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7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.2 A PROPOSTA DE TRABALHO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL: COMO

7.2.7 Limites e Possibilidades

Em relação aos limites e possibilidades do trabalho da equipe de profissionais na escola, os resultados indicam a dificuldade de se constituir enquanto equipe, o modelo clínico, a dificuldade de articulação com profissionais da escola e familiares, a cultura escolar:

A falta de articulação da nossa equipe é a principal dificuldade. O fato da escola ser um pouco fechada também. Vejo que quando temos pessoas empenhadas em realizar alguma coisa, não interessa se existem barreiras ou não (GFIPsico2).

Tem limites que são profissionais como é o caso do atendimento clínico, é um limite profissional que a ética do psicólogo me coloca, existem limites pessoais de coisas que eu tenho que fazer, mas que eu sinto muita dificuldade. Tem limites impostos pelas outras condições, muitas vezes a gente não consegue executar. Meu trabalho não funciona eu trabalhando sozinha, ele precisa da parceria. Se o outro não faz a parte dele o meu trabalho não vai para a frente (GFIPsico1).

Melhorar as relações dos grupos na escola, principalmente uma gestão mais preparada. Há muita dificuldade em aceitar um outro modelo de trabalho na escola. A partir do momento que saímos do modelo clínico para o institucional, a gestão não quer, o professor não quer. Eles querem o atendimento (GFIFono3).

Tem limites quando a gente depende do outro, como por exemplo, para o pai levar ao atendimento clínico, quando a criança precisa de um aparelho ortodôntico e a família não tem condições e o serviço público não cobre esse tipo de serviço. Tem muito professor resistente, é com ele a minha maior dificuldade, porque é com ele que eu tenho mais contato (GFIFono1).

E quanto às possibilidades, as participantes relataram que a atuação com as famílias, com formação e a possibilidade de contribuir para atender a função da escola:

Preciso achar uma maneira de fazer funcionar um trabalho mais próximo dos pais, num contexto grupal (GFIPsico1).

Há necessidade de um trabalho que eu não tenho formação para fazer, mas considero necessário, é auxiliar a gestão junto ao corpo de funcionários que não são professores. Aprimorar o trabalho, aprender práticas de gestão, saber trabalhar com professor, com a administração dos funcionários e dar soluções para questões administrativas (GFIFono1).

Vejo muitas possibilidades de contribuir com a escola, principalmente depois que a escola entende que o meu papel não é trabalhar as alterações de fala de determinada criança, que o trabalho do fonoaudiólogo educacional é muito mais amplo do que isso (GFIFono2).

Indagados sobre como superar as dificuldades, relataram ser fundamental uma coordenação para a equipe, encontros sistemáticos entre todos os profissionais e encontros por área. Momentos de estudo, reflexão e discussão do projeto de atuação, das ações da equipe e principalmente, para definição do papel e das responsabilidades que deveriam desempenhar na escola.

encontramos uma mistura bastante característica do espaço escolar representada por "altos e baixos, como "momentos em que estou bem satisfeita, acho que o trabalho está caminhando, mas tem momentos em que fico chateada e vou em busca de outros conhecimentos para melhorar, mas não me considero insatisfeita com o meu trabalho” (EIPsico3).

Uma das profissionais relata a insatisfação obtida com o trabalho que desempenha ao expressar-se "muito frustrada, não é esse trabalho que eu pretendo ficar muito tempo. Não quero ficar na educação, porque me frustra realizar um trabalho que não depende só de mim e os outros não querem modificar, não dá para continuar um trabalho assim, não querem fazer a parte deles” (EIFono3).

Encontramos em outro profissional da mesma equipe, a realização, mesmo diante das dificuldades que encontra no trabalho,

Eu amo o que eu faço, me identifiquei muito, tanto que fui buscar conhecimentos que me faltavam. Tem dias que fico angustiada, as coisas não acontecem como imaginamos e temos que lidar com as frustrações e expectativas. Mas eu gosto muito, é um trabalho que tem muito a crescer, temos muito com o que contribuir com a escola e acho que a tendência é evoluir principalmente quando a equipe consegue se formar e a escola consegue entender que não estamos aqui para criticar, para apontar erros, pelo contrário, estamos aqui para compartilhar, dividir, somar e auxiliar todo esse processo que a escola necessita, lógico que dentro de nossas limitações, por isso que precisamos das parcerias e dos outros profissionais da escola (EIFono2).

A análise dessa primeira etapa da pesquisa demonstra que a contribuição desses profissionais na escola é positiva. No entanto, é preciso pensar na formação dessas equipes e definir a filosofia comum a ser adotada no trabalho em contexto escolar. Possibilitar espaço de diálogo e planejamento, pois, além de formação é necessário tempo conjunto de reflexão.

Garcia (1994) esclarece que a formação de uma equipe multiprofissional exige alguns requisitos fundamentais para seu funcionamento, que envolvem: a) a formação individual de seus membros, b) a reflexão partilhada de suas práticas, c) a adaptabilidade, que corresponde a capacidade da equipe em unir seus conhecimentos sem sobreposição de convicções individuais; e, d) o sentido de identidade, que une o conhecimento do grupo, seu funcionamento e o empenho pessoal de cada um dos seus membros, pois ao contrário disso "[...] aumentam as dificuldades para o estabelecimento de uma relação eficaz entre profissionais provenientes de áreas de saber diferentes, o que origina intervenções parcelares ou justapostas” (GARCIA, 1994, p. 49).

A autora esclarece ainda que a formação da identidade da equipe é essencial. Para tanto, deve ser instituído um processo de autoanálise que permita aos seus componentes identificar, analisar e buscar pela resolução de problemas internos do próprio grupo, a partir do

cruzamento dos saberes específicos de cada área de conhecimento (resultantes da formação profissional), dos saberes comuns (advindos das experiências) e dos saberes qualificantes (obtidos através da reflexão na ação e a partir dela).