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A Proposta e a Organização do Trabalho da Equipe Multiprofissional

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO MUNICÍPIO E O CONTEXTO DA

7.1.1 A Proposta e a Organização do Trabalho da Equipe Multiprofissional

A proposta de constituir uma equipe multiprofissional com especialistas de diferentes áreas atuando na escola, surgiu como projeto elaborado pela instituição especializada da APAE local no ano de 1998, através de uma parceria com a Delegacia Regional de Ensino da região, com a Prefeitura Municipal, escolas estaduais e municipais (APAE, 1998).

Segundo consta na descrição do projeto inicial da instituição, a proposta de incluir especialistas das áreas de Fonoaudiologia, Psicologia, Assistência Social e Pedagogia nas escolas se fundamentou em algumas constatações, a saber: a) a alta e crescente demanda encaminhada para avaliação cognitiva na instituição, de alunos proveniente em sua maioria das escolas públicas; b) a constatação de que o processo de triagem evidenciava que um grande número dos alunos encaminhados não apresentava déficit intelectual que justificasse seu encaminhamento para a instituição; c) a resistência de muitas famílias em matricular essas alunos na instituição especializada.

Quanto à resistência das famílias, consta no projeto que após avaliação, tanto os alunos matriculados na instituição, ou que eram indicados para permanecerem matriculados na escola regular, mas, recebendo atendimentos clínicos ambulatoriais na instituição, demonstravam grande resistência em aceitar as intervenções, reduzindo assim, a participação dos alunos e, consequentemente, os avanços nas áreas indicadas com defasagens (APAE, 1998). Diante dessas constatações, a APAE local idealizou um projeto de composição de uma equipe com especialistas de diferentes áreas, para atuar no sistema regular de ensino, diretamente com alunos e professores nas escolas. O projeto foi denominado projeto de Cooperação Técnica – CONSTROE, e tinha como objetivo garantir a permanência e o sucesso na aprendizagem dos alunos que apresentavam necessidades especiais. Nesse caso, o público contemplado ampliava-se para alunos com diferentes necessidades educacionais e não somente

alunos com deficiência, nas escolas da rede regular de ensino (APAE, 1998). A proposta da composição da equipe era de quatro assistentes sociais, quatro fonoaudiólogas, quatro pedagogas, quatro psicólogas e uma coordenadora, contratadas e vinculadas à escola especial e pagas com repasse municipal, para atuarem em 4 escolas públicas do município.

As primeiras ações da equipe contemplaram alunos matriculados no Ensino Fundamental, com faixa etária entre 6 e 14 anos, professores e familiares. Os alunos receberiam atendimentos em grupos de no máximo cinco participantes, de acordo com as classes em que estudavam, no período escolar em que estavam inseridos, com duração de atendimento entre 30 a 60 minutos em média, duas ou três vezes por semana ou conforme a necessidade que cada caso demandasse, sendo portanto, retirados da sala de aula para receber esses atendimentos (APAE, 1998).

As ações envolvendo o professor compreendiam o acompanhamento da prática pedagógica na escola, através de observação da didática desenvolvida na sala de aula para posterior reflexão, aconselhamento e orientação. Com as famílias o trabalho priorizava o conhecimento da realidade do contexto familiar dos alunos atendidos, a fim de subsidiar os procedimentos a serem adotados pela equipe e fortalecer e otimizar a interação escola-família- equipe técnica (APAE, 1998).

O Quadro 8 apresenta a demanda de alunos atendidos pela equipe, por escola, desde a criação da equipe em 1998 até o ano de 2005, conforme conta de relatórios da instituição especializada. Segundo consta nos projetos de 1999, 2002 e 2005, a avaliação dessas ações ocorreu por meio de monitoramento das intervenções durante todo o desenvolvimento da proposta de trabalho.

Quadro 8_ Demonstrativo do fluxo de trabalho durante o projeto. Ano Total de alunos

matriculados Total de alunos inseridos no programa Quantidade de escolas

1998 783 315 4 escolas 1999 1741 420 4 escolas 2000 1976 422 6 escolas 2001 1910 327 6 escolas 2002 2674 533 6 escolas 2003 2345 539 6 escolas 2004 2620 549 6 escolas 2005 2213 329 6 escolas Fonte: APAE, 2005.

Os relatórios de acompanhamento e avaliação, elaborados pelos profissionais da equipe multiprofissional, apontaram resultados positivos quanto ao trabalho desenvolvido.

