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5 BIOTECNOLOGIA: UM NOVO PARADIGMA TECNOLÓGICO

5.2 A BIOTECNOLOGIA NO BRASIL

O Brasil apresenta um bom quadro de pesquisas e atividades empresariais nas chamadas técnicas tradicionais de biotecnologia, porém, nas novas tecnologias as pesquisas se encontram restritas a alguns poucos centros de pesquisa pública, universidades ou em algumas poucas atividades empresariais desenvolvidas por pesquisadores universitários.

A importância da biotecnologia transcende as atividades industriais, assim para os países produtores de alimentos como o Brasil é de grande importância, tanto no sentido da possibilidade de enormes ganhos de produtividade, como da possibilidade da substituição dos plantios por produção industrial de alimentos.

Sorj e Wilkinson assim se referem a esta questão:

Os efeitos contraditórios das biotecnologias podem ser claramente exemplificados como o caso do complexo agroindustrial. Elas permitem realizar o “sonho” das duas pontas do complexo: 1) no lado dos imputs elas prometem a criação de sementes capazes de adequarem-se a qualquer solo,

com redução de fertilizantes e herbicidas e alta produtividade; porém, 2) parte desse potencial de incremento de produção poderá ser inútil, dados os novos métodos bioindustriais de substituição de produtos rurais e a

“banalização” das diferentes plantas, já que os processos de fracionamento e reconstituição tranformarão diferentes produtos em parte de uma mesma biomassa (SORJ;WILKINSON, 1988. p.69).

O desenvolvimento de variedade de trigo resistente ao inverno por pesquisadores soviéticos, por exemplo, vem a demonstrar que a questão do clima para o plantio possa ser minimizado pelas novas técnicas, podendo significar perda de vantagem comparativa principalmente aos países do terceiro mundo que não dominam as novas biotecnologias. Sorj e Wilkinson, chegam a admitir até a possibilidade futura de alguns países se manterem através de ajuda internacional, devido a estas questões. Assim a atenção e os esforços nos desenvolvimentos biotecnológicos devem ser redobrados por aqueles países que não dominam estes procedimentos.

No Brasil as grandes empresas que operam e investem em pesquisas de técnicas biotecnológicas são as empresas ligadas a produção de celulose e papel, como a Suzano, Champion, Aracruz, Klabin, Papel Simão, Cenibra, Ripasa, Riocell. As suas atividades se prendem a produção de variedades de árvores que preencham os requisitos de resistência ao ambiente onde se desenvolvem, de produtividade e de qualidade de fibras visando à produção de vários tipos de papel. Neste campo, de utilização de técnicas biotecnológicas tradicionais, este setor tem liderança mundial em alguns desenvolvimentos.

No setor agrícola, o domínio é das empresas multinacionais, no entanto, a empresa privada nacional AGROCERES - Sementes Agroceres S/A, tem se destacado no uso de técnicas tradicionais, como o desenvolvimento do milho híbrido e desenvolvimentos de espécies melhoradas de hortaliças. Além desta, destaca-se os esforços da empresa pública EMBRAPA-Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que criou o Programa Nacional de Pesquisa em Biotecnologia.

Em outros setores como o pecuário, de fertilizantes e defensivos agrícolas e na produção sucro-alcooleira, existem já inúmeros desenvolvimentos tecnológicos realizados por empresas nacionais.

Entre as pequenas empresas especializadas do setor agropecuário destacam-se a AGROGGEN/LABOGEN, a BIOMATRIX, a BIOPLANTA, a MICROBIOLÓGICA e a ENGENHO NOVO.

A AGROGGEN/LABOGEN dedica-se a pesquisa, produção e comercialização de produtos de controle biológico de pragas, tem a sua origem vinculada a UNICAMP.

A BIOMATRIX, oriunda de grupo de pesquisadores da Universidade do Rio de Janeiro, desenvolvia ações ligadas a pesquisa e produção de mudas micropropagadas.

Vinculada a AGROCERES, que decidiu por sua desativação em função de crise econômica.

A BIOPLANTA trabalha com pesquisa e produção de mudas micropropagadas, kits para diagnósticos de doenças em plantas e micorrizas. É ligada à British American Tobacco Co, (Souza Cruz).

A MICROBIOLÓGICA, formada por professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, produz insumos para biotecnologia. Atualmente focaliza suas atividades na síntese de compostos heterocíclicos para a produção de fármacos, com o apoio da CEME.

A ENGENHO NOVO, originária de pesquisadores ligados a pesquisa de processos contínuos para a produção de álcool, é ligada a empresa DOCAS Agroindustrial.

As pesquisas desenvolvidas pelas empresas estrangeiras no Brasil se prendem as fases iniciais, sendo os desenvolvimentos tecnológicos realizados no exterior. Assim por exemplo a Rhodia, empresa do grupo Rhône-Poulenc, desenvolve no Brasil um projeto de identificação de princípios ativos de espécies da flora nacional, envolvendo no país apenas dois estágios da pesquisa ligados a seleção do material, sendo o restante das pesquisas realizadas no exterior.

