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A rede de atendimento a mulher no município de Panambi

3 A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DE PANAMBI/RS E A

3.2 A rede de atendimento a mulher no município de Panambi

O atendimento prestado às vítimas de violência doméstica no Município de Panambi/RS é realizado pelos órgãos Policia Civil, CREAS e Poder Judiciário conjuntamente, sendo que o primeiro contato se dá, como regra, por meio da Polícia Civil ao realizar o registro de ocorrência policial e solicitar as medidas protetivas de urgência se a vítima manifestar expressa vontade. Posteriormente, e tendo em vista a fragilidade emocional em que as ofendidas se encontram, estas são encaminhadas ao CREAS, local onde terão atendimento psicológico e posteriormente terão contato com o Poder Judiciário, o qual participará na rede de atendimento ao deferir ou não as medidas protetivas almejadas pelas vítimas de violência doméstica, além de garantir sua efetividade através de fiscalização, bem como de punir os agressores como forma de coibir essas práticas tão condenáveis.

É importante salientar que, como nada é perfeito, a rede de atendimento as mulheres no município de Panambi/RS também apresenta falhas, podendo ser mencionada a falta de uma DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), onde esta receberia um atendimento mais humanizado, com menos traumas psicológicos além dos já vividos com a violência sofrida. Nesta senda é o atendimento oferecido pelo CREAS que busca suprir a falta que faz um Centro de Referência à Mulher, no qual a vítima de violência doméstica poderá buscar ajuda psicológica, porém o referido Centro de Referência já está em construção, com previsão de ficar pronto até o final deste ano de 2015.

Como constatado no item grau de escolaridade das vítimas e dos agressores nos dados obtidos na pesquisa de campo, ficou comprovado que apesar de haver uma evolução no grau de instrução das partes analisadas, os casos de violência doméstica perduram através do tempo, sendo que a instrução recebida através dos estudos deveria interferir em uma diminuição dos casos de violência, deixando margem para discussão da importância que há no investimento de políticas públicas, principalmente no quesito prevenção, não apenas no atendimento e responsabilização, devendo ser inserido nas escolas a conscientização da igualdade de gêneros, sem distinção de qualquer forma, com o intuito de questionar a imagem que é reproduzida desde a infância, no que tange aos papeis de gênero, e também quanto a cultura patriarcal e machista ainda presente. Neste aspecto é necessário colocar em discussão questões que envolvem as posturas/papeis tradicionalmente atribuídas ao masculina ( homens usam azul, brincam de carrinhos, são machos, rudes) e ao feminina (sexo frágil, submisso,

que brinca de bonecas e panelinhas, boa dona de casa, capaz de aguentar qualquer ato de abuso praticada pelo sexo forte, dominante). A Lei Maria da Penha desde a sua criação foi inserida dentro das escolas para discussão e compreensão, porém os conceitos da referida Lei que são colocados dentro das salas de aula ainda destacam o aspecto das penalizações decorrentes das práticas, não a implantação de uma nova cultura, sem influência do modelo patriarcal que assola a sociedade.

Acerca da cultura, cabe destacar que tomando uma dimensão um pouco maior, voltando o olhar para o Estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente a cultura tradicionalista gaúcha, tão famosa e disseminada pelos demais estados brasileiros, na qual o gaúcho toma seu chimarrão, usa bombachas é conhecido por ser macho, viril, “bagual”1, enquanto a mulher usando seu vestido de prenda é conhecida como “china”2, e de acordo com os costumes locais, exerce um papel subalterno e submisso. Percebe-se uma clara influência patriarcal até mesmo no âmbito da música gaúcha, o que acaba por estimular, inclusive, a prática da violência.

Podem ser citados como exemplos os refrãos das músicas “Não Chora Minha China Véia” que em uma de suas estrofes faz alusão a agressão ao gênero feminino “Fui criado meio xucro e não sei fazer carinho. Se acordar de pé trocado eu boto fogo no ninho. Eu já fiz chover três dias só pra apagar o teu rastro. E se a china for embora eu faço voltar a laço”. (VAGALUME,s. d., p. [?], )

Do mesmo modo, a letra da música “Ajoelha e Chora”, dos compositores Luiz Claudio, Marquinhos Ulian e Sandro Coelho (VAGALUME, s.d., p. [?],):

Tava cansado de me fazer de bonzinho

Te chamando de benzinho de amor e de patroa Esta malvada me usada e me esnobava

E judiava muita da minha pessoa

Endureci resolvi bancá o machão Ai ficou bem bom agora é do meu jeito

1 Designa cavalo não-castrado, ainda capaz de emprenhar éguas ou designado para esse único fim. 2. Também pode designar homem valente ou namorador.

3. Em alguns lugares do Rio Grande do Sul a palavra é usada como uma interjeição, semelhante à interjeição "legal". 2. Regionalismo: Rio Grande do Sul.

Diz-se de ou mulher ou moça do campo. Uso pejorativo: prostituta.

De hoje em diante sempre que eu te chamar Acho bom tu ajoelhá e me tratá com respeito Ajoelha e chora ajoelha e chora

Quanto mais eu passo laço muito mais ela me adora Ajoelha e chora oi, ajoelha e chora

Quanto mais eu passo laço muito mais ela me adora Mas o efeito do remédio que eu dei

Foi melhor do que eu pensei ela faz o que eu quiser Me lava a roupa lava os pratos e cuida os filhos Anda nos trilhos garrô preço essa muié

Faz cafuné me abraça com carinho

Me chama de docinho comecei me preocupar Eu tô achando que esta mulher danada

Ficou mal acostumada e tá gostando de apanhar (grifo meu).

Os exemplos acima demonstram como a violência e a agressividade contra a mulher são naturalizados por certos setores da cultura gauchesca, reproduzindo conceitos de conotação patriarcalista, elevando a figura do homem como ser superior com relação ao gênero feminino. As músicas apresentam ideias de agressões contra a mulher, de que estas são agredidas por merecem um castigo e que sentem satisfação ao sofrer as referidas agressões.

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