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A POLÍTICA DE CULTURA DE PERNAMBUCO (2006-2010)

5 A ANÁLISE DE DOCUMENTOS E GESTÕES DE CULTURA

5.3 A POLÍTICA DE CULTURA DE PERNAMBUCO (2006-2010)

No estado de Pernambuco, a pasta de Cultura passou somente a “existir” de forma autônoma a partir de 2011. Nesse ano foi criada especificamente a Secretaria de Cultura de Pernambuco, após um longo período em simbiose da pasta com a Educação, realizando suas atividades apenas a partir de uma Fundação. A FUNDARPE (Fundação para o Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) havia iniciado sua atuação em 1973 como instituição que deveria se coadunar com a iniciativa federal de preservação histórica promovida pelo IPHAN. A partir da reformulação de 1979, a Fundação foi se distanciando de ser uma instituição exclusivamente voltada para a restauração e revitalização do patrimônio material e se aproximou das discussões sociais que marcaram os últimos anos do Regime Militar, integrando a necessidade de olhar para a diversidade cultural e para a justiça social como podemos ver no texto:

Se, com efeito, a política nacional não entende por cultura apenas “aquela típica das elites intelectuais e econômicas, muito imitativas dos padrões externos e fortemente excludentes das expressões populares” é de mister perseguir-se o objetivo geral de “adequar a ação educativo-cultural às peculiaridades regionais e populacionais, atendendo principalmente aos grupos de baixa renda, constituídos basicamente pela

população das zonas rurais e da periferia urbana marginalizada. (...) a FUNDARPE simplesmente se faz comprometida com o artigo 22 da Declaração dos Direitos Humanos, segundo o qual, “toda pessoa tem direito a obter a satisfação dos direitos culturais, indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade”. À Fundação, por certo, muito confortará sentir que o seu esforço insano e diuturno valerá o cumprimento de “um dos deveres mais próprios de nossa época, que – na proclamação da Constituição “Gaudiam et Spes” – é o de trabalhar com afinco para que se deem normas fundamentais a fim de que se reconheça em toda parte e se torne efetivo o direito de todos à cultura, exigida pela dignidade da pessoa”. (LÓSSIO, 1987, p. 89)

Em 2003, na segunda gestão de Jarbas Vasconcelos (1999-2006) no governo do Estado19, a necessidade de modernizar o acesso aos recursos desencadeou na criação do Funcultura – um Fundo público de apoio à Cultura que já em sua primeira edição teve R$ 3,4 milhões investidos e mais de R$ 13 milhões em pleitos. Jarbas era fundador do Movimento Democrático Brasil (MDB) e uma das principais vozes de resistência ao regime militar em Pernambuco. A partir dos anos 90, alinha-se com as forças mais tradicionais – antigo PFL – e o PSDB, a fim de confrontar a hegemonia de Miguel Arraes (PSB). Quando o candidato de Jarbas para a sucessão do governo do Estado, Mendonça Filho (antigo PFL) perde a eleição, inicia-se a gestão de Eduardo Campos (PSB) em 2007 que indica Luciana Azevedo, militante histórica do Partido dos Trabalhadores (PT) para ser a Presidenta da Fundarpe e Ariano Suassuna para ser o Secretário Especial de Cultura.

Ariano, que já havia sido Secretário de Cultura no Governo Miguel Arraes (1994-1998) realizava ‘aulas-espetáculos’ por dentro de Pernambuco, difundido suas ideias em defesa da cultura nordestina. Já a nomeação de Luciana Azevedo para a presidência da FUNDARPE foi muito celebrada em Recife por ela ter sido considerada a vereadora mais atuante do Recife em 2004, tendo ocupado, antes disso, a Secretaria de Planejamento do Recife durante o governo do petista João Paulo (2000-2004) e desenvolvido propostas de apoio a prevenção dos deslizes de barreiras nos morros do Recife. No tímido blog desenvolvido durante o seu mandato na Câmara20, o jornalista Samarone Lima – responsável pelo site da vereadora - escreve

Por amor ao Recife, Luciana foi candidata a vereadora, em 2004, para continuar sua luta em favor da qualidade de vida para todos. Conquistou a segunda maior votação entre os candidatos, chegando a mais de 14 mil votos. É com este jeito singular e plural que Luciana tem enfrentado os desafios e honrado todos os compromissos assumidos com a população. O desafio de transformar é o que move a urbanista, política, mãe, guerreira e cidadã a assumir novos compromissos políticos, na certeza

