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2.4 MAPAS COGNITIVOS

2.4.4 Os Mapas Cognitivos

2.4.4.3 Os Mapas Cognitivos de Grupo

Até aqui foram comentados aspectos da construção de mapas cognitivos individuais, apesar de que, por diversas oportunidades, se tenha mencionado situações relativas à construção de mapas de mais de um indivíduo.

Como cada ator tem a sua peculiar representação do problema, quando este envolve a participação de mais de um ator, o processo acima descrito torna-se mais complexo, exigindo a negociação da formalização da representação física do problema, ou seja, do mapa cognitivo, com todos os atores. Este fato é enfrentado construindo-se os mapas cognitivos individuais de cada ator, que serão agregados pelo facilitador. Este, após negociar com todos os atores uma representação que abranja todas as visões e satisfaça a todos, unindo e/ou relacionando conceitos, chegará ao que é chamado Mapa Cognitivo Congregado.

A melhor forma de construir um mapa cognitivo do grupo (mapa congregado) é iniciar construindo mapas individuais de cada membro do grupo e depois uni-los em um único mapa agregado (BANA ; COSTA,1998a, p. 10).

Segundo Dutra (1998, p. 129): Este processo social pode ser detalhado como se segue. A construção dos MCC (Mapa Cognitivo Congregado) se dá à luz do sistema de valores dos atores, uma vez que a construção do MC (Mapa Cognitivo) individual, de cada ator, foi informada pelo seu sistema de valor; os valores comuns dos MC individuais serão ajuntados em um MCA (Mapa Cognitivo Agregado); e, são, justamente, esses valores comuns que se constituem como a base de negociação / argumentação entre os atores, estabelecendo uma estrutura cognitiva coletiva (representada através dos enxertos).

Uma vez terminada a apresentação do mapa agregado, ela provavelmente iniciará uma negociação por parte do grupo sobre os conceitos do mapa e os relacionamentos existentes entre tais conceitos. Aparecerão enxertos, novos conceitos são inseridos no mapa agregado e novas relações de influência aparecem entre os conceitos (relações somente entre conceitos já existentes, entre conceitos já existentes e os enxertados e apenas entre conceitos enxertados). Uma reunião, em que os atores negociarão sobre o mapa (realizando enxertos), findará com um mapa cognitivo congregado” (ENSSLIN ,1998, p. III-24).

A reunião para a formulação do MCC coloca o risco de ocorrência de “pensamento de grupo” e de inibição de atores. Por outro lado, alimenta o processo sinergético.

A literatura tem se preocupado com tal assunto e tem alertado para o perigo da elaboração de mapa em grupo. Neste sentido, salienta o fato de que tal procedimento pode fazer com que os atores tornem-se vítimas do “group-think”. O termo pensamento de grupo diz respeito a busca de complacência e concordância total, o que vem por interferir no processo de pensar dos atores envolvidos, inibindo, de certa forma, a participação e a criatividade individual”(DUTRA, 1998, p. 109 – 110).

Alguns autores propõem técnicas para a construção de mapas cognitivos em grupos Eden e Ackermann (1998), sem se preocuparem muito com a possibilidade de acontecer o pensamento de grupo, sugerindo dinâmicas supostamente suficientes para gerarem o pensamento de equipe.

O pensamento de grupo Ensslin (1998) e Montibeller Neto (1996), é aquele em que os indivíduos de um grupo, em geral bem estruturado e/ou bem sucedido em realizações de enfrentamento conjunto anteriores, ou em que estando presentes pessoas hierarquicamente superiores ou de personalidade mais ativa e carismática, não manifestam interesse em discordarem entre si publicamente, buscando conduzir uma reunião de trabalho para a discussão de um assunto polêmico, a um rápido acordo de pontos de vista entre os

participantes, de tal modo que o esforço da reunião agregue pouca ou nenhuma contribuição efetiva para a superação do problema.

Os sintomas do pensamento de grupo são: pressão social direta do grupo contra um membro que argumente contrariamente aos valores e crenças compartilhados pelo grupo; autocensura dos membros cujos pensamentos ou preocupações desviam-se do consenso do grupo; ilusão do grupo de invulnerabilidade à falha; uma ilusão compartilhada de unanimidade; a autocriação de mentes vigiadas que desconsideram informações adversas advindas de fora do grupo; esforços coletivos para a racionalização; visões estereotipadas dos líderes inimigos de outras organizações como fracos ou incompetentes; uma crença inquestionável sobre a moralidade inerente ao grupo (MONTIBELLER NETO, 1996, p. 97).

Em oposição a este estaria o pensamento de equipe, em que os indivíduos, atuando livres de constrangimentos psicológicos, gerariam um processo sinergético altamente criativo e estimulante para o engajamento no esforço comum de superação do problema.

As características do pensamento de equipe são: “encorajamento de visões divergentes; abertura para expressar inquietações e idéias; preocupação sobre limitações/ameaças; reconhecimento das singularidades de seus membros; discussão de dúvidas coletivas” (MONTIBELLER NETO,1996, p. 98).

