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4.2 A Comunidade Européia como instituição jurídica regional

4.2.2 A política comercial comum da instituição jurídica européia

As relações exteriores da CEE tem como marco legal o Tratado de Roma de 1958 – ou Tratado da Comunidade Econômica Européia – que tocou em pontos fundamentais em relação a atividade da Comunidade dentro do GATT/1947 ao estabelecer e definir uma Política C omercial Comum; ela tem também sido um dos instrumentos mais usad os para o exercício das relações exteriores da Comunidade282

, especificamente no que tange as prescrições do seu artigo 113. Essa política comercial comum foi incluída entre suas atividades juntamente com a tarifa externa comum aplicável aos terceiros Estado s283

. Já os meandros para se alcançar foram dispostos nos artigos 110 a 116, tendo alguns deles sido revogados ( arts. 111, 114, 116) ou emendados (arts. 113, 115) pelo Tratado da União Européia – também conhecido como Tratado de Maastricht.

Examinando esses dispositivos, verifica-se que o artigo 110284

enfatiza o elo entre a Política Comercial Comum da Comunidade para o estabelecimento da União Aduaneira pelos Estados-membros e destaca a necessidade de “progressiva abolição das restrições ao comércio mundial ”, redação que é mantida no Tratado da União Européia. O artigo 111, por sua vez, prev ia as regras para implementação da Política Comercial Comum durante o período de transição, que acabou em 1968;

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MACLEOD, Ian; I.D. HENDRY, Stephen Hyett. The External Relations of the European Communities, Oxford: Clarendon Press, 1996, p. 266.

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Princípios da Comunidade. Artigo 1 º. Pelo presente Tratado, as altas partes contratantes instituem entre si uma Comunidade Européia. Artigo 2º. A Comunidade tem como missão, através da criação de um Mercado Comum e de uma União Econômica e Monetária e da aplicação das políticas ou ações comuns a que se referem os artigos 3 º e 3º-A, promover, em toda a Comunidade, o desenvolvimento harmonioso e equilibrado das atividades econômicas, um crescimento sustentável e não inflacionário que respeite o ambiente, um alto grau de convergência dos comportamentos das economias, um elevado nível de emprego e de proteção social, o aumento do nível e da qualidade de vida, a coesão econômica e social e a solidariedade entre os Estados -membros. Artigo 3º. Para alcançar os fins enunciados no artigo 2 º, a ação da Comunidade implica, nos termos do disposto e segundo o calendário previsto no presente Tratado: a) A eliminação, entre os Estados -membros, dos direitos aduaneiros e das restrições quantitativas à entrada e à saída de mercadorias, bem como de quaisquer outras medid as de efeito equivalente; b) Uma política comercial comum ; [...] [grifou-se]

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Tratado de Roma (CEE). Política Comercial Comum. Art. 110. Ao instituírem entre si uma união aduaneira, os Estados-membros propõem-se contribuir, no interesse comum, para o desenvolvimento harmonioso do comércio mundial, para a supressão progressiva das restrições às trocas internacionais e para a redução das barreiras alfandegárias.

A política comercial comum tomará em conta a incidência favorável que a supressão de direitos aduaneiros entre os Estados-membros possa ter no momento da capacidade concorrencial das empresas destes Estados.

após essa fase a Comunidade obteve todas as competências para gerir essa política comunitária. Os Estados-membros então foram conclamados para “coordenar suas relações comerciais com terceiros países de maneira a trazer, não mais tarde que a expiração do período de transição, as condiç ões necessárias para a implemen tação da Política Comercial Comum ”. Além disso, deveriam realizar consultas de suas medidas com a comissão, as quais conferi ssem obrigações e responsabilidades para subseqüentes negociações multilaterais e atividades da Política Comercial Comum. Obviamente, o artigo foi abolido pelo Tratado da União Européia em virtude do esgotamento de seu objeto.

