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Capítulo 3. As instituições para a Infância e a Juventude no Sistema de

1. O Sistema de Promoção e Protecção

1.4. A Rede de Lares de Infância e Juventude

O acolhimento em Lar de Infância e Juventude destina-se a crianças e jovens entre os 0 e os 18 anos que, transitória ou definitivamente, não possam estar integrados na sua família de origem. Pretende-se que os Lares de Infância e Juventude assegurem os meios necessários ao desenvolvimento físico, psicológico, social, escolar e profissional de cada criança/jovem e a sua inserção na sociedade, com vista aos seguintes objectivos: satisfazer as necessidades básicas da criança/jovem; promover a sua reintegração na família/comunidade; e contribuir para a sua valorização pessoal, social e profissional.

O Decreto-Lei n.º 2/86 define os princípios básicos a que deve obedecer este tipo de instituições. As leis que enquadram estes dispositivos institucionais apontam para o ambiente familiar enquanto eixo central de funcionamento, o que é garantido pelo acompanhamento sistemático e individualizado de cada caso, pela constituição de equipas técnicas multidisciplinares e por condições de organização interna como o número de utentes (não deve exceder 60), a organização de unidades residenciais com capacidades mais reduzidas (com o máximo de 12 crianças e jovens), e a participação da criança/jovem nas actividades do meio envolvente.

Em 1999 foi publicado o Despacho n.º 7264/99, que passou a possibilitar o desenvolvimento de acções de orientação profissional e a inserção dos jovens em cursos de pré-aprendizagem, aprendizagem e educação-formação, dado o elevado número de jovens com mais de 14 anos a viver em Lar e nas baixas habilitações que apresentavam. Promoveu, igualmente, a criação e organização de ateliers polivalentes para jovens em idade escolar, assegurando a orientação vocacional e a sensibilização pedagógica para a formação profissional.

Depois do enquadramento legal das instituições de acolhimento, impõe-se a análise do panorama geral dos Lares nacionais, tanto a nível das características das crianças e jovens que acolhem, como das características das próprias estruturas de acolhimento.

1.4.1. Caracterização sócio-demográfica das crianças e jovens acolhidos em LIJ Existem no nosso país cerca de 11.200 crianças acolhidas em instituição, sendo que destas, cerca de 9.000 se encontram em Lares de Infância e Juventude (CDSS, PII, 2006). Desta forma, cerca de 60% da população acolhida encontra-se nesta resposta de acolhimento prolongado (CDSS, PII, 2007).

 Idades

Nos Lares de Infância e Juventude, a população acolhida é maioritariamente adolescente, sendo que quase metade tem entre os 12 e os 17 anos (CDSS, PII, 2006). As faixas etárias mais representadas são as dos adolescentes dos 13 aos 15 anos (26%), seguidas dos pré-adolescentes de 11 e 12 anos (17%) (MTSS, 2000).

A faixa etária dos 6 aos 10 anos (cerca de 25%) e dos 0 aos 5 anos (6%) têm também um peso significativo, idades para os quais outras alternativas podiam ser equacionadas (por exemplo, a adopção, o acolhimento familiar ou o acolhimento temporário em CAT).

Salientamos também a elevada percentagem de jovens com 18 anos ou mais (13% do total), o que faz antever que para estes jovens ainda não foi encontrado o projecto de autonomização, que viabilize a sua saída do Lar (MTSS, 2000).

 Género

No que respeita ao género, verifica-se, nos LIJ, a maioria são raparigas (54,5%), embora sem grande distanciamento relativamente ao número de rapazes (45,5%) (MTSS, 2000).

 Nacionalidade e naturalidade

A grande maioria das crianças e jovens acolhidos nasceu em Portugal e tem nacionalidade portuguesa (PII, 2006) e mais de metade (58%) provém de meios urbanos (MTSS, 2000).

 Escolaridade

As crianças e jovens acolhidas em LIJ apresentam um índice de frequência escolar de 85%, ainda que prevaleçam baixos níveis de escolarização: a maioria detém o 1º Ciclo Completo (30%), seguida do 2º Ciclo (22%).

Dos que não frequentam a escola, ainda que se situem em idades escolares, 55.3% são raparigas e 46.7% são rapazes. No que respeita ao primeiro grupo, 49% das raparigas têm idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos e 30% têm mais de 18 anos. No que respeita aos rapazes não escolarizados, a tendência da distribuição pelos escalões etários mostra-se idêntica à das raparigas, em que 38% têm entre os 6 e os 10 anos de idade e 31% são jovens com mais de 18 anos (MTSS, 2000).

 Motivo do acolhimento institucional

No que respeita ao motivo do acolhimento em LIJ, as problemáticas mais preponderantes foram a negligência (20%), o alcoolismo (16,6%), o abandono (14%), o absentismo escolar (14,5%) e os maus-tratos físicos e psicológicos (10%). A carência económica da família (9%) surge também como um factor com importância significativa que conduz à institucionalização destas crianças e jovens (MTSS, 2000).

Cruzando-se os motivos de perigo com as problemáticas do agregado, existe, de uma forma geral, uma correspondência directa entre a negligência parental e a carência socioeconómica (CDSS, PII, 2006), o que reforça e salienta a grande desvantagem social visível na população institucionalizada.

 Caracterização sócio-familiar

De uma maneira geral, no que respeita ao agregado familiar das crianças e jovens prévio à institucionalizadas em LIJ, destacam-se as seguintes características:

• Famílias monoparentais (Gaspar, 2000), famílias em que vivem ambos os pais, e, com menos expressividade, famílias recompostas;

• Precariedade económica e fracas condições de habitabilidade (IDS, 2000) • Violência familiar (Gaspar, 2000);

• Agregados familiares com baixos níveis de habilitações (IDS, 2000); • Fratria institucionalizada (MTSS, 2000);

 Medidas tentadas antes do acolhimento institucional

Apesar do acolhimento em LIJ constituir uma medida de natureza prolongada, verifica-se, surpreendentemente, que em quase metade dos casos, não foi tentada qualquer medida prévia ao acolhimento, sendo o acolhimento institucional em Lar a

primeira estratégia de intervenção desenvolvida para solucionar a situação de perigo da criança ou do jovem (MTSS, 2000).

Saliente-se ainda, que no caso das crianças e jovem sujeitas a outras medidas previamente a esta institucionalização, estas passaram também muitas vezes por outras institucionalizações (7,8%) - o acolhimento familiar esteve presente em apenas (3,5%) (MTSS, 2000) - o que reforça o sentido da observação anterior.

1.4.2. Caracterização dos equipamentos

Existem actualmente, a nível nacional 230 Lares de Infância e Juventude (PII, 2007). Não obstante, cerca de metade das instituições de acolhimento (43%) encontra-se em situação de sobrelotação, acolhendo mais crianças do que a sua capacidade permite (idem, 2007).

As regiões Norte e Lisboa e Vale do Tejo são aquelas onde existe maior número de lares de crianças e jovens (33% e 31% do total nacional, respectivamente), seguidas da Região Centro (16% do total). Nos Açores e Alentejo existem cerca de 7% e 6% destas instituições e os restantes 6% de lares de crianças e jovens distribuem-se equitativamente pelas regiões da Madeira e do Algarve (MTSS, 2000).