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5 BIOTECNOLOGIA: UM NOVO PARADIGMA TECNOLÓGICO

2.2 BIOTECNOLOGIA E INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

5.1.4 Padrão de Concorrência e Diversificação Industrial

5.1.4.1 As pequenas empresas especializadas

Guardando certa similaridade com os grandes avanços da síntese química, que podemos considerar como a grande revolução inicial para o tratamento de enfermidades, o desenvolvimento da nova biotecnologia se processa inicialmente externamente à grande indústria. A partir da década de 70, devido a natureza de alto conteúdo científico interdisciplinar presente na nova biotecnologia, começam a surgir pequenas empresas especializadas estruturadas por pesquisadores de Universidades e Institutos de Pesquisa nos EUA e em menor escala no Reino Unido, que vêem neste desenvolvimento uma oportunidade de negócios.

A existência de capital de risco e mecanismos eficientes de sua aplicação têm sido a justificativa para o caso americano e em menor escala para o Reino Unido, para o surgimento e sucesso inicial das pequenas ou relativamente pequenas empresas especializadas em biotecnologia.

Na Europa e Japão o desenvolvimento da biotecnologia tem se concentrado nas grandes empresas, na França a Rhône-Poulenc e a Elf-Equitaine, na Suíça a Hoffman-La Roche e a Ciba-Geigy, na Alemanha a Hoescht, na Suécia a Hoffman-Lavai, na Holanda a Gist Brocades e no Japão a Ajinomoto e a Kyowa Hakko. No Reino Unido ao lado das grandes indústrias como a Imperial Chemical Industries - ICI e a G.D. Searle, atuam a Celletech, fundada em 1980 com apoio do governo inglês, e outras empresas biotecnológicas como a Monotech Lab., a Imperial Biotecnology e a Inveresk Research.

A estratégia das pequenas empresas de biotecnologia consiste em iniciarem-se como empresas de pesquisa e desenvolvimento e transformar-se ao longo do tempo em empresas industriais e comerciais. Algumas seguem a estratégia de concentrarem-se em poucos produtos de alto valor em áreas específicas, outras numa gama maior de produtos, no primeiro caso, pode-se citar a Genentech, a Genex, a Biogen e Centacolor, no segundo a Cetus.

A estratégia de captação de recursos destas empresas é a utilização de capitais de risco (venture capital) via instituições financeiras, oferta pública de ações, associações limitadas para pesquisa e desenvolvimento de projetos específicos e contratos de prestação de serviço de pesquisa e desenvolvimento para as grandes corporações.

Segundo o BNDES (1990), a intenção estratégica destas empresas de penetração comercial nos mercados farmacêuticos tem se deparado com barreiras à entrada na indústria, principalmente os referentes aos complexos canais de comercialização, as economias de escala de comercialização e regulamentação do setor, que conforme visto demandam tempo e grande soma de recursos financeiros. Estes fatos têm levado as pequenas empresas especializadas em biotecnologia a serem adquiridas pelas grandes empresas ou a acordos de associação para comercialização, que podem incluir o produto acabado ou insumo essencial para a sua produção, como p.ex. bactérias geneticamente engenheiradas, ou licenciamentos para a produção e comercialização.

Assim por exemplo, a Genentech estabeleceu um acordo de comercialização de insulina, produzida a partir de bactéria geneticamente engenheirada, com a Eli Lilly, que era o maior produtor de insulina. Este acordo assinado em 1977, garantiu a Genentech o pagamento pelas pesquisas de desenvolvimento do produto, a garantia de royalties sobre as vendas, como também, o fornecimento da bactéria por ela engenheirada. A Eli Lilly, por sua vez recebeu os direitos exclusivos para a produção e comercialização a nível mundial.

Assim também, a comercialização de produtos baseados em anticorpos monoclonais pela Jonhson & Jonhson, Abbot, Baxter, Travenal e Warner-Lambert, se realizam através de licenciamentos de pequenas empresas especializadas.

Além disso, verifica-se o deslocamento de empresas asiáticas e européias para os EUA, exclusivamente para desenvolvimento de produtos, utilizando as facilidades de seu mercado financeiro e de sua estrutura científica.

Conforme GUIMARÃES (1987), estaria acontecendo fusões diversificantes, joint-ventures e outras formas de diversificação da atividade industrial, como as descritas acima, na busca da realização do potencial de crescimento da grande empresa do setor, que se verificará com maior detalhe a seguir.

5.1.4.2 Concentração industrial

Tem-se verificado na última década com o desenvolvimento comercial de produtos biotecnológicos, o envolvimento das pequenas empresas biotecnológicas com as grandes corporações, conforme já verificado através das mais variadas formas de acordos, no entanto, parece existir uma tendência à absorção destas empresas pelas grandes empresas do setor farmacêutico.