Os resultados alcançados no âmbito do aluno, do corpo docente, das famílias e da comunidade escolar indicam ser este um dos caminhos que atende aos direitos fundamentais da criança, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – Lei 8069/90. Assim sendo, a continuidade do projeto torna-se uma exigência face a existência de alunos ainda em processo de atendimento e, frente às demandas que surgirão em razão da matrícula de novas crianças nas séries iniciais do ensino fundamental (prioridade estabelecida do CONSTROE). O trabalho empreendido junto a alunos que apresentavam necessidades educacionais especiais oportunizou constatar que a grande maioria conseguiu superar suas dificuldades, graças ao suporte oferecido pelos profissionais que integram as equipes do projeto. Oportunizou ainda, identificar alunos portadores de déficits intelectuais que necessitavam frequentar classes especiais e contribuiu para melhorar a qualidade do ensino fundamental, figurando como uma das propostas que integram a Política Municipal da Educação (APAE, 2005, p. 04).

No ano de 2001 houve a troca na gestão pública municipal, a parceria com a instituição especial foi mantida, porém, o projeto foi reformulado. Uma das finalidades das mudanças foi a intensificação dos atendimentos clínicos e de avaliações mais específicas para os alunos que apresentavam dificuldades, ocasião em que os atendimentos clínicos nas áreas de psicologia e fonoaudiologia passaram a ser realizados em algumas unidades básicas de saúde. Na escola permaneceu o trabalho da pedagoga e da assistente social. O trabalho da psicologia e da fonoaudiologia se dividiu entre os atendimentos clínicos nas UBS e momentos de proposta institucional nas unidades escolares (MUNICÍPIO PESQUISADO, 2002).

Em 2005, com nova mudança na gestão municipal, o projeto foi assumido pela prefeitura municipal. Os profissionais que compunham a equipe foram dispensados por não serem efetivos do funcionalismo municipal. Houve a contratação de novos especialistas e um retorno dos mesmos para o trabalho nas escolas, retomando os atendimentos, as avaliações e as orientações aos professores e aos familiares (MUNICÍPIO PESQUISADO, 2005). Nesse novo modelo, as escolas estaduais foram excluídas do projeto, restringindo a ação às escolas municipais e a vertente clínica tornou-se mais explícita.

No entanto, nesse mesmo ano, o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFF) emitiu a Resolução nº 309/2005 (BRASÍLIA, 2005b) condenando a execução da prática terapêutica nas escolas, esclarecendo em seu art. 2 que estaria "vedado ao fonoaudiólogo realizar atendimento clínico/terapêutico dentro de instituições de educação infantil, ensino fundamental e médio, mesmo sendo inclusivas” (BRASÍLIA, 2005b, p.2). Essa mesma recomendação apareceu na Res 10/2005 do Conselho Federal de Psicologia - CFP (BRASÍLIA, 2005a), que alertava quanto ao rompimento com a prática clínica dentro das escolas, como aponta uma das participantes que vivenciou esse processo de mudanças.

trabalho institucional, jamais clínico. Então, reformulamos o projeto que até então, era de assessoria e atendimentos clínicos, para um trabalho institucional. O único que pôde se manter com atendimentos foi a pedagoga, porque ela não tinha um conselho que a impedisse de fazer o atendimento a grupos de alunos (EIPsico3).

O projeto foi reformulado em 2009 e depois em 2011, pelos próprios profissionais da equipe. Para esse estudo foi considerado o último projeto elaborado pela equipe em 2011 (Anexo A), que orientava o trabalho da equipe no momento do estudo.

Das 18 instituições de ensino sob responsabilidade da rede municipal, os profissionais da equipe multiprofissional estavam alocados em cinco escolas, aqui designadas como Unidades de Ensino (UE), divididos conforme necessidade de apoio, dificuldades apresentadas pelas escolas e baixo índice do IDEB de 2011, ocasião em que ocorreu a última modificação na alocação destes profissionais.

O Quadro 9 apresenta essa divisão e outros dois serviços de apoio, o AEE e o Reforço Intensivo (RI) que contextualizavam a abrangência da atuação dessa equipe.

Quadro 9_ Campo de atuação da equipe multiprofissional no município estudado, a partir da

reorganização dos profissionais em 2011.

Fonte: Município Pesquisado, 2015.

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

UE 1 UE 2 UE 3 UE 4 UE EU UE 7 696 alunos 341 Alunos 291 Alunos 328 Alunos 381 Alunos 573 alunos 347 Alunos Ideb 2007 - 5.6 2009 - 6.3 2011 - 5.9 2013 - 6.4 Ideb ________ 2009 - 6.1 2011 - 6.4 2013 - 6.4 Ideb 2007 - 4.9 2009 - 5.6 2011 - 5.6 2013 - 5.5 Ideb 2007 - 4.6 2009 - 5.2 2011 - 5.1 2013 - 5.5 Ideb 2007 - 4.7 2009 - 5.4 2011 - 5.7 2013 - 5.6 Ideb 2007 - 4.8 2009 - 5.8 2011 - 5.5 2013 - 5.6 Ideb 2007 - 5.5 2009 - 5.8 2011 - 6.0 2013 - 6.0 Psicologia Escolar 24h Psicologia Escolar 16h Psicologia Escolar 40h Psicologia Escolar 16h Psicologia Escolar 24h Fonoaud. Escolar 24h Fonoaud. Escolar 16h Fonoaud. Escolar 40h Fonoaud. Escolar 24h Fonoaud. Escolar 16 h Pedagogia 40h Pedagogia 40h

Legenda: 2009 e 2011 referentes à reformulação do projeto.

