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A) INTRODUÇÃO

A.7) Estrutura da tese

4.3 Objetivo das entrevistas

4.3.2 Resultados

4.3.2.1 A Produtora Independente de Energia

Paralisada desde 1995, a usina Santa Lídia arrendou as unidades produtoras de açúcar à refinadora Nova União. Adicionalmente, em 2001, a usina termelétrica anexa, praticamente paralisada desde 1998, foi arrendada à Produtora Independente de Energia de Ribeirão Preto (PIERP). Para reativação da usina termelétrica, a PIERP investiu R$ 30 milhões, com financiamento do BNDES, viabilizado por meio de um project finance, do qual participa os proprietários da refinadora Nova União. Formalmente, de acordo com ROBBE & SALLES (2003), quanto à formatação comercial do empreendimento, decidiu-se constituir uma sociedade anônima, denominada PIE-RP Termoelétrica S.A., com os seguintes sócios: Logos Engenharia (SP), Orteng (MG), J. Malucelli Energia (PR) e D’Watt (PR).

Os recursos iniciais do investimento vieram como “equity” dos sócios (cerca de 50%), financiamento por meio de bancos comerciais (cerca de 25%), além do mencionado financiamento via BNDES (cerca de 25%). O montante dos investimentos foi considerado adequado para esse tipo de instalação (inferior a R$ 1.000 por kW), pois, apesar do uso de algumas instalações existentes, houve grande gestão em custos para implantação do projeto em um prazo não superior a seis meses. O uso do terreno e local industrial é pago pela sociedade consorciada como arrendamento à usina Santa Lídia.

Do conjunto original de geração da usina Santa Lídia, instalado desde 1958, a PIERP aproveitou apenas as turbinas de geração, num total de três, sendo de 7.500 kW cada, ainda assim, promovendo a reforma do conjunto das turbinas. A Figura 4.1 apresenta a situação encontrada pelo consórcio responsável pelo empreendimento e a situação final do projeto, quando iniciou a geração de energia.

Figura 4.1 – U sina Term elétrica PIERP, estágio inicial do projeto.

Fonte: R O B B E & SA LLES (2003).

Figura 4.2 – Usina Term elétrica PIERP, estágio final do projeto.

O insumo principal para a geração tem sido o cavaco de madeira, adquirido de um conjunto de madeireiras localizadas em Itapeva. O bagaço foi utilizado inicialmente, depois passou a ser misturado com o cavaco da madeira, até ser substituído integralmente pelo cavaco de madeira. O principal fator para a adoção do cavaco foi por seu preço ser inferior ao do subproduto sucroalcooleiro, apesar de o poder calorífico do bagaço ser superior ao do cavaco. Além desses insumos, podem ser utilizadas as palhas de arroz e a casca de amendoim. Apesar de haver uma linha de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) próxima à unidade termelétrica, o sistema foi dimensionado para queima de biomassa e ademais, segundo o entrevistado, o preço do GLP é inviável comparado ao cavaco de madeira ou até mesmo ao do bagaço de cana- de-açúcar.

Assim, desde julho de 2002, a PIERP tem possibilidade de fornecer 20 MW à rede elétrica à concessionária local, a Companhia Paulista de Força e Luz. No entanto, essa energia foi contratada pela Câmara Brasileira de Energia Emergencial (CBEE) para compor o seguro “anti-apagão”. Esse seguro é representado pelo aluguel de 58 usinas termelétricas que poderão ser acionadas para gerar até 2.153,6 MW em caso de risco de falta de energia.

Para a PIERP, a CBEE comprometeu-se a pagar R$ 142 o MWh, caso não precise da energia elétrica disponível, ou R$ 288 o MWh se houver necessidade da energia. A arrecadação do valor necessário para pagamento do seguro “anti-apagão” é de responsabilidade das distribuidoras de energia elétrica, por meio das contas de energia elétrica ao consumidor final, repassando os recursos para a CBEE. Desde março de 2002, os consumidores pagam R$ 0,0049 por kWh consumido no mês para remunerar as usinas contratadas sob a forma emergencial. Desde setembro de 2003, esse valor é da ordem de R$ 0,0085/kWh. Assim, em uma conta mensal de energia elétrica de 400 kWh, esse encargo representa um acréscimo da ordem de R$ 3,40, sem considerar tributos.

A Lei 10.438/2002 determina a cobrança até 30 de junho de 2006 e prevê que os custos operacionais, tributários e administrativos para a compra de energia elétrica emergencial sejam rateados entre os consumidores finais. A lei exclui da cobrança apenas os consumidores considerados de baixa renda, os de classe residencial de consumo inferior a 350 kWh e os de classe rural cujo consumo mensal seja inferior a 750 kWh.

Caso seja necessário utilizar a energia da PIERP, essa deve ser avisada com antecedência de 500 minutos. Dessa forma, o sistema de geração da PIERP fica constantemente pressurizado em módulo “stand by” e a usina mantém sempre dez toneladas de cavaco de madeira, o que possibilitaria atender a demanda contratada por dois dias.

O contrato firmado com a CBEE é para o período de quatro anos. A estratégia de longo prazo da empresa é, não ocorrendo a renovação do contrato emergencial com a CBEE, comercializar a energia diretamente com consumidores livres. A expectativa é de que, até o fim do contrato, o ambiente institucional do setor elétrico esteja delineado de forma a incentivar essa estratégia, com a redução nos custos de conexão e de transporte de energia na rede de terceiros e retomada do crescimento do consumo, eventualmente até um cenário de escassez de oferta.

Paralelamente ao fornecimento de energia elétrica, a PIERP vem fornecendo vapor de escape para uma produtora de açúcar – Refinadora Nova União – instalada ao lado da termelétrica. Considerando que a Nova União também é sócia da PIERP, o preço de venda do vapor deve representar um valor que, provavelmente, não compromete substancialmente a competitividade da refinadora.

Observe que se a Refinadora Nova União não participasse da PIERP, o problema do “hold up” traria fortes incertezas para a firma, pois a PIERP poderia explorar a vulnerabilidade da Refinadora Nova União devido à sua dependência locacional do fornecimento de vapor. Desse modo, a questão do “hold up” explica a estratégia de participação do project finance da PIERP, significando, em última análise, uma integração vertical para trás, a mesma adotada pelas usinas sucroalcooleiras, conforme se observa a seguir.