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10. Eu tenho pensado em fazer alguma coisa

2.2 Tratamento da Depressão Pós-Parto

2.2.1 A Psicoterapia Interpessoal (TIP)

É um tipo de psicoterapia breve baseada em evidências, e construída principalmente a partir das idéias da escola interpessoal da psicanálise de Sullivan, nos estudos sobre o luto de Freud e na Teoria do Apego de Bowlby (SCHESTASKY; FLECK,1999). Além disto, engloba também a teoria da comunicação, a teoria social e a teoria de Meyer (MARTINS; MONTEIRO, 2016).

É um tratamento de tempo limitado, que tem como foco dois contextos principais:

como o paciente está se sentindo e as suas interações com as outras pessoas (WEISSMAN; MARKOWITZ; KLEARMAN, 2009).

A TIP pode ser oferecida tanto nos serviços de saúde pública, como em serviços sociais com adequado direcionamento para a condução do tratamento, o qual se concentra em três pontos: o processo depressivo atual, os elos entre a depressão e a forma como a pessoa lida com seus problemas atuais, interferindo nos relacionamentos e na forma como cada um vai encontrar estratégias para lidar com os seus problemas (OMS, 2016).

A terapia leva em consideração a idéia central de Freud referente aos sintomas neuróticos gerados pela ansiedade. Além disto, estes sintomas surgem em indivíduos com diagnóstico depressivo ou que estavam em luto desencadeado por perdas significativas (SCHESTATSKY; FLECK, 1999; KAY;

TASMAN, 2000). Utiliza os preceitos de Bowlby, que enfatiza que os vínculos seguros ou inseguros repercutiriam na vida adulta. Entende-se como apego seguro o comportamento da criança que busca o contato físico e o conforto da

mãe diante de situações de ameaça e como apego inseguro quando a criança trata sua mãe como se fosse um estranho, apresentando assim um comportamento contraditório ao esperado (CAVALCANTE; MAGALHÃES, 2012;

MARTINS; MONTEIRO, 2016).

A TIP engloba também questões biológicas e psicossociais, estudadas na teoria de Meyer, nesta concepção o ambiente seria o local de maior adaptação do indivíduo ao meio. Assim compreende que muitos distúrbios psiquiátricos são uma forma de expressão do indivíduo para que este se adapte ao meio em que vive (WEISSMAN; KLERMAN, 2015). As relações interpessoais, também são importantes nesta psicoterapia, pois relacionam-se ao aspecto fundamental das relações humanas saúdaveis, conforme refere Sullivan (MARTINS; MONTEIRO, 2016).

Além das concepções teóricas apontadas acima, a TIP utiliza a teoria da comunicação e a teoria social. A teoria da comunicação afirma que uma pessoa que desenvolve problemas de vinculação provavelmente terá dificuldades na comunicação interpessoal. Já a teoria social argumenta que as deficiências nas relações sociais advêm do ambiente onde o individuo vive, que se revela importante para o desevolvimento das perturbações psicológicas apresentadas por ele (MARTINS; MONTEIRO, 2016).

A TIP reúne quatro áreas relacionadas á depressão: 1) luto prolongado;

disputas referentes aos papéis interpessoais que podem estar relacionados aos papéis na família, no trabalho e com amigos; 2) mudanças ou transição dos papéis que o indivíduo desempenha ao longo da vida que podem abranger diversas áreas tais como divórcio, término de estudos; 3) mudanças na economia doméstica, mudanças familiares; e, 4) os chamados déficits interpessoais, tais como isolamento pessoal e solidão (SCHESTASKY; FLECK, 1999; KAY;

TASMAN, 2000; OMS, 2016). Podendo a depressão aparecer em apenas uma destas áreas, ou pode haver combinação de duas delas (SCHESTASKY;

FLECK,1999; OMS, 2016).

O trabalho pode ser realizado em grupo e apresenta quatro fases distintas:

fase pré-grupo; fase inicial do grupo; fase intermediária do grupo e fase final do grupo. Na fase inicial é feita uma sessão individual com cada membro do grupo para que se possa avaliar o processo depressivo, bem como para explicar o que é depressão. O objetivo desta fase é acalmar o paciente em relação as cobranças e obrigações sociais, percebidas como incapacitantes para ele devido

a sintomatologia depressiva, além disso, o contato com o paciente é feito regularmente. Neste momento, é realizado um inventário das relações interpessoais significativas na vida do paciente, caracterizando assim o nível de suas interações sociais dentro das quatro áreas de potenciais problemas citados acima (SCHESTASKY; FLECK ,1999; OMS, 2016). As outras três fases da TIP ocorrem semanalmente e os pacientes são incentivados a falar sobre sua problemática, especificamente como eles costumam enfrentar seus problemas e quais as áreas de sua vida que apresentam maior dificuldade. Neste momento os pacientes podem também contribuir com sugestões e apoio entre si (OMS, 2016).

Um estudo realizado com 53 mulheres afro-americanas grávidas que não faziam tratamento para depressão, mas recebiam serviços e pré-natal em uma clinica urbana de obstetrícia e ginecologia na Pensilvância, foram divididas em dois grupos aleatoriamente: TIP e cuidados de rotina. O grupo tratado com a TIP apresentou reduções significativas no diagnóstico de depressão e na severidade do quadro, tanto antes do parto, quanto seis meses após o parto.

Além disto, mostraram melhorias significativas no funcionamento social aos seis meses pós-parto (GROTE et al., 2009). Outro estudo realizado nos Estados Unidos com 99 mulheres grávidas da assistência pública avaliadas como tendo risco para desenvolver DPP, foram aletoriamente designadas para receber cuidados pré-natais padrão mais a TIP ou apenas os cuidados pré-natais padrão.Três meses após o parto 20% das mulheres em condição de cuidados pré-natais padrão desenvolveram transtorno depressivo maior, em comparação a 4% das que foram submetidas a TIP (ZLOTNICK et al., 2006).

Outro estudo que também corrobora com a eficácia da TIP foi realizado com 36 gestantes afro-americanas, que compareceram a uma clínica pré-natal e apresentavam risco para desenvolver DPP. Elas foram aleatoriamente designadas para um programa de intervenção (TIP) e para o tratamento usual da clínica. Observou-se que as mulheres na condição de intervenção relataram um ajuste pós-parto significativamente melhor aos 3 meses após o parto do que as mulheres que receberam tratamento usual (CROCKETT et al., 2008).

E, por fim, outro estudo realizado com 120 puérperas que preenchiam o diagnóstico de DPP com severidade grave foram divididas aleatoriamente em dois grupos. O grupo de intervenção recebeu 12 semanas de TIP e o grupo controle, não teve nenhum tratamento. As mulheres do grupo intervenção

tiveram declínio dos sintomas depressivos avaliados com BDI. A diminuição foi de de 19,4 para 8,3 nos defechos de depressão, já o grupo controle diminuiu de 19,8 para 16,8 (O’HARA et al., 2000). Além da TIP outro tipo de psicoterapia psicanalítica tem sido destacado na literatura para o tratamento da DPP: a Psicoterapia Perinatal Diádica, que tem como objetivo principal as relações entre os pais e o bebê (GOODMAN et al., 2014).

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