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A Recuperação Ambiental como Medida Compensatória

CAPÍTULO 3 PSA E A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA DO RIO DOCE

3.1 O PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E ÁREAS DE RECARGA

3.1.3 A Recuperação Ambiental como Medida Compensatória

sua Deliberação nº 04 de 07/06/17, de caráter consultivo, formadas para auxiliá-lo no desempenho das suas funções definidas no TTAC. Todas são coordenadas por instituições membros do CIF e compostas por representantes de órgãos e instituições públicas, consideradas as competências relacionadas aos temas tratados. Cada CT assumiu o acompanhamento dos programas afins, organizados conforme Figura 16.

A Câmara Técnica de Restauração Florestal e de Produção de Água (CTFLOR) tem por objetivo orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar 05 dos programas socioambientais, entre eles o Programa de Recuperação de Áreas de Preservação Permanente - APPs e áreas de recarga na bacia do Rio Doce e controle de processos erosivos, de cunho compensatório. Nota-se que este Programa vem ser proposto com base em diversas diretrizes definidas ao longo do Acordo, em especial a Cláusula 16 que traz a previsão de ações fora da área de abrangência, “desde que se refiram à população impactada ou concorram para a efetiva recuperação ambiental dos corpos hídricos diretamente atingidos pelo EVENTO”.

Figura 16 - Estrutura do CIF, das CTs e seus respectivos programas, com destaque ao programa socioambiental em estudo.

Este Programa trata de compensação pelos impactos causados em quase 2000 ha de área diretamente afetada pela lama de rejeitos (Área Ambiental 1, da Barragem de Fundão até a UHE Risoleta Neves), e inclui 835,4 hectares de APPs, planícies de inundação e o Córrego Santarém, os Rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce e seus tributários (BRASIL, 2016) (Figura 17).

Figura 17 - Mapa com os limites da Área Ambiental 1, trecho mais afetado pela lama.

Fonte: Emerson Servello, IBAMA/MT.

Nessa Área, os impactos causados pela lama foram de grande magnitude (BRASIL, 2015), que, por si só, requerem soluções para além das áreas diretamente atingidas. A solução para a recuperação da qualidade ambiental, dos habitats e da biodiversidade nos rios impactados é indiretamente construída com a melhoria das condições ambientais nas sub bacias dos seus afluentes, notoriamente degradadas pelo desmatamento, uso não sustentável de áreas rurais e consequente assoreamento dos canais de drenagem (CONSÓRCIO ECOPLAN-LUME, 2010).

Nos municípios do Espírito Santo, os problemas decorrem da destruição da vegetação natural, substituída por monocultivos e pela pecuária extensiva (CONSÓRCIO ECOPLAN-LUME, 2010). Os solos ocupados por cafezais, por

conservação dos solos, muitas vezes onde já não existe mais o horizonte “A”. Registra-se, também, a degradação ocasionada pela exploração mineral (granito), sem os cuidados ambientais necessários, em municípios como o de Colatina (CONSÓRCIO ECOPLAN-LUME, 2010).

No Estado de Minas Gerais, o Consórcio ECOPLAN-LUME (2008) aponta panorama similar: intensa exploração e degradação da vegetação natural em áreas de relevo acentuado, com solos de baixa fertilidade natural, submetidos a pastoreio ou exploração agrícola/silvícola intensivos, o que reduz ainda mais a capacidade de suporte e desencadeia intensos processos erosivos. Na maioria dos municípios, as extensas áreas de pastagem degradadas, de florestas plantadas e de monoculturas, bem como exploração mineral, constituem práticas comuns que culminam em impactos ambientais significativos aos solos, com o assoreamento de córregos, rios e lagos (CONSÓRCIO ECOPLAN-LUME, 2010). A ausência de cobertura vegetal, em especial da vegetação ciliar em toda a bacia, inviabiliza qualquer alternativa de tratamento de água para fins de abastecimento que não seja o convencional completo (CONSÓRCIO ECOPLAN- LUME, 2010). Vale ressaltar que a captação de água do Rio Doce para o abastecimento, em muitos lugares, foi interrompida devido às alterações na qualidade da água pela lama.

Assim, áreas sujeitas a processos de degradação ambiental, com histórico de desmatamento e de intensos processos erosivos, são candidatas naturais à recuperação ambiental, para reestabelecer a produção de água em quantidade e qualidade necessária à jusante, nos rios atingidos e em seus afluentes. Nesse sentido, o Acordo propõe que o Programa fosse executado considerando toda a bacia, com algumas condições já pré-definidas nas, Cláusulas 161 e 162 do TTAC, que definem o seguinte:

a) Em 10 anos, deverão ser recuperadas 40.000 ha de áreas degradadas em APPs e em áreas de recarga, na bacia do Rio Doce;

b) Deverão ser recuperadas APPs do Rio Doce e seus tributários, preferencialmente, mas não se limitando, nas sub bacias dos rios definidos como fonte alternativa de abastecimento para municípios e distritos cuja operação do sistema de abastecimento público ficou inviabilizada em decorrência do evento.

c) A recuperação deverá ser por meio de reflorestamento (10.000 ha) e condução de regeneração natural (30.000 ha);

d) Fica estabelecido o valor mínimo de R$ 1.100.000.000,00 (um bilhão e cem milhões de reais) para execução do Programa;

e) Na hipótese da recuperação dos 40 mil ha custar um valor inferior, deverão ser realizadas outras ações de reflorestamento ou regeneração até atingi-lo;

f) A recuperação deverá seguir metodologia similar aos Programas Reflorestar, Produtor de Águas ou iniciativas semelhantes, em Minas Gerais e no Espírito Santo; g) Serão implementados projetos de produção de sementes e de mudas de espécies nativas florestais ou serão apoiados projetos com mesmo objetivo;

h) Nas APP's objeto de recuperação, deverá ser realizado também o manejo do solo para a recuperação de áreas de erosão, priorizando as áreas de recarga.

Ao citar os programas Reflorestar33 e Produtor de Águas34 (PdA), o

Acordo remete à experiência adquirida pelo governo do estado do Espírito Santo e pela Agência Nacional de Águas (ANA), responsáveis por sua execução, respectivamente. São programas de fomento à restauração florestal, em diferentes escalas, ambos com o uso do PSA como instrumento. Tanto a ANA quanto a SEAMA, assim como os órgãos ambientais de Minas Gerais (IEF, FEAM e SEMAD), são instituições públicas que integram a CTFLOR e colaboram para a estruturação do Programa a ser implementado na bacia do Rio Doce.