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A presença do segmento sucro-alcooleiro na região

S EG MENTOS INDUSTRIAIS N ÚMERO

2.2.1.2 A presença do segmento sucro-alcooleiro na região

A ênfase a este ramo deve-se à sua intensa presença e expansão na região estudada. Entre os quatro municípios escolhidos para uma análise comparativa no terceiro capítulo, dois possuem unidades produtivas do segmento sucro-alcooleiro: Colorado e Rondon.

Tal como já se considerou anteriormente, uma das opções do Noroeste do Paraná após as mudanças na agricultura, especialmente na área de solos arenosos, foi a instalação de destilarias de álcool e o cultivo da matéria-prima para esta atividade, a cana-de-açúcar, que passou a fazer parte da paisagem da região. O contexto era o da crise mundial do petróleo na década de 1970, quando foi concebido oficialmente no Brasil, em 1975, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). O objetivo era produzir álcool para ser usado como combustível automotor. O Brasil emergiu, desde então, como um dos maiores produtores e o que tem menores custos na produção de açúcar e álcool97.

O uso do álcool como combustível no Brasil atingiu seu auge no início da década de 1980, quando se mantinha o preço 40% inferior ao da gasolina. Queda posterior nos preços do petróleo tornou a produção de álcool desvantajosa ao passo que o mercado de açúcar mostrava-se atrativo. Vários produtores anexaram ou adaptaram a estrutura industrial para produzir açúcar, a despeito da necessidade do álcool combustível no mercado interno. As descobertas de novas bacias de petróleo no Brasil, bem como o uso do gás como energia reforçou a tendência de utilização da estrutura industrial para a produção de açúcar.

No Estado do Paraná, são 27 unidades industriais do ramo sucro-alcooleiro (Cartograma 5 e Apêndice D), das quais algumas são apenas destilarias e outras funcionam como destilarias e usinas de açúcar, todas localizadas na área setentrional. Como em demais áreas produtoras do Brasil, na região as destilarias anexaram usinas e, conforme dados da Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar), a produção de açúcar no Paraná aumentou aproximadamente quatro vezes nos primeiros anos da década de 199098.

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A produção mundial de açúcar é de 136.326.504 toneladas. Desse total, 27.969.395 toneladas são adquiridas por meio do mercado mundial. As exportações brasileiras são de 6.502.375 toneladas, ou seja, 23,25% do total do mercado mundial. O açúcar brasileiro tem o menor custo do mundo: US 160,00 a tonelada, enquanto a média internacional é de US$ 364,00 (BE R T E L L I, 2002).

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Na safra 1991/1992, a produção foi de 4.716.537 sacas de cinqüenta quilos de açúcar. Na safra 2000/2001, a produção foi de 19.930.840 sacas de cinqüenta quilos. Já a produção de álcool oscilou bastante durante o período, chegando a quase o dobro na safra 1997/98, todavia em 2000/2001 (736.977 metros cúbicos de álcool) registrou produção semelhante a safra de 1991/1992 (799.268 metros cúbicos).

Várias unidades produtivas foram constituídas no âmbito de cooperativas originárias do período cafeeiro, como a Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de M aringá (Cocamar), Cooperativa dos Cafeicultores de M andaguari (Cocari), Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu (Cofercatu), Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de Nova Londrina (Copagra) e Cooperativa Agropecuária de Rolândia (Corol). A Companhia M elhoramentos Norte do Paraná (empresa colonizadora de M aringá e região) possui duas unidades produtivas: Companhia Agrícola Usina Jacarezinho, produtora de açúcar e álcool, em Jacarezinho, e a Destilaria M elhoramentos, produtora de álcool, em Jussara.

Com os recentes conflitos mundiais envolvendo países produtores de petróleo, a procura por alternativas energéticas ganhou impulso e trouxe novo ânimo para a produção do álcool combustível. A indústria automobilística já vem se adequando, produzindo desde 2004 modelos que podem utilizar tanto o álcool como a gasolina99, como estratégia para vencer a insegurança dos consumidores com relação à falta de combustível. Empresários do ramo sucro-alcooleiro já vinham desenvolvendo intenso marketing no sentido de restaurar a credibilidade no fornecimento do álcool hidratado, utilizado como combustível, além dos insistentes lobbies para a adição em percentual cada vez maior do álcool anidro à gasolina.

Os empresários estão buscando alternativas para sua expansão, mediante maior competitividade. No âmbito internacional, o açúcar depende para tanto da retirada de subsídios europeus, o que poderá ampliar bastante a produção para exportação. A perspectiva positiva quanto ao açúcar somada às gestões para expansão do mercado para o álcool combustível caracterizam um segmento em expansão, o que pode ser dimensionado pela produção de açúcar na Região Centro-Sul do país, por safra. Assim, se em 2002/2003 foram 270 mil toneladas, em 2004/2005

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foram 319 mil toneladas. Já a produção do álcool (anidro e hidratado) em 2002/2003 foi de 11,2 bilhões de litros e em 2004/2005 de 13,3 bilhões de litros (ZAFALON, 2004).

