• Nenhum resultado encontrado

VACAS LEITEIRAS CÃES RAFEIROS +

2.5. A Teoria dos Stakeholders

2.6.5. A Posição da Comissão Europeia

A Cimeira de Lisboa da EU de Março de 2000, adoptou como objectivo estratégico da EU até 2010 se tornar “a economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos e com maior coesão social”.

Posteriormente, em Junho de 2001, o Conselho Europeu de Gotemburgo aprovou a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável segundo a qual a longo prazo, o crescimento económico, a coesão social e a protecção ambiental são indissociáveis.

Em Julho de 2001, a Comissão Europeia apresentou um “Livro Verde” intitulado “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas” (COM (2001) 366). O Livro Verde visava “lançar um amplo debate quanto às formas de promoção pela União Europeia da responsabilidade social das empresas tanto a nível europeu como internacional e, mais especificamente quanto às possibilidades de explorar ao máximo as experiências existentes, incentivar o desenvolvimento de práticas inovadoras, aumentar a transparência, bem como a fiabilidade da avaliação e da validação. Preconizava ainda uma abordagem baseada em parcerias estreitas, de modo a que todas as partes interessadas desempenhem um papel activo”.

68

Segundo o “Livro Verde” a responsabilidade social faz empresas “é um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. A responsabilidade social das empresas manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afectadas pela empresa e, que por seu turno, podem influenciar os seus resultados”. O “Livro Verde” aponta para vários os factores que motivam esta evolução para a responsabilidade social das empresas:

- A globalização e a mutação industrial induziram novas preocupações e expectativas nos cidadãos, consumidores, autoridades públicas e investidores;

- Os consumidores e os investidores passaram a ser influenciadas de um modo mais intenso por critérios sociais nas suas decisões;

- Verifica-se uma preocupação crescente com o impacte negativo das actividades económicas sobre o meio ambiente;

- O poder dos meios de comunicação social e das tecnologias de informação veio aumentar significativamente a necessidade de maior transparência das empresas, como forma de minimizar risco associados às suas actividades.

Subjacente ao “Livro Verde” está a noção de que a Responsabilidade Social das empresas é passível de se revestir de um valor económico directo, ou seja contribui para melhoria da competitividade das empresas através de uma maior produtividade e rentabilidade. “Embora a obrigação básica das empresas seja a obtenção de lucros, estas podem, ao mesmo tempo, contribuir para o cumprimento de objectivos sociais e ambientais mediante a integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da sua estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações. Assim, à semelhança da gestão da qualidade, a responsabilidade social de uma empresa deve ser encarada como um investimento e não como um encargo. Através dela é possível adoptar uma abordagem inclusiva do ponto de vista financeiro, comercial e social, conducente a uma estratégia a longo prazo que minimize os riscos decorrentes de incógnitas” (capítulos 11 e 12).

O “Livro Verde” enumera um conjunto de possíveis práticas de Responsabilidade Social das empresas, envolvendo além dos trabalhadores e accionistas um vasto conjunto de partes interessadas tais como parceiros comerciais e fornecedores, clientes,

69

autoridades públicas e ONG que envolvem as a sua actividade junto das comunidades locais ou no domínio do ambiente. As práticas contempladas no “Livro Verde” estão subdivididas numa dimensão interna (capítulo 2.1, dimensões 1 a 4) e externa (capítulo 2.2, dimensões 5 a 8):

Tabela 2.9 – Práticas Responsabilidade Social “Livro Verde” da CE “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas”

Dimensão Exemplos

1. Gestão dos Recursos Humanos

Atrair e reter trabalhadores qualificados: aprendizagem ao longo da vida, responsabilização dos trabalhadores, melhor informação no seio da empresa, melhor equilíbrio entre a vida profissional, familiar e tempos livres, maior diversidade de recursos humanos, igualdade em termos de remuneração e de perspectivas de carreira para as mulheres, regimes de participação nos lucros e no capital da empresa, maior preocupação relativamente à empregabilidade e à segurança dos postos de trabalho e práticas de recrutamento não discriminatórias

2. Saúde e Segurança no Trabalho

Formas complementares de promoção da saúde e da segurança, para além das previstas na lei, programas de certificação de sistemas de gestão se saúde e segurança no trabalho, inclusão de critérios de saúde e segurança na trabalho na escolha de fornecedores e subcontratados