5.2.1 A nova biotecnologia e a indústria farmacêutica no Brasil

No Brasil grande parte das pesquisas na nova biotecnologia visando o setor de saúde tem sido realizada pelo setor público, nas universidades e institutos de pesquisa.

Deste conjunto, destacam-se, a Universidade de São Paulo e a Universidade de Campinas, seguidas das Universidades Federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, segundo o BNDES (1990).

Com a criação do Centro de Estudos Avançados pela USP, criaram-se melhores condições com o envolvimento multidisciplinar de vários departamentos para o desenvolvimento de pesquisas na área de saúde, animal e área vegetal.

Na Unicamp a compra do laboratório montado pela Monsanto para as pesquisas biotecnológicas, dotou esta Universidade de condições laboratoriais modernas, estando em andamento vários projetos.

Nos institutos de pesquisa públicos destacam-se o Instituto Oswaldo Cruz e o Instituto Butantã. Prevê-se que o Instituto Butantã pelo processo de engenharia genética e biotecnologia poderá dispor, entre outras, das vacinas antitetânicas e antipólio, dentro dos próximos anos, O Instituto Oswaldo Cruz já produz em escala piloto vacina contra a meningite e espera obter nos próximos anos a vacina contra hepatite B. Estes Institutos utilizando as técnicas de anticorpos monoclonais, esperam resultados para o diagnóstico da esquistossomose, leishmaniose e malária, e consideram que poderiam produzir em menos de 5 anos diagnóstico para a doença de Chagas, utilizando sondas genéticas de DNA.

No setor privado nacional as empresas de desenvolvimento de produtos para a área de saúde humana, à semelhança das outras áreas, baseados na nova biotecnologia, foram em sua maioria formadas por pesquisadores universitários. Surgindo assim a Biobrás, a Embrabio e a Codetec. Esta última especializada no ramo da química fina e dedicando-se a serviços de consultoria e desenvolvimento de produtos através de contratos de prestação de serviços.

A BIOBRAS foi formada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e desenvolve com a Universidade de Brasília estudos para a obtenção de insulina humana através da nova biotecnologia. Associou-se a Ely-Lilly para a produção de insulina a partir do pâncreas de porco, associação mais tarde desfeita.

A EMBRABIO além de deter a técnica de transferência de embriões na pecuária, pelo método não cirúrgico, detém a liderança no mercado nacional de reagentes para imunodiagnósticos, tendo lançado o IMUNOBLOT, primeiro teste de Aids no Brasil que dispensa teste confirmatório. Além disso, a empresa mantem intercâmbio com várias empresas estrangeiras para estudos e pesquisas em biotecnologia, e foi a primeira empresa latino-americana a associar-se ao MIT - Massashussets Institute of Technology.

Outra empresa IMOVALL, dedicada a desenvolvimentos tecnológicos para a área de saúde humana, é fruto de associação entre Vallé Nordeste e a Pasteur Meirieux Sérums & Vaccins.

Como se observa existe similaridade entre o surgimento das empresas especializadas americanas de biotecnologia e as brasileiras, normalmente oriundas dos quadros acadêmicos das Universidades ou institutos de pesquisa. CERANTOLA (1992), em sua análise das estratégias tecnológicas de nove empresas de biotecnologia no Brasil, A Agroggen/Labogen (SP), Biobrás (MG), BIOFILL(PR), Biomatrix (RJ), Bioplanta (SP), Embrabio (SP), Engenho Novo, (RJ), Imovall (SP) e Microbiológica (RJ), conclui que dos nove casos estudados, sete empresas foram iniciadas por professores universitários ou pessoas egressas do meio acadêmico, uma das exceções é a BIOFILL.

À semelhança do que vem ocorrendo no exterior, é de se esperar que as estruturas oligopólicas do setor venham a ter maior influência junto a estas empresas, conforme já verificado acima. Com referência a este fato, diz CERANTOLA:

Enquanto importante segmento do ambiente, as corporações estrangeiras ou nacionais afiguram-se como potenciais investidores ou parceiros tecnológicos, conformando espaço no qual alianças estratégicas ganham maior dimensão. Entre os casos analisados observou-se negociações bem sucedidas de transferência de tecnologia, como a ocorrida entre BIOBRÂS e Eli Lilly para a insulina, ou a da IMOVALL com o Meriux para a vacina triplice. De igual modo, as presenças da Agroceres na BIOMATRIX ou da British American Tobacco Co, na BIOPLANTA constituem outros tipos de combinações, associando estratégia tecnológica à diversidade de mercados e competência técnica a novos produtos (CERANTOLA, 1992, p.l0).

Conforme se verifica as associações no país entre pequenas empresas especializadas e outras empresas, neste exemplos indicados acima, envolvem em sua maioria empresas multinacionais.

5.3 O APOIO INSTITUCIONAL DO GOVERNO À BIOTECNOLOGIA NO