A produção do açúcar e do álcool demanda intensa mão-de-obra pouco qualificada para o corte da cana-de-açúcar. A geração de empregos, conforme informações do próprio segmento, obedece à proporção de um emprego para cada cinco hectares de cana na área rural. No Paraná, são 319.781 hectares de área plantada que, segundo esta proporção, absorve mais de sessenta mil trabalhadores. Na área industrial, absorve-se aproximadamente dez por cento do número de pessoas da área rural, portanto aproximadamente seis mil trabalhadores. O número de pessoas dependentes desse segmento pode ser maior se considerados os desdobramentos indiretos do mesmo na vida econômica. No país todo, são 1,2 milhão de empregos, sendo seiscentos mil no Estado de São Paulo.

Não há dúvida de que este ramo tem significativo papel na manutenção de grande número de pessoas vivendo no interior do Estado do Paraná, em áreas de intenso esvaziamento demográfico. Por outro lado, a condição de trabalho das pessoas envolvidas na atividade do corte de cana é precária. Trata-se de uma atividade extenuante, mal remunerada, além de freqüentemente mutiladora.

Por isso, cabe questionar a que custos sociais tão amargos a produção brasileira de açúcar pode ter os mais baixos valores do mundo, com a submissão de um ‘exército’ de trabalhadores brasileiros a essas condições precárias de trabalho. Há, ainda, o custo político pelo rigor no trato com a mão-de-obra para o controle e sujeição da mesma. Não obstante, uma das principais argumentações dos empresários para obtenção de benefícios governamentais está na geração de empregos100. Alegam que os empregos gerados são em grande parte para a população sem qualificação, proveniente do campo brasileiro nos últimos anos. Entendem, ainda, que contribuem para a revitalização das pequenas cidades evitando a saída de moradores. Esta argumentação é utilizada com a finalidade de obter apoio do governo para o segmento, pois no Brasil com o discurso da geração de empregos se consegue muita coisa, tendo em vista ser esta uma necessidade premente da sociedade.

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Empenhados em ampliar os negócios, representantes do segmento apresentaram estudos ao governo, nos quais ele aparece como o de menor custo para a geração de empregos, entre sete ramos industriais (Ramo - Custo por emprego em dólares): Química e petroquímica - 220.000; Metalúrgica - 145.000; Bens de Capital - 98.000; Indústria Automobilística - 91.000; Bens intermediários - 70.000; Bens de consumo - 44.000; Proálcool (Agrícola + Indústria) - 11.000 (Fonte: Conselho de Desenvolvimento Industrial do Paraná). Não se discute, evidentemente, a qualidade do emprego e as condições de trabalho, além de outras implicações.

Embora o árduo trabalho do cortador de cana expresse precariedade, o ramo sucro-alcooleiro é extremamente moderno. A tecnologia utilizada por esta atividade industrial está continuamente sendo renovada, o que possibilita que etapas inteiras do processo produtivo industrial sejam controladas por uma só pessoa, através de computadores. Fala-se de agricultura de precisão para a cana-de-açúcar, e conforme anunciam profissionais do ramo, com o fim das queimadas por exigências ambientais, o trabalho de corte da cana deverá ser realizado por máquinas101. Esta possibilidade merece uma avaliação das implicações que poderão ocorrer para os trabalhadores. Eles ajudaram a consolidar este ramo industrial e estão na iminência de serem eliminados do processo.

Se este árduo trabalho humano pode ser substituído por máquinas, ainda com ganhos ambientais, do ponto de vista tecnológico e humano isso poderia representar um enorme avanço. M as, nos marcos do capitalismo, os efeitos sociais dessas conquistas são catastróficos, pois os seres humanos são simplesmente descartados. Tais práticas mantêm atual a advertência de Andrade (1995, p. 76) de que a modernidade e a modernização não devem ser encaradas somente como opções de uma maior utilização tecnológica em benefício de grupos econômicos e sociais, mas, sobretudo, como o caminho para, utilizando a tecnologia, oferecer à população melhores condições de vida. M odernizar não é somente transformar, como querem alguns grupos que se beneficiam da modernização, mas transformar para melhor. E na metamorfose para melhor o trabalhador não deve ser apenas objeto, mas também sujeito do processo.

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A legislação que proíbe as queimadas se refere, inicialmente, apenas ao Estado de São Paulo, ainda que exista um debate envolvendo outras áreas produtoras. Foi firmado naquele Estado, em 1999, com validade até 2005, um Pacto pelo emprego no agronegócio sucro-alcooleiro, estabelecendo compromissos entre as diversas partes envolvidas: governo da unidade federativa em questão, a União, Associação dos Municípios Canavieiros e outras entidades ligadas ao ramo para manter os empregos nos patamares de 1999. Para tanto, vários compromissos foram assumidos pelo governo estadual e federal, como o uso do álcool combustível nas frotas oficiais, gestões no mercado internacional no