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CAPÍTULO 3 – A PRÁTICA PEDAGÓGICA NOS CENTROS MUNICIPAIS DE

3.2 A TEORIA PEDAGÓGICA DE DEWEY e sua relação com a PRÁTICA

3.2.11 A presença de Dewey nas propostas pedagógicas

A presença de Dewey nas Propostas Pedagógicas dos CMEIs pesquisados se dá de duas maneiras: uma direta e outra indireta. Na forma direta, observamos nos documentos dos CMEIs analisados, a utilização das próprias palavras de Dewey ou, nelas podem ser encontradas, citações sobre a sua contribuição. Na forma indireta, os CMEIs utilizam algum aspecto da teoria do autor, mas o fazem através de comentadores de suas obras. Em outros casos, talvez o façam através de outros veículos ainda mais indiretos como leituras ocasionais, palestras e outras orientações recebidas.

Na forma direta, o CMEI Franscisco Quesada Ortega destaca a contribuição de Dewey frente à questão do trabalho interdisciplinar das várias áreas do conhecimento e da utilização da pedagogia de projetos nas escolas:

Contrapondo-se à proposta de atividades isoladas e descontextualizadas, bastante difundida na pedagogia tradicional, vários estudiosos, dentre os quais podemos citar Dewer, Bruner, Piaget, Vygostsky, desenvolveram pesquisas que

possibilitaram aos educadores repensar a ação pedagógica cotidiana vivenciada na sala de aula. Cada teórico se pautou em perspectivas diferentes, gerando, portanto, propostas de trabalho pedagógico diferenciadas.

No final dos anos 20 e início dos anos 30, com o advento da Escola Nova, os projetos de ação pedagógica eram organizados por métodos de projetos. Essa forma de organizar a ação pedagógica se baseou na proposta de Dewey, que, por sua vez, procurou aproximar a escola da vida diária do aluno.

De acordo com a proposta de Dewey, os projetos devem estar próximos à vida cotidiana dos alunos, partirem de uma situação problemática a repensar a fragmentação das matérias. Para Hernández, o método de projetos, segundo os princípios de Dewey, não é uma [...] sucessão de atos desconexos, e sim uma atividade coerente ordenada, na qual um passo prepara a necessidade do passo seguinte, e na qual cada um deles se acrescenta ao que já se fez e o transcende de um modo cumulativo (1998 p. 68).

Conforme essa forma de organizar os projetos de trabalho, deve-se levar em consideração o interesse do aluno, o valor intrínseco da atividade, os problemas que despertem novas curiosidades e o tempo em que o projeto será desenvolvido. Na concepção de Dewey, uma aula deveria ser organizada seguindo os seguintes passos:

[...] Colocar os alunos em contato com as atividades (ação). Em contato com as atividades surgiriam às dúvidas, as curiosidades (problemas). Para resolver os problemas recorreriam à pesquisa (coleta de dados), para então formular soluções para o problema (hipóteses) e finalmente comprovar as hipóteses pro meio da experimentação (DEWEY apud GHIRALDELLI JR., 1987, p. 19- 20

Os profissionais do CMEI Malvina Poppi Pedrialli destacam que o filósofo foi um dos primeiros a identificar a criança como um ser ligado à sua vida presente e que a educação não é uma preparação para o futuro, declarando:

Ao findar do século XIX, outros dois teóricos destacaram-se: Sigmund Freud e John Dewey. John Dewey, ao conceber a infância, defendia a importância da criança ser atendida nas suas exigências presentes, cabendo ao professor identificar os instintos e necessidades reais dessa fase. No século XX, o pensamento de Dewey é reafirmado nas palavras de Korczack (1983, p. 71): em nome de um futuro hipotético, subestima-se tudo o que hoje são suas alegrias, tristezas, espantos, cóleras, paixões. Em nome de um futuro que não compreende, e nem precisa compreender, nós lhe roubamos anos inteiros de sua vida370.

Este CMEI também destaca a contribuição de Dewey na formulação da ―Pedagogia de Projetos‖:

A ideia de se trabalhar através de projetos na escola é uma ideia antiga que vem de Dewey e outros educadores, embora tenha surgido em outros momentos e outros contextos. Quando se fala em projetos, estudo do meio de interesse, trabalho por temas, pesquisa de campo, pedagogia de projetos, não significa que estamos falando a mesma coisa, embora essas atividades tenham como característica comum, o esforço de implicar o aluno na sua aprendizagem, de trazer o mundo para dentro da escola ou de sair para o mundo para aprender371.

