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5 O SOFRIMENTO DO TRABALHO NA SADIA S.A DE

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

2.3.3 A reestruturação produtiva no país

Como se teve um tempo histórico diferenciado dos países centrais, a indústria consolidou-se bem após a indústria destes. Assim, nosso papel na divisão internacional do trabalho, também foi determinado de forma diferenciada.

As colônias americanas, desde o ‘descobrimento’ sempre participaram do circuito mundial do sistema capitalista. Pois, foi a descoberta do novo mundo que permitiu aos países europeus implantarem definitivamente o novo sistema que surgia, em substituição ao feudalismo. Temos que as colônias da América sempre estiveram integradas ao mercado mundial, sendo que nos primeiros séculos de colonização exportaram para as metrópoles metais preciosos e gêneros exóticos, que permitiram o desenvolvimento do capital comercial e bancário deste continente, sustentando o sistema manufatureiro, que foi o caminho para a criação da grande indústria. Mas, embora tenha sido os metais preciosos da América um dos pilares para o desenvolvimento da grande indústria no velho mundo, esta mesma América não teve a sua industrialização no período em que esta ocorreu nos países europeus. Enquanto na Europa a grande indústria abria caminho, as colônias americanas estavam conseguindo sua independência ‘formal’ das metrópoles coloniais, com exceção dos Estados Unidos que rompe radicalmente com os laços de dependência econômica que o atavam à Inglaterra e segue um ritmo diferenciado dos demais países do continente.

E, embora integrados ao circuito do mercado mundial desde a colonização, os países latino-americanos somente têm a sua articulação plenamente realizada com a economia mundial a partir de 1840, com o surgimento da grande indústria e da divisão internacional do trabalho. O papel dos países latino-americanos, com esta divisão internacional do trabalho, não foi o de participar com produtos industrializados (não havia a base industrial), mas sim com gêneros alimentícios enviados às

metrópoles, para que as mesmas pudessem alimentar o proletariado nascente, barateando o custo da reprodução da força do trabalho.

Entra-se em definitivo no mercado internacional na metade do século XIX como exportadores de produtos alimentícios, e em épocas diferenciadas, os países da América latina passam à fase de industrialização. Como se dá a industrialização destes países? A princípio, a indústria segue sendo uma atividade subordinada à produção e à exportação de bens primários, sendo este o centro vital do processo de acumulação. Entre a primeira e segunda guerra mundial, quando há uma crise da economia capitalista mundial que obstaculiza a acumulação baseada na produção para o mercado externo, a acumulação se desloca para a indústria, o que dá origem à moderna economia industrial, ocorrendo esta mudança no Brasil com a era Vargas.

Na década de 1950 há uma nova divisão internacional do trabalho, com a economia dos países centrais saindo da crise do capitalismo ao final da segunda guerra mundial e agora emergindo Estados Unidos da América como o país de comando imperialista. Ocorre, por esta época, uma grande abundância de recursos nas mãos de grandes corporações imperialistas que necessitam buscar aplicação destes recursos no exterior. “O traço significativo do período é que esse fluxo de capital para a periferia orienta-se de maneira preferencial para a indústria.” (MARINI, 2000, p. 144).

Neste período, os países centrais, além da necessidade de buscar ampliação para aplicar seus recursos no exterior devido ao desenvolvimento do setor de bens de capital, passam a exportar para os países periféricos equipamentos e maquinaria que já eram obsoletos em seu parque industrial. Tem-se, assim, que nesta nova divisão internacional do trabalho, cabe aos países periféricos desenvolver as etapas inferiores da produção industrial, cabendo aos centros imperialistas as etapas mais avançadas. Na atual divisão internacional do trabalho, embora o capitalismo brasileiro, desde meados da década de 1950, tenha desenvolvido uma estrutura produtiva bi-fronte: de um lado voltado para a produção de bens de consumo duráveis, como automóveis, eletrodomésticos etc., para um mercado interno restrito e seletivo; por outro lado desenvolveu a produção para exportação, tanto de produtos agrícolas, quanto industrializados, continua-se com o trabalho dos países periféricos. Ou seja, com as etapas da execução do trabalho e não do planejamento do mesmo, este é dos países centrais.

Mas, para fazer frente à crise estrutural do capital da década de 1970, o Brasil também tinha necessidade de sua reestruturação

produtiva, e esta, começa a ocorrer de forma mais intensificada a partir da década de 1990.

