• Nenhum resultado encontrado

A Reestruturação do Ensino Médio e Técnico e o Programa de Expansão,

2.2 O ENSINO MÉDIO E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO CENÁRIO DAS

2.2.1 A Reestruturação do Ensino Médio e Técnico e o Programa de Expansão,

Na análise de Sandri (2007) a idéia de reestruturação do Ensino Médio surgiu articulada ao Programa de Qualidade no Ensino Público do Paraná (PQE), em

41 Dentre outros instrumentos estratégicos, o governo Jaime Lerner criou a PARANATEC - Agência Paranaense de Desenvolvimento do Ensino Técnico e a PARANAEDUCAÇÃO - Serviço Social Autônomo. A criação da PARANATEC foi realizada solenemente no dia 28 de agosto de 1995, e contou com a presença do ministro da Educação Paulo Renato Souza, do governador do Estado Jaime Lerner, e representantes do SENAI- PR - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Estado do Paraná, SENAR-PR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Estado do Paraná, SENACPR Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Estado do Paraná, SEBRAEPR Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa no Estado do Paraná, do CEFETPR -Centro Federal de Educação Tecnológica no Estado do Paraná e do secretário de Estado da Educação do Paraná. A agência PARANAEDUCAÇÃO foi instituída através da Lei número 11.970, de 19 de dezembro de 1997, com caráter jurídico privado e estatuto de entidade para o Serviço Social Autônomo e vinculada, por cooperação, a SEED. A criação da PARANATEC fortalecia a estratégia, juntamente com a criação da PARANAEDUCAÇÃO, com o objetivo de gerar a chamada nova institucionalidade e buscava favorecer a capacidade organizacional da SEED - Secretaria de Estado da Educação do Paraná para gerar o caminho para um processo de privatização no setor (DEITOS, 2006, p.11).

1992. A partir disso, o Estado do Paraná passou a pleitear recursos externos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para efetivar um programa de reforma para o Ensino Médio.

As negociações para a implementação do PROEM iniciaram-se no primeiro mandato do Governo Requião, em 1992 e, após discussão no âmbito interno do governo, o projeto foi apresentado à Comissão de Financiamentos Externos (COFIEX) da Secretaria de Planejamento do Governo Federal, prevendo um investimento de 200 milhões de dólares. Somente em maio de 1993, o COFIEX autorizou o Estado do Paraná a buscar recursos financeiros internacionais para a viabilização do projeto.

De acordo com Valgas (2003, p.60) na primeira versão do documento, a justificativa para a implementação do Programa, com aporte de recursos internacionais visava:

a melhoria da qualidade do ensino de 2.o grau, com o desenvolvimento de ações na busca da qualidade do ensino, estruturação e modernização de cursos técnicos de nível médio, voltados para as atividades dos setores secundário e terciário, incentivo ao desenvolvimento da ciência e tecnologia e, ainda, a implementação de "Centros Avançados" de formação de professores para o ensino fundamental, Centros Regionais (Públicos) de Ensino Técnico e Centros de Ciência e Tecnologia.

Com a posse de Jaime Lerner como governador do Estado do Paraná, em 1995, novo sentido foi dado ao PROEM. O projeto de reformulação do Ensino Médio

"sofreu intervenções e assumiu um perfil que se distanciava das primeiras intenções que foram projetadas para Ensino Médio" (SANDRI, 2007, p.8). Na análise de Gonçalves et al. (2003, p.95) verifica-se

[...] que a proposta para o ensino médio paranaense, elaborada na Carta Consulta (versão preliminar), era bastante diferente e quase oposta ao Proem em sua versão de 1995. Visava-se, na primeira proposta, a ampliação e a melhoria da qualidade, ainda que sob a lógica da formação de técnicos de nível médio e ou de professores para a educação infantil e fundamental, em centros públicos.

