• Nenhum resultado encontrado

4 A PROVA NO PROCESSO PENAL: CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA,

4.3 A PROVA PERICIAL E O CONTRADITÓRIO NO INQUÉRITO

O Código de Processo Penal, em seu capítulo sobre as provas, enumera os meios de prova dos quais as partes podem se valer para convencer o magistrado da veracidade de suas alegações.

Entre elas estão as perícias, que doravante passa-se a examinar, bem como a sua correlação com o princípio do contraditório.

4.3.1 Envolvimento da Criminologia

A criminologia é uma ciência moderna, sendo um modo específico e qualificado de conhecimento e uma sistematização do saber de várias disciplinas. A partir da experimentação desse saber multidisciplinar surgem teorias, ou seja, um corpo de conceitos sistematizados que permitem conhecer um dado domínio da realidade.

Objeto da Criminologia é o crime, o criminoso (que é o sujeito que se envolve numa situação criminógena de onde deriva o crime), os mecanismos de controle social (formais e informais) que atuam sobre o crime; e, a vítima (que às vezes pode ter inclusive certa culpa no evento).

A relevância da Criminologia reside no fato de que não existe sociedade sem crime. Ela contribui para o crescimento do conhecimento científico com uma

ϱϴ 

abordagem adequada do fenômeno criminal. O fato de ser ciência não significa que ela esteja alheia a sua função na sociedade. Muito pelo contrário, ela filia-se ao princípio de justiça social.

Os estudos em Criminologia têm como finalidade, entre outros aspectos, determinar a etiologia do crime, fazer uma análise da personalidade e conduta do criminoso para que se possa puni-lo de forma justa (que é uma preocupação da criminologia e não do Direito Penal), identificar as causas determinantes do fenômeno criminógeno, auxiliar na prevenção da criminalidade; e permitir a ressocialização do delinqüente (FERNANDES; FERNANDES, 2002).

A interdisciplinaridade é uma perspectiva de abordagem científica envolvendo diversos continentes do saber. Ela é uma visão importante para qualquer ciência social. Em seus estudos, a criminologia se engaja em diálogo tanto com disciplinas das Ciências Sociais ou humanas quanto das Ciências Físicas ou naturais.

Entre as áreas de estudo mais próximas da Criminologia temos: o Direito Penal, o Direito Processual Penal, a Psicologia e a Psiquiatria Criminal, a Sociologia Criminal, a Vítimologia e a Criminalística, tratada na sequência, entre outras.

O termo “Criminalística” (Polícia Científica, Polícia Técnica ou Policiologia) teve o surgimento com o alemão Franz Von Listz (1851 – 1919), professor de Direito Penal e de Processo Penal, denominada como a ciência tutelar do Direito Penal, formal e materialmente, além de ser auxiliada por outras ciências.

Até aí, a Criminalística inevitavelmente se confundia com a Medicina Legal, tornando-se, posteriormente, uma disciplina isolada, porém paralela a esta – tais como a Toxicologia e a Criminologia –, que utiliza, freqüente e simultaneamente, a química, a física e a biologia, com técnicas próprias, adaptadas a circunstâncias peculiares.

Contudo, nessa época, o Estado, de maneira lícita, se utilizava de métodos brutais como castigos corporais e mesmo a tortura como meios de descobrir os autores de crimes, através da confissão forçada.

Já no fim do século XIX, Hans Gross, juiz de instrução da época, buscou criar e aperfeiçoar métodos científicos e menos degradantes para a elucidação de crimes, consolidando a Criminalística como a disciplina dedicada ao estudo da indiciologia material, oferecendo um número infinito de possibilidades de averiguação dos fatos da identidade do criminoso.

ϱϵ 

Os laboratórios ou serviços de Polícia Técnica, então, se estabeleceram, em razão do desenvolvimento das ciências naturais e pela tecnologia, verificados a partir da segunda metade do século XIX e, por consequência, da aplicação destes conhecimentos ao estudar os vestígios materiais deixados pela prática do crime.

