• Nenhum resultado encontrado

A questão da liberdade na Modernidade e na Pós-Modernidade e

3 OS SISTEMAS FILOSÓFICOS E A FORMAÇÃO DE

3.3 Pós-Modernidade e Formação de Professores de Língua

3.3.2 A questão da liberdade na Modernidade e na Pós-Modernidade e

As leituras que traremos para a análise do conceito de liberdade, no interior da discussão sobre a Modernidade e a Pós-Modernidade são, principalmente, as de dois autores: Bauman (2001) e Sen (2010). O primeiro, pelas razões já explicadas anteriormente de filiação deste trabalho às suas proposições sobre o conceito de Pós-Modernidade e o último por aparecer como uma referência na área da economia, especificamente no que se refere a desenvolvimento humano. Ganhador do Nobel de Economia de 1998, ao elaborar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), usado pela Organização das Nações Unidas até hoje, para medir o nível de evolução dos países em relação a diversos índices, o autor propõe a liberdade como fator indispensável para o desenvolvimento dos seres humanos. De tal modo que seu trabalho serve como referência para medir o progresso dos países e do mundo, pelas instituições internacionais que usam o IDH para avalizar politicas públicas, financiamentos, acordos e diversas outras relações entre países e blocos econômicos.

Conforme vimos antes, o progresso é uma das bases sustentadoras tanto da Modernidade como da Pós-Modernidade. A capacidade de mudar, adaptar-se, inovar, desenvolver-se se confunde com a própria natureza dos dois sistemas, sobretudo no primeiro. Sobre isso, podemos destacar o que diz Comte (1848), no Discurso preliminar sobre o espírito positivo, ao asseverar que:

o dogma do progresso não pode, pois, tornar-se suficientemente filosófico senão mediante uma exata apreciação geral do que constitui sobretudo esse melhoramento contínuo de nossa própria natureza, principal objeto da progressão humana26(p. 34).

Deixando claro que a educação, no projeto moderno-positivista, tem a função de contribuir com a evolução individual do sujeito, para o progresso coletivo da sociedade.

Para os autores que se debruçam sobre o tema “desenvolvimento”, por sua vez, no

âmbito da Pós-Modernidade, o conceito de liberdade ganha relevância e intrínseca relação com a capacidade de evoluir do sujeito numa sociedade pós-moderna.

Sobre isso, cabe destacar o que diz Bauman (1998), segundo o qual, a liberdade é a

aptidão de fazer aquilo de que se gosta, “que implica no direito do indivíduo de não ser

26

tolhido pelos outros no desenvolvimento27 da sua própria atividade; a liberdade se expressa na resistência à opressão – na energia crítica28” (p. 253). De modo que a liberdade é para ele a exigência primordial para que o sujeito possa estar adaptado à ordem pós-moderna.

De acordo com isso e conforme dito anteriormente, Sen (2010), defende a mesma ideia em sua obra29. Ou seja, que “A liberdade é central para o processo de desenvolvimento [...] a realização do desenvolvimento depende inteiramente da livre condição de agente das

pessoas” (SEN, 2010, p. 17). Para ele,

o que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras como boa saúde, Educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas30. As disposições institucionais que proporcionam essas oportunidades são ainda influenciadas pelo exercício das liberdades das pessoas, mediante a liberdade para participar da escola social e da tomada de decisões públicas que impelem o progresso dessas oportunidades (SEN, 2010, p. 18).

Como se pode ler, para o autor, as pessoas só podem realizar de modo positivo quando lhes são dadas oportunidades, que são condições habilitadoras para que possam alcançar o progresso. No caso deste trabalho, dentre aquelas listadas por Sen (2010), na citação anterior,

cabe que destaquemos o acesso à “Educação básica e o “aperfeiçoamento de iniciativas”. Ao deslocar esse entendimento para a FPLE, percebemos que nesse contexto de desenvolvimento constante, a FLPE aparece como uma dessas condições habilitadoras a que se refere o economista indiano e que promovem a liberdade dos sujeitos que têm acesso a ela. O entendimento é, pois, que a Educação em geral serve como uma condição para que o indivíduo tenha a oportunidade de ser livre e progredir. No nosso caso, aparece, então, a FLPE na mesma medida, como um caminho de libertação do sujeito e que o ajuda no seu processo de desenvolvimento.

A liberdade é, inclusive, apontada por Bauman (2001) como algo central da natureza da Pós-Modernidade. Para o autor, no período pós-moderno em que vivemos, os homens e as mulheres são inteira e verdadeiramente livres, pois, segundo ele, o indivíduo já ganhou toda a liberdade com que poderia sonhar e que seria razoável esperar. Para o autor, as instituições sociais estão mais que dispostas a deixar à iniciativa individual (neoliberalismo) o cuidado

27 Destaques nossos. 28 Destaques nossos.

29O livro se intitula “O desenvolvimento como liberdade”. 30

com as definições e identidades, e os princípios universais contra os quais se rebelar (BAUMAN, 2001).

Ao trazer essa discussão uma vez mais para a FPLE, uma formação de docentes nessa perspectiva valorizaria, então, ainda mais a necessidade de desenvolver nos formandos a capacidade de ser livre para gerir sua conduta (falaremos da autonomia mais adiante). De tal modo que, uma concepção tanto modernista como pós-modernista de formação de professores (no escopo de uma concepção geral de formação e Educação como a discutida pelos autores), compreende o processo como aquele que deverá dar subsídios para o exercício da liberdade e, como debateremos mais adiante, da autonomia. A diferença entre essa liberdade em um e outro sistema será que na Pós-Modernidade o ideário coletivo de evolução se diluirá e se concentrará no indivíduo que será o centro de tudo. Tal como aponta Lipovetsky (2009), o individualismo será outro signo da pós-modernidade e que define as relações fugidias que se estabelecem nessa ordem.

Portanto, é importante destacar que, tanto a liberdade como a autonomia se ligam, como se viu, a um tema igualmente central da Modernidade: o progresso. Neste ponto, essas considerações nos levam ao próximo tópico de discussão desse capítulo, o entendimento sobre

“desenvolvimento”, que passaremos a discutir a seguir.

3.3.3 Os conceitos de desenvolvimento e autonomia na Modernidade e na Pós-