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Do Dever Obedecer a Uma Lei Injusta

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 119-123)

É evidente que se deve obedecer às leis justas estabelecidas na vigência de uma constituição justa, pois, na posição original, foram definidos os princípios da justiça para uma sociedade perfeitamente justa. Na posição original foram incorporadas diversas condições que devem ser respeitadas na escolha de princípios que as partes foram levadas a escolher, mediante um consenso, à luz de juízos ponderados109.

As pessoas, na posição original, supõem que os princípios que foram aceitos serão rigorosamente obedecidos por todos, pois os princípios da justiça aceitos porque são todos aqueles que definem uma sociedade perfeitamente justa.

Mas há uma espécie de um problema diferente não estabelecido em circunstâncias favoráveis de certa concepção ideal de sociedade justa, como, por exemplo, verificar em que circunstâncias devem ser toleradas ordenações injustas.

108 WALZER, Michael. Da Tolerância. Original em inglês: On Toleration por Yale University Press. Tradução

Almiro Piseta. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 14.

109 RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Tradução de Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. São

Esta questão é apresentada por RAWLS em face da concepção mista,

que é bastante próxima dos princípios da justiça, questão já exposta anteriormente, recordando-se apenas por oportuna, a exposição de RAWLS a

respeito:

(...) uma concepção mista que é bastante próxima dos princípios da justiça, ou seja, a visão resultante da substituição do princípio da diferença pelo princípio da utilidade média limitado por um mínimo social determinado, sendo que as outras condições permanecem as mesmas.110

O mínimo social deve ser adequado, para RAWLS, com um ajuste nas

circunstâncias variáveis. Qualquer pessoa razoável busca um equilíbrio entre a maximização da utilidade média e a manutenção de um mínimo social adequado.

A solução, adotando-se o mínimo social adequado, restringe-se, na verdade, ao princípio da utilidade média que acaba conduzindo exatamente às mesmas consequências do principio da diferença, muito embora este seja relativamente preciso, já que classifica todas as combinações de objetivos de acordo com a sua eficácia em promover as perspectivas dos menos favorecidos. Daí a preferência rawlsiana na escolha do princípio da diferença em detrimento do princípio da utilidade média, mesmo no contexto restrito de uma concepção mista.

A preferência da teoria rawlsiana justifica-se, pois a noção de utilidade, nas últimas décadas, foi em grande parte abandonada pela teoria econômica, por ser um termo vago para desempenhar algum papel essencial na

110 RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Nova tradução baseada na edição americana revista pelo autor de

explicação do comportamento humano.

Hodiernamente, a utilidade é entendida como um modo de representar as escolas dos agentes econômicos, e não como medida de satisfação. Não se pode esquecer que a doutrina utilitarista, está toda fundamentada toda na obtenção do útil pelo máximo do prazer (Bentham), mas não nos termos da satisfação individual.

Oportuno se mostra o retorno à questão das leis injustas, após a concepção mista que, nesta oportunidade, nos conduz à obediência parcial, pois algumas concepções rawlsiana são suficientemente adequadas para muitos propósitos.

Sempre é lembrar que a essência no construtivismo rawlsiano se constitui na teoria da justiça como equidade em razão dos princípios da justiça estabelecidos na situação original. O termo construtivista utilizado decorre do fato de ser ele fundamental na teoria da justiça como equidade, pois esta não afirma a existência de fatos morais independentes e anteriores dos quais seus princípios seriam uma aproximação, pois isso seria uma heteronímia consequente.

Destaque-se: os princípios da justiça como equidade são o resultado de uma construção que expressa a concepção que têm de si mesmos e da sociedade de uma democracia.

Portanto, a concepção rawlsiana, embasada no princípio da equidade, pressupõe que as instituições sejam justas mesmo em uma sociedade quase justa, por existir uma constituição viável que satisfaça os princípios de justiça em que esta deve ser entendida como última instância procedimental da justiça imperfeita.

A justiça imperfeita se caracteriza que, não obstante seu critério independente para produzir o resultado correto, não há um processo factível

que a leve à certeza de um resultado correto.

Assim, na justiça criminal, o resultado correto seria a condenação do culpado, mas o resultado pode ser oposto, embora tenha sido observado todo critério independente.

Ao contrario, é a justiça procedimental perfeita, em que não há um critério independente para um resultado correto, mas em virtude da utilização do critério não independente chega-se à conclusão correta.

Assim, a constituição justa satisfaz o principio de liberdade igual, mas imperfeitamente estruturada para garantir um resultado justo, na medida em que as circunstâncias permitirem

Na atividade política não é possível atingir-se uma justiça procedimental perfeita. Há o dever de apoiar instituições justas e a obrigação de acatar leis políticas injustas, ou pelo menos não fazer oposição usando meios ilegais, desde que aquelas leis políticas injustas não ultrapassem certos limites de injustiça.

Adotando-se o critério da maioria, as partes podem tolerar leis injustas apenas em certas circunstâncias. Obviamente não se pode acatar negociação das liberdades básicas, mesmo porque tal circunstância não estaria implícita na posição original. A não-aceitação implícita invocar autoridades constituídas para o saneamento da supressão das liberdades básicas. Todavia, se DV OHLV LQMXVWDV QmR XOWUDSDVVDUHP¶ RV OLPLWHV GD MXVWLoD Ki R GHYHU GH obedecê-las tal como se faz com as leis justas.

No documento U MAT EORIA DAJ USTIÇA E OL (páginas 119-123)