19 Nessa época, Bruno Lisboa ocupava a presidência da FUNDARPE. Ele então era funcionário de carreira da URB-Recife.

de construir um Recife mais justo, ambientalmente mais equilibrado e reafirmar sua vocação como Cidade do Futuro. (LIMA, 2006)

Embora a gestão de Luciana tenha sido um marco por ter criado uma série de propostas voltadas para a interiorização com ênfase na cogestão, nos Festivais de cultura regionais – os chamados Festivais Pernambuco Nação Cultural, além de aperfeiçoamento dos editais públicos, ela se viu envolvida em uma série de questionamentos administrativos realizados pela oposição com grande impacto nos meios de comunicação21 que fizeram com que não continuasse na pasta quando Eduardo Campos foi reeleito como Governador de Pernambuco em 2010. Encontramos boa parte das realizações de Luciana durante os quatro primeiros anos da gestão Eduardo Campos (2006-2010) no documento Pernambuco Nação Cultural - Informativo da Gestão 2007/2010 no qual consta texto de abertura, chamado Manifesto Pernambuco Nação Cultural, que aponta:

A cultura como estandarte de sonhos. Política Pública, direito de todos, instrumento de luta. Cultura como consolidação de um novo modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável. Cultura fincada na potencialização dos processos democráticos, no respeito às identidades e diversidades. Cultura como conexões das 12 regiões de desenvolvimento e do Arquipélago de Fernando de Noronha. Convocação para alicerçar um novo Pernambuco Nação, focado nas culturas da maioria, do cais ao Sertão. Cultura de um Pernambuco que brota dos mangues, das caatingas e de paraísos ecológicos marinhos, que ecoa dos altos coqueiros e se enraíza em sertanejos espinhos. Terra dos movimentos sociais, das lutas libertárias, de um povo guerreiro na busca incansável da sociedade de todos, da sociedade ideal.

Terra ressignificada pelas raízes, utopias e riquezas das nossas fortes e plurais matrizes culturais, herdada dos povos indígenas, europeus e africanos, recriada e sintetizada em pernambucanos. Pernambucanos cravados no universo do baião, no fervor do frevo e nos passos de seus bonecos gigantes, no colorido e crenças dos maracatus, caboclinhos, do cavalo marinho, do bolo de rolo, da Paixão de Nova Jerusalém, do Arquipélago de Fernando de Noronha e da Feira de Caruaru.

Percebemos então no manifesto o mesmo desejo de reconhecer a diversidade cultural presente no Governo Lula enfatizado por Gil e Juca. Ao que parece, o reconhecimento da diversidade cultural é, também, uma etapa prioritária para esta noção de desenvolvimento. Na fala de Eduardo Campos, quando eleito em 2006, encontramos.

É com grande confiança que olhamos para os novos desafios que temos pela frente. Sabemos compreender o tamanho da missão que está na consciência e no coração do povo pernambucano. Temos um trabalho coletivo, que une diversas forças do Estado, em torno de um mesmo objetivo: construir um Pernambuco mais justo. Todos nós sabemos que não basta crescer. O nosso trabalho é transformar o crescimento econômico em um ciclo de desenvolvimento sustentável que contribua de forma efetiva para a contribuição das desigualdades sociais do nosso Estado. Essa é a nossa missão desde o primeiro dia que assumimos o Governo e mostraremos que o povo de Pernambuco é capaz de fazer quando tem a decisão e a coragem de mudar as coisas e

21 http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/pernambuco/noticia/2015/11/24/ex-presidente-da-Fundarpe-e- condenada-por-improbidade-administrativa-209574.php

a capacidade de criar condições de uma vida melhor para todos. (PERNAMBUCO NAÇÃO CULTURAL, 2010, p. 5)

A ideia presente aqui era a mesma constante nos discursos em nível federal: a partir da valorização da diversidade cultural brasileira estaríamos cumprindo uma etapa importante da justiça social e, por isso, de um crescimento econômico mais sustentável e menos parcial. Assim, em 2006, reverberando possivelmente o Imaginação a Serviço do Brasil (2002), Eduardo Campos dedicava, no seu Programa de Governo, um capítulo com o título “Cultura e Diversidade” no qual ressaltava que entende ser crucial a recriação da Secretaria de Cultura do Estado, de maneira que as ações governamentais reflitam a relevância que a cultura tem na vida cotidiana dos nossos cidadãos (FERREIRA, 2013, p. 94), e afirmava a necessidade de consolidar um Sistema Estadual de Cultura que tenha capacidade de diagnosticar, planejar e realizar ações demandadas pela população voltadas ao apoio a movimentos culturais de modo disseminado nas várias regiões do Estado (FERREIRA, op. cit, p. 94). Além disso, mostrava a necessidade de fortalecer os mecanismos de financiamentos como o Funcultura, através de democratização, transparência e ampliação do acesso aos recursos.