Em Anotações sobre o capitalismo recente e a reestruturação produtiva no Brasil, Ricardo Antunes, demonstra as transformações ocorridas no capitalismo contemporâneo no Brasil, particularmente na década de 90. Segundo Antunes, ocorreram grandes mutações políticas, com o advento do receituário neoliberal, as desregulamentações nas mais distintas esferas sociopolíticas e as transformações no plano da organização da produção, redesenho da divisão internacional do trabalho, metamorfoses no mundo do trabalho e na organização sindical, reterritorialização da produção, dentre várias conseqüências (ANTUNES, 2004, p. 13-4).

Conforme Antunes foi durante os anos de 1980, que este padrão produtivo passou a sofrer as primeiras mutações organizacionais e tecnológicas, num ritmo inicialmente mais lento do que aquelas ocorridas nos países centrais. O Brasil se encontrava ainda bastante distante do processo de reestruturação produtiva do capital e do projeto neoliberal já em curso adiantado em países desenvolvidos, mas também já sofria os primeiros reflexos da nova divisão internacional do trabalho. “Sua singularidade, dada por um país de capitalismo hipertardio, passava, então, a ser afetada pelos novos traços universais do sistema global do capital, desenhando uma particularidade brasileira diferenciada” (ANTUNES, 2004, p. 16).

Nesta década ocorreram os primeiros impulsos de reestruturação produtiva no Brasil, levando várias empresas a adotarem, inicialmente de modo restrito, novos padrões organizacionais e tecnológicos, novas formas de organização social e sexual do trabalho. Introduziu-se a informação produtiva em vários ramos da produção, principiaram-se os usos do sistema just-in-time, da produção baseada em team work, nos programas de qualidade total. Iniciou-se também a introdução dos chamados métodos participativos buscando o envolvimento dos trabalhadores no ideário da empresas (ANTUNES, 2004, 16).

A liofilização organizacional27 também se iniciava, ainda que de modo incipiente, e seus determinantes foram caracterizados por este autor nas seguintes variáveis:

a) a necessidade de as empresas brasileiras buscarem sua inserção na competitividade internacional; b) as ações das empresas

27 Segundo o dicionário Aurélio, liofilização é: Processo de secagem e de eliminação de

transnacionais que levaram à adoção, por parte de suas subsidiárias no Brasil, de novos padrões tecnológicos e organizacionais, em alguma medida inspirados no ‘toyotismo’ e nas formas flexíveis de acumulação; c) a necessidade das empresas nacionais responderem ao avanço do novo sindicalismo, que procurava estruturar-se mais fortemente nos locais de trabalho e que teve forte traço de confrontação, desde as históricas greves do ABC paulista, no pós-78 (ANTUNES, 2004, p. 17).

A reestruturação produtiva da década de 1980 também foi marcada pela redução de custos através da diminuição da força de trabalho, do qual foram exemplos os setores automobilísticos e o de autopeças e, posteriormente, os setores bancário e têxtil, dentre outros. A busca de aumento da produtividade das empresas, se deu “através da reorganização da produção, redução do número de trabalhadores, intensificação da jornada de trabalho dos empregados, surgimento dos CCQs (Círculos de Controle de Qualidade) e dos sistemas de produção just-in-time e kanban, dentre os principais elementos” (ANTUNES, 2004, p. 17).

Na segunda metade da década de 1980, a economia brasileira teve uma recuperação parcial. Então, se ampliou as inovações tecnológicas pela introdução da automação industrial de base microeletrônica nos setores metal-mecânico, automobilístico, petroquímico e siderúrgico. Mas, é na década dos anos 1990 que a reestruturação produtiva se desenvolveu mais intensamente. Há então, a implantação de vários receituários oriundos da acumulação flexível e do toyotismo, cujas características referiu-se anteriormente. Intensifica-se a lean production, o sistema just-in-time, kanban, o processo de qualidade total, as formas de subcontratação e de terceirização da força de trabalho. Verifica-se também a relocalização territorial, com empresas se deslocando em busca de novos espaços geográficos, buscando força de trabalho mais barata. Como exemplo, podendo-se citar as várias fábricas do setor calçadista de Franca, no interior do Estado de São Paulo, ou na região do Vale dos Sinos, no Estado do Rio Grande do Sul, para Estados do nordeste, como Ceará e Bahia. No contexto da desregulamentação, tivemos ainda as mudanças no regime de proteção alfandegária introduzidas pelo presidente Collor de Mello, sendo reduzidas as tarifas de importação de veículos, ampliando-se a exposição da indústria à concorrência internacional. Nesta época para

justificar a abertura abrupta e radical da economia, o presidente Collor de Melo comparou os carros brasileiros a carroças.

