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A prática profissional do Enfermeiro: aspectos históricos e sociais

CAPITULO II – Desenvolvimento

2.4. A prática profissional do Enfermeiro: aspectos históricos e sociais

A Enfermagem como um conjunto de atividades específicas voltadas a um determinado fim, cuja existência é percebida desde primórdios até agora, é percebida de

forma distinta nas atividades da saúde e, portanto, com diferentes significações sociais. A constituição do objeto e objetivo dos diversos modelos da prática da Enfermagem foram desenvolvidos historicamente e obtiveram significado para a sociedade a partir do momento em que a Enfermagem deixa de ser uma atividade doméstica ou religiosa e se constitui em trabalho. Carvalho (2011) pontuou especificamente o trabalho da Enfermagem, no que tange a algumas características históricas e transversais em sua atividade com objetivo de aproximação das concepções que configuram as atuais representações do trabalho desses profissionais na área da saúde, em particular na realidade brasileira.

De acordo com Souza e Gomes (2013) a Enfermagem passa a ser entendida como uma profissão que possui atividades que são voltadas para um determinado fim. E está inserida em um contexto sócio histórico do qual é influenciada constantemente. A subdivisão técnica do trabalho da Enfermagem, oriunda da sua diferenciação tecnológica, conduz à absorção de pessoal com diversos níveis de capacitação, compondo o amplo espectro dos profissionais, da Enfermagem, abrangendo desde os técnicos de nível médio, até o pessoal de nível superior e especializado, cabendo a estes a liderança e pesquisa.

Quanto às investigações na natureza da disciplina, as teorias da Enfermagem são bastante formais no que toca ao modo como se organiza as ações de Enfermagem para a prestação do cuidado. Embora as teorias da Enfermagem expressem o saber da mesma, estas não são voltadas para a dimensão social e sim para a dimensão científica, ou seja, não estão estruturadas no real contexto em que se inserem. Este fato é devido à falta de uma autoanálise da crise da profissão e que, portanto, não encontra as soluções para a mesma. Tal crise, para ser solucionada de fato, necessita da tomada de consciência dos enfermeiros sobre o que significa a profissão Enfermagem nos dias atuais, de qual é o seu papel na sociedade, de qual é o seu objeto de trabalho na saúde, de qual é o seu campo e portanto, qual é sua identidade (SOUZA e GOMES, 2013).

Rocha, nos idos de 1986, já visualizava claramente tratar-se de uma crise no sentido de ruptura ou dissociação entre a política, o domínio institucional e o saber a qual exige a tomada de consciência acerca do significado atual da Enfermagem profissional, da sua inserção no projeto capitalista da saúde e das imposições derivadas da estrutura dos serviços da saúde.

As soluções se encontram na construção de um corpo de conhecimentos específicos para a Enfermagem ligada diretamente com o cientificismo da profissão, considerando a estrutura política, econômica e social vigente no país, o mercado de trabalho da saúde, os

modelos de assistência de saúde e sua cobertura, bem como as lutas internas dos trabalhadores no processo de trabalho. Já para a atuação significativa da enfermeira no campo da atenção primária de saúde as ações devem estar voltadas para o trabalho como um todo e não somente em partes fragmentadas (BARBIANI et al., 2016).

O trabalho de um artífice pode ser relacionado ao trabalho do enfermeiro e é desafiador desvelar as questões silenciosas e invisíveis que permeiam o cotidiano do trabalho nos serviços de saúde. As produções dos enfermeiros ainda são majoritariamente voltadas para a assistência, na inquietude em “fazer um trabalho bem feito”. Mesmo com todas as dificuldades que a profissão enfrenta, é possível afirmar a sua importância na história da saúde pública brasileira. Para compreender mais que habilidades técnicas e éticas as quais são necessárias para a realização de um bom trabalho, precisamos transcender nosso campo e agregar conhecimentos das ciências sociais e humanas que auxiliem na explicação de questões complexas que interferem no trabalho. (SENNET, 2009).

É importante ressaltar que o trabalho dos profissionais de Enfermagem adquire importância e maior visibilidade nos serviços de saúde nas últimas décadas, mas suas diferentes atribuições permanecem generalizadas pelo senso comum e por vezes na própria equipe de saúde, sendo que, o “enfermeiro” é considerado como o profissional de Enfermagem que presta cuidados diretos à clientela (no caso os auxiliares e técnicos) e “enfermeiro chefe”, o profissional distanciado dos usuários e ligado às atividades burocráticas. Assim, o trabalho da Enfermagem, com todas suas representações e conformações históricas deve ser entendido para além das instituições de assistência à saúde e da dimensão do cuidado humano. Deve ser analisado em estudos que enfoquem as relações de gênero, os aspectos históricos e sociais, a formação e suas interações, para desvelarmos as fragilidades e potencialidades de seus processos e contribuir para uma prática reflexiva no seu exercício (CARVALHO, 2011).

Ao encontro dessas afirmações, Lessa e Araújo (2013) evidenciam que:

Os enfermeiros e os demais profissionais de Enfermagem estão desarticuladas do processo político, tanto para desenvolver quanto para lutar por melhores condições de trabalho. Isso é determinado pela configuração e formação da profissão na história, e que, a partir da ideologia da subordinação, tem dificuldade em afirmar-se como uma profissão que é liberta, que tem conhecimento científico próprio e que tem um objeto de trabalho ainda em processo de definição. Apesar dessa configuração histórica, é preciso coragem e mobilização para mudar o paradigma em busca da construção de um capital simbólico para os enfermeiros. Acreditar que essa mudança possa ocorrer implica perceber que um dos caminhos é a politização dos trabalhadores. Conhecer a nossa história e valorizá-la, construir um corpo científico que embase nossa

prática, continuar o nosso desenvolvimento a partir dos aperfeiçoamentos e iniciar a participação política são passos que nos levam ao tão sonhado reconhecimento social. Mas é importante lembrar que, antes de sermos enfermeiros, somos sujeitos numa sociedade que também requer atenção e cuidados em busca do caminho mais justo e mais equânime para todos. Quando a luta é por todos, os benefícios também serão para todos.

A Enfermagem brasileira tem marcas da hegemonia médica e da subordinação. Vivencia disputas intrínsecas às categorias e tensões externas que não são exclusivas da Enfermagem nem da saúde, pois as aspirações de maior autonomia e reconhecimento social da profissão perpassam pelas reflexões apontando desafios para melhorias nas condições de trabalho e nos resultados das ações de saúde desenvolvidas por esses profissionais. (BARBIANI et al., 2016).

Mostra-se importante, nesse contexto, aproximar as percepções dos graduandos sobre sua formação, repensando uma das funções sociais da universidade de provocar questionamentos que propiciem uma melhor compreensão da profissão, das implicações do sistema educacional brasileiro e do atual mercado de trabalho.

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