O tipo de modernização pretendida por Eduardo e explicitada no Manifesto, por Luciana, é aquela que é capaz de conectar todo o Estado. A cultura é vista como propulsora das “conexões das 12 regiões de desenvolvimento e do Arquipélago de Fernando de Noronha. Convocação para alicerçar um novo Pernambuco Nação, focado nas culturas da maioria, do cais ao Sertão” (PERNAMBUCO NAÇÃO CULTURAL, 2010, p. 9). Entendemos no texto que é papel da política de cultura conectar as regiões de desenvolvimento como um caminho direto para mostrar que o poder público poderia servir de fio condutor da valorização das identidades e expressões culturais do Estado de forma a integrar o que é diverso, ressaltar as particularidades, mas homogeneizá-las na direção do desenvolvimento, isto é, que seja participante da política do Estado. Portanto, surgiria assim um Pernambuco que seria compreendido justamente como uma Nação a partir da filiação das diversas identidades culturais à ideia de pertencer a um só Estado22.

Considerando, com Roy Wagner (2014, p. 116), que todo empreendimento humano de comunicação, toda comunidade, toda “cultura” encontra-se atada a um arcabouço relacional de contextos convencionais, arcabouço esse que gira em torno de uma imagem generalizada do

22 Embora não tenhamos tempo aqui, não podemos deixar de referenciar os trabalhos de Renato Ortiz (1988) sobre a moderna tradição brasileira onde essa discussão está exposta a partir da análise de outros agentes e outras épocas, mas que já apontavam para conclusões parecidas com a nossa.

homem e das relações interpessoais, podemos entender que a apropriação aqui realizada pelo poder público ao mesmo tempo constrói e reforça a identidade de ser pernambucano, no sentido de garantir a construção de uma imagem única – necessária tanto para respaldar o projeto de desenvolvimento em curso como para garantir – a partir das perspectivas socialistas preconizadas pelo PSB, partido do Governador - que todos os pernambucanos façam parte dessa empreitada23.

O Sistema Estadual de Cultura – já vislumbrado no programa de Governo de Eduardo Campos a partir da demanda federal – iria, portanto, ser um forte objetivo da gestão de Luciana, o que era reforçado também pela própria necessidade de garantir a articulação de Pernambuco com o Sistema Nacional que seguia em curso. O modelo para elaboração da Política Pública de Cultura do Estado passava pela própria dinâmica de cogestão implementada por Eduardo Campos, que dizia respeito ao programa Todos por Pernambuco - os encontros temáticos realizados em municípios estratégicos das 12 Regiões de Desenvolvimento visando construir uma pauta específica para a região e geral para o Estado. O Todos por Pernambuco criou, no primeiro ano de gestão, uma malha de escutas que tinha como participantes membros da sociedade civil, gestores municipais e pessoas comuns.

A interiorização da política de cultura foi o grande ponto da FUNDARPE no período, ampliando o antigo circuito do frio – constante de cinco festivais – transformando-os nos Festivais Pernambuco Nação Cultural (FERREIRA, 2013, p. 97). De imediato, houve o aumento para doze festivais, de acordo com as demandas das Regiões de Desenvolvimento. Ferreira (2013) destaca também que o foco dos festivais – centrados basicamente em grandes

23 Essa visão de uma particularidade da cultura pernambucana a ponto de se distinguir como uma identidade supervalorizada foi utilizada diversas vezes também nacionalmente quando se precisou de um discurso simbólico para respaldar o projeto de desenvolvimento (ORTIZ, 1994). Encontra total respaldo na ideia de Kultur, apontada por Norbert Elias como a chave para a formação da burguesia alemã se contrapor a aristocracia que se baseava nas ideias francesas de civilização.

O conceito de Kultur reflete a consciência de si mesma de uma nação que teve de buscar e constituir incessante e novamente suas fronteiras, tanto no sentido político como espiritual, e repetidas vezes perguntar a si mesma: “Qual é, realmente, nossa identidade? ” A orientação do conceito alemão de cultura, com sua tendência à demarcação e ênfase em diferenças, e no seu detalhamento, entre grupos, corresponde a este processo histórico. (ELIAS, 1994, p. 25).