Depois de um ensaio inicial significativo, estancado pela crise do impeachment do presidente Collor, em 1992, foi com o Plano Real, a partir de 1994, sob o governo do presidente Cardoso e uma pragmática que se adequava fortemente aos desígnios neoliberais, que se ampliaram “[...] os programas de qualidade total, o sistema just-in-time e kanban, bem como a introdução de ganhos salariais vinculados à lucratividade e à produtividade das empresas” (ANTUNES, 2004, p. 20).

Esse processo de reestruturação produtiva foi amplificado nas décadas de 1990 gerando alterações significativas na estrutura do mercado de trabalho no Brasil. Os estudos de Marcio Pochman (2000) citado por Antunes demonstram que se durante a década de 70 o Brasil chegou a possuir cerca de 20% do total de empregos na indústria de transformação, vinte anos depois esta decaiu para 13% do total da ocupação nacional. Paralelamente à retração dos empregos industriais, durante as décadas de 1970 e 1990, os serviços aumentaram em média 50% de sua participação relativa na estrutura ocupacional do país (POCHMAN, 2000 apud ANTUNES, 2004, p. 23-4).

Antunes conclui que a partir da década dos 1990 se intensificou a reestruturação produtiva no Brasil em conformidade com o neoliberalismo28, aqui implantado pelos presidentes Collor e Cardoso. Verificam-se no país traços de continuidade e descontinuidade em relação às fases anteriores marcadas pelo taylorismo/fordismo. Combinam-se processos de enorme enxugamento da força de trabalho, processos de flexibilização, desregulamentação e terceirização, novas formas de gestão da força de trabalho. Tudo isto indica que se o “fordismo” parece ainda dominante, ao olharmos para as plantas industriais e de serviços, vemos que ele se mescla com novos processos

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Conjunto de políticas governamentais direcionadas para a privatização de empresas públicas, desregulamentação dos direitos do trabalho, redução de direitos sociais, e ajustes fiscais rigorosos que significaram ampliação da transferência de recursos estatais para os capitalistas em detrimento dos trabalhadores. Para um balanço do neoliberalismo na América Latina ver: Sader, Emir; Gentili, Pablo (Orgs). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o

Estado democrático. São Paulo, Paz e Terra, 1996. Sobre a emergência do neoliberalismo na

Inglaterra ver Mészáros, István. O Poder da Ideologia, São Paulo, Boitempo, 1989, p. 14-6. Importante destacar que não é surpreendente a metamorfose do Partido Trabalhista Britânico deslocando-se para a direita, “Afinal, não se deve esquecer que as primeiras medidas

drásticas do monetarismo neoliberal na Grã-Bretanha foram impostas pela maior autoridade econômica do ‘Velho Trabalhismo’, Denis Healey, sob o regime esquerdista de faz-de-conta do primeiro ministro Harold Wilson, bem antes de o Partido Conservador Britânico conseguir abraçar inteiramente a forte liderança de direita de Margareth Thatcher” (MÉSZÁROS, 1989, p. 15).

produtivos, que é a conseqüência da liofilização organizacional, dos mecanismos de acumulação flexível e das práticas “toyotistas” assimiladas (parcialmente) pelos empresários nas últimas décadas (Antunes, 2004, p. 25).

E o Governo Lula (2003-2010) apenas seguiu o receituário dos governos que se inicia com Collor de Mello, isto é, continua-se com o regime de acumulação flexível; com o processo de trabalho toyotista, mesmo que numa forma imbricada com o processo anterior e, para fazer frente à crise do capital, instalada desde a década de 1970, este governo segue os receituários determinados pelos países centrais, sendo um representante legítimo da burguesia, embora tenha vindo da classe trabalhadora (ANTUNES, 2004, PETRAS, 2005).

