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2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

2.1.5 A Questão Tecnológica

O conceito mais atual de tecnologia considera-a como o saber fazer, o utilizar-se dos fatores de produção para alcançar os objetivos desejados; enfim, produzir.

Neste sentido a tecnologia não se restringe às máquinas e equipamentos, mas abrange todos os conhecimentos necessários para a realização de uma tarefa qualquer. Ela distingui-se da ciência porque não necessita conhecer as causas dos fenômenos nos quais se apóia para realizar o pretendido. Assim a tecnologia está muito mais ligada ao interesse imediato, sócio-econômico (SANTOS ,1997).

A tecnologia é um conjunto de conhecimentos aplicados a certo tipo de atividade Santos. (1997). Há, portanto, inclusive, tecnologias para a produção de ciência, e, também, para levar adiante o processo de planejamento estratégico empresarial, que, por sua vez deverá considerar as diversas possibilidades de utilização tecnológicas e seus impactos na empresa e no meio ambiente sócio- econômico.

Faria (apud Santos,1997), estabelece uma tipologia que divide a tecnologia em dois segmentos: de processo e de produto. A tecnologia de processo pode ser física (máquinas, equipamentos, instalações e peças) e de gestão: de ordem comportamental, que se relaciona às motivações do homem; e de ordem instrumental, que se traduz na utilização de métodos físicos para organizar e controlar o processo de trabalho.

A tecnologia compõe-se da apropriação de conhecimentos científicos dos mais variados campos da ciência, bem como do saber conseqüente ao empirismo de observações, experiências, atitudes, tradição oral ou escrita (SANTOS,,1997).

A tecnologia não se separa do homem e da sua cultura, sendo parte desta ou assimilada por ela, mas, às vezes, é rejeitada por uma sociedade diferente daquela em que foi criada. Ela pode ser desenvolvida ou apropriada através da habilidade e do treino, podendo ser considerada uma mercadoria (SANTOS,,1997).

Ela é a interface entre o homem e o seu ambiente, agindo como uma ferramenta que potencializa a ação do homem sobre a natureza, impactando a sua vida social ( WISNER, 1992).

A evolução do saber humano é sentida socialmente através das mudanças tecnológicas cada vez mais rápidas que ao serem colocadas em prática alteram o ambiente e o próprio homem, mudando as bases da concorrência empresarial Betz,(1997). O avanço tecnológico modifica rapidamente os produtos e seus processos produtivos (ROSS,,1998).

Mas se a tecnologia altera a concorrência empresarial, ela não é a sua causa, pelo contrário, é conseqüência da rivalidade, da vontade de superar os demais, de fazer o novo, melhor e mais barato, de acordo com um objetivo: ganhar mais.

Devido a isto, a importância da tecnologia para as empresas é cada vez maior, aumentando crescentemente a necessidade de adaptações às mudanças ambientais, demandando um aprendizado cada vez mais ágil e integrado pelos empregados sobre a posição e perspectivas da empresa na qual trabalham, ao mesmo tempo em que devem gerar novos conhecimentos que melhorem a competitividade da mesma Café, (SILVA; ALLEN, 1995).

É decorrente desta situação a tomada de consciência da necessidade de utilização integral do potencial intelectual disponível na empresa para o enfrentamento da concorrência, a sobrevivência e o progresso da firma, ou seja, da consideração das competências de todos os empregados; e da importância dada ao capital intelectual, aos trabalhadores do conhecimento, a revalorização do homem como principal componente de qualquer processo de trabalho

O desenvolvimento de tecnologias nas atividades laborais destina-se às seguintes possibilidades: à produção de um produto novo, ao uso de um novo processo produtivo, ao aumento da produtividade, à melhoria da qualidade do produto ou à redução dos custos de produção. De modo mais amplo pode ensejar a melhoria das relações de um homem consigo mesmo e com a sociedade (psicoterapias e advocacia), e de interações grupais (dinâmica de grupos).

Mas a tecnologia pode trazer contribuições favoráveis e desfavoráveis aos seus utilizadores.