Tal conceito especifica o povo alemão quase como se formasse o seu espírito, de forma pragmática e direta sem ser capaz de ser repassado ou transmitido aos outros povos e é endogeno pois passa a valorizar tudo o que é genuinamente alemão como positivo. Sua gênese está ligada a própria auto-afirmação da burguesia daquele país que se associou as artes e as Universidades como uma forma de se contrapor ao pensamento aristocrático da nobreza e tem um papel chave na tardia unificação política da Alemanha na Europa. No caso de Luciana Azevedo (2007-2010) e gestão Gil/Juca (2002-2008) a ideia de ser pernambuco e de ser brasileiro foi ampliada para uma compreensão de cultura que passou a incluir as tecnologias, os segmentos invisibilizados e a nascentes indústrias culturais da música e do cinema.

palcos para a música visando atrair turistas – foi transformado com a presença do Estado, que passou a ressaltar o valor mais tradicional da cultura local e inserindo ações de formação e das diversas linguagens24.

À semelhança do win-win de Gil, enquanto Luciana se preocupava em descentralizar as atividades de cultura do Estado fortalecendo o interior, o FUNCULTURA – principal instrumento público de aprovação de projetos culturais – recebeu um aumento de 50% dos recursos destinados à produção independente. Ferreira (2013, p. 99) destaca que em 2008 essa ampliação chegou a 300% (e em 2011, já na gestão de Fernando Duarte, alcançou a marca de 500% em relação a 2007). A pesquisadora mostra também que o FUNCULTURA realizou a inserção de ‘linhas de ação’, que foram elaboradas nas escutas de cada linguagem realizadas nas 12 Regiões de Desenvolvimento a fim corrigir distorções entre linguagens e de atender de forma holística ao conjunto e diversidade das cadeias produtivas que compõem o setor cultural no Estado. (op. cit). Na questão do audiovisual, acompanhada de perto por Ferreira a partir de uma reinvindicação da classe artística (principalmente os protagonistas da retomada do cinema pernambucano – Claudio Assis, Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Germano Coelho Filho) também ocorre uma transformação. Luciana encabeça a criação de uma arrojada política para o setor que teria em Carla Francine a sua principal parceira dentro da FUNDARPE. Não por acaso, precisamos lembrar que o cinema é a mais industrial de todas as artes e por isso fortalece-lo faz todo o sentido dentro do processo desenvolvimentista de Eduardo Campos. Criado exclusivamente para proponentes que fossem residentes em Pernambuco e que utilizassem 60% da equipe de pernambucanos, o Funcultura Audiovisual logo se tornaria um modelo de política em todo o Brasil, principalmente porque o seu julgamento seria majoritariamente realizado por pessoas residentes em outros estados e o apoio daria suporte a todas as etapas da cadeia produtiva do audiovisual, incluindo também o incentivo ao cineclubismo.

Enquanto a gestão de Jarbas investiu pouco mais que R$ 3 milhões nos quatro anos de gestão, beneficiando 51 projetos, o governo Eduardo, nos primeiros quatro anos, investiu mais de R$ 13 milhões, beneficiando 152 projetos. Considerando os sete anos de gestão chega a mais de R$ 44 milhões e 449 projetos. O aumento do valor investido e a quantidade de projetos incentivados mostra a demanda reprimida que

24 O “Nação Cultural” contudo não apoiava as bandas que incitavam a violência contra a mulher, o sexiismo ou o desrespeito aos direitos humanos, deixando sem apoio estatal boa parte do forró eletrônico, que marcadamente faz sucesso no interior. Esse ponto é interessante porque da mesma forma que a identidade de ‘Nação’, não dizia respeito a apoiar as pequenas indústrias culturais da música como o brega, por exemplo, espécie de gênero popular romântico que não é considerado música de raiz (ARAÚJO, 2005).

existia, principalmente para o segmento de longa-metragem. (FERREIRA, 2013, p. 204)

Uma outra importante estruturação prevista como canalizadores da política pretendida em nível federal era o Programa Mais Cultura e a implementação dos Pontos de Cultura – uma política que visava reconhecer centros-chave de produção cultural já existente que realizavam um trabalho celular pioneiro e, por isso, mereciam receber recursos do Estado. Durante a gestão de Luciana Azevedo estruturaram-se 120 pontos de cultura em Pernambuco e ela consolidou também mais dez equipamentos culturais, reformando o Cinema São Luís, hoje um dos principais polos de difusão audiovisual no Estado. A modernização passava também pelo processo de reconhecimento e apoio aos patrimônios imateriais marcadamente associados à cultura popular.

