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A prática reflexiva como domínio da complexidade

3.4 Formação de formadores em contexto de mudanças

3.4.1 A prática reflexiva como domínio da complexidade

A prática reflexiva no ser humano pode acontecer de duas formas: a prática reflexiva espontânea, que ocorre de situações em que o ser humano sofre condições adversas as suas rotinas ou planejamento, como por exemplo, o enfrentamento de crises, obstáculos ou que tenham um problema a resolver ou uma decisão a tomar. Situações estas levam espontaneamente a práticas reflexivas, não são metódicas, planejadas, somente são praticadas por profissionais da educação nestas circunstâncias. Parece-me não ser esta uma prática reflexiva que deve predominar nos educadores, mas sim, a prática reflexiva metódica, que deve ser amplamente empregada pelos professores em suas práticas de ensino, de forma permanente e não somente para resolução de crises e problemas.

O profissional reflexivo é aquele que aceita fazer parte do problema, portanto, é um profissional que aceita ser avaliado, pois assim sendo, poderá ser parte integrante deste problema, situação que a grande maioria dos professores não aceitam. O medo da avaliação profissional apavora os profissionais em educação, sinal este de que a prática reflexiva não

ocorre. O profissional reflexivo é aquele que se auto avalia, prática importante no processo de formação dos formadores e também de formação de educandos. A prática reflexiva metódica em escolas de Ensino Fundamental do meio rural leva à constatação de que são necessários conteúdos ligados à prática profissional dos educandos, como mostra a pesquisa em que 80,64% dos alunos das três escolas responderam ser importante e que gostariam de ter conteúdos ligados à produção agropecuária, enquanto que apenas 6,45% dos alunos responderam ter tido aumento de produção em suas atividades agropecuárias em função de conhecimentos adquiridos na escola.

Uma prática reflexiva profissional não é solitária, sempre vem acompanhada de métodos grupais, de feedback, de análises, de momentos organizados de profissionalização interativa, enfim, o profissional reflexivo tem mais probabilidade de acertos porque se apóia em ações solidárias, compartilhadas com outros formadores, com outras práticas educativas que lhe permite reflexão, troca de idéias e saberes, a transmissão de saberes mais seguros e testados. A prática reflexiva sobre os saberes a serem compartilhados com os educandos deveria ser uma constante nas instituições de ensino, para tanto, necessário se faz a quebra de paradigmas de muitos profissionais da educação dominados pelos vícios de uma educação não reflexiva. A ação reflexiva libera os profissionais do trabalho prescrito, engavetado, sistemático, constrói suas próprias iniciativas em função do contexto em que os educandos estão inseridos, de suas famílias, de suas posições sociais, do meio em que se insere o ambiente educógeno, das parcerias e cooperações possíveis, dos recursos e das limitações dos próprios estabelecimentos. Enfim, a prática reflexiva em ambiente de formação se ajusta às suas peculiaridades e particularidades, ao passo que uma ação pedagógica não reflexiva corre o risco de não se adequar ao meio em que se inserem os educandos, como acontece no ensino rural desenvolvido pela maioria das escolas do meio rural, onde os conteúdos pouco tem a ver com o que os educandos praticam em sua vida profissional. A prática reflexiva profissional minimiza essa distância entre o educando, seu meio profissional e as práticas pedagógicas das escolas rurais. Uma ação reflexiva, neste caso, evidenciará que a prática pedagógica do ensino rural praticada pelas escolas de Ensino Fundamental pesquisadas em Frederico Westphalen- RS, pouco ou quase nada tem a ver com o seu meio, com sua profissão, o rural, e que, a não adequação de currículos, somados a outros fatores, remeterá o educando a busca de uma nova profissão fora do seu meio profissional, como mostra a pesquisa em que, 38,71% dos alunos que concluíram o Ensino Fundamental nos anos de 1998, 1999 e 2000, não estão mais no

meio rural. As escolas de Ensino Fundamental contemporânea ou tradicional do meio rural, por falta de uma ação reflexiva dos docentes e dos gestores da educação, não estão nem formando para melhorar a qualidade de vida e a auto-estima do cidadão da roça, nem mesmo praticando teste vocacional para seus educandos, simplesmente, através de suas práticas pedagógicas, estão retirando-os precocemente de seu meio profissional e familiar, pois deixam transparecer que o meio rural é um mundo difícil de viver e sem perspectiva de futuro.

Os formadores, cada vez mais, devem ser profissionais dentro de um contexto reflexivo. Perrenoud (1999) apresenta três argumentos em favor da profissionalização dos educadores:

1) Dentro de um contexto de evolução rápida, a formação inicial fica obsoleta, fazendo-se necessário uma formação continuada para acompanhar a evolução da transformação do mundo tecnológico e globalizado.

2) Para alcançar os objetivos, não basta ensinar, é preciso que cada um aprenda a encontrar o processo adequado para tal.

3) As competências profissionais são cada vez mais no campo das ações não individualizadas, coletivas, o que requer competências de comunicação do profissional, e isso é possível com uma ação reflexiva.

As atividades e as competências reflexivas apresentam algumas facetas interessantes, entre elas podemos destacar: a ação, seguida da reflexão permite uma análise mais tranqüila dos acontecimentos, bem como permite construir saberes em cima da ação, enquanto que, a reflexão seguida da ação permite planificar e construir cenários de modo a antever situações que poderão ocorrer e também preparar o professor para possíveis imprevistos. De qualquer forma, o profissional reflexivo tem mais chances de acertar em suas práticas profissionais do que o não reflexivo, independente se a ação vem antes ou após a reflexão. Enfim, a prática reflexiva nos leva a facilitar os acertos e as complexidades na construção dos saberes com os educandos. Um exemplo de prática reflexiva praticado pelas CEFFAs é a visita de estudos que se faz com os jovens educandos para conhecimento de uma determinada atividade ou

assunto, onde, primeiramente se faz uma preparação sobre o que e os objetivos da visita, em seguida, faz-se à visita propriamente dita, observando in loco o objeto da pesquisa e, posteriormente, a socialização, a colocação em comum sobre o que se viu e se observou da visita, é a reflexão sobre a ação.