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4 A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

4.5 A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E O MERCADO BRASILEIRO

4.5.2 A Questão Institucional do Estado

No país os aspectos que envolvem as políticas governamentais, são de grande importância, uma vez que a ingerência no mercado vai desde a legislação restritiva das patentes até o poderoso mercado institucional.

Assim, por exemplo, visando o aumento da produção nacional de fármacos o Ministério da Saúde e o Ministério da Indústria e Comércio, publicaram em 3 de outubro de 1984 a Portaria Interministerial Nº 4. Esta concedia incentivos fiscais e

garantias mercadológicas às empresas que produzissem fármacos internamente. Como resultado a produção interna em termos de valor subiu de 7% em 1984 para 27% em 1986/87, contribuindo tanto empresas nacionais como estrangeiras.

Houve, portanto, significativo avanço das empresas nacionais na produção de fármacos. Em meados da década de 80, apenas duas empresas nacionais encontravam-se entre as vinte primeiras, em valor da produção, em 1988 eram cinco grupos nacionais.

No entanto, as importações de fármacos, por outro lado, aumentaram de US$ 270 milhões em 1984, para US$ 400 milhões em 1987.

A ação da Indústria Farmacêutica junto ao Estado vem-se dando dentro de uma estratégia de garantir expansão de mercado e crescimento de lucros. Assim, visa a indústria:

1) Diminuição do controle estatal sobre os preços, os produtos diferenciados, o marketing e a propaganda.

O controle de preços afeta não só propriamente o lucro, mas também limita a política de preços executada pelas diversas empresas no processo competitivo. No estágio produtivo em que o setor se encontra, como vimos, os instrumentos fundamentais são a capacidade de colocações de produtos diferenciados que, no entanto, é limitada pelo controle de preços e de marketing. Neste conjunto, objetivos comuns unem as empresas de capital nacional e as de capital externo.

2) No que concerne à integração vertical da indústria, as ações de cada segmento de capital são agora divergentes. A empresa subsidiária multinacional não interessa tal processo, que atenuaria seus vínculos com a matriz, destituindo o capital multinacional de valiosos instrumentos de política expansiva. Ao segmento nacional interessa a verticalização, desde que feita por ele mesmo e/ou Estado, e que este último garanta as condições mercadológicas, sustentando a viabilidade econômica do empreendimento.

3) A lei de patentes é outra questão de disputa entre as empresas nacionais e multinacionais, O reconhecimento de patentes tanto na área de matérias-primas quanto da produção de medicamentos inviabilizaria a empresa nacional, pelo menos no estágio em que se encontra hoje.

4) Por fim, estão o interesse e a ampliação do mercado institucional por um e outro segmento, distintamente. Em 1968 essa parcela representava cerca de 35% do mercado farmacêutico total do país, e, segundo a CEME, estima-se que, em seis anos, toda a população carente, hoje fora do mercado, poderia ser incorporada aos programas de assistência farmacêutica, na base de 10,6 milhões de brasileiros por ano (TAVARES, 1991, p.56).

Desta análise ressalta-se a questão da lei de patentes, que ao não reconhecer os direitos patentários na área de medicamentos, demonstra a incapacidade da estrutura industrial farmacêutica gerar assimetrias tecnológicas em seu segmento nacional, de forma a garantir a empresa nacional maiores condições de competição. Conforme foi demonstrado grande parte dos fármacos, devido a economia de escala em sua produção e comercialização pelas grandes empresas transnacionais, tem a sua produção

inviabilizada em termos nacionais, apesar do não reconhecimento das patentes. Mesmo que houvesse possibilidade de produção, isto não asseguraria à indústria a geração de assimetrias tecnológicas, que no setor são geradas por inovações. Assim, a produção de especialidades farmacêuticas nacionais, encontra-se nesta posição de incapacidade de gerar inovações que garantam a indústria nacional ganhos temporários de monopólio.

4.6 CONCLUSÃO

Tomando-se por base os desenvolvimentos teóricos anteriormente apresentados e as verificações empíricas da indústria farmacêutica, procurar-se-á a seguir deduzir algumas conclusões.

Pelo exposto da indústria farmacêutica o que se verifica é que, o surgimento de um novo paradigma tecnológico (síntese química) na indústria, propiciou aos inovadores assimetrias tecnológicas, que provocaram a ruptura da estrutura de mercado da indústria até então existente. Estas assimetrias tecnológicas tenderam a se manter durante prazo suficiente para promover níveis de concentração industrial, ou, conforme MEIRELLES (1989), os mecanismos de seleção atuaram antes que os mecanismos de aprendizado das firmas atrasadas. Está trajetória da indústria, cria barreiras à entrada na indústria, de natureza comercial e de natureza industrial, impedindo conseqüentemente as empresas retardatárias no Brasil de convergirem ao novo paradigma, no momento em que estas já dispunham de conhecimentos tecnológicos para a produção.

As barreiras à entrada na indústria seriam vantagens de custo absoluto, como o controle de técnicas produtivas, as imperfeições no mercado de fatores (no caso o domínio da demanda interna de insumos por parte das grandes empresas multinacionais) e as melhores condições de acesso ao mercado financeiro (juros menores). Como vantagens de diferenciação de produtos, a preferência cumulativa dos compradores e a propriedade ou o controle dos melhores pontos de distribuição, aqui entendido como economia de escala na comercialização. No ângulo das economias significativas à firma de grande escala, as economias reais de produção e distribuição em larga escala, de tal forma que uma firma ótima supre uma parcela significativa do mercado; as economias estritamente pecuniárias da produção em larga escala, como maior poder de barganha dos grandes compradores, e as economias reais ou estritamente pecuniárias de propaganda ou promoção de vendas em larga-escala. Estas últimas criando barreiras à

entrada pelos gastos de venda “com a implantação” que acabam funcionando como barreiras de natureza tecnológica.

Além das barreiras à entrada, descritas acima, as dificuldades para a convergência tecnológica estão ligadas a cumulatividade das tecnologias e ao aprendizado propiciado pelas rotinas das firmas, que garantem em princípio vantagens às firmas inovadoras, por um lado, e por outro a vantagem dos países que abrigaram as empresas inovadoras no que se refere a geração e cumulatividade do conhecimento científico, que criam um ambiente propício a inovação.

A geração e cumulatividade do conhecimento científico, dos países que abrigam a “revolução quimioterápica” é superior ao existente no Brasil e nos demais países de industrialização retardatária à época (como também na atualidade), devido a fase de desenvolvimento capitalista destes países, que se poderia classificar de capitalismo tardio, com as suas conseqüências sobre o sistema científico e tecnológico e conseqüentemente sobre o processo inovativo ( MANDEL, 1982).

Por estas razões, não restou às firmas brasileiras senão a estratégia de atuar nos dois segmentos finais da estrutura técnico produtiva da indústria, facilitada pelo não reconhecimento de patentes no país e pelos constantes apoios institucionais. As barreiras à mobilidade, beneficiam a sua vez as empresas que investem mais em promoção do produto que são as empresas multinacionais que se constituem em “firmas progressistas”.

No terceiro segmento produtivo da indústria, as estratégias que buscam o aumento de assimetrias tecnológicas, baseiam-se nos esforços de marketing (quarto segmento) onde as marcas desempenham papel de grande importância em favor dos inovadores, que gozam de maior prestígio com os consumidores, fruto de seu pioneirismo. Por outro lado, o porte econômico-financeiro das empresas inovadoras é superior ao das empresas nacionais, indicando serem as firmas nacionais, firmas marginais, em regime de oligopólio.