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A Questão da Estabilidade

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 85-89)

2.4 D O U TILITARISMO

2.4.6 A Questão da Estabilidade

A questão da estabilidade vincula-se ao liberalismo rawlsiano, visto que o tipo de estabilidade exigido da justiça como equidade está baseada no fato de ser uma perspectiva política liberal. E essa perspectiva para RAWLS

aspira a ser aceita pelos cidadãos na condução de razoáveis racionais, como também de livres e iguais que devem ser encarados como razoáveis e racionais.

Isto quer dizer que uma concepção liberal tem legitimidade política lastreada em cidadãos livres e iguais que são educados no quadro de instituições básicas da justiça e uma fidelidade razoável a essas instituições que se tornam estáveis.

A estabilidade decorre da teoria da justiça como equidade que separada em duas fases que, na essência, se apresenta em duas fases, primeiramente, partindo da posição original para os dois princípios de justiça indicados na teoria da justiça (Theory), visto que, na primeira parte os participantes escolhem princípios sem levarem em conta os efeitos psicológicos especiais. Na segunda parte, os participantes se interrogam em uma sociedade bem-ordenada pelos princípios selecionados na primeira parte será uma sociedade estável, isto é, gerará nos seus membros em sentido de justiça suficientemente forte para contrabalançar as tendências para a injustiça.

Em decorrência, argumenta que, na posição original para os princípios não se contempla antes de os princípios, selecionados na primeira parte, provarem na segunda parte que são suficientemente estáveis. Vê-se que deve ser observada a ordem lexical (ordem serial) que é de um léxico, onde o primeiro princípio deve ser inteiramente efetivado antes de se aplicar o segundo.

Então, o problema da estabilidade não respeita a qualquer tentativa de persuadir outrem a partilhar uma concepção que antes a rejeite, ou agir em sua função, se necessário, através de sanções convincentes, evidenciando a estabilidade da concepção de sociedade cooperativa, pois a justiça como equidade só é razoável se conseguir, de modo adequado, assegurar sua

sustentação ou dirigir-se à razão de cada cidadão.

Não se pode olvidar que se presumir que as partes são capazes de um senso de justiça, fato este de conhecimento público entre elas. É a condição que assegura a integridade do acordo feito na posição original. É o que consta na Theory (p. 145): ³7KH SDUWLHV DUH SUHVXPHG WR EH FDSDEOH RI D VHQVH RI

justice and this fact is public knowledge among them. This condition is to iQVXUHWKHLQWHJULW\RIWKHDJUHHPHQWPDGHLQWKHRULJLQDOSRVLWLRQ´

Como destacou ROBERTO GARGARELLA72 em comparando seu

trabalho original em Political Liberalism, RAWLS fez alguns reparos,

procurando responder as críticas em algumas obras posteriores, como Justice as Fairness, bem como Political not Methpysical, The Domain of the Political not Metaphsical e The Domain of the Political and Overlapping Consensus. Nesses trabalhos, RAWLS iniciou uma radical transformação da teoria da

justiça, bem como em seus traços metafísicos, transformando-a em uma mera doutrina política.

Não pode haver dúvida de que as mudanças ocorridas na teoria da justiça ocorreram em razão da modéstia do filósofo RAWLS, que se mostrou

muito receptivo às objeções a sua teoria. Aceitou a ideia de que as sociedades modernas se transformam em se tornarem sociedades multiculturais e a obra Political Liberalism é o ponto mais importante nesse processo de reformulação acatado por RAWLS, admitindo na Introdução que procurou generalizar e elevar

a um nível mais alto de abstração a doutrina tradicional do contrato, com a pretensão que essa doutrina não era vulnerável às mais óbvias objeções que eram frequentemente consideradas como sendo fatais. Reconhece as objeções, embora admita manter a estrutura e o conteúdo da Theory que se mantêm substancialmente iguais. Se ocupa de um problema importante, visto que uma

72 GARGARELLA, Roberto: Las Teorias de la Justicia después de Rawls. Tradução de Alonso Reis Freire,

característica essencial com a justiça como equidade (Justice as Fairness) é de uma sociedade bem-ordenada e associada, para que todos cidadãos subscrevam essa concepção cidadãos é a de que todos seus cidadãos subscrevam essa concepção concensual, o que RAWLS denomina de doutrina filosófica

abrangente.

Para ele, os cidadãos aceitam a doutrina associada com o utilitarismo, isto é, com base no princípio da utilidade, muito embora reconheça que há distinção de uma concepção política da justiça e uma doutrina filosófica abrangente, questão não debatida na teoria da justiça:

(...) quando é levantada a questão, torna-se manifesto, julgo que a justiça como equidade e o utilitarismo são encarados como doutrina abrangentes, ou, pelo, praticamente abrangentes.73

Ante a aparente complexidade do liberalismo político, houve a necessidade de modificações para que a concepção de justiça fosse estável, pois um regime democrático carece de estabilidade, contando com o apoio livre e voluntário de seus cidadãos politicamente ativos.

Daí a aceitação do pluralismo razoável. Embora com a aceitação do pluralismo razoável, SANDEL critica a teoria de RAWLS, como já ficou

assentado no nosso capítulo 1. MICHAEL SANDEL, que é comunitarista, faz

crítica bastante acerbada, pois para ele, como comunitarista, deve haver a prevalência da comunidade para que se efetive a justiça distributiva como segurança em relação à sociedade bem-ordenada. Há também as críticas de WALZER que as remeto, para integrar este tópico. Ainda SANDEL destaca que

na posição original os seus participantes perseguem seus próprios interesses, sem qualquer preocupação comunitarista.

73

RAWLS, John. O Liberalismo Político: Introdução. (Politcal Liberalism, Columbia University Press,

1993). Tradutor: Editorial Presença, Lisboa. Ed. brasileira, 1. ed. Rio de Janeiro: João Sedas Nunes, 1997,

Desta maneira, o tópico presente versou destacar a questão da estabilidade no sistema cooperativo entre cidadãos iguais e livres. Na concepção da justiça como equidade, com os membros aceitando a concepção de justiça, RAWLS estava apresentando sua doutrina na concepção iluminista,

através da qual se poderia revelar quais seriam as condutas corretas e quais não seriam; circunstância que seria reconhecida por qualquer pessoa que racionasse de modo adequado. Por isso, RAWLS rejeita seu anterior iluminismo e passa

introduzir em sua doutrina, por meio de Political Liberalism o pluralismo razoável. Esse fato é que demonstra a circunstância de que as sociedades modernas não podem se caracterizar apenas pela existência pluralista de doutrinas religiosas, filosóficas e morais abrangentes, mas sim pela existência de um pluralismo de doutrinas incompatíveis entre si que são aceitas em uma sociedade bem-ordenada. Daí RAWLS, com a introdução da estabilidade, que

não respeita a qualquer tentativa de persuadir outrem de uma concepção que por ele é rejeitada. Assim, a justiça como equidade só é razoável se conseguir

de modo adequado assegurar, com estabilidade, a sua sustentação, uma vez convencidos todos de sua solidez.74

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 85-89)