Na área de patrimônio imaterial, foram aperfeiçoados os processos de julgamento das candidaturas da Lei de Patrimônio Vivo e em 2007, com a instituição de comissão específica que analisa as propostas e as justifica tecnicamente, antes destas seguirem para o Conselho Estadual de Cultura, que define os selecionados. Além disso, a Fundarpe fez os dossiês e requerimentos das candidaturas do maracatu nação, maracatu de baque solto (rural), caboclinhos e cavalo marinho como patrimônio imaterial brasileiro junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan. O frevo já era tombado pelo Iphan desde 2007. (FERREIRA, 2013, p. 97) O processo de expansão da política cultural significa mesmo uma visão modernizante que implementará em cada uma das regiões de Pernambuco ‘células’ capazes de criar e apoiar a política pública, a partir daí será natural a estruturação das estações culturais que também se assemelham com as refinarias multiculturais, idealizadas por João Roberto Peixe no Plano Municipal de Cultura do Recife. Esta estruturação é concreta – as estações25 são implementadas em territórios polos do Estado e o modelo pressupõe

uma rede de equipamentos responsáveis pelo desenvolvimento da política pública de cultura e por conexões territoriais de canais participativos na execução dos planos, além de assegurar diferentes instâncias de capilaridade, integrada pelo Portal Pernambuco Nação Cultural. (op. cit., 2010, p. 20) Os objetivos da política pública de cultura – o futuro Sistema Estadual de Cultura – arquitetados pela primeira vez sob bases democráticas e regionalizadas foram traçados

25 Os locais seriam o Cineteatro Apollo em Palmares (Mata Sul), o Cineteatro Polytheama em Goiana (Mata Norte), Casa Ermirio de Morais em Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana), Complexo Cultural Luiz Gonzaga em Exu (Sertão do Araripe), Estação Ferroviária de Petrolina (Sertão do São Francisco), Museu do Barro de Caruaru (Agreste Central), Estação Ferroviária Centro Cultural Alfredo Leite em Garanhuns (Agreste Meridional), Rádio Difusora Centro Cultural Marcos Vinicius Vilaça em Limoeiro (Agreste Setentrional), Antiga Casa de Detenção/Memorial do Couro em Salgueiro (Sertão Central) e a Estação Ferroviária do Recife que seria chamada “Estação Central da Diversidade Cultural de Pernambuco.

inspirados também na 1ª Conferência Estadual de Cultura de 2005, que visava construir o conjunto de prioridades para cada linguagem cultural e para cada Região de Desenvolvimento. A conferência, na época capitaneada pelos Representantes Regionais do MINC, era realizada através da demanda do próprio Governo Federal. Na época, a fim de construir o Plano Nacional de Cultura (PNC), o MINC realizou encontros com artistas, produtores, grupos culturais e cidadãos em cada uma das capitais da federação para debater as diretrizes do que viria ser a política nacional de Cultura. Nesse sentido, o plano de atuação da FUNDARPE, consoante com as discussões provocadas pelo Ministério da Cultura, pela Conferência Estadual e pelas escutas realizadas, consistia na afirmação de valores éticos, solidários e de elevação da consciência político-social e ambiental da população, de forma a compreender a cultura como direito de todos, no sentido de possibilitar o reconhecimento das identidades locais e regionais enquanto um conjunto potencial econômico e sistematizador da política cultural.

É assim que a visão de planejamento territorializado da política pública de cultura aspira criar unidades modulares de planejamento que se conectam em todo o Estado com o objetivo geral de integrar esforços de potencialização das ações culturais nas suas dimensões simbólica, cidadã e econômica (PERNAMBUCO NAÇÃO CULTURAL, 2010, p. 22). Tais unidades podem ser vistas como polos que fomentam a “arquitetura territorial em rede” e são efetivados a partir de uma materialidade sutil

um sistema de gestão integrado – conectado a cogestão – ligação direta com fóruns, comissões e conselhos de todo o Estado - impulsionando a preservação das matrizes culturais dos patrimônios materiais e imateriais e incentivando o surgimento de novas cenas e produções – ao mesmo tempo em que cria uma plataforma de desenvolvimento sustentável e potencializa as articulações no âmbito interestadual e

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