70

Tabela 2.9 – Práticas Responsabilidade Social “Livro Verde” da CE “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas” (continuação)

Dimensão Exemplos

3. Adaptação à mudança

Levar em consideração e equilibrar os interesses de todas as partes interessadas que são afectadas pelas mudanças e decisões de processos de reestruturação, nomeadamente através da participação e associação de todos os elementos afectados através de uma informação e consulta abertas, identificação dos riscos mais significativos bem como a previsão dos custos (directos e indirectos) e a adopção de estratégias e políticas que permitam reduzir a necessidade de despedimentos, conjugação de esforços de autoridades públicas e dos representantes dos trabalhadores, adopção pelas empresas de acções para assegurar a capacidade de inserção profissional do seu pessoal e envolvimento em parcerias locais de emprego e/ou inserção social

4. Gestão do impacte

ambiental e dos recursos

naturais

Redução na exploração dos recursos, emissões poluentes, produção de resíduos e consumos energéticos e implementação de sistemas de gestão ambiental e eco-eficiência que visem a prevenção da poluição, a melhoria contínua do desempenho ambiental e o cumprimento da legislação ambiental aplicável

5.

Comunidades Locais

Minimização dos impactes ambientais ao nível do meio ambiente (ar, água, solo) e das emissões de poluentes gasosos, efluentes líquidos, resíduos sólidos, poeiras e ruído, educação ambiental da comunidade envolvente, apoio de acções de promoção ambiental, recrutamento de pessoas vítimas de exclusão social, disponibilização de estruturas de cuidado à infância para os filhos dos trabalhadores, parcerias com comunidades, patrocínios de eventos culturais ou desportivos a nível local ou donativos para acções de caridade, empréstimos em condições favoráveis em comunidades de áreas economicamente desfavorecidas e acesso a serviços de interesse económico geral a preços comportáveis

71

Tabela 2.9 – Práticas Responsabilidade Social “Livro Verde” da CE “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas” (continuação)

Dimensão Exemplos

6. Parceiros comerciais, fornecedores e consumidores

Relações com parceiros comerciais com base expectativas, preços e termos equitativos, a par de uma entrega fiável e de qualidade, consideração por parte das grandes empresas da dependência em que se possam encontrar parceiros de pequena dimensão, acompanhamento de PME e empresas em fase de arranque e investimentos em capitais de risco por parte de grandes empresas, fornecimento de forma ética, eficiente e ecológica de produtos e serviços que os consumidores desejam e dos quais necessitam, procurando que os mesmos sejam utilizáveis pelo maior número de pessoas incluindo as portadores de deficiências

7. Direitos humanos

Adopção de códigos de conduta que assegurem o respeito das normas laborais e de protecção ambiental, os direitos humanos e a resistência à corrupção em relação a operações internacionais e ao nível da cadeia de produção globais (subcontratantes e fornecedores), e que deverão abordar questões tais como remuneração, número de horas de trabalho, mitigação do trabalho infantil, práticas não discriminatórias, ausência de trabalho forçado, condições de saúde e segurança no trabalho e direito de associação sindical

8.

Preocupações ambientais globais

Incentivar a melhoria do desempenho ambiental e a contribuição para o desempenho sustentável ao longo de toda a cadeira de produção e fornecimento

Fonte: “Livro Verde” da CE “Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas”.

O “Livro Verde” recomenda uma abordagem integrada à responsabilidade social da empresa, cabendo às partes interessadas (trabalhadores, consumidores e investidores) desempenhar, no seu próprio interesse ou em nome de outras partes, um papel decisivo

72

de incentivo às empresas para que adoptem práticas socialmente responsáveis com transparência efectiva quanto ao desempenho social e ambiental através de relatórios de informação social.

As empresas devem começar por definir a sua missão, código de conduta ou declaração de valores, integrando-os na sua gestão e aplicando-os a toda a organização acrescentando a dimensão social e ambiental aos seus planos de actividade e orçamentos e avaliando os resultados obtidos, numa perspectiva de melhoria contínua.

No seguimento do “Livro Verde” a Comissão Europeia procedeu a uma comunicação em Julho de 2002 sobre “Responsabilidade Social das empresas: um contributo para o Desenvolvimento Sustentável”, sintetizando os contributos obtidos na sequência da publicação do “Livro Verde”. Mantém-se o conceito de que a RSE “é um conceito segundo o qual as empresas integram voluntariamente preocupações sociais e ambientais nas suas operações e na sua interacção com outras partes interessadas”.