A pressuposição comum entre os pesquisadores das metodologias de ajuda à decisão é que se há pensamento de grupo o resultado de um trabalho conjunto não será satisfatório, enquanto haverá tendência nessa direção se os participantes reunirem as condições para o pensamento de equipe.

O fato é que se há pensamento de grupo ou de equipe isto estará, provavelmente fora do alcance da intervenção do facilitador, que, necessariamente, julgará o resultado alcançado, bom ou mal, segundo os seus valores pessoais. Daí acredita-se, que os procedimentos de construção de mapas cognitivos coletivos tal como os propostos por Eden e Ackermann (1998), devem

Na construção dos mapas cognitivos coletivos, segundo o método adotado por Ensslin e Dutra (1998); Montibeller Neto (1996), uma vez que todos os participantes tenham indicado os seus Elementos Primários de Avaliação, caberá ao facilitador juntar os pólos iniciais de cada construto, segundo sua proximidade de significação semântica, de forma que a nova representação verbal gerada, não podendo possuir o mesmo exato significado, devido ser a construção dos significados particular a cada indivíduo Maturana ; Varela (1995), deverá representar significados particulares suficientemente próximos para que seja entendido como um significado inteligível na linguagem do grupo de pessoas com as quais ataca o problema. Este procedimento é chamado de agregação. (BOUGON, 1992).

A agregação pode ser feita coletivamente Montibeller Neto (1996) e Eden & Ackermann (1998), mas havendo o elevado risco de ocorrer o pensamento de grupo. Por isso Ensslin .(1998); Dutra (1998); Montibeller Neto (1996) recomendam a adoção do trabalho individual do facilitador nesta etapa.

Assim, conforme o método proposto pelos últimos, uma vez realizado o processo de agregação este deve ser negociado com cada ator, em reunião coletiva, até que cada um esteja de acordo com a representação do seu conjunto de conceitos iniciais no subconjunto correspondente dos conceitos gerados por todos os atores e se tenha chegado a uma concordância geral, mas alcançada particularmente, indivíduo a indivíduo. Este procedimento, como é fácil imaginar- se, demanda muito tempo, sendo óbvio que quanto maior o grupo maior o tempo para a realização da tarefa.

O sucesso do empreendimento vai depender da habilidade do facilitador em contornar possíveis divergências e insatisfações relacionadas à unificação de conceitos e estará sujeito aos humores tanto do facilitador quanto dos participantes, que tenderão a irritar-se com a demora e as dificuldades da reunião.

Construído o mapa agregado parte-se para a construção do mapa congregado, continuando-se o trabalho coletivo a partir do resultado obtido do esforço de agregação, que permitiu a cada um a visão das suas contribuições em comum com os outros companheiros, das contribuições que não lhes pertenciam, mas que estavam presentes na visão de outros, e das idiossincrasias inerentes ao entendimento global do problema.

Neste momento são comuns os enriquecimentos da compreensão individual e coletiva do problema Ensslin (1998); Dutra (1998); Montibeller Neto (1996), ampliando-se a visão do particular para o geral e, como processo de construção do conhecimento é recursivo Maturana e Varela (1995); Fialho (mimeo. b), é comum o acréscimo de novos construtos que deverão, assim como os demais, ser correlacionados através de ligações de influência ou conotativas. Ao terminar esta etapa atinge-se o Mapa Cognitivo Congregado do problema, no qual os construtos passam a representar “classes” de significados Bougon (1992) que exprimem valores comuns ao grupo, construídos através da experiência comum anterior, à negociação, à argumentação e interação entre seus membros (MONTIBELLER NETO,1996).

No método proposto por Eden e Ackermann (1998), é recomendado que em cada sessão se trabalhe com quatro a quatorze pessoas, podendo ser envolvidas até duzentas através da realização de outras reuniões com outros grupos, sendo a finalidade das reuniões voltada para o enriquecimento da problemática geral ou para particularizar o tratamento de determinados assuntos. Porém, para cada etapa do trabalho e para cada novo grupo, além de recapitular tudo o que foi anteriormente feito, deve ficar claro que a passagem do conteúdo de cada conceito já construído por outros será bem assimilada por todos os membros do novo grupo. E isto vai depender do julgamento de valor do facilitador, além de consumir um tempo razoável de trabalho. Neste método, porém, não há clara distinção entre as etapas de agregação e de congregação.

A construção do mapa congregado sem reunião poderia ser alcançada através de sucessivas apresentações individuais do mapa cognitivo já agregado,

através do uso de técnica da RS e da solicitação de sucessivas rodadas de contribuição de enriquecimento e de aceitação até que o processo se esgotasse. A perda da sinergia imediata seria compensada pela troca de opiniões através da “organização informal”, trazendo contribuições, possivelmente, mais ricas.

Uma vez tendo sido construído o Mapa Cognitivo Congregado, o modo de passagem desta etapa à estruturação de um Modelo Multicritério de Decisão, será realizada da mesma forma que no MCDA tradicional, com a intervenção do facilitador, que dará continuidade ao processo constituindo a Arborescência de Pontos de Vista (ENSSLIN ,1998).