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4. O Princípio da Plena Concorrência no Direito Português

4.3. A Portaria n.º 1446-C/2001

Esta Portaria vem densificar a regulamentação em matéria de preços de transferência. Nos seus artigos 13.º a 16.º, são realizadas algumas considerações relativamente às obrigações de informação e documentação, as quais são consideradas imprescindíveis para justificar a política de preços de transferência adotada pelo sujeito passivo.

Logo no preâmbulo do diploma é dada enfâse à necessidade de colaboração da Autoridade Tributária com o contribuinte neste âmbito.

O diploma fornece ainda importantes informações relativamente aos procedimentos relacionados com eventuais ajustamentos correlativos nos seus artigos 17.º e ss.

Mas a maior virtude, porventura, da Portaria n.º 1446-C/2001 é a de proceder à densificação das regras relativas à aplicação dos métodos enumerados no artigo 63.º do CIRC, que visam a determinação do chamado intervalo de plena concorrência, dentro do qual os termos e condições contratados nas operações vinculadas deverão ser estabelecidos.

Para aplicação do n.º 2 do artigo 63.º do CIRC, é essencial que sejam identificadas operações comparáveis (Freitas Pereira, 2014: 507). Este exercício não é simples, mas o diploma em análise vem esclarecer algumas das questões, baseando-se naquelas que são as diretrizes da OCDE. O artigo 4.º da Portaria estabelece as regras que se devem verificar na escolha, por parte do sujeito passivo, daquele que é o método de preços de transferência mais adequado para cada operação relevante para estes efeitos, por forma a conseguir determinar o intervalo de plena

concorrência em que se devem situar os termos e condições a estabelecer nas operações vinculadas.

O artigo seguinte reveste grande importância. Como já foi dito, a análise de comparabilidade entre determinada operação vinculada e uma operação independente é um exercício complexo, uma vez que existem inúmeros fatores suscetíveis de afetar essa comparabilidade.

O artigo 5.º realiza uma enumeração exemplificativa de fatores relevantes para aferir a comparabilidade entre as operações

Artigo 5.º Factores de comparabilidade

Para efeitos do artigo anterior, o grau de comparabilidade entre uma operação vinculada e uma operação não vinculada deve ser avaliado, tendo em conta, designadamente, os seguintes factores:

a) As características específicas dos bens, direitos ou serviços que, sendo objecto de cada ope ração, são susceptíveis de influenciar o preço das operações, em particular as características físicas, a qualidade, a quantidade, a fiabilidade, a disponibilidade e o volume de oferta dos bens, a forma negocial, o tipo, a duração, o grau de protecção e os benefícios antecipados pela utilização do direito e a natureza e a extensão dos serviços;

b) As funções desempenhadas pelas entidades intervenientes nas operações, tendo em consideração os activos utilizados e os riscos assumidos;

c) Os termos e condições contratuais que definem, de forma explícita ou implícita, o modo como se repartem as responsabilidades, os riscos e os lucros entre as partes envolvidas na operação;

d) As circunstâncias económicas prevalecentes nos mercados em que as respectivas partes operam, incluindo a sua localização geográfica e dimensão, o custo da mão-de-obra e do capital nos mercados, a posição concorrencial dos compradores e vendedores, a fase do circuito de comercialização, a existência de bens e serviços sucedâneos, o nível da oferta e da procura e o grau de desenvolvimento geral dos mercados;

e) A estratégia das empresas, contemplando, entre os aspectos susceptíveis de influenciar o seu funcionamento e conduta normal, a prossecução de actividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, o grau de diversificação da actividade, o controle do risco, os esquemas de penetração no mercado ou de manutenção ou reforço de quota e, bem assim, os ciclos de vida dos produtos ou direitos;

f) Outras características relevantes quanto à operação em causa ou às empresas envolvidas. Estes fatores podem ser facilmente reconduzidos aos indicados nas diretrizes da OCDE, o que prova uma vez mais a adoção das recomendações daquela organização.

Recorremos ao Processo n.º 844/2014-T, do CAAD, de onde extraímos os fatores considerados por um sujeito passivo para realizar um levantamento das operações independentes comparáveis, tendo este sido sujeito a escrutínio e considerado adequados, apenas para colocar estes fatores em análise.

Para o efeito importa desde logo identificar o sujeito passivo em causa.

O sujeito passivo, requerente no Processo acima identificado, é uma Sociedade Anónima que se dedica à produção e venda de vinho do Porto. Esta Sociedade realizou operações vinculadas com uma entidade estrangeira, sedeada em Jersey, tendo vendido a esta última algumas garradas de vinho do Porto, com especificidades relevantes.

Para aferir a conformidade destas operações com o Princípio da Plena Concorrência tentou então identificar operações independentes comparáveis, recorrendo a uma base de dados denominada SABI, da qual constava informação relativa a mais de um milhão e meio de empresas localizadas na Península Ibérica.

Em primeiro foram selecionadas apenas as que apresentavam o mesmo Código CAE que a requerente, correspondente ao «comércio por grosso de bebidas alcoólicas».

Foram aceites apenas empresas em atividade e que não dispunham de contas consolidadas, para afastar todas as que pertenciam a grupos económicos e que por isso exercem também elas algumas operações vinculadas.

Foram excluídas associações e cooperativas por terem fins estatutários diversos dos que as sociedades comerciais têm.

Rejeitaram-se ainda as entidades que não tinham sede em Portugal, como a requerente, atribuindo assim alguma relevância à localização também.

Selecionaram-se apenas as empresas em que os rendimentos operacionais no último ano com dados disponíveis atingiram os três milhões de euros, rejeitando pequenas empresas cujas funções exercidas poderiam ser muito distintas.

Foram utilizadas apenas as empresas cuja informação relacionada com os rendimentos operacionais se encontrava disponível para, pelo menos, dois anos dos três anos de referência.

Finalmente, foram ainda identificadas aquelas que transacionavam produtos semelhantes e que exerciam funções similares à requerente.

As soluções adotadas poderiam, ou não, ser melhoradas. Contudo, trata-se apenas de um exemplo dos fatores a equacionar quando se realiza uma análise de comparabilidade entre operações vinculadas e operações independentes.

Nos artigos 6.º a 10.º da Portaria, o legislador procedeu à exposição da forma como se deve aplicar cada um dos métodos, tendo ainda colocado algumas situações em que, no seu entender, a aplicação do método se mostra geralmente adequado.

Não iremos proceder a uma exposição mais densificada, uma vez que estes artigos se baseiam, em traços gerais, nas diretrizes da OCDE, tendo essa exposição sido feita em momento anterior, aquando da apresentação das diretrizes.

4.4. Artigo 138.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das