Após ter-se analisado a reestruturação produtiva no Brasil, ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, iniciamos na próxima seção a análise da situação do município de Chapecó, onde está instalada a agroindústria que é o objeto deste trabalho.

2.4 A SITUAÇÃO SÓCIO ECONÔMICO DE CHAPECÓ QUANDO

DA IMPLANTAÇÃO DO FRIGORÍFICO EM DISCUSSÃO

Chapecó tem aproximadamente, hoje, 190 mil habitantes e se localiza numa região essencialmente agrícola do Estado de Santa Catarina, sendo considerada um pólo regional por sua importância econômica e por abranger diferentes atividades relacionadas às demandas das demais cidades da região Oeste (ALBA, 2001, p. 301). A cidade é dinamizada economicamente pelas agroindústrias que são consideradas o principal agente econômico de desenvolvimento do município e de boa parte das cidades da região Oeste de Santa Catarina. Segundo Alba, a análise da cidade deve ser feita no contexto da modernização agrícola desenvolvida no Brasil após a década de 50; nas ações do Estado como fomentador das políticas de modernização capitalista e na recente reestruturação produtiva adotada em função da crescente globalização do capital (ALBA, 2001, p. 302).

É por certo que todo o desenvolvimento capitalista da região, principalmente após a década de 1950, deve levar em consideração a influencia das agroindústrias, tanto a redefinição do espaço urbano, como no espaço rural. Ou seja, a cidade é organizada em função do capital, fortalecendo a questão de que é o capital quem organiza a vida societária.

Na ótica da expansão capitalista, o início da história de Chapecó é parte de um projeto de colonização feito pelo governo estadual, chefiado por Felipe Schmidt (1914-1918), para ocupar todo o Oeste de Santa Catarina, considerado pelas autoridades da época um vazio demográfico. Segundo Alba:

O então governo do Estado de Santa Catarina, após o término dos conflitos entre Paraná e Santa Catarina e também entre o Brasil e a Argentina pela posse das terras pertencentes ao atual Oeste de Santa Catarina, criou o município de Chapecó, através da lei n. 1.147 de 25 de agosto de 1917, juntamente com mais 3 municípios (Mafra, Porto União e Cruzeiro, hoje Joaçaba) (BELANI, 1989). O território de Chapecó ficou, na época, com uma área de aproximadamente 14.000 mil Km2, sendo hoje boa parte da região pertencente ao atual Oeste de Santa Catarina. (ALBA, 2001, p. 304). Em face dos conflitos para definição desses territórios, houve pouca presença do Estado até os anos 40 na construção da infra- estrutura. Nesta época os meios de transportes eram lentos, as estradas eram precárias, o comércio e o acesso aos hospitais também. Assim, as empresas colonizadoras tiveram papel destacado para efetuar a colonização do município através da abertura de estradas, venda de terras, organização dos povoados e vilas, que tinha pouca participação do Estado. A colonização efetuou-se conjugando o interesse das empresas colonizadoras que vendiam as terras; o interesse do Estado em ocupar o vazio demográfico; e dos colonos que adquiriam suas pequenas propriedades. A construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul, passando pela região do Rio do Peixe, impulsionou a colonização da região, facilitando o escoamento da produção agrícola e o transporte de pessoas para outros estados (ALBA, 2001, p. 304).

O confronto da disputa pelo poder político local se deu inicialmente entre os antigos grupos extrativistas florestais (madeireiros e ervateiros) e os novos grupos representados pelas empresas colonizadoras, sendo que a partir da década de 30 diminuiu o “mandonismo local”, e a política comandada pela atividade colonizadora alinhada com os interesses estaduais e federais foi conquistando espaço. Assim, os personagens ligados ao comércio local começaram a se destacar na cena política da região, como é o caso de Atílio Fontana, em Concórdia; Plínio Arlindo de Nês, de Chapecó; e Saul Brandalise, de Videira, que conseguiram postos políticos a nível

estadual e federal barganhando melhorias na infra-estrutura da região que beneficiavam diretamente seus negócios.

