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A positivação do mandado de injunção coletivo e seus legitimados

6. AS NOVAS DIRETRIZES EMANADAS DA LEI 13.300/201

6.3 A COLETIVIZAÇÃO DO MANDADO DE INJUNÇÃO: FOMENTO À

6.3.1 A positivação do mandado de injunção coletivo e seus legitimados

Apesar de não haver previsão da variante coletiva na literalidade do inciso LXXI do art. 5o da Constituição, o Supremo Tribunal Federal admitiu, desde 1994, a legitimação extraordinária e o consequente manejo desta modalidade de ação injuncional460.

Cabe dizer que, no início, tão logo fora admitido, o mandado de injunção, obedecia às regras aplicáveis ao mandado de segurança, evitando que sua aplicabilidade ficasse prejudicada por ausência de lei processual específica461.

457 SILVA, Janaína Lima Penalva da. A igualdade sem mínimos: diretos sociais, dignidade e assistência social em um Estado Democrático de Direito – um estudo de caso sobre o benefício de prestação continuada no supremo Tribunal Federal. 2011, p. 105. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, 2011.

458 TIMM, Luciano Benetti. Qual a maneira mais eficiente de prover direitos fundamentais: uma perspectiva de direito e economia? In: SARLET, Ingo Wolfgang e TIMM, Luciano Benetti. Direitos Fundamentais: orçamento e “reserva do possível”. 2a ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 61.

459 Não obstante as críticas ora deduzidas, é imperioso ressaltar que não se desconhece a importância deste tipo de demanda, na outorga direta de um meio de postulação judicial ao cidadão. Esta relevância, inclusive para o combate da inércia do Estado, foi enfatizada por Charles Silva Barbosa: “A história tem demonstrado que o caminho para acesso a prestações positivas, especialmente aquelas relacionadas ao mínimo existencial, não raro, passa, em primeiro lugar, pela dedução de pretensão isolada e atomizada, para, posteriormente, ingressar em demanda coletiva e, por fim, em determinado momento, chegar até a Administração que, pressionada pela sociedade e pela comunidade jurídica, institui a correspondente política pública”. BARBOSA, Charles Silva. Dimensões do mínimo existencial: atuação jurisdicional e proteção da essência da República, 2011, p. 160. Dissertação (Mestrado em Direito Público) – Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011. Além de exercer um papel como instrumento de pressão, há também a possibilidade de uma questão subjetiva fomentar o diálogo institucional entre os Poderes, a respeito da efetivação de dado direito, é a referida função dialógica tratada por Renata de Marins Jaber Maneiro. Cf. MANEIRO, Renata de Marins Jaber. Mandado de injunção, diálogos constitucionais e

o papel do STF. Curitiba: Juruá, 2016, p. 128.

460 Precedentes: MI 361-1/RJ e MI 342-4/SP.

Contudo, o mandado de injunção coletivo não se limitou ao regramento do mandado de segurança, seu processamento foi alcançado por outros diplomas normativos.

A despeito de o Brasil não adotar uma legislação codificada disciplinando o processo coletivo, Cavalcanti afirma que o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90 – art. 90462) e a Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85 – art. 21463) criaram, a partir de regras de

compartilhamento entre os dois diplomas, um verdadeiro microssistema processual coletivo464.

A aplicação recíproca atinge os campos da legitimidade ativa, do objeto, coisa julgada, entre outros. Cavalcanti aduz ainda que a interação não fica restrita apenas a estes dois diplomas, mas, chancelada pela jurisprudência465, abrange a Lei da Ação Popular, a Lei de

Improbidade Administrativa e a Lei do Mandado de Segurança Coletivo, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso466.

Com o advento da Lei 13.300/2016, a disciplina do mandado de injunção coletivo acabou traduzindo as disposições do microssistema de tutela coletiva.

Um primeiro aspecto a ser destacado foi a incorporação de um amplo rol de legitimados. Como indica seu art. 12, a ação poderá ser impetrada:

I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis;

II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;

III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial; IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5o da Constituição Federal.

Percebe-se que o legislador agiu com acerto ao facilitar o acesso de várias entidades representantes de interesses coletivos, máxime pelo status de substitutos processuais já

462 Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.

463 Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor.

464 CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de resolução de demandas repetitivas e Ações coletivas. Salvador: JusPodivm, 2015, pp. 156-157.

465 STJ, Primeira Turma, REsp 108.5218/RS, rel. Min. Luiz Fux, j. 15/10/2009, DJe 6/11/2009. 466 Op. cit. pp.159-160.

reconhecido pelo STF467 aos partidos políticos, organizações sindicais, entidades de classe e

associações.

Conquanto destaca Vale, reconhecida a substituição processual, não é necessário que o ente coletivo apresente a autorização expressa de todos os seus membros para representação dos seus interesses, tal qual ocorre com a representação processual insculpida no art. 5o, XXI da Constituição468.

Ainda no campo dos entes coletivos legitimados, é interessante pontuar que, tanto os partidos políticos, quanto as organizações sindicais e associações devem atuar no estrito interesse de seus afiliados, evitando, assim, o uso político do remédio injuntivo469.

Outra disposição que merece esclarecimento é a exigência de 1 ano de constituição regular dos entes associativos e sindicatos470.

Em que pese a busca pela estabilidade e seriedade das representações coletivas, este requisito pode ser relativizado, facilitando o acesso ao remédio, no caso de manifesto interesse social comprovado por dano de grande extensão ou pela relevância do bem jurídico protegido, como rezam o art. 82, §1o da Lei 8.078/1990471 (CDC) e o art. 5o, §4o da Lei

7.347.1985472 (LACP).

Ademais, é digna de aplausos a legitimação da Defensoria Pública, através da já citada Emenda no 1, ao então referenciado PLC 18/2015, apresentada na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania do Senado Federal. Esta inclusão, além de facilitar o acesso à via de proteção coletiva por um órgão extremamente próximo das camadas mais carentes da população, prestigia a determinação do inciso LXXIV do art. 5o da CRFB473, ao

disponibilizar um meio de assistência jurídica gratuita no bojo de uma via processual de

467 Importa-se ao mandado de injunção o disposto na súmula 629 do STF: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.”. 468 Op. cit., pp. 172-173.

469 Em sua análise sobre o impacto da nova lei do mandado de injunção, Castro e Ferreira defendem que a restrição dos partidos políticos às matérias atinentes a sua finalidade partidária é inconstitucional, pois restringe o acesso ao instrumento processual, quando a própria Constituição não o fez. Cf. CASTRO, Guilherme de Siqueira e FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Mandado de injunção. Salvador: Juspodivm, 2016, pp.149-150.

470 Outrossim, pelo mesmo motivo aventado na nota 468, Castro e Ferreira sustentam que a exigência de 1 (um) ano de constituição regular não é aplicável ao remédio injuntivo, sendo regra indevidamente importada do mandado de segurança, sem lastro na literalidade constitucional. Cf. Op. cit. p. 150.

471 § 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

472 § 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. 473 LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de

importância primaz na defesa dos direitos fundamentais, especialmente voltada aos cidadãos que padecem com a omissão estatal.