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MODELO DE REPRODUÇÃO OU PERSPECTIVA DE

No documento Educação Física (Saiba Mais) (páginas 44-50)

TRANSFORMAÇÃO?

É inegável dizer, que ao assistirmos os noticiários esportivos, jogos, propagandas relacionadas ao esporte verificamos que a máquina publicitária age em função de reforçar os valores de competição, rendimento, auto- superação, vitória a qualquer preço, predominantes na sociedade capitalista. Sabemos que a repercussão destes valores afloram nas aulas de Educação Física, na ênfase da aprendizagem do gesto motor, da técnica, do rendimento, incorporados historicamente. BRACHT (1998), argumenta que "estas características da Educação Física escolar nada mais são do que um reflexo mediatizado da estrutura social sob a qual este se realiza, ou seja, a sociedade capitalista ". Logo, argumenta que não devemos restringir o conhecimento da Educação Física ao "fazer", mas ao "fazer crítico".

Deverá a escola, portanto, agir no sentido de desenvolver uma Educação Física que possibilite ao aluno um contato com seu conteúdo de uma forma desmistificada, auxiliando para que os mesmos tenham subsídios para analisá-lo criticamente.

É dessa forma que acreditamos caminhar em busca da legitimação da Educação Física no sentido de uma transformação social. É a escola a responsável pela socialização e sistematização da cultura, dos conteúdos da Educação Física, por meio de um professor consciente de seu papel social. Sendo assim, um professor deve ao planejar suas aulas segundo LIBÂNEO (1988) se perguntar:

Que conteúdo e habilidade podem ajudar o aluno a ser um cidadão participativo? Como a Educação do corpo, do movimento e os esportes podem contribuir para o exercício de uma prática social consciente e menos alienada?

Por essa via, o aluno terá subsídios para um entendimento do mundo que o envolve, para a apreensão do todo, podendo efetuar uma prática social gerenciada por um espírito crítico.

E nós, que nos pretendemos educadores, que papel nos cabe diante desse contexto? Incentivar um tipo de prática desportiva, que pela sua própria lógica, só pode priorizar os mais "hábeis " e os mais "dotados ". Transformar as aulas de Educação Física em campos de guerra, onde somente o "melhor" e o mais "competente " consegue se sobressair para poder integrar a "seleção " da escola? Exatamente como prega a ideologia capitalista, ou seja, os excluídos, os miseráveis e os famintos só são, por falta de "competência ". No entanto, PICCOLO (1995:13) salienta que:

O principal papel do professor, através de suas propostas, é o de criar condições aos alunos para tornarem-se independentes,

participativos e com autonomia de pensamento e ação. Assim, poderá se pensar numa Educação Física comprometida com a formação integral do indivíduo. Dessa forma pode -se enfatizar o papel relevante que a Educação Física tem no processo educativo.

Se realmente nos pretendemos educadores, precisarmos repensar nossa prática educativa, e temos que fazê-lo continuamente. Não podemos continuar sendo ingênuos diante desse quadro avassalador, fruto de um sistema social e político que atende somente aos interesses de uma minoria. A Educação Física deve passar por uma transformação no interior da escola. Deve ser interpretada como manifestação de cultura, deve ser historicizada criticamente. O professor deve ter claro quais os valores a construir no caráter e personalidade de seus alunos; buscar o princípio de jogar com, no lugar de jogar contra; permitir-lhes interagir, não na condição de consumidores passivos, mas como sujeitos capazes de contribuir de forma participativa crítica e criativa dessa dimensão cultural; o aluno tem que ser parceiro ativo e participativo nas tomadas de decisões; o professor aceita as contribuições dos alunos e os conhecimentos que eles trazem do seu cotidiano; possibilita acertos, mas não condena os erros; instala entusiasmo, confiança e melhora a auto-estima. Passa-se do individualismo para o companheirismo (cooperação mútua com compromisso com a coletividade); da performance (aptidão física) para o desenvolvimento integral do aluno; da desigualdade para a igualdade e respeito. Deve valorizar princípios como: cooperação, a solidariedade, a autonomia e democracia.

A Educação Física escolar deve ser uma prática social que permita a construção coletiva do conhecimento a partir da criação e recriação de regras e formas alternativas de praticá-lo. Deve permitir a liberdade na expressão de movimentos, onde o gesto técnico é apenas uma referência e não padrão de movimento considerado "correto". Deve enfim, ser um instrumento de interpretação, análise e constatação da realidade, à medida que permite a contextualização e reflexão sobre sua prática, caracterizando dessa forma a aprendizagem social através da Educação Física.