No artigo 112285

encontra-se a necessidade de harmonização do sistema e garantia de ajuda às exportações para terceiros países e o a rtigo 113286

assenta que a política comercial comum é pautada por “princípios uniformes, designadamente no que diz respeito às modificações de pauta, à celebração de acordos de pauta e comerciais, à uniformização das medidas de liberalização, à política de exportação, bem como às medidas de proteção do comércio, tais como

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Tratado de Roma (CEE). Art. 112. §1º Sem prejuízo dos compromissos assumidos pelos Estados - membros no âmbito de outras organizações internacio nais, os regimes de auxílios concedidos pelos Estados-membros às exportações para países terceiros serão progressivamente harmonizados antes do termo do período de transição, na medida em que tal for necessário para evitar que a concorrência entre as empre sas da Comunidade seja falseada. Sob proposta da Comissão, o Conselho, deliberando por unanimidade até ao final da segunda fase e, daí em diante, por maioria qualificada, adotará as diretivas necessárias para o efeito.

§ 2º. As disposições precedentes n ão são aplicáveis aos drawbacks de direitos aduaneiros ou de encargos de efeito equivalente, nem aos reembolsos que resultem de imposições indiretas, incluindo os impostos sobre o volume de negócios, os impostos sobre consumos específicos e outros impostos indiretos, concedidos no momento da exportação de uma mercadoria de um Estado-membro para um país terceiro, na medida em que esses drawbacks ou reembolsos não excedam os direitos, encargos ou imposições que tenham incidido, direta ou indiretamente, sobre os produtos exportados.

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Tratado de Roma (CEE). Artigo 113.

§1º. A política comercial comum assenta em princípios uniformes, designadamente no que diz respeito às modificações pautais, à celebração de acordos pautais e comerciais, à uniformização das medidas de liberalização, à política de exportação, bem como às medidas de proteção do comércio, tais como as medidas a tomar em caso de dumping e de sub sídios.

§2º. Tendo em vista a execução desta política comercial comum, a Comissão submeterá propostas ao Conselho.

§3º. Quando devam ser negociados acordos com um ou mais Estados ou organizações internacionais, a Comissão apresentará, para o efeito, recomendações ao Conselho, que a autorizará a encetar as negociações necessárias. A Comissão, no âmbito das dire tivas que o Conselho lhe pode dirigir, conduzirá estas negociações, consultando para o efeito um Comitê especial designado pelo Conselho para assistir -lhe nessas funções. São aplicáveis as disposições pertinentes do artigo 228.

§4º. No exercício da competê ncia que lhe é atribuída no presente artigo, o Conselho delibera por maioria qualificada.

as medidas a tomar em caso de dumping e de subsídios”. Referida disposição tem suscitado controvérsia, pois embora tente definir a política comercial comum ao elencar claramente as matérias listadas, a definição é tida co mo não exaustiva em relação aos temas abarcados pela política comercial o que evitaria o fechamento das portas à aplicação no contexto da Comunidade de outros processos a regular o comércio internacional287

.

Ademais, o artigo 113, § 2º, estipulou que a Comissão deveria submeter propostas ao Conselho para implementaç ão da Política Comercial Comum . Nos casos de acordos negociados com terceiros países, a comissão deveria formular recomendações ao conselho, o qual deveria autorizá -lo abrir e conduzir as necessárias negociações (art. 113, § 3º).

A respeito do dispositivo, cabe destacar que a CEJ já decidiu categoricamente que a Comunidade tem poderes exclusivos para os propósitos da Política Comercial Comum , sem concorrência dos Estados -membros288

. Todavia, isso nem sempre tem ocorrido na realidade dos fatos, pois, apesar de a UE possuir formalmente jurisdição sobre a pol ítica comercial desde 1969, na prática, os Estados-membros usaram suas políticas nacionais para proteger setores sensíveis durante a década de 70 e começo dos anos 80289

.