Observa-se que a com a nova configuração política do governo estadual, a partir de 1995, novos rumos foram dados para o PROEM com base nas perspectivas

delineadas por agências internacionais e articuladas ao conjunto de ações institucionais e administrativas geradas a partir das proposições em curso da Reforma do Estado brasileiro consagrada no Governo Fernando Henrique Cardoso, 1995-2002.

Quanto aos recursos, o Programa contou com financiamento interno, ou seja, a contrapartida local, correspondente aos recursos do Estado do Paraná. Tal contrapartida foi na ordem de 122 milhões de dólares, e 100 milhões de dólares foram provenientes do financiamento externo junto ao BID, totalizando 222 milhões de dólares, tendo suas ações previstas para a implementação do programa no prazo de cinco anos em todo o estado. No entanto, as ações e o desembolso dos recursos somente foram concluídos no ano de 2004, já no governo de Roberto Requião42 (2003-2006), em virtude de problemas que ocorreram com o desenvolvimento do Programa, e que culminou com alterações contratuais firmadas com o BID, ainda no governo Jaime Lerner (DEITOS, 2006, p.4).

Resumidamente, ressalta-se que o montante de recursos foi dividido em três subprogramas, assim definido: para o subprograma "Melhoria da qualidade de ensino médio" – US$ 156,8 milhões; para o subprograma "Modernização da educação profissional" – US$ 34,7 milhões; para o subprograma "Fortalecimento da gestão do sistema educacional" – US$ 20,3 milhões; para "contingências e inspeção" – US$ 10,2 milhões.

A aprovação do PROEM se arrastou por um tempo, tanto a nível Federal como Estadual. Como o programa contava com recursos internacionais necessitava de aprovação do Senado Federal, o que ocorreu somente em 1998, no entanto, o Governo Jaime Lerner, a partir de 1996, já anunciava algumas versões do projeto de reestruturação do ensino médio e Técnico. A justificativa do governo para implementar o Programa era "aumentar a eficiência, eficácia e equidade do sistema estadual de

42 Quando o governo estadual, em 1992, no primeiro governo Roberto Requião, discutia a formulação do PQE - Projeto Qualidade no Ensino Público do Paraná já se discutia a proposição da reforma para o ensino médio e profissional que culminou com o PROEM, Cf. Nogueira et al. (2001); Silva (1999).

educação média, especificamente no que se refere à formação geral" (PARANÁ, 1996, p.14 apud SAPELLI, 2003, p.78).

É nesse contexto, no ano de 1996, que o PROEM foi anunciado como alternativa para tornar o Ensino Médio e a Educação Profissional mais "eficientes".

Assim, um dos critérios de eficiência proposto pelo Programa foi a separação entre Educação Profissional e Educação Geral no âmbito do Ensino Médio e a constituição da modalidade profissional nos chamados cursos "pós-médios" (SANDRI, 2007, p.1)

Na mesma direção, Ferretti (2000, p.82), afirma que o Programa interfere na estrutura do ensino técnico, pois

a proposta consiste em separar a educação geral da formação profissional, o que coincide com as propostas do banco, adotada pelo governo federal no Decreto 2208/97, cuja aprovação, aliás, constituiu condição imposta pelo BID para liberação de recursos da ordem de R$ 500 milhões, tendo em vista a reformulação do Ensino Técnico.

Considerando análises já construídas em relação ao PROEM (TAVARES, 1999; SILVA, 1999; BARROS, 1998; DEITOS, 2001; SANDRI, 2007) constata-se que o PROEM é resultado de um acordo entre o governo do Estado do Paraná e o BID, que foi o responsável pela maior parcela do financiamento necessário para a execução do programa, que tinha previsão inicial para durar cinco anos, a partir de 1998. No entanto, para a Secretaria de Estado de Educação na época, mesmo diante de todas as evidências do atrelamento da política de financiamentos, através de organismos internacionais e das críticas sofridas, esta, por sua vez sempre negou o atrelamento com os Organismos financeiros internacionais e, através de um informativo distribuído nas escolas da rede estadual justificou que:

Não há qualquer imposição ou diretriz da parte dos organismos financiadores.