O que estamos tentando dizer com isso, é que devemos nos esforçar na superação da velha dicotomia teoria/prática buscando uma proposta metodológica que seja capaz de construir um comprometi mento com o projeto de sociedade que queremos alcançar. Devemos, como tarefa desafiadora repensar as propostas metodológicas no sentido dos valores que promovem, entendendo a necessidade de preparar os alunos na escola para repensar sua inserção social, buscando a autonomia, a liberdade, a democracia, a justiça e a ética "não só como consciência em si, mas sobretudo como consciência para si" (MARCASSA: 1999).

Acreditamos que este é o momento de reflexão da Educação Física. Passados mais de 10 anos da publicação do "Coletivos de Autores", que recebeu críticas da direita reacionária e da esquerda revolucionária, encontramos publicações da LEPEL (Linha de Estudos da Celi Tafarel) que tem discutido, principalmente, a Educação Física e suas relações com o movimento social. Foram publicados, também, livros sobre a temática do lazer (principalmente) Marcellino e houve o surgimento de novos autores, como é o

caso do Victor Melo. Mas nesses 10 anos ocorreu o fortalecimento das políticas neoliberais, o agravamento da situação econômica dos trabalhadores e o debate dos teóricos ditos "Pós-modernos". Diante desse quadro desolador continuamos acreditando nas possibilidades de luta da classe trabalhadora, no sentido da construção de uma nova sociedade, com uma outra base econômica.

Quais as possibilidades da escola diante de tantos desafios? E a Educação Física? Podemos verificar que, especificamente em Pernambuco, a abordagem crítico-superado ganhou espaços durante a gestão do Governo Miguel Arraes, mas encontrou resistência por parte de outros setores e professores. Isso nos leva a pensar que peculiaridades políticas, por região, podem afirmar e reproduzir o modelo educacional que privilegia uma minoria, através da escola.

Tão salutar o debate travado pelos teóricos da Educação Física, mas que por vezes não consegue se materializar, devido a própria estrutura do sistema e seus aparelhos de dominação.

É evidente que não acreditamos ser a Educação Física uma panacéia de todos os males da sociedade, ao contrário, a experiência nos tem mostrado a dificuldade dessa disciplina cm se afirmar no interior da escola.

Somente a organização popular, afirmada pela consciência de classe, poderá realizar de fato a transformação social, e assim, gostaríamos de concordar com as idéias do coletivo de autores que formulam a possibilidade da Educação Física afirmar seu discurso no sentido da desmistificação da realidade capitalista, não num sentido doutrinador, mas numa perspectiva verdadeiramente transformadora, superando velhas práticas que mistificam e encobrem as possibilidades de organização da classe trabalhadora.

Tabela 1 Características das Abordagens da Educação Física Escolar DESENVOLVIMENTIST A CONSTRUTIVISTA CRITICO- EMANCIPATORIO APTIDÃO FÍSICA/ SAÚDE CRÍTICO SUPERADORA PRINCIPAIS

AUTORES GoTani João Batista Freire Eeonor Kunz Nahas; Guedes: Farinatti Guedes e V.Brachr. L Castellani C. Taffarel; C. Soares M. Escolar. E Varjal. OBRAS/ AUTORES Educação Física

Escolar uma abordagem desenvolvimentista. Educação de corpo inteiro e Pedagogia do Futebol.

Educação Física Ensino

e Mudanças; Transformação dático- pedagógica do espoite. Sugestões de conteúdos programáticos pêra programas de Educação física escolar

direcionados à promoção da Saúde.

Metodologia do Ensino de Educação Física.

BASE TEÓRICA Biomecânica/Fisiologia Psicologia Teoria sociológica da

razão comunicativa Matriz biológica Aptidão tísica Sociologia

OBJETIVO Adaptação Construção do

conhecimento Movimento humano, o esporte e suas transformações sociais.

Qualidade de vida; estilo de vida ativo e saudável. Transformação serial TEMÁTICA PRINCIPAL Habilidades motoras básicas e específicas Aprendizagem e desenvolvimento motor.

Esquema corporal Aplicam movimento Conscientemente; refuncionalizar o movimento. Exercícios: ginástica; jogos; competiçõe esportivas s Cultura corporal

CONTEÚDO Habilidades básicas,

habilidades especificas. Jogo simbólico, jogo de regras, coordenação, lateralidade.

0 movimento humano

por meio do esporte Prática regular de atividades físicas. Jogo, esporte, dança, ginástica, luta, capoeira ESTRATÉGIAS/

METODOLOGIA

Repetição dos gestos técnicos

Resgatar o conhecimento do aluno

Solucionar problemas

Estratégia didática com as categorias de ação trabalho, interação e linguagem·. Formação do hábito da prática regular de exercícios tísicos Problernatização

AVALIAÇÃO Habilidade, processo de observação sistemática do movimento perfeito. Feedback

Não punitivo, processo de auto-avaliação. No processo ensino- aprendizagem Considerar a classe social. Observação sistemática SINONÍMIA Educação do

Desenvolvimento Educação pelo movimento Cultura do movimento Cultura corporal BASE

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