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1 ESCOLHAS TEÓRICAS

1.3 JUVENTUDES E TRABALHO: INICIATIVAS PÚBLICAS

1.3.2 A questão da inserção

Visto que grande parte das iniciativas públicas no campo do trabalho para jovens trata da inserção profissional, antes de prosseguirmos é necessário discutir tal tema.

Silva (2004), Borges (2010), Alves (2008), Dubar (2001), Pochmann (2001) e D´avila (2014) são apenas alguns dos autores que têm se proposto a investigar e problematizar a inserção de jovens no campo do trabalho. É principalmente nas décadas de sessenta e setenta do século passado que se começa a ampliar o conjunto de medidas no âmbito das políticas de emprego, educação e formação para os jovens.

Para Pochmann (1998), a inserção profissional se define pela passagem de uma situação de inatividade, caracterizada pela vivência familiar e escolar, para uma situação de atividade, caracterizada pelo emprego ou desemprego. Esta inserção compreende: a) saída da escola, b) o encontro de um emprego e c) a constituição de uma família. Alves (2008) aponta que, em uma primeira aproximação, podemos designar a inserção profissional como uma passagem do sistema educação/formação para o sistema de emprego, no entanto, há uma multiplicidade de expressões utilizadas como: entrada na vida ativa, transição profissional, transição da escola para o trabalho, entrada no trabalho ou entrada no emprego. Do ponto de vista semântico, essas designações se equivalem, embora, a sua utilização e frequência se diferenciem.

No entanto, vale destacar que o conceito de inserção deve ser problematizado, pois esta 'passagem' do jovem para o mercado de trabalho na contemporaneidade não acontece de forma tão linear e homogênea.

Fazendo um levantamento dos usos dessas denominações, Alves (2008) evidencia que elas foram utilizadas em diferentes momentos históricos, sendo possível verificar que a expressão ‘entrada na vida ativa’ surge na França, no campo da psicologia nos anos 1970, a partir dos estudos de Nicole Drancourt (1996). Essa expressão foi progressivamente substituída pelo termo ‘inserção profissional’. Nos anos 1970, as denominações ‘entrada no trabalho’ (entrytowork) aparecem na literatura anglo-saxônica. Posteriormente, esta expressão também foi trocada por ‘transição para o trabalho’ (transitiontowork). O que pode ser observado dos usos dessas expressões é que ambas utilizam a palavra ‘entrada’, esta, por sua vez, expressa uma ideia de começo, início, princípio da vida ativa e/ou de trabalho.

‘Entrada na vida ativa’ e ‘entrada no trabalho’ são, assim, expressões que, à primeira vista, designam o mesmo fenômeno: a passagem do sistema educativo para o sistema de trabalho e emprego. No entanto, diferenciam-se na forma como constroem seu objeto de estudo, pois a primeira reflete sobre as condições diante do trabalho com que os jovens são confrontados depois de darem por terminada a sua formação inicial. Já a segunda analisa os diferentes processos de socialização profissional (Alves, 2008).

Dubar (2001) destaca que a ‘transição’ do jovem para o trabalho, nem sempre foi considerada um problema sociológico, ressaltando que, durante muito tempo, a transição da escola para o trabalho, para uma grande maioria dos jovens, ocorria sem grandes percalços, sobretudo, em se tratando de meninos e meninas de camadas populares. A inserção passa a assumir um caráter problemático frente às dificuldades encontradas por muitos jovens para conseguir um trabalho e iniciar sua vida profissional (Alves, 2008).

As transformações ocorridas no campo laboral fizeram com que a inserção no trabalho assumisse novos contornos, sendo impossível pensá-la a partir de uma ótica linear. Dubar (2001), a partir de estudos da sociedade francesa, aponta algumas dessas transformações:

1) No contexto de declínio da aprendizagem, durante o século XIX;

2) A ideia de todos na escola, que marcará a história específica de políticas públicas (e seus atores) na França, em particular ao longo dos anos trinta;

3) O cenário econômico de ‘crise’, de meados dos anos 1970 e 1980, que gerou transformação profundas nos empregos, gestão (flexibilidade), políticas públicas de formação econômica, profissional e regulação do mercado de trabalho (inflação competitiva e gestão social de desemprego)

4) Novos procedimentos operacionais de qualificação em favor de padrões de recrutamento com base em habilidades, envolvendo a concorrência aos postos de trabalho que se tornaram mais escassos, precários e com maior seletividade do mercado de trabalho, levando incerteza e complexidade ao que hoje se chama de ‘inserção dos jovens’.

Dessa forma, pensar as dificuldades enfrentadas pelos jovens na passagem para o campo laboral tem repercussões sobre o acesso ao estatuto de cidadão de pleno direito, o qual é conferido por certa inscrição na sociedade salarial, além do adiamento na entrada da vida adulta e do prolongamento da juventude. A inserção profissional, desta forma, “remete para um campo semântico complexo onde se inter- relacionam as várias dimensões da noção de integração e onde falar de inserção profissional dos jovens é falar, simultaneamente, da sua integração econômica, social, cívica e simbólica” (Alves, 2008, p. 6).

Silva (2004) reforça a importância de contextualizar historicamente a inserção, pois, do contrário, perde-se seu caráter dinâmico. Neste sentido, a inserção, não pode ser uma definição apriorística, uma vez que é uma construção social e deve ser entendida a partir das relações sociais que a constituem. “Apesar do grande número de estudos a ‘inserção profissional continua a ser, ainda hoje, uma noção fluída e incerta” (Alves, 2008, p. 1).

As escolhas teóricas expostas brevemente neste capítulo tiveram a intencionalidade de embasar as discussões e a compreensão sobre as trajetórias laborais dos jovens egressos do programa Jovem Aprendiz. Dessa forma, o entendimento sobre as juventudes em seu sentido plural em suas interações com trabalho, educação e as iniciativas públicas no Brasil, nos dão bases para iluminar o problema de pesquisa. Seguindo este caminho, apresenta-se a seguir o percurso metodológico utilizado para atingir os objetivos deste estudo.