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A PROPOSTA CRÍTICO-SUPERADORA

No documento Educação Física (Saiba Mais) (páginas 37-40)

A proposta Crítico-superadora está teoricamente formulada na obra intitulada "Metodologia do Ensino da Educação Física", composta por um COLETIVO DE AUTORES (TAFFAREL; ESCOBAR; VARJAL; BRACHT; CASTELLANI FILHO; SOARES). Tal proposta caracteriza-se como "uma pedagogia emergente, que busca responder a determinados interesses de classe”, e entende a Educação Física como "uma disciplina que trata, (...), do conhecimento de uma área denominada de cultura corporal", trabalhando com temas definidos como jogo, esporte, ginástica, dança. Esses temas, também chamados de conteúdos devem viabilizar “a leitura da realidade estabelecendo laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais". Assim no ensino do basquetebol podemos perceber as diferenças de interesses de quem ensina e de quem o pratica. O COLETIVO DE AUTORES (1992) relata um exemplo em que o professor de basquete vê num jogo a luta entre duas equipes adversárias, onde a vencedora terá os melhores atletas, mais técnicos (nos gestos de driblar, passar, arremessar, fintar), mais hábeis e consequentemente mais treinados técnica e taticamente, o que possivelmente trará repercussões profissionais e/ou financeiras para o professor. Enquanto que para o aluno os gestos contemplam outras necessidades pessoais como a ludicidade, a auto- estima, o prazer de jogar, ou seja, refletem sua história de vida e seu momento atual. Nesse instante é que a prática da cultura corporal se diz contraditória e dialética, formando o arcabouço teórico para que se possa ensinar um determinado esporte.

ASSIS DE OLIVEIRA (2001), em sua obra intitulada REINVENTANDO O ESPORTE: possibilidades da prática pedagógica, baseado na Proposta Crítico-Superadora, coloca que o ensino do esporte deve evoluir nas suas metodologias, como no ensino de alguma técnica (o arremesso, por exemplo) que numa visão condicionada e mecânica deve levar em conta a posição pé (o direito um pouco á frente, se o arremesso for com a mão direita), a distribuição do peso do corpo, os dedos bem separados e dirigidos para cima, deve-se soltar a bola na máxima altura e sobretudo fazer as correções desses gestos técnicos (DAIUTO, 1991). Para ASSIS DE OLIVEIRA (2001) a técnica pode ter outra conotação, servindo como uma resolução de problemas, incentivando a descoberta e a pesquisa, ou como algo pertencente ao basquete vindo de dentro para fora sem fragmentá-lo, evitando exercícios maçantes e repetitivos. É importante também frisar, que nessa proposta Crítico-superadora, não se deve negar o esporte de rendimento, suas técnicas e regras, devendo o aluno ter conhecimentos de todos esses elementos, que são conceitos universais. Com relação a parte tática (sistemas de defesa - individual, zona, sob pressão, mista, combinada/sistemas de ataque - de acordo com o número de pivôs, de acordo com o posicionamento dos atacantes, de acordo com a defesa) é importante fazer o aluno elemento da formação e reflexão do conhecimento, através da discussão, orientação e reformulação dos aspectos táticos.

Outro aspecto relevante tratado, está relacionado com as regras do esporte, como bem coloca BRACHT (1986) em seu texto "A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista ", enfatizando que o professor que preocupa-se com ensino exclusivamente das regras internacionais, através da imposição, reflete o ideal capitalista de exclusão e remete a idéia da performance do atleta. Para ASSIS DE OLIVEIRA (2001), as regras não definem o esporte por si só, mas podem regulá-lo e as regras mais respeitadas são aquelas elaboradas pelo próprio grupo participante.

BETTI (1991) afirmou que o ensino do basquetebol, entre outros esportes, deve ser ensinado visando a formação do cidadão futuro, que poderá ajudar na transformação social e por isso não deve restringir-se ao fazer mecânico, ao rendimento, e sim deve compreender, incorporar, aprender valores da cultura corporal.

Nessa visão, o basquetebol é encarado com uma produção histórico-cultural, negando toda forma de rendimento máximo, racionalização da técnica e regulamentação rígida. Os aspectos metodológicos de ensino devem valorizar o coletivo, a solidariedade, o respeito, o jogo "com o companheiro" e não o jogo "contra o adversário".