O PROEM foi concebido no Paraná e discutido por técnicos de renome nacional e internacional e está sendo considerado modelo para os países da América Latina. É o primeiro projeto de Ensino Médio apoiado pelo BID (PARANÁ, 1996 apud SAPELLI, 2003).

Na análise de Bruel (2007, p.42-43) ressalta-se que o PROEM

foi previsto e sua implantação foi inaugurada antes mesmo da aprovação da LDB n.o 9.394/96 e do Decreto Federal n.o 2.208/97 ou o Decreto n.o 5.154/04 (que substituiu o anterior), que definem as diretrizes para o ensino médio e a formação profissional, em nível nacional. Assim, a reforma desconsidera o contraditório processo de elaboração da LDB e da regulamentação da educação profissional de nível médio, eivado de discordâncias, polêmicas e disputas entre concepções divergentes de educação. Embora o documento do PROEM afirme considerar os estudos e proposições elaboradas para a LDB, não assume claramente sua proximidade com a concepção de educação presente nas primeiras versões do projeto apresentado no Senado por Darcy Ribeiro, do qual tira a idéia de curso "pós-médio" – que não existe no texto da lei aprovada.

Observa, no entanto, que mesmo não contrariando os dispositivos estabelecidos pela LDB n.o 9.394/96, o Programa, está mais distante da LDB e mais próximo das diretrizes estabelecidas pelos organismos de financiamento internacionais. Pode-se afirmar, concordando com Bruel (2007, p.51) que

os princípios coincidentes entre a reforma do ensino médio no estado do Paraná e as definições presentes nos documentos do Banco Mundial (1991), no Planejamento Estratégico do MEC (1995-1998) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (1998) não são resultado de um simples processo de cumprimento de exigências, mas representam sobretudo a aceitação e concordância da administração pública local, em âmbito estadual, com os princípios defendidos por aqueles organismos.

Deste modo, verifica-se que no Paraná a partir das políticas educacionais promovidas com os recursos do PROEM vislumbrou-se, não somente a racionalização dos custos43 propôs também,

43 Na análise de Fank (2007) embora o discurso oficial indicasse que as ações visavam adequar o ensino médio, conforme o disposto na LDB n.o 9.394/96, promovendo a reestruturação curricular visando diminuir a fragmentação do conhecimento, de fato, o que se observa é em nome da redução da fragmentação do conhecimento, se observa a relevância da redução dos custos. Para a autora, este aspecto "economicista" pode ser exemplificado por projetos que visam "estudos independentes"

(PECs – Projeto de Enriquecimento Curricular, PIs – Projeto Interdisciplinares) cujo objetivo passa prioritariamente em complementar a carga horária no ensino médio – noturno em períodos fora do turno escolar sem mediação presencial e direta do docente (FANK, 2007, p.63).

ações voltadas para o que consideravam como o fortalecimento, modernização e desenvolvimento da gestão do sistema, e a capacitação de recursos humanos; reorganização regionalização da oferta; e redefinição de instituições de ensino médio e profissional (DEITOS, 2006, p.11).

Importante também ressaltar que o governo Lerner antecipou-se às idéias de reforma do ensino médio no âmbito federal, ao propor uma política educacional que objetivava atender às exigências das novas formas de organização social, do trabalho e dos avanços tecnológicos. Ao mesmo tempo, tais propostas indicam que,

os motivos financeiros e institucionais e as razões econômicas e ideológicas que sustentaram a política educacional paranaense para o ensino médio e profissional produziram um conjunto de alterações estruturais, funcionais, pedagógicas e culturais profundamente danosas para o desenvolvimento humano socialmente viável (DEITOS, 2006, p.16).

É neste contexto que as mudanças são introduzidas no sistema educacional brasileiro e, no sistema estadual de ensino paranaense, principalmente no que se refere à educação profissional, tendo o Estado do Paraná como um dos pioneiros na implantação das reformulações desta modalidade, antecipando, inclusive, a normatização da nova legislação educacional, a LDB n.o 9.394/96.