Apesar da previsão do trabalho da equipe ser extensivo a toda a rede de 18 estabelecimentos escolares, na prática, o foco da equipe recaia sobre cinco escolas de Ensino Fundamental. Essas escolas foram consideradas mais preocupantes em relação às demais em função dos resultados apresentados nas avaliações internas e externas e em razão do número de alunos com dificuldades de aprendizagem e com deficiência matriculados nelas. A última divisão dos profissionais por escola havia sido feita no ano de 2011, considerando o IDEB e a realidade que se apresentava no momento.

Até o ano de 2011 as profissionais eram divididas nas sete escolas de ensino fundamental na rede municipal. A partir da divulgação do IDEB 2011 a equipe foi reorganizada. Das três escolas com índices crescentes, a UE2 e a UE7 ficaram sem os profissionais da equipe, por se caracterizarem como contextos nos quais, naquele momento, não demandavam apoio dos profissionais da equipe, ao passo que, em outras escolas parecia necessário aumentar ou intensificar o apoio, segundo informações do responsável pelo setor.

A UE5, embora tenha apresentado índice crescente, configurava-se como uma escola que merecia maior atenção por atender ao público da zona rural. Em razão do horário que cumpriam (com saída de casa por volta das 5h e retorno por volta das 14h), e do tempo que permaneciam em trânsito, esse público era privado de outras ações complementares oferecidas pela escola e, portanto, seria necessário manter as intervenções em sala de aula e os acolhimentos, como forma de subsidiar a escola em suas necessidades.

A UE4 recebeu uma equipe de profissionais em tempo integral. Em consulta aos documentos do AEE, matrícula de alunos e laudo médico, verificou-se que a escola foi sendo considerada uma "escola polo" para casos de deficiências consideradas graves. Dos 22 alunos matriculados nesse respectivo ano (2011), 17 adivinham de pontos diferentes da cidade. Desse total, estavam matriculados quatro alunos com deficiência múltipla, dois alunos com transtorno do espectro do autismo (TEA), três alunos com paralisia cerebral grave, um aluno com deficiência física (cadeirante). Os demais, apresentavam deficiência intelectual, sendo três alunos com diagnóstico de deficiência intelectual moderada, associada a Síndrome de Down. O entendimento que se tem dessa organização é que, para garantir os direitos dos alunos PAEE e dos demais alunos, seria necessário mais profissionais de apoio à escola.

As UE1, UE3 e UE6 dividiram os profissionais das áreas de fonoaudiologia e psicologia.

de 40 horas semanais, divididas em atendimentos individuais ou de pequenos grupos, itinerância nas escolas de Educação Infantil (creche e pré-escola) distribuídos de acordo com a necessidade da escola e dos alunos, orientação, planejamento e apoio ao professor da classe comum, acompanhamento do aluno em sala de aula regular, reuniões para formação e acompanhamento dos profissionais, sendo a disponibilidade de trabalho em tempo integral uma das exigências para a atuação nesse serviço (MUNICÍPIO PESQUISADO, 2011).

Outros profissionais (professores alfabetizadores) ofereciam o Reforço Intensivo (RI) era um serviço de acompanhamento realizado prioritariamente no contraturno aos alunos que não se alfabetizaram e cursavam do 2º ao 5º ano, mas que não se enquadravam no PAEE, apesar de apresentarem dificuldades acentuadas no processo de alfabetização e na aquisição dos conceitos matemáticos. Os atendimentos no RI eram realizados em grupos de no máximo sete alunos, preferencialmente, por professores alfabetizadores da própria rede, que completavam a carga horária em mais 10 horas semanais, podendo atender até duas turmas, três vezes por semana ou de acordo com a necessidade (MUNICÍPIO PESQUISADO, 2014). O serviço se assemelhava, na parte de atendimentos, ao prestado pela Pedagogia da equipe multiprofissional e era oferecido nas escolas que não contavam com esse profissional, com exceção da UE5.

Conforme o Quadro 9, apresentado anteriormente, os profissionais da equipe também se articulavam aos profissionais envolvidos com o serviço de AEE e com o RI, também considerados serviços de apoio.

A rede municipal contava com uma assistente social que, embora mencionada na proposta de atuação da equipe multiprofissional, não fazia parte da equipe. Esta realizava visitas domiciliares pontuais quando solicitada e devolutivas para a escola por meio de relatórios, mas, acumulava outras funções na secretaria municipal de educação. Portanto, essa profissional não foi inserida como parte da equipe multiprofissional, por não vivenciar a atuação direta nas escolas.

Finalizada a apresentação da Etapa I de análise dos dados desse estudo, segue abaixo as categorias de análise da Etapa II, a saber: