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Falhas de Mercado e Eficiência

CAPÍTULO 1 PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS COMO INSTRUMENTO ECONÔMICO

1.2 A MOLDURA ECONÔMICA DO PSA

1.2.2 Falhas de Mercado e Eficiência

A análise econômica neoclássica se fundamenta em defesa do funcionamento de mercados completos e livres para alocação de recursos na economia (MUELLER, 2007). A maximização da utilidade e do lucro pelos agentes econômicos tendem a gerar nos mercados um conjunto de preços de bens e serviços que conduz à

eficiência na alocação de recursos. No entanto, Mueller (2007) salienta que são

necessárias determinadas condições para que isso ocorra:

a) Mercados completos, para todos os bens e serviços objetos de trocas;

b) Concorrência perfeita para todos os mercados; os preços devem ser determinados

de forma impessoal, e nenhum agente econômico deve, por si só, ter meios de influenciar diretamente a formação de preços.

c) Informação simétrica, com todos agentes econômicos dispondo de informação

perfeita sobre o funcionamento dos mercados.

d) Funções utilidade e de produção bem-comportadas, exibindo as condições de

convexidade.

e) Direitos de propriedade claramente definidos e respeitados sobre todos os

recursos, para que os proprietários desses recursos recebam o pagamento adequado pelo seu uso.

f) Sem externalidades, ou seja, para cada indivíduo, o nível de satisfação é

determinado exclusivamente pelo seu consumo de bens e serviços. A satisfação de um não pode ser afetada pelo consumo de outro indivíduo, ou ainda, o nível de produção de uma empresa não pode ser afetado pelas produções de outras.

Mueller (2007) identifica se tratar de hipóteses pouco realistas, pois não existem mercados perfeitos no mundo real e dificilmente as ações de um agente econômico deixam de afetar os níveis de produção e de consumo de outros agentes. Quando as decisões de produção ou de consumo de um agente afetam a utilidade ou a produção de outro(s) de uma forma não intencionada, e não há a compensação por parte de quem produz o efeito externo indesejado, verifica-se uma externalidade. São situações em que, devido à estrutura dos direitos de propriedade, as relações entre os agentes econômicos não são todas mediadas por mercados (PERMAN et al., 2003). Num mundo sem externalidades, a utilidade de um indivíduo depende exclusivamente da quantidade dos bens e serviços por ele consumidos; e a produção

de cada empresa depende apenas das escolhas independentes de consumidores e produtores para maximizar seus benefícios privados, sem desperdício de recursos, de forma eficiente (HANLEY; SHROGREN; WHITE, 2013; MUELLER, 2007).

Os conceitos de eficiência e otimização dos recursos são usados de maneiras específicas na análise econômica. Para Perman et al. (2003), uma maneira de pensar sobre eficiência econômica é em termos de oportunidades perdidas. Se o uso do recurso é desperdiçado, as oportunidades também. Ao se eliminar os resíduos (e a ineficiência) pode-se trazer benefícios líquidos para algum grupo de pessoas. Assim, a quantidade de energia ou insumos será eficiente se forem utilizadas técnicas que permitam ganhos com o mínimo de perdas, na produção final (PERMAN et al., 2003). Quando os mercados deixam de operar de maneira eficiente, tem-se as falhas

de mercado que nada mais são a incapacidade do livre mercado de alocar recursos

para gerar um nível ótimo de bem-estar (PERMAN et al., 2003). Significa que a depleção do capital natural é muitas vezes maior do que seria socialmente ideal.

Entre os tipos de falhas de mercado registram-se as externalidades, bens públicos comuns, direitos de propriedade imperfeitos, mercados não competitivos, informações insuficientes ou assimétricas e não-convexidade (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008; MURADIAN et al., 2010; STERNER; CORIA, 2012). Todos afetam a eficiência econômica e ocorrem na gestão ambiental, em especial as externalidades, a existência de bens públicos e os direitos de propriedade mal definidos.