Experiências pessoais do autor na década de 70 mostraram que em uma fábrica metal – mecânica de processo intermitente, ao se transferir aos trabalhadores o entendimento dos mapas de produção mensal por produto, operação e equipamento planejados pela empresa, eles puderam organizar-se muito melhor, dosando o seu ritmo, encontrando alternativas para paradas por quebra de máquinas ou ferramentas, replanejando a produção para chegar ao programado pela empresa, que, em geral, passou a ser alcançado antes dos finais de meses. Estes trabalhadores tornaram-se muito mais confiantes em si mesmos, freqüentemente terminando a carga planejada para uma jornada de trabalho mais cedo, usando o restante do tempo para discutir procedimentos de segurança do trabalho ou formas de facilitar a realização das tarefas, o que levou ao aumento significativo da produtividade com redução do esforço físico. Algumas vezes decidiam usar a folga de tempo simplesmente indo para casa mais cedo. Aqui a tecnologia foi benéfica.

Em outra situação, identificada em pesquisa realizada pelo autor em 1998, onde se encontravam trabalhadores muito motivados atuando no setor de auxílio à lista em uma empresa telefônica, verificou-se que a introdução de nova tecnologia de operação do sistema, acabou com os tempos mortos, não deixando qualquer folga aos operadores, imprimindo um ritmo de trabalho que os levou a vários distúrbios psíquicos e motores, tais como a repetição indistinta das frases características utilizadas no desempenho da tarefa e ao surgimento de casos de

tenossinovite num curto espaço de tempo. Aqui a adoção de tal tecnologia trouxe efeitos malévolos (BARRETO ; LIMA,1999).

Por tudo isso a questão tecnológica merece grande atenção da administração.

Para Porter (1989), a tecnologia é um dos mais importantes fatores de alteração da posição de equilíbrio entre os concorrentes num mercado, podendo modificar a vantagem competitiva de uma empresa e a estrutura industrial de todo um setor econômico.

Ele chama a atenção para o fato de que o emprego de sofisticadas tecnologias não garante rentabilidade. O processo produtivo de qualquer empresa reúne ampla gama de etapas e operações cada qual conjugando certo aporte tecnológico. Cada uma dessas etapas e operações está estabelecida numa cadeia de valores que agregadas formam o produto, cada qual combinando insumos, bens de capital e recursos humanos através de tecnologias específicas. Os insumos e os bens de capital trazem, em si, tecnologias incorporadas. Assim há interação tecnológica da empresa com os seus fornecedores, bem como com seus compradores.

A conjunção tecnológica para viabilizar a construção do produto tem que se dar de forma harmoniosa para se chegar à rentabilidade; e qualquer alteração favorável em qualquer uma das várias tecnologias empregadas no processo produtivo pode vir a ser um diferencial de competitividade, alterando a posição de custo relativo ou a diferenciação do produto.

A figura 1 expõe as tecnologias representativas da cadeia de valores de uma empresa para Porter:

Infraestrutura da Empresa

Tecnologia de Sistemas de Informação Tecnologia de Planejamento e Orçamento

Tecnologia de Escritório M Gerência de Recursos Humanos Tecnologia de Treinamento Pesquisa de Motivação

Tecnologia de Sistemas de Informação

A

Desenvolvi- mento Tecnologia

Tecnologia do Produto Projeto Auxiliado por

Computador Tecnologia de Fábrica Piloto InstrumentosDesenvol vimento de Software Tecnologia Sistemas de Informação Aquisição

Tecnologia de Sistemas de Informação Tecnologia de Sistemas de Comunicação

Tecnologia de Sistemas de Transporte

R Tecnologia Transporte Tecnologia Manuseio de Material Tecnologia Armaze- namento e Preservação Tecnologia Sistemas de Comunica- ção Tecnologia de Testes Tecnologia Sistemas de Informação Tecnologia de Processo Básico Tecnologia de Materiais Tecnologia de Máquinas Operatrizes Tecnologia de Manuseio de Material Tecnologia de Embalagem Métodos de Manutenção Tecnologia de Testes Tecnologia de Operações / Projeto de Construção Tecnologia de Sistemas de Informação Tecnologia de Transporte Tecnologia de Manuseio de Material Tecnologia de Embalagem Tecnologia de Sistemas de Comunicação Tecnologia de Sistemas de Informação Tecnologia de Mídia Tecnologia de Gravação Audiovisual Tecnologia de Sistemas de Comunicação Tecnologia de Sistemas de Informação Tecnologia de Testes e Diagnóstico Tecnologia de Sistemas de Comuni- cação Tecnologia de Sistemas de Informação G E M Logística Interna Operações Logística Externa Marketing & Vendas Serviço

FIGURA 1: Tecnologias Representativas na Cadeia de Valores de uma Empresa .

Pela figura 1, observa-se que a tecnologia não está limitada apenas aos equipamentos ou às atividades diretas de produção, envolvendo, também todos os apoios necessários a viabilidade produtiva.

Todas as tecnologias empregadas em um processo produtivo interagem para originar o produto. Portanto, se há alteração em qualquer delas as inter-relações se alteram causando repercussões em outras tecnologias utilizadas.

É comum o pensamento que a mudança tecnológica que altera a competitividade de uma empresa acontece em seu próprio seio. Muitas vezes, porém, a transformação ocorre na tecnologia aplicada fora da empresa, no transporte dos insumos ou dos produtos, por exemplo, mas repercutindo no seu posicionamento competitivo. Se uma empresa consegue fazer melhor que seus concorrentes uma operação qualquer, ganha vantagem competitiva (PORTER,1989).

A mudança tecnológica traduz-se numa vantagem competitiva duradoura se:

a) “a própria transformação tecnológica reduz o custo ou aumenta a diferenciação e a liderança tecnológica de empresa é sustentável;

b) a transformação tecnológica muda os condutores do custo ou da singularidade em favor de uma empresa;

c) pioneirismo na transformação traduz-se em vantagens para o primeiro a mover-se além daquelas inerentes à própria tecnologia;

d) a transformação tecnológica melhora a estrutura industrial geral.” (Porter, 1989, p. 160)

A mudança tecnológica pode alterar as barreiras de entrada de concorrentes no setor industrial, tornando mais fácil ou difícil o acesso. Aumentando ou diminuindo as economias de escala, a quantidade de capital necessária para o ingresso, a conformação de um padrão de diferenciação do

produto, a sofisticação da aprendizagem para o manejo, ou influindo nos canais de distribuição.

Ao se difundir, uma alteração tecnológica pode aumentar ou diminuir a atratividade econômica de todo um setor industrial. Aumentando barreiras de acesso, diminuindo o poder de fornecedores-chave, reduzindo as possibilidades de sucesso de produtos substitutos, melhora a atratividade. Se reduz barreiras de acesso ou aumenta o poder do comprador, piora a atratividade.

O avanço tecnológico pode modificar a relação de poder entre as partes negociantes: fornecedores e compradores, tanto a montante quanto a jusante. Pela disseminação e imbricamento de tecnologias, tem também diluído as fronteiras entre os setores econômicos.

A possibilidade de substituição de produtos devido a transformações tecnológicas merece especial atenção dos produtores, que devem sempre monitorar tais alternativas.

Às vezes, devido ao conhecimento acumulado sobre as atividades de um setor econômico específico e/ou ao grande volume de capital investido no negócio, torna-se difícil a saída do setor. Isto condiciona a empresa a perseguir as possibilidades de alteração tecnológica que interfiram em seu negócio, buscando ser a geradora da inovação, ou acompanhar de perto as mudanças tecnológicas das rivais.

As opções tecnológicas de cada empresa devem estar sujeitas à sua estratégia concorrencial que privilegia basicamente o enfoque nos custos ou na diferenciação. Assim a prioridade deve ser dada ao investimento tecnológico numa ou noutra direção, mas sem perder de vista o que acontece com a alternativa secundária.

Como foi visto que há grande quantidade de interferências tecnológicas na empresa, é importante observar a cadeia de agregação de valor do processo produtivo e, considerando o ambiente de atuação da empresa e a estratégia adotada, concentrar os esforços nas tecnologias presentes em cada etapa da cadeia e na sua articulação, verificando a adequação da(s) tecnologia(s) utilizada(s), a viabilidade econômica e operacional do(s) seu(s) desenvolvimento(s) ou substituição(ões) e os riscos envolvidos em adotar, ou não, novas tecnologias (GIANESI ; CORRÊA,1994).

A escolha do(s) alvo(s) tecnológico(s) deve recair sobre aqueles que causarem maior impacto concorrencial sustentável, bem como a relação custo x benefício do investimento a realizar. No caso da escolha de novos equipamentos produtivos deve ser levado em conta o fato de que o incremento de produção não é contínuo, mas que ocorre aos saltos, que ultrapassam, em geral de muito, o incremento imediato de demanda.

Isto posto deve ser decidido que tecnologias devem ser desenvolvidas na empresa, se a liderança tecnológica deve ser um alvo e que atitude tomar quanto ao licenciamento de tecnologia (PORTER,1989).