Assim a Genentech, em 1990, passa a ter 60% de seu capital controlado pela Hoffman La Roche. Também a Cetus, que apesar de seu enorme esforço para lançamento de novos produtos e esforços de marketing acabou sendo absorvida, em 1991, pela Chiron Corp., na maior operação entre duas empresas de biotecnologia, envolvendo US$ 660 milhões. Estes casos parecem indicar a manutenção da tendência à absorções no setor, como as ocorridas em 1985, com a compra da Hybritech pela Eli Lilly e da Genetic Sistems pela Bristol Nuyers.

A diferença do porte das empresas biofarmacêuticas e das farmacêuticas estabelecidas é significativa. QUANDT (1992), apresenta quadro comparativo entre 53 empresas biofarmacêuticas e 15 empresas farmacêuticas estabelecidas - Abbott, American Home, Bristol Myers Squib, Glaxo, Lilly, Marion Merrel Dow, Merck, Pfizer, Rhône-Poulenc, Schering-Plough, SmithKline Beecham, Syntex, Upjohn, Warner-Lambert, Wellcome - para o ano fiscal encerrado em dez/91 que pode ser resumido nas seguintes informações:

Empresas biofarmacêuticas:

− Média de aplicações em P&D, US$ 18.793 milhões.

− Média de vendas, US$ 39.071 milhões.

− Lucro médio (prejuízo), US$ - 17.606 milhões.

Empresas farmacêuticas estabelecidas:

− Média de aplicações em P&D, US$ 643.190 milhões.

− Média de vendas, US$ 6.370.265 milhões.

− Lucro médio, US$ 964.395 milhões.

Analisando a tendência das Empresas de biotecnologia, MÜLLER (1988), desenvolvimento biotecnológico, é a grande dependência das pequenas firmas biotecnológicas das grandes corporações no setor farmacêutico, conforme conclui o BNDES:

No caso da biotocnologia, a fase inicial de incerteza introduziu um padrão transitório que se caracterizou pela presença predominante de novas empresas especializadas nessa atividade. Com o avanço do conhecimento e o surgimento de oportunidades concretas de comercialização, esse padrão se alterou, introduzindo novas relações entre os atores econômicos, deslocando o centro dinâmico para as grandes empresas e estabelecendo um novo papel para a maior parte das empresas especializadas (BNDES, 1990, p.58).

E mais adiante:

Certamente a capacidade inovativa da empresa e as perspectivas de sucesso estão diretamente relacionadas ao volume de recursos aplicados em P&D.

Embora as empresas especializadas tenham um papel a cumprir, trazendo a inovação e correndo riscos, a partir do momento em que as grandes empresas entram no jogo competitivo, a sua capacidade de gerar inovações incrementais através de aperfeiçoamentos e novas gerações de produtos acaba por se constituir em uma nova forte vantagem competitiva em relação às firmas especializadas. Estas normalmente não possuem fôlego financeiro para realizar pesquisas de grande porte, de caráter continuo, para operação em escala Industrial, para superar a fase de regulamentação e para comercializar os produtos (BNDES, 1990, p.72)

Reforçando a argumentação a Gazeta Mercantil de 5.7.90, diz:

Entretanto, em função dos ativos estratégicos detidos pelas grandes corporações (sistemas de distribuição, conhecimento de processos de regulamentações etc.), as empresas especializadas em biotecnologia correm o risco não só de perderem a melhor parte do negócio decorrente de suas inovações, mas, principalmente, de não deterem todo o controle sobre elas. A conseqüência é a alta probabilidade de serem incorporadas às grandes corporações, conforme o ocorrido recentemente com a Genentech (BNDES, 1990, p.33).

O que se pode concluir é que as barreiras à entrada na indústria farmacêutica, têm levado as pequenas empresas especializadas, ou a serem absorvidas pelas grandes empresas, ou a dependerem delas no desenvolvimento de suas atividades, excetuando-se eventuais nichos de mercado que permitem a entrada no mercado da pequena empresa.

A flexibilidade das empresas especializadas lhes confere uma maior agilidade nos mercados regionais ou muito específicos. Ao mesmo tempo, há grande possibilidade de as grandes companhias priorizarem determinados mercados

e ignorarem outros por razões de custo, o que pode induzir criação de espaços para a atuação de empresas especializadas. O “trade off” entre especialização e custo dos produtos pode, assim, viabilizar uma estratégia voltada para o desenvolvimento de produtos destinados a nichos de mercado não-cobertos pelas grandes empresas (BNDES, 1990, p.74)

Como se pode observar um caso específico que se enquadra nas conclusões gerais de GUIMARÃES (1984), referentes ao potencial da pequena empresa na América Latina, até mesmo, as conclusões de MARX quanto às possibilidades do pequeno capital frente ao grande.

5.1.4.3 As Grandes Corporações e as estratégias em P&D na Nova Biotecnologia