Esses laboratórios nasceram, em sua maioria, ligados aos serviços de identificação, embora tenha casos em que foram criados diretamente em Universidades e também como institutos autônomos.

Com o passar dos anos, inúmeros foram os casos em que os laudos, relatórios e pareceres dos peritos contradiziam a conclusão da polícia, o que gerava desconforto, insegurança e, sobretudo, desconfiança.

Em vez de buscar outros meios para a solução deste impasse, o Estado resolveu a questão – da maneira mais simplista (quiçá, a mais conveniente) –, criando, transferindo e subordinando os órgãos científicos para os quadros policiais.

Assim o fazendo, foi eliminada a possibilidade de conclusões divergentes, pois, havendo relação de subordinação, aqueles que estivem em grau hierárquico superior, decidiriam as divergências e, evidentemente, o resultado não seria revestido de imparcialidade. Em suma, o Estado hierarquizou a ciência, a engessando. (PARISE; ARTEIRO, 2009).

4.3.2 Conceito de prova pericial

Segundo o dicionário Aurélio, perícia que dizer habilidade, destreza, conhecimento, ciência, como também vistoria ou exame de caráter técnico e especializado. De acordo com Tornaghi (apud MANZANO, 2011, p. 8) “a perícia nada mais é do que uma pesquisa que exige conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos.

Já Espíndula (2006, p. 77), partindo de conceituações iniciais e de forma ampla define a perícia como sendo “uma expressão genérica que abriga diversos tipos de exames de natureza especializada, visando esclarecer determinado fato sob a ótica científica.”

Nucci (2008, p. 46) conceitua perícia como “[...] o exame de alguma coisa ou de alguém, realizado por técnicos ou especialistas, em determinados assuntos, que podem fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo penal.”

ϲϬ 

A perícia, explica Leone (apud LOPES JÚNIOR, 2011, p. 592) “é uma declaração técnica acerca de um elemento de prova”.

Ocorrendo a prática de uma infração penal que deixa vestígios materiais, deve a autoridade policial, tão logo tenha conhecimento dela, determinar a realização do exame de corpo de delito, conforme preceitua o art. 6º., VII, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941).

Por alguma razão, não tendo sido realizado nessa fase, deve, posteriormente, ser ordenada a sua feitura pelo juiz.

4.3.3 Exame de corpo de delito

Corpo de delito, para Nucci (2007, p. 119), “é a prova pericial focada na materialidade da infração penal”.

Dessa forma, examinam-se os vestígios materiais do delito, sob ótica técnico-científica, o que permite extrair, chegar a conclusões seguras e confiáveis acerca da existência do delito. Portanto, o exame de corpo de delito nada mais é do que a prova pericial. (NUCCI, 2007).

No dizer de Tucci (apud LOPES JÚNIOR, p. 180-181):

[...] é o exame de corpo de delito, em nosso processo penal, uma espécie de prova pericial constatatória da materialidade do crime investigado, realizada, em regra, por peritos oficiais, [atualmente, basta um só perito oficial] ou técnicos, auxiliares dos agentes estatais da persecutio

criminis [...]

4.3.4 Meios de produção da perícia

O exame de corpo de delito pode ser realizado de forma direta e/ou indireta. É realizado de forma direta quando os peritos têm contato imediato e sem intermediário com o objeto a ser analisado (Ex.: exame do cadáver no local do crime, pelo perito criminal, ou no Instituto Médico Legal, pelo médico legista). É indireto quando o expert utiliza, para os exames, informações, dados e elementos fornecidos por terceiros. Nesta hipótese, examinando os documentos fornecidos, chegam a elaborar um laudo pericial do mesmo modo, baseado na análise dos elementos coligidos (Ex.: análise de fichas clínicas de atendimento em determinado hospital, pelo IML) (NUCCI, 2010).

 

O procedimento a ser adotado nas perícias e nos exames de corpo de delito, quer seja na fase investigativa, quer na judicial, são regulados nos termos dos artigos 158 a 184, do CPP.

Documentos relacionados