A liderança tecnológica comumente tem um custo alto em pesquisa e desenvolvimento, que não é acessível a muitas empresas. Tal investimento deve considerar a possibilidade de manutenção da vantagem obtida pela liderança, (principalmente se a inovação puder ser patenteada) e as vantagens de ser o primeiro a mover-se em direção a um novo caminho, mas também as desvantagens desta mesma alternativa.

A manutenção da vantagem competitiva obtida pela liderança tecnológica depende da impossibilidade de cópia pelos concorrentes ou da capacidade da empresa inovar sempre à frente dos seus rivais.

O fato de ser o primeiro a mover-se e representado favoravelmente na imagem de inovador, na relação de fidelidade entre consumidor e fornecedor, na possibilidade de colocar novos padrões de consumo no mercado que os demais terão dificuldade em acompanhar, na seleção dos melhores canais de distribuição, pelos custos de mudança de fornecedor, pelo acesso privilegiado a recursos escassos, pela existência de barreiras institucionais e pela possibilidade de altos lucros iniciais (PORTER,1989).

Por outro lado para ser o primeiro a mover-se é recomendável possuir um senso apurado das necessidades do mercado, para que um novo produto não chegue cedo demais, gerando pouca demanda inicial, enquanto a empresa arca com pesados custos de investimento. A capacidade de suportar tais custos, o acesso a fornecedores-chave com os quais o relacionamento às vezes é novo, ou que ainda não estão preparados para atender a nova demanda, ou a canais de distribuição têm que ser muito bem analisados. É possível haver mudanças nas necessidades do comprador, descontinuidade tecnológica, além de estar sujeito a imitações baratas (PORTER,1989).

Às vezes uma empresa que decide conscientemente ser seguidora e não líder tecnológica sai-se muito bem aprendendo com os erros da pioneira e não tendo os seus custos.

A sustentabilidade da liderança tecnológica é função de quatro fatores:

a) se a fonte de transformação é interna à empresa;

b) se a mudança coloca uma vantagem competitiva em custos ou diferenciação;

c) quando a qualificação tecnológica a distingue favoravelmente dos concorrentes; e,

O acompanhamento da inovação tecnológica pode ocorrer pela observação direta dos produtos ou serviços do líder, por contatos com fornecedores comuns, pela leitura de periódicos especializados, pela participação em feiras de negócios, por reportagens, contratação de ex-empregados ou consultores, às vezes por clientes que se interessam em diminuir a dependência em relação a um fornecedor específico, e até por meio de subterfúgios como a espionagem.

O licenciamento também é uma forma de difusão tecnológica. Se a empresa não pode explorar sozinha uma inovação que gerou ou tem interesse em que a difusão ocorra de modo acelerado, pode valer-se de licenças de uso. Além disso, com esse procedimento pode abrir mercados fora do seu alcance, estimular uma padronização tecnológica que a favoreça, criar concorrentes com quem partilhe interesses comuns, promover a troca de licenças com outra empresa, ou auferir remuneração pelo seu conhecimento se assim julgar satisfatório (PORTER,1989).

A estratégia tecnológica deve :

a) “identificar todas as tecnologias e as subtecnologias distintas na cadeia de valores;

b) identificar tecnologias potencialmente relevantes em outras indústrias ou em desenvolvimento científico;

c) determinar a trajetória provável da transformação de tecnologias essenciais;

d) determinar que tecnologias e transformações tecnológicas são mais significativas para a vantagem competitiva e a estrutura industrial;

e) avaliar as capacidades relativas de uma empresa em tecnologias importantes e o custo da realização de aperfeiçoamentos;

f) selecionar uma estratégia de tecnologia, envolvendo todas as tecnologias importantes, que reforce a estratégia competitiva geral da empresa; e,

g) reforçar as estratégias de tecnologias de unidades empresariais a nível da corporação (PORTER,1989, p. 183 -185)”.

Betz, (1997), propõem que toda inovação tecnológica será inexoravelmente difundida sendo que a única forma da empresa obter e continuar obtendo vantagem competitiva será através da inovação constante.

Para que não se perca a visão da problemática tecnológica na empresa deve-se identificar na cadeia de valor da produção a tecnologia crítica que determina o ritmo da taxa de obsolescência dos produtos ou dos seus processos de construção e estar atento ao seu desenvolvimento para responder rapidamente às suas alterações.

Preferencialmente tal desenvolvimento futuro deve ser mapeado sendo consideradas várias possibilidades de acontecimento; e estas alternativas integradas aos planos de ação estratégicos da empresa (ROSS .1998).