A principal função de uma empresa consiste em “criar valor através da produção de bens e serviços que a sociedade exige, gerando assim lucros para os seus proprietários e accionistas e bem-estar para a sociedade, especialmente através da criação de emprego”.

Esta abordagem promovida pela CE pressupõe que para uma empresa ter resultados sustentáveis tem de adoptar voluntariamente um comportamento orientado pelo mercado e que contribua para um desenvolvimento sustentável, integrando nas suas operações as vertentes económicas, social e ambiental, promovendo a responsabilidade social.

De entre os principais contributos recolhidos é possível realçar na comunicação da CE de Julho de 2002 os seguintes pontos de vista, nem sempre coincidentes:

- As empresas sublinharam a natureza voluntária da RSE;

- Os sindicatos e algumas organizações da sociedade civil sublinharam que o carácter voluntário das iniciativas não é suficiente para salvaguardar os direitos dos cidadãos, defendendo a adopção de normas mínimas o envolvimento das partes interessadas na

73

RSE e o recurso a mecanismos eficazes para assegurar a responsabilização das empresas pelo impacte social e ambiental das suas actividades;

- Os investidores invocaram a necessidade de melhorar os métodos de divulgação de informações e a transparência das práticas das empresas, a metodologia utilizada pelas empresas de rating e a gestão dos fundos de investimento socialmente responsável e dos fundos de pensões;

- As organizações de consumidores sublinharam a importância de uma informação exaustiva e fiável sobre as condições éticas, sócias e ambientais de produção e comercialização de produtos e serviços para orientarem as suas opções de compra.

Através da resolução de 3 de Dezembro de 2001, o Conselho Europeu chamou a atenção para as vantagens de uma estratégia europeia de responsabilidade social as empresas. O Parlamento Europeu (PE) propôs integrar a responsabilidade social em todas as áreas de competência da União Europeia (EU), em especial ao nível dos financiamentos regionais e sociais e criar, à escala comunitária uma plataforma de discussão multilateral sobre RSE. O PE apelou ainda às empresas para que publiquem os resultados e desempenhos na perspectiva económica, ambiental e social incluindo a dimensão dos direitos humanos.

A Comissão Europeia propõe ainda um conjunto de acções para a promoção da Responsabilidade Social da empresa (European Comission 2002):

- Melhorar o conhecimento sobre RSE e facilitar o intercâmbio de experiências e boas práticas, incluindo a intensificação da divulgação dos conhecimentos sobre o impacto da RSE nas empresas e na sociedade, o desenvolvimento do intercâmbio entre as empresas e os Estados de experiências e boas práticas em matéria de Responsabilidade Social, o desenvolvimento de competências de gestão em RSE, o fomento da RSE entre as PME, a promoção da convergência e da transparência das práticas e instrumentos da RSE (códigos de conduta; normas de gestão; avaliação, apresentação de relatórios e validação; rótulos, investimento socialmente responsável);

- Promover a convergência e transparência das práticas e dos instrumentos de RSE; - Lançamento de um Fórum Multilateral sobre RSE à escala da EU.

74

Dando continuidade a estes trabalhos, é importante referir ainda os seguintes documentos da Comissão Europeia:

- O Estudo “European SMEs and social and environmental responsibility” (2002) cujas conclusões são utilizados como referência relevante para a construção do questionário a utilizar nesta investigação;

- A Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu intitulada “Implementação da parceria para o crescimento e o emprego: tornar a Europa um pólo de excelência em termos de Responsabilidade Social das empresas” dando continuidade e reforçando as iniciativas anteriormente referidas;

- O UE RESPONSE Project – Sixt Framework Programme: understanding and

responding to societal demands on corporate responsibility (2008), que define a Responsabilidade Social Corporativa como um conceito segundo o qual as empresas integram preocupações socais e ambientais nos seus processos estratégicos de decisão, nas suas operações de negócio e na interacção com os seus Stakehodlers, numa base voluntária. É ainda introduzido o conceito de Corporate Social Innovation: os desafios sociais e ambientais são considerados como oportunidades para a inovação e a Responsabilidade Social é utilizada para detectar sistematicamente novas oportunidades (em detrimento de uma abordagem baseada na redução de riscos e custos).