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4 A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

4.3 A MODERNA ESTRUTURA INDUSTRIAL FARMACÊUTICA

4.3.2 Padrões de concorrência na indústria

O mercado é dividido em produtos de venda livre (populares) e de venda sob prescrição (éticos), conseqüentemente os esquemas de promoção de vendas diferem, os primeiros podem atingir o público em geral, os outros se dirigem à classe médica.

Os cálculos de FRENKEL (1978) situam as despesas de distribuição e vendas em torno de 30% da receita total da indústria, isto devido à competição por diferenciação de produtos que prevalece no setor. Sendo as barreiras à entrada de natureza tecnológica ou de escala muito baixas, a busca de posições privilegiadas se baseia na marca e nomes de fantasia, amparadas por enormes gastos promocionais. No Brasil devido ao não reconhecimento de patentes no setor, este aspecto se ressalta no segmento de especialidades farmacêuticas.

Refere-se ainda necessidade de um corpo de venda de 363 representantes para cobrir o universo de 72.704 médicos existentes no país em 1975, donde se pode concluir parte do enorme custo promocional de venda dos produtos farmacêuticos éticos.

No campo das especialidades farmacêuticas existem várias formas de diferenciação de produtos, assim:

Em pelo menos cinco formas distintas esta diferenciação de produtos se evidencia na indústria farmacêutica: a primeira, na diversidade de drogas existentes com efeitos terapêuticos semelhantes, ou seja, na diferenciação que se faz ao nível da estrutura molecular das diversas drogas; a segunda, na possibilidade de manipulação ao nível da estrutura molecular de uma determinada droga, dando origem ao aparecimento de um sem número de derivados; a terceira, na possibilidade de associação de duas mais drogas com efeitos terapêuticos complementares; a quarta, na existência de formas de apresentação diferentes (comprimidos, cápsulas, injetáveis, etc.) em cada uma das situações descritas acima; e a quinta, na utilização de marcas ou dc nomes de fantasia na comercialização dos produtos (FRENKEL, 1978, p.

111).

Interpretando os dados do Quadro 1, Frenkel considerando o grande número de empresas em cada mercado terapêutico e o alto grau de concentração, diz:

O primeiro aspecto (grande número de empresas) é uma decorrência da fragilidade das barreiras à entrada, o segundo (a alta concentração das vendas) uma conseqüência da capacidade das empresas de criarem descontinuidades no mercado, em conseqüência da grande diferenciação de produtos e do volume de gastos mínimos de promoção necessários. Nesta situação “as despesas de marketing tanto podem ser vistas como indicadores como causa do poder de mercado”. Isto porque “numa indústria com produtos homogêneos as grandes firmas não são capazes de criar condições de especial privilégio por diferenciação de produtos, entretanto, é quase inevitável que aquelas que mais gastam em promoção sejam capazes de criar posições quase monopolísticas para si próprias e assim exercerem poder de mercado (FRENKBL, 1978, p. 110).

Esta interpretação coincide com Labini em sua teorização sobre a criação de descontinuidades de natureza comercial no oligopólio diferenciado.

Conforme já verificado, a fase de maiores inovações em medicamentos foi a década de 50 até o começo dos anos 60. Após este período houve uma grande redução destas, devido a limitação de novos conhecimentos. A produtividade dos gastos em P&D se reduziu significativamente, além de que as exigências da FDA (Administração Federal de Drogas e Alimentos dos EUA) aumentaram bastante para a aprovação de novos medicamentos.

No entanto, ao final dos anos 60, devido aos avanços do conhecimento do comportamento do organismo humano e recentemente o avanço da engenharia genética, conforme se verificará adiante, indicam uma nova fase de inovações, característica de um novo paradigma tecnológico baseado na Biotecnologia, que poderá transformar a estrutura produtiva em alguns setores industriais, incluindo a indústria farmacêutica, conforme conceito emitido em PÉREZ (1985). Em 1978, a FDA (Administração Federal de drogas e alimentos dos EUA), aprovou a introdução de 23 novos compostos, o maior número desde 1967.