Os educadores do CMEI Durvalina Pereira Oliveira Assis dizem fundamentar o trabalho com projetos, na concepção deweyana:

O trabalho pedagógico é organizado através de Projetos e por isso serão esclarecidos os conceitos de planejamento, sua importância e como trabalhar com a interdisciplinaridade nos conteúdos. Contextualizando a base histórica, segundo John Dewey, um dos mais importantes filósofos americanos e considerado o mentor da Pedagogia de Projetos, alguns princípios fundamentam o trabalho com projetos:

Situações-problema: o pensamento se origina de uma situação problemática que gere uma tentativa para realizar um empreendimento;

O princípio da real experiência anterior – as situações anteriores vividas pelos indivíduos são a base onde se sustenta a possibilidade de definição do problema e a escolha de caminhos de resolução de problemas atuais;

O princípio da prova final – ao finalizar o trabalho é preciso avaliar o problema inicial, analisar as hipóteses que foram aproveitadas e as que foram excluídas, e verificar se a situação problema foi mesmo resolvida;

O princípio da eficácia social – não basta somente uma atitude experimental sobre as coisas e a interação com as coisas, é necessário aprender a agir em comunidade, a sentir-se participante de um grupo e com ele cooperar372.

Os demais CMEIs ao fundamentar a ―Pedagogia de Projetos‖ utilizam-se de alguns comentadores que em seus artigos ou livros destacam a figura de Dewey e sua contribuição para essa forma metodológica. A seguir expomos os livros ou textos e seus respectivos autores utilizados pelos CMEIs.

371 Ibidem, p. 154.

O livro de Fernando Hernández Transgressão e Mudança na Educação:

os projetos de Trabalho (1998) é utilizado pelos CMEIs Valéria Veronesi,

Yolanda Salgado Vieira Lima e Marina Sabóia Nascimento. À página 31 desse livro, o autor cita os nomes de Dewey e Kilpatrick ao lado de outros nomes, como inovadores do pensamento pedagógico. Ele diz que tais autores ―Assinalaram com êxito outros rumos‖ para a educação escolar. À página 35, ele assinala a contribuição de Kilpatrick para a compreensão do trabalho com projetos. Às páginas 38 e 51, ele volta a falar da contribuição de Kilpatrick, mas desta vez se referindo à importância de se trabalhar as disciplinas de forma globalizada e de relacioná-las com as situações da vida cotidiana. Às páginas 67, 68 e 69 Hernandez destaca a contribuição de Dewey para a aplicação do método de projetos, e se utiliza de algumas palavras do autor escrita em Como

Pensamos. Ele também faz um apanhado do modo como Dewey concebia os

projetos de trabalho. Na página 89 ele retorna novamente a Dewey, dizendo:

Por último, não se deve esquecer o conteúdo das duas referências que confluem na noção de projetos de trabalho. Como assinalei no começo, em algumas profissões um ―projeto implica‖ situar-se num processo não acabado, em que um tema, uma proposta, um desenho esboça-se, refaz-se, relaciona-se, explora-se e se realiza. A noção de ―trabalho‖ provém de Dewey e Freinet e de sua ideia de conectar a Escola com o mundo fora dela. Ambos os conceitos unidos colocam o aluno e o docente na busca da ―rede de interações que conecta o gênero humano consigo mesmo e com o resto da biosfera‖, tarefa que não esquece, como assinala Gell-Mann (1995, p. 13)373, que todos os

aspectos têm influência mútua em grau extremo. Esse é o saber relacional ao qual, em última instância, se tenta fazer com que os alunos se aproximem mediante os projetos de trabalho (HERNANDEZ, 1998, p. 89).

Outro livro A Organização do Currículo por Projetos de Trabalho: o

conhecimento é um caleidoscópio (1998), também do mesmo autor, é citado

pelos CMEIs Valéria Veronesi, Yolanda Salgado Vieira Lima e Marina Sabóia Nascimento. Nesse livro, o autor descreveu uma experiência vivenciada na Escola ―Pompeu Fabra‖ com a aplicação de ―Projetos de Trabalho‖.

O Texto Abordagens de Projetos na Escola da Infância (2007) escrito por

373 O Livro a que ele se refere é: GELL-MANN, M. El quark y el Jaguar: aventuras em lo simple y

Cristina Nogueira de Mendonça é utilizado pelo CMEI Iracema de Barros Mello. Neste texto, a autora faz um apanhado da prática de projetos e destaca a figura de Dewey. Com referência ao assunto, ela afirma:

A prática de projetos tem suas raízes históricas no final do século XIX, com o movimento da chamada ―Escola Nova‖. Este movimento contrapôs-se, severamente, aos princípios e métodos da escola tradicional. Um conceito essencial do movimento educativo aparece na filosofia de Dewey, onde o autor explica que as escolas deveriam deixar de ser meros locais de transmissão de conhecimento e tornarem-se pequenas comunidades.

A autora ainda fará uma exposição de alguns pontos da ideia deweyana e citará o livro Como Pensamos da autoria de Dewey.

Embora não possamos afirmar que estes CMEIs elaboraram suas propostas enfatizando a contribuição de Dewey para as suas bases teóricas, podemos afirmar que ao menos tiveram contato com suas ideias através dos livros e textos acima mencionados, o que nos leva a supor que de certa forma receberam sua influência.

Os CMEIs Marli Marques Agostinho e Marízia Carli Loures, não apresentaram os autores nos quais baseavam a sua relação com o trabalho desenvolvido através de projetos educativos, nem citaram outros autores os quais fosse possível verificar uma ligação com a figura de Dewey.

3.2.12 A presença de Dewey nos materiais à disposição dos professores