféu que a natureza me deu: Vai haver festa no céu. O Patativa morreu! São Pedro muito sapeca foi trazer sua rabeca e no arco passando breu cantou com voz compassiva: Viva, viva o Patativa

ele é um colega meu. Na recepção imensa de rabeca e cantoria

chegou em nossa presença, Castro Alves da Bahia com muita satisfação, apertou a minha mão e me disse com amor: sei tudo o que aconteceu lá na terra onde viveu foi poeta e professor. Lá na terra de Iracema, com a sua poesia abordou o mesmo tema que eu abordei na Bahia.

A primeira observação a ser feita a respeito desta poesia se refere a uma verificação empírica por parte do poeta: diante da morte, dada a sua inevitabilidade, chega um momento no qual só nos resta a resignação e a esperança de residência em outro local, onde se espera vivenciar uma realidade muito melhor do que a vida terrena, marcada por todas as suas

agruras e injustiças. Daí a conclusão em tom profundamente resignativo: “sem soluços nem gemidos, eu subi para a mansão da pátria dos escolhidos”. A morte, sempre vista com terror, apreensão e lágrimas, aqui é descrita sem soluções e gemidos, marcas indeléveis de sofrimento, agonia e dor.

Aliás, o próprio poeta descreve a morte como a viagem que o conduz a um novo estágio de uma nova “realidade” após a vida. A esta ele considera como a melhor viagem realizada em toda a sua caminhada terrena: “foi a viagem mais linda que durante a vida eu fiz”. Talvez esta constatação decorra da idéia do poeta que vê a morte como um estágio de descanso e paz.

A melhor viagem que Patativa já fez em toda a sua vida só é a melhor devido ao fato de que ela o leva a um lugar tão desejado por ele, nesse caso, ao céu. Antes de tudo, a descrição do céu é realizada a partir da compreensão tecida em decorrência de seu contato com o catolicismo. Mas é um céu que, ao que tudo indica, talvez seja um lugar até diferente daquele elaborado e imaginado pela concepção católica, pois é um lugar de festas, de alegria, de celebração, no qual o poeta é aguardado com ansiedade e expectativa: “disseram, vendo o troféu que a natureza me deu: vai haver festa no céu, o Patativa morreu!”.

É o lugar designado pelo próprio Patativa como a mansão da pátria dos escolhidos, o local no qual São Pedro, na qualidade de guardião, alegra-se ao saber que Patativa será o novo morador. É ainda é um lugar de reconhecimento, no qual o poeta Castro Alves aperta a mão de Patativa, cumprimenta-lhe e felicita por ter sido não apenas poeta, mas também professor. Além disso, Castro Alves se identifica com Patativa pelo fato de este ter defendido a mesma causa, ou seja, o profundo engajamento em causas sociais.

Além destas existem outras poesias através das quais Patativa manifesta seu lado religioso, bem como apresenta a sua concepção a respeito da realidade que o aguarda após a vida. Não é uma percepção niilista, na qual nada existe com a chegada da morte, tampouco uma visão cética de que, após a morte, nada mais resta. Antes, o que se percebe são idéias de alguém movido por uma profunda crença e uma intensa devoção arraigadas na perspectiva de um reencontro com Deus após uma vida de lutas, na qual se presenciou muitas injustiças, muitos desmandos, mas cujos resultados para os que perseveraram são traduzidos na esperança de um lugar de descanso, conforme descrito pelo poeta:

Seu dotô, eu falo franco, /Se eu morrê não dou cavaco, /Eu mêrmo tenho vontade de saí deste buraco; / Juro por Nossa Senhora / Que chegando a minha hora eu não digo nem adeus / A este triste recanto, / E vou gozá dos encanto / Das santa coisa de Deus / Se a vida traz o tromento / E a morte o descanso traz, / Não dou cavaco em morrê, Pra gozá da santa paz / Eu inté tenho alegria, / Pruquê vejo todo dia / Que a morte qué me levá; / Já oiço a zoada dela / Sacolejando a tramela / Da porta, pra me sortá197.

O trecho apresentado remete à poesia na qual Patativa manifesta a sua filosofia de trovador nordestino. É nesta poesia que ele descreve sua versão da queda do primeiro casal em face da desobediência às ordens divinas no paraíso.