Segundo o COLETIVO DE AUTORES (1992) ao se ensinar os fundamentos do esporte, estes devem ter significados sociais. Portanto nos fundamentos de ataque como o passe, deve-se entender como "jogara bola para o companheiro”, o drible como "progredir com a bola quicando-a”, o arremesso como "jogar a bola em direção à cesta”. Como fundamento defensivo a obra exemplifica o "dificultar os passes, os dribles e os arremessos”.

Os objetivos do ensino do Basquetebol na Proposta Crítico- Superadora devem relevar as relações sociais, permeados num contexto coletivo e que leve o aluno a uma ampliação da realidade sócio-política- econômica, desmistificando a ideologia capitalista vigente e estabeleça laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais (GOMES DA SILVA, 1996).

No tocante à metodologia, na proposta crítico-superadora, podemos enquadrar a linha de trabalho dos métodos não-diretivos e diretivos (chamado de síntese) e os métodos criativos (TAFFAREL, 1985). Na proposta da linha de trabalho síntese podemos definir os seguintes meios de ensino: avaliação recíproca, descoberta orientada e resolução de problemas. Explicitando a descoberta orientada, podemos pedir aos alunos que realizem o passe do basquetebol de diversos locais da quadra, com ou sem marcação, e a partir daí verificar qual a melhor forma de realizá-lo, quando perto ou longe do seu companheiro ou quando da existência ou não do companheiro de outro time na marcação. Nesse sentido os alunos podem relatar a importância do passe no basquete e a valorização do trabalho em grupo.

Com relação aos métodos criativos, podemos trabalhar com os métodos de análise, análise-síntese, perguntas operacionalizadas, lista de checagem e tempestade de idéias. Explicitando podemos escolher a lista de checagem, que consiste em delimitar um problema e através de perguntas alcançar soluções criativas. No ensino do sistema de defesa individual podemos elaborar uma lista de perguntas fazendo os seguintes questionamentos: quando um jogador de outro time está com a bola, como marcar? como evitar o passe? como evitar o arremesso?, aonde se posicionar?. Quando da marcação do jogador sem bola, como evitar que receba a bola? em que posição marcar? como evitar que saia da marcação?.

Finalmente relataremos a avaliação na proposta Crítico-superadora. Para o COLETIVO DE AUTORES (1992), avaliar é "muito mais do que aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos”. A partir desse princípio ordenou-se uma série de aspectos que podem levar a uma avaliação do aluno, entre esses aspectos destacamos: as condutas humanas, através da observação de posturas sexistas e preconceituosas que por ventura possa-se encontrar no grupo, como um aluno negro que mesmo esteja sem marcação próximo ao garrafão não recebe a bola de outro companheiro, e partir desses dados formular um debate sobre o tema; as práticas avaliativas, que superam o estilo mecânico-burocrático de aplicar testes e detectar talentos, levando o aluno a conhecer suas capacidades e conseguir evoluir através do esforço crítico e participativo; as decisões em conjunto, que através do diálogo e da participação coletiva levam os sujeitos a avaliar o coletivo, como nos aspectos táticos, buscando um melhor posicionamento em quadra num sistema ofensivo; o privilégio da ludicidade e da criatividade, trazendo ao jogo de basquete o gordinho, o menos técnico, o deficiente;

Nesse sentido a avaliação das aulas de basquetebol refletirá na melhoria do fazer coletivo, na elaboração de normas e critérios que valorizem o

social, o trabalho coletivo, o redimensionamento do processo de ensino, através do critério das diferenças individuais de cada aluno.

Metodologicamente propomos, baseados GOMES DA SILVA (1996), três momentos de avaliação: diagnostica, formativa e somativa. A primeira servirá de conhecimento do grupo, seus anseios e níveis de consciência social. Sobre os níveis de consciência social nos remetemos a MEDINA (1983), que relata três tipos de consciência: intransitiva, transitiva ingênua e transitiva crítica. A avaliação formativa buscará verificar se os conteúdos estão adequados e se o grupo está conseguindo atingir suas necessidades. Enfim, a avaliação somativa, que definirá quantitativamente o avanço do aluno, para poder dar uma referência no seu processo de evolução de sua consciência social.

No documento Educação Física (Saiba Mais) (páginas 37-40)

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