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Do Imperativo Categórico

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 99-102)

Na concepção kantiana, a autonomia da vontade está condicionada à obediência aos princípios morais universalmente válidos, de conformidade com o imperativo categórico.82

Ao imperativo categórico, RAWLS concebe a posição original como

uma interpretação procedimental da concepção kantiana de autonomia e do imperativo categórico83. Mas não tem a intenção de ser uma interpretação da

doutrina propriamente dita:

a minha interpretação kantiana não tem a intenção de ser uma intervenção da doutrina de Kant propriamente dita, mas sim da justiça como equidade A visão de Kant é marcada por várias dicotomias, em especial, as dicotomias entre o necessário e contingente, a forma e o comando, a razão e o desejo, os númenos e os fenômenos. Para muitos, abandonarem essas dicotomias, tais quais como foram entendidas por ele, é abandonar o caráter distintivo de sua teoria. Meu modo de ver é diferente. Sua

82 Imperativo categórico é a expressão utilizada por Kant. É o princípio ético formal da razão prática, absoluto

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tal forma que a norma de tua conduta possa ser tomada como lei universal´

83 RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. São

concepção moral tem uma estrutura característica que é mais claramente discernível quando esses dualismos não são tomados no sentido que ele lhes atribuiu, mas sim quando eles são remodelados e sua força moral é reformulada no âmbito de uma teoria empírica. Aquilo que eu chamei de interpretação kantiana mostra como isso é possível.84

A teoria rawlsiana adota em parte o imperativo categórico, pois os que estão na posição original, cobertos pelo véu de ignorância, são racionais e livres, mas não agem em função de uma decisão do eu em si mesmo ou númeno, mas sim agem por um meio de consenso pela escolha dos princípios da justiça para que se possa arquitetar uma sociedade bem-ordenada. O argumento em favor da escolha dos princípios da justiça não supõe que as partes tenham objetivos particulares, mas apenas que elas desejam certos bens primários.

A descrição da posição original se parece com o ponto de vista do eu em si, ou númeno, no que se refere ao significado de um ser racional e livre.

A posição original pode ser interpretada como um procedimento da concepção kantiana de autonomia, e do imperativo categórico, dentro da estrutura de uma teoria empírica. Os princípios escolhidos pelo consenso, e não no agir individual, expressa a natureza dos participantes como pessoas racionais iguais e livres.

Assim, agir com base nos princípios da justiça é agir como base em imperativo categórico, no sentido de que eles se aplicam a nós, quaisquer sejam os nossos objetivos particulares. Isso esclarece e reflete a razão de não ser o imperativo categórico propriamente dito adotado por RAWLS.

É preciso relembrar que, na concepção kantiana, a autonomia está

condicionada à obediência aos princípios morais universalmente válidos de conformidade com o imperativo categórico.

Age-se somente de acordo com a máxima que possa, ao mesmo tempo, ser transformada em lei universal. A universalidade de uma lei deve ser adequada à razão pura.85 O agente não deve formular seus próprios princípios,

mas deve estar em conformidade com todos os seres racionais. A razão deve ser a referência para a ação. Meu dever é fazer, portanto, o que for racional.

Já para RAWLS, o conceito de racionalidade é aquele conceito

clássico, famoso na teoria social. Ele considera que uma pessoa racional tem um conjunto de preferências entre opções que se encontram ao seu dispor. Por isso RAWLS classifica essas opções individuais de acordo com a afetividade em

promover seus propósitos, respectivamente. A pessoa racional segue o plano que satisfará uma quantidade maior de seus desejos, e que tem as maiores probabilidades de ser implementado com sucesso. A suposição rawlsiana especial se traduz na circunstância de que um indivíduo, na posição original, coberto pelo véu de ignorância, não é acometido pela inveja86. Um indivíduo

racional e livre não será acometido pela inveja, pelo menos quando as diferenças entre ele e os outros não são consideradas como resultado de injustiça e não excedam certos limites ponderáveis.

Deve-se anotar que toda e qualquer tendência psicológica particular está coberta pelo véu de ignorância, juntamente com o conhecimento das partes a respeito de sua concepção de bem,87 pois, na medida do possível, uma

85 KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Tradução, introdução e nova de Valério Rohden. São Paulo:

Martins Fontes, 2002, p.58.

86 RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. São

Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 154.

87 ABBAGNANO, Nicola. 'LFLRQiULR GH )LORVRILD ³7XGR DTXLOR TXH SRVVXL XP YDORU PRUDO RX ItVLFR

positivo, constituindo o objeto ou fim da ação humana. Para Aristóteles, o bem é tudo aquilo a que todos os seres humanos aspiram. Enquanto conceito normativo fundamental na ordem ética, o bem designa aquilo que é conforme ao ideal e às normas da moral. (Apud Dicionário de Filosofia, de Hilton Japiassu et ali, p.35.Jorge Zahar Edito, 2ª.ed.1991). Com a doutrina de Kant, o conceito de bem foi reconhecido numa

concepção da justiça não deve ser afetada por contingências acidentais. Para a teoria rawlsiana, os princípios da justiça, adotados na posição original, não devem variar segundo as diferenças contingenciais acidentais, uma vez que o objetivo da teoria da justiça é que eles vigorem independentemente das preferências individuais e circunstâncias sociais88.

Sob o véu de ignorância, há a combinação do desinteresse mútuo, pois cada pessoa é levada a considerar o bem dos outros89. Com relação ao

desinteresse mútuo, RAWLS preconiza:

Portanto, o desinteresse mútuo das partes determina outras motivações apenas de forma indireta, ou seja, através de seus efeitos sobre o acordo em relação aos princípios. São esses princípios, juntamente com as leis da psicologia (na medida em que agem obedecendo às condições de instituições justas), que dão forma aos objetivos e aos sentimentos morais dos cidadãos em uma sociedade bem-organizada.90

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 99-102)