A colonização da região, feita em tempo de capitalismo, introduziu as novas relações de produção deste sistema produtivo. Os índios e caboclos que habitavam a região com técnicas de produção consideradas primitivas, nada mais tinham a oferecer, sendo expulsos de suas terras a força ou gradativamente eliminados. Os agricultores (migrantes do Rio Grande do Sul) adaptaram-se às normas do capital: regularização da propriedade privada, compra e venda de terra, produção de subsistência com venda do excedente para o comércio local e posteriormente para outros Estados intermediada por comerciantes. As relações capitalistas levaram à acumulação de capital pelos comerciantes que em seguida transformaram seu capital comercial em capital industrial, dando origem aos frigoríficos da região que aos poucos vão se concentrando nas mãos de alguns, sendo que na década de 70 existiam 23 frigoríficos na região e na década de 80 restavam apenas sete grandes frigoríficos, incluindo-se as cooperativas (ALBA, 2001, p. 305-6). E, nesta primeira década do século XXI temos menos de dez frigoríficos, aí incluídos: o Grupo Seara, Sadia, hoje em fusão com a Perdigão, e a Cooperativa Central Oeste Catarinense, que, como cooperativa faz parte da Cooperativa regional Alfa Ltda.

As empresas agroindustriais da região Oeste tiveram origem na própria região a partir de descendentes de colonos que migraram do Rio Grande do Sul, encontrando-se em Chapecó três grandes frigoríficos com forte presença nacional e internacional: Sadia (frigorífico de aves), Chapecó (frigorífico de suínos), Aurora (frigorífico de suínos). Sendo que a Chapecó Alimentos S.A. foi construída na década de 1950, pelo então representante da política local e estadual, Plínio Arlindo de Nez. Já a Sadia em nossa cidade é construída na década de 1970, e a Cooperativa Central Oeste Catarinense Ltda, também na década de 1970, sendo derivada de outra cooperativa a Cooperativa regional Alfa, que tinha com um dos seus ‘grandes chefes’ Auri Bodanese. Há ainda a Ceval, recentemente adquirida pela Bunge, e a Cooperativa Alfa que atuam no ramo de cereais. Estas agroindústrias, através de seus representantes, mandaram/mandam na política local, quase que de forma intermitente. E, as demais indústrias da região, mecânicas, siderurgias, vivem e crescem em função das mesmas. O mesmo ocorre com o comércio local e da região. O desenvolvimento do capitalismo local, após a década de 1950, dá-se umbilicalmente ligado a estas

desenvolvimento do capitalismo nacional, dependendo deste, e este dependente do capitalismo internacional.

Chapecó é um espaço geográfico que se transforma na medida em que o modo de produção capitalista e as agroindústrias se desenvolvem na região. Neste processo de transformação se observam de acordo com Testa (1996) duas fases:

1 - Primeira fase: foi marcada pela relativa convergência de interesses do setor agroindustrial com os produtores familiares. A incorporação de novos produtores de suínos, até o início dos anos 80, deu-se com o objetivo de alcançar e conquistar novos mercados (nacionais e externos) para a carne suína e seus derivados. Os pequenos produtores tinham condições de manter sua produção comercial diversificada, atendendo ao mesmo tempo a demanda da agroindústria. 2- Segunda fase: intensificação da integração formal dos produtores familiares de suínos, através das exigências de mudanças nas formas de produção e comercialização de suínos (ALBA, 2001, p. 311). Conforme Alba, esta segunda fase é fortemente marcada pela reestruturação interna das empresas agroindustriais e da produção da matéria prima através de técnicas planejadas de modo estratégico. Esse processo é acompanhado com o aumento da industrialização de novos produtos com maior valor agregado, como foi no caso dos embutidos, cortes especiais e temperados, sendo que 75% da carne suína é industrializada (ALBA, 2001, p. 311).

A avicultura implantada nos anos 70 não demarcou uma ruptura com algum modelo de produção anterior, pois se iniciou com um modelo pronto de produção que foi tendo melhorias tecnológicas ao longo do tempo, como a recente automação dos aviários. A seguir, quando forem analisados os processos de organização do trabalho, ver- se-á em detalhes como ocorreu/ocorre a reestruturação produtiva nas agroindústrias de Chapecó, e em particular, na Sadia.

Em síntese é importante frisar que, após a instalação dos primeiros frigoríficos em nossa região: Chapecó, Concórdia e Videira, o capitalismo regional, umbilicalmente estruturado ao capitalismo nacional, passa a ditar a vida da região oeste deste Estado. E, se no início da implantação do frigorífico Sadia em Chapecó, o maior