O comportamento de consumidores e produtores é afetado de formas não desejadas e não compensadas, pelas utilidades obtidas pelo consumo e produções geradas por outros agentes que geram externalidades nem sempre negativas (MUELLER, 2007). São positivas quando determinada atividade aumenta o bem-estar de outra pessoa ou firma (STERNER e CORIA, 2012; LANDELL-MILLS e PORRAS, 2002). Uma atividade econômica pode resultar em benefícios diretos ou indiretos a outro agente (por vezes, o benefício é mútuo6), ainda que não contabilizados.

6 Exemplo no dono de pomar situado ao lado das instalações de um apicultor: “O dono do pomar tem mais produção

porque as abelhas polinizam suas árvores; e o apicultor tem mais produção porque as abelhas podem se valer das flores do pomar para produzir mel. Se não houvesse o apicultor, (...) a polinização seria menos eficiente; e se não houvesse o pomar, as abelhas do apicultor teriam que procurar mel em áreas mais distantes (...). Assim, ambas as atividades exercem uma externalidade positiva, uma sobre a outra” (MUELLER, 2007).

Externalidades negativas são os efeitos sociais negativos gerados por uma determinada atividade degradante, como a poluição. Os produtores-poluidores originam fluxos de bens e serviços que geram bem-estar aos indivíduos. Porém, originam, simultaneamente, fluxos de resíduos e dejetos que poluem e causam mal- estar aos indivíduos (MUELLER, 2007). Como a poluição não é um bem transacionado nos mercados, é imposto sem que a coletividade o deseje e sem que os produtores-poluidores arquem com esse custo, gerando um custo social.

Mueller (2007) aponta ainda que os economistas neoclássicos conheciam o problema das externalidades, só que as consideravam como eventos excepcionais. Com a evolução da economia ambiental, passaram a admitir que a externalidade não pode ser ignorada, pois não permite que mercados conduzam soluções eficientes, segundo o critério de Pareto7. Assim, há uma necessidade pela implantação de

medidas e políticas para promover a internalização das externalidades: fazer com que o agente que a produz arque com os custos impostos sobre os indivíduos e empresas, e quem promove práticas que produzem externalidades positivas seja compensado pelo benefício social gerado. Só assim se estará aproximando de uma situação de eficiência (MUELLER, 2007; PERMAN et al., 2003).

Com relação ao direito de propriedade, bens e serviços ambientais são produtos aproveitados por todos em uma comunidade, sem exclusão e sem rivalidade, portanto, o direito de propriedade não está bem definido. A oferta desses bens em mercados é difícil por não ser possível restringir o acesso àqueles que não pagam por eles. Ou seja, o sistema de preços é inapto a prover um resultado eficiente na oferta de bens públicos (DAILY, 1997; STERNER; CORIA, 2012). Mecanismos que levam à sub-oferta de bens públicos, como o comportamento de free-rider (carona) do consumidor, podem também levar ao sobre-uso de recursos comuns, a não ser que instituições governamentais e/ou comunidades sejam fortes o suficiente para limitar o acesso aos “caroneiros” (STERNER; CORIA, 2012).

Por isso, políticas são necessárias para a regulação da oferta de serviços de

7 “Diz-se que uma alocação de recursos é eficiente se não for possível melhorar uma ou mais pessoas sem

prejudicar pelo menos uma outra pessoa. (...) Um ganho por uma ou mais pessoas sem qualquer outra pessoa sofrer por ele é conhecido como uma melhoria de Pareto. (...) às vezes referida como Pareto ótima, ou Pareto eficiente” (PERMAN, et al., 2003, pag. 107).

bens públicos, a garantir que um bem público seja ofertado em uma quantidade na qual iguale o benefício marginal de demanda com o custo marginal de ofertá-lo (STERNER; CORIA, 2012). Essas falhas, portanto, justificam a intervenção estatal com o desenvolvimento de políticas que têm como objetivo amenizar seus efeitos.