No que tange às disposições dos artigos 113 e 114, concernentes às condições sob as quais os acordos em política comercial comum tinham que ser celebrados, mostrou-se que o exercício de poderes concomitant es pelos Estados- membros era impossível, e assim as compet ências da Comunidade em relação à política comercial comum sob o Tratado de Roma eram exclusivas , uma vez que Estados-membros possam ter adotado posições que poderiam distorcer o quadro institucional, colocando em xeque a conf iança mútua no seio da Comunidade.

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MACLEOD, 1996, p. 268.

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A Corte se baseou exclusivamente nos fatos que conceberam a Política Comercial Comum, isto é, “no contexto de operação do mercado comum , para defesa de interesses comuns da Comunidade, dentro dos quais os interesses particulares dos Estados -membros devem se esforçar para se adaptarem uns aos outros”. Opinião consultiva da CEJ nº 1/75 de 1975 sobre o artigo 228 do Tratado de Roma (CEE), p. 136 4.

289

HANSON, Brian T. What Happened to the Fortress Eu rope? External trade Policy Liberalization in the European Union, International Organization , nº 52, Cambridge: Cambridge University Press , 1998, p. 56.

Como corolário dessa competência exclusiva da Comunidade, os Estados-membros só poderiam agir unilateralmente nas áreas abrangidas pela Política Comercial Comum por meio de uma autorização específica da Comunidade nos moldes da previsão do artigo 115290

do Tratado de Roma. Esse comando atribui à Comissão recomendar medidas cooperativas aos Estados -membros, na medida em que isso seja necessário para assegurar a execuç ão das medidas da política comercial comum tomadas de acord o com o Tratado de Roma não sejam obstruídas por desvio de comércio . Não sendo possível, a Comissão deve (ou “pode” conforme emenda obrada pelo Tratado da União Européia) autorizar Estados-membros a tomarem as necessárias medidas defensivas.

Por fim, o artigo 116 (abolido pelo Tratado da União Européia) obrigava os Estados-membros a proceder conforme o quadro das organizaç ões internacionais de caráter econômico, somente por ação conjunta , em respeito a todos os assuntos de particular interesse da Comunidade. Como o escopo da previsão não era claro, a disposição foi raramente usada na prática .

Ainda que houvesse regras estabelecendo como deveria ser a atuação da CEE no plano internacional, bem como a sua própria condição no sistema jurídico multilateral, as linhas seguintes revelam que o paradigma positivista não era doutrina infalível, pois o direito objetivo arraigado n a Comunidade motivava (e ainda motiva) a releitura do sistema multilateral de comércio como ainda é apresentado . Dentro dessa perspectiva, adiante se procura trabalhar como a visão institucionalista do direito e a atuação da CEE – imbuída de valores arraigados na sociedade

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Tratado de Roma (CEE). Art. 115. A fim de gara ntir que a execução das medidas de política comercial, adotadas nos termos do presente Tratado por qualquer Estado -membro, não seja impedida por desvios de tráfego, ou sempre que haja disparidades nessas medidas que provoquem dificuldades econômicas em um ou mais Estados, a Comissão recomendará os métodos a empregar pelos outros Estados -membros para prestarem a cooperação necessária.

Na falta dessa cooperação, a Comissão pode autorizar os Estados -membros a tomarem as medidas de proteção necessárias, de que fixará as condições e modalidades.

Em caso de urgência, os Estados -membros devem pedir autorização à Comissão, que se pronunciará no mais curto prazo, para tomarem eles próprios as medidas necessárias, notificando - as em seguida aos outros Estados -membros.

A Comissão pode decidir, em qualquer momento, que os Estados -membros em causa devem modificar ou revogar as medidas tomadas.

Devem ser prioritariamente escolhidas as medidas que provoquem o mínimo de perturbações no funcionamento do mercado comum.

internacional, em especial na sociedade européia – interferiram e interferem no direito positivo.