A OPS - ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (1984), acredita que as empresas que estão se atrasando em produzir novos medicamentos, terão provavelmente perspectivas econômicas sombrias. Como será visto nos Quadros 3 e 4 adiante, os gastos em P&D pelas companhias líderes é enorme.

A Europa tem tido um número maior de novos medicamentos lançados em seu mercado em relação aos EUA, devido ao aumento de exigências da FDA, conforme quadro 2.

QUADRO 2 - NÚMERO DE NOVOS MEDICAMENTOS LANÇADOS NO MERCADO - 1980 medicamento. A patente não garante que não haja através de pequenas modificações, a reprodução de produto semelhante ao inovador. Além de que as patentes têm prazo de validade, no Reino Unido 16 anos, nos EUA 17 e na Índia 7, por exemplo. Estes prazos normalmente são considerados como de recuperação dos gastos investidos na inovação.

O sistema de marcas do produto serve, portanto, de complemento ao sistema de patentes, e a concorrência dá-se a este nível evitando-se a concorrência via preço.

Conforme a ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE:

O sistema de marcas constitui assim os alicerces da extensa atividade de promoção da indústria de medicamentos, da mesma maneira que o sistema de patentes é a pedra angular de sua intensa atividade de investigação (OPS, 1984, p.27).

Os programas de promoção de vendas das grandes firmas visam ganhar a preferência do público e da classe médica à suas marcas. Assim um mesmo medicamento pode ter centenas de marcas, estima-se que nos EUA para 700 ingredientes ativos haja 20.000 marcas. Em 1974 o número de marcas de produtos farmacêuticos registrados em vários países eram os seguintes: Argentina, 17.000;

Bélgica, 9.000; Brasil, 14.000; Canadá, 17.000; Colômbia, 15.000; RFA, 24.000;

França, 8.500; Índia 15.000; Irã, 4.200; Itália, 21.000; Japão, 17.400 e Reino Unido, 9.000.

Essa proliferação de marcas, no entanto, acaba levando o médico a optar por poucos laboratórios, para poder ter domínio de conhecimento sobre o conjunto de medicamentos.

A competição via preços parece ter um campo em que poderia atuar, o dos medicamentos genéricos, ou aqueles não patenteados ou de patentes vencidas; em finais da década de 70, 45% do volume total das vendas de medicamentos éticos nos EUA, tinham as suas patentes vencidas. Eles se dividem em genéricos de marca registrada e sem marca registrada. No entanto, como a concorrência está muito ligada a marcas, mesmo neste mercado as grandes empresas acabam levando vantagem. Conforme a OPS:

Assim, inclusive no que é possivelmente o setor mais competitivo da indústria farmacêutica em termos de preços, as empresas transnacionais estão convertendo-se na força dominante e os produtores nacionais parecem estar perdendo terreno (OPS, 1984, p.33).

Com a difusão dos conhecimentos tecnológicos e saturação dos mercados, as grandes empresas vêem nos países subdesenvolvidos uma forma de ampliação de seus mercados.

Conforme TAVARES, essas características produtivas e mercadológicas imprimem à indústria um padrão de desenvolvimento e competição que se pauta pelos seguintes pontos principais:

— as empresas procuram, individualmente, proteger suas invenções;

— juntas, afastam “os estranhos” do setor;

— procuram não competir no mesmo segmento de especialidades;

— não cooperam entre si;

— competem e desenvolvem-se diferenciadamente, segundo cada região onde atuam;

(TAVARES, 1991, p.45).

Os investimentos no Terceiro Mundo pautam-se ao interesse estratégico das grandes corporações. Assim a atuação destas corporações nesses países tem historicamente se prendido às últimas etapas produtivas, uma vez que elas realizam P&D e produzem grande parte dos insumos normalmente no exterior, levando-os a depender de desenvolvimentos tecnológicos externos.

Conforme se pode verificar do exposto a indústria farmacêutica atua numa estrutura oligopólica diferenciada, conforme anteriormente esclarecido, onde a busca de assimetrias tecnológicas em suas estratégias competitivas, se caracteriza pela introdução de inovações em maior número possível, conforme MEIRELLES (1989).