Segundo Patativa, em decorrência da desobediência Deus castiga a humanidade com o flagelo da morte. A vida passa a ser vista como uma prisão, um cárcere universal cuja única possibilidade de libertação reside no encontro com a morte, que pode concretizar a vontade do poeta de se ver livre “deste buraco”.

Mas muito mais do que desejar a própria morte, o que mais conta é o desejo de um poeta que almeja sair deste “triste recanto” que é a vida para, em seguida, encontrar e “gozá

dos encanto das santa coisa de Deus”. É o momento desejado para se “gozá da santa paz” –

uma paz a ser adquirida plenamente após a vida e, especificamente, no céu, lugar que se torna acessível, na percepção do poeta, quando a morte abre a porta da prisão de uma curta e sofrida experiência chamada vida.

Tais poesias podem ser comparadas a espelhos capazes de refletir com sensibilidade “o exercício de fé” do poeta Patativa. Desta forma, não podem ser vistas como textos isolados, pois apontam para uma visão de mundo de alguém que, de fato, deposita sua crença e esperança não somente nesta existência, mas que a vê como uma passagem, um meio que conduz para uma nova realidade iniciada com o arrefecer do fôlego da vida.

Portanto, a questão da fé em Patativa não pode ser percebida como recurso estético utilizado para a produção de uma obra poética. Seu alcance vai muito além desta possibilidade. Seus escritos são, antes de tudo, um depoimento de fé e também de esperança contempladas nas belas imagens do sertão, que impregnam a vida do poeta roceiro. São imagens emolduradas de um sertão capaz de dar coragem, saúde e alegria aos caboclos

197Cf. ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá, pp. 182-190.

sertanejos, apesar de tantas mazelas – sofrimentos tão intensos e cruéis, capazes de fazer o poeta desejar a própria morte: “Me resta somente a feliz sepurtura, e a vida futura que Nosso Senhô premete a quem sofre e padece inocente. A vida presente pra mim se acabou”.198

Mas ao tratarmos de um exercício de fé elaborado a partir da poética de Patativa, é válido lembrar e mencionar uma discussão já tratada no capítulo anterior, na qual defendemos a idéia de que a fé não é vista apenas como sendo monopólio da Igreja e cuja vivência só é válida se praticada dentro dos seus domínios. Não é um exercício de fé que obedece apenas aos ditames e orientações teológicas da Instituição. Patativa, apesar de ser claramente influenciado pelo catolicismo, ainda assim não permite que sua obra seja o mero reflexo de dogmas, conceitos e crenças da Igreja, pois sua visão de mundo admite que sua obra vá muito além desta perspectiva.

O que aparece refletido na poética patativana não é apenas o cristianismo filtrado de acordo com os dogmas católicos, ainda que possamos encontrar os resquícios e os rastros de toda uma tradição religiosa. O poeta consegue se desvencilhar da grande influência que o catolicismo exerceu no seu contexto e, com isso, elabora uma poética que, embora faça constante menção a conceitos presentes na religião católica, não se torna meramente panfletária no sentido de tão somente refletir e propagar uma religião, sem apontar e sem ser capaz de também denunciar e questionar suas contradições e seus conflitos internos.

A obra de Patativa não deve ser vista apenas como um exercício de fé efetuado na Igreja. Caso assim o fosse, teríamos um trabalho que certamente obedeceria aos estritos preceitos da Igreja sem renová-los, ressignificá-los e sem entrar em questionamentos com toda a sua estrutura e doutrinas. Seria um exercício de fé vivido apenas no âmbito de uma determinada tradição religiosa, que não comporta muito espaço para renovações ou possíveis alterações, pois a Instituição, com todo o seu aparato hierárquico, por certo o utiliza para convencer ou constranger àqueles que desejam alterar seus dogmas.

Por outro lado, um exercício de fé vivido pela Igreja será tão somente a proclamação de uma visão e de um corpo doutrinário de acordo com os interesses desta, e certamente não haverá espaço para se considerar, através de questionamentos e reflexões, possíveis novas interpretações sobre aspectos e questões que são considerados de domínio da Instituição

religiosa. Um exercício de fé vivido pela Igreja só comporta a sua visão e interpretação de mundo, isto é, o que a Instituição acredita e proclama como verdades de seu corpo de doutrinas. Um exercício de fé nestas condições não admite a possibilidade de novas interpretações para algumas “verdades” que a Instituição considera como inegociáveis.

Mas a obra de Patativa pode ser vista enquanto exercício de fé vivenciado através da

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