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Custos de oportunidade – C oport

CAPÍTULO 4 CRITÉRIOS E ASPECTOS RELEVANTES PARA O PSA-DOCE

4.2 CUSTOS DO PROGRAMA

4.2.2 Custos de oportunidade – C oport

Como representado na Figura 2, o custo de oportunidade deve ser igual ou maior ao valor que seria recebido pelo uso alternativo, mais o benefício direto da conservação. Deve ser ainda menor que o valor dos benefícios fornecidos ou restaurados, ou dos custos impostos a população à jusante.

Por isso, seu cálculo está intimamente vinculado a usuários dos serviços com disposição a pagar (willingness to pay) e a provedores dispostos a receber (3º e 4º critérios de Wunder, 2015), que precisam ser identificados. Neste caso, os provedores dos SA são os proprietários rurais de terras pela bacia, mas uma caracterização mais minuciosa do seu perfil deve ser realizada nas áreas prioritárias, antes de se definir o valor do PSA, adaptados às peculiaridades locais. Essa caracterização é essencial para o planejamento e o recrutamento, onde os aspectos para sensibilização e convencimento dos proprietários perpassam questões sociais (perfil das propriedades, participação familiar e social, renda, escolaridade etc.) e econômicas (cadeia produtiva, interface com as áreas urbanas, infraestrutura instalada etc).

Quanto ao ‘pagador’ ou ‘beneficiário’, embora bem definido, foge do escopo usual associado a um usuário de SA ou ao governo a representar o interesse da coletividade. Os recursos a serem empregados são de cunho compensatório que, em certa medida, poderiam ser recolhidos pelo poder público para execução direta. No entanto, o Acordo firmado entre os compromitentes tem como uma das premissas a construção de processos ágeis de reparação e de compensação, preferíveis do que outras soluções judiciais ou administrativas (BURLINGTON, 1999). Por se tratar de um arranjo institucional inovador, de fomento a restauração e recuperação de áreas degradas, resta acompanhar o processo, proceder pari passu os eventuais ajustes necessários, monitorar e zelar para que esta solução acordada se construa da forma mais eficiente possível, com foco na restauração e/ou conservação dos SAs na bacia do Rio Doce, a envolver um “poluidor-pagador” no papel de usuário/beneficiário dos SAs a serem produzidos.

programa Reflorestar52/ES, o qual dá fundamentação ao Programa com o PSA-

Doce, adota valores para o Coport calculados com base no percentual de

participação das principais culturas53 na área produtiva total do estado do

Espírito Santo e na sua rentabilidade R$/ha/ano, resultando em uma média ponderada de R$678,59 por ha (SILVA, et al., 2008).

No entanto, existe uma percepção implícita na literatura de que o PSA deve cobrir todos os custos, incluindo, no mínimo, os de oportunidade de usos alternativos. Assim, entende-se que além dos Coport, o PSA-Doce deva ser

proporcional também aos Crest e Ctrans regionais ou locais, desde que menor que

o valor dos benefícios fornecidos ou restaurados, considerados os tipos de uso, perfil social e econômico das propriedades e eventuais variações ao longo da bacia. Cabe, portanto, à Fundação RENOVA este exercício.

Além dos custos, deve-se levar em conta a lógica de que a ação coletiva e a inserção dos pagamentos dentro de um mix de políticas requerem obediência aos limites biofísicos e legais como ponto de partida e devem ser moldados por diferentes tipos de relações sociais. Vencidos outros critérios como a confiança, os proprietários de terras devem receber os benefícios do PSA-Doce = Coport,

mas também devendo ser convencidos, por negociação, a aceitar que mudem o modelo de produção para alternativas mais sustentáveis e colaborem para a recuperação das áreas degradadas em sua propriedade (MURADIAN et al., 2010).

Isto é especialmente necessário, uma vez que, em muitas das áreas a serem recuperadas na bacia, parte dos proprietários de terra deve se valer dos benefícios indiretos do Programa em promover o cadastro da sua propriedade no CAR e a adequação ao regulamento ambiental54. Com isso, vislumbra-se que:

52 Este valor recaiquando do pagamento de 04 SAs: conservação e melhoria da qualidade e disponibilidade

hídrica; conservação e incremento da biodiversidade; redução de processos erosivos e fixação, e sequestro de carbono, conforme definido pela Lei Estadual n° 8995/08. Na prática, adota-se a ponderação simples, se o enfoque for em apenas um dos SAs; no caso de recursos hídricos, 1/3 do valor.

53 No ES, os principais usos são pecuária (62%), café (19%), eucalipto (7,5%) e cana-de-açúcar (2,5%). 54 Conforme o que determina o Código Florestal (Lei nº 12.651/12) e demais normas vigentes.

Benefícios privados  Benefícios diretos + Benefícios indiretos

Sendo: Benefícios diretos = Custos de Restauração + PSA-Doce

Benefícios indiretos = Custos de Regularização + oportunidades de negócios + ATER...

Os benefícios diretos são aqueles entregues desde o início do Programa (por exemplo, medidas atreladas ao projeto de restauração florestal, assistência técnica, documentação legal) e posteriormente segue com os pagamentos que são tipicamente contingentes ao monitoramento, pagos anualmente ou semestralmente. Os indiretos são todos aqueles advindos das práticas adotadas, tanto com a recuperação dos SAs reabilitados quanto com a regularização ambiental da área, a conversão do uso etc.

Assim, os benefícios privados que podem ser percebidos pelos proprietários, provedores do(s) SA(s) almejado(s) pelo Programa extrapolariam o valor a ser designado para o PSA-Doce, sejam eles igual ou maiores ao Coport,

a começar pelos ganhos associados aos projetos a ser implementado em sua propriedade. Para tanto, cabe a construção de cenários na fase de divulgação do Programa antes da adesão voluntária, cumprindo o papel de comunicação transparente, a contar com outros instrumentos de envolvimento social, atrelados a políticas já vigentes na região de assistência técnica rural, cooperativismo, programas de financiamento e linhas de crédito, por exemplo.