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O papel fundamental do Estado no desenvolvimento capitalista

5 O SOFRIMENTO DO TRABALHO NA SADIA S.A DE

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

2.3.1 O papel fundamental do Estado no desenvolvimento capitalista

modo de produção, é que se poderá entender como o dono deste império usou de suas relações com o Estado brasileiro para a construção desta empresa.

2.3.1 O papel fundamental do Estado no desenvolvimento capitalista

Segundo o eminente sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (1980, p. 62-3):

[...] a história é feita coletivamente pelos homens e sob o capitalismo, através de conflitos de classe de alcance local, regional, nacional e mundial. Daí dois fatos: 1o. não se pode isolar os fenômenos de estrutura dos fenômenos de conjuntura; 2o. os modos de produção, com as formações sociais e políticas correspondentes não são eternos (como gostariam as classes dominantes e suas elites que eles fossem).

Aqui se tem como premissa que, na realidade social do século 21, o Estado moderno nos países capitalistas continua sendo o instrumento das classes dominantes para viabilizar o desenvolvimento empresarial e a conseqüente exploração do trabalho assalariado pelo capital.

Lênin, quando discute a questão do Estado, diz que esta é uma das mais complexas, mais difíceis e mais embrulhadas pelos eruditos,

escritores e filósofos burgueses, porque ela afeta os interesses das classes dominantes mais do que qualquer outra questão21. A teoria do Estado representativo moderno serve para justificar os privilégios sociais, a exploração e a existência do capitalismo. Por isso, seria o maior dos erros esperar imparcialidade nesta questão, como se pudesse aplicar ao Estado os pontos de vista de uma ciência pura.

Então, Lênin (1980, p. 178) adverte que:

Na questão do Estado, na doutrina do Estado, na teoria do Estado, vereis sempre, quando vos familiarizardes com a questão e a tiverdes aprofundado suficientemente, vereis sempre a luta das diferentes classes entre si, luta que se reflete ou encontra a sua expressão na luta de concepções sobre o Estado, na apreciação do papel e da importância do Estado.

Abordando a história do desenvolvimento do Estado em seu conjunto, Lênin prossegue dizendo que: “Nesta questão devemos, antes de qualquer coisa, prestar atenção ao fato de que o Estado nem sempre existiu. Houve um tempo em que o Estado não existia. Ele aparece onde e quando surge a divisão da sociedade em classes, quando aparecem exploradores e explorados” (LÊNIN, 1980, p. 178).

Tem-se que o Estado surgiu onde apareceu a divisão da sociedade em classes, onde uma parte da sociedade se apropria dos meios de produção, explorando a outra parte pelo seu domínio, seja pela escravidão, pela servidão ou pelo trabalho assalariado. Desta forma e de acordo com as relações de produção estabelecidas em cada modo de produção na história da humanidade, tem-se: o Estado escravista, o Estado feudal, o Estado capitalista, ou o Estado socialista.

Na época histórica do capitalismo, os proprietários do capital exploram todo o povo no processo de produção. Toda a massa dos trabalhadores, cuja maioria é composta pelos proletários, os operários assalariados, os quais no processo da produção obtêm os meios para viver da venda da sua força de trabalho, são submetidos à exploração capitalista que é fundamentada nas leis do Estado burguês. A maioria dos camponeses é transformada em operários assalariados ao serem

21 Esta parte da exposição está fundamentada na conferência de Lênin Sobre o Estado, na

Universidade Sverdlov, em 11 de julho de 1919, in Obras escolhidas. Editora Alfa Omega, (São Paulo, 1980, v.3, p. 176-89). As teses de Lênin estão fundamentadas teoricamente no livro O Estado e a Revolução que escreveu às vésperas da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia. Suas reflexões se baseiam fundamentalmente na obra de Friedrich Engels, A

expulsos do campo pelo processo de produção capitalista e uma minoria é transformada em camponeses remediados (LÊNIN, 1980, p. 181).

Em essência, diz Lênin, a característica do Estado é a exploração das classes oprimidas:

O Estado é uma máquina para a opressão de uma classe por outra, uma máquina para manter submetida a uma só classe outras classes subordinadas. A forma desta máquina pode variar. No Estado escravista temos a monarquia, a república aristocrática, ou mesmo a república democrática. Na realidade, as formas de governo eram extraordinariamente variadas, mas a essência continuava a ser sempre a mesma: os escravos não tinham quaisquer direitos e continuavam a ser uma classe oprimida, não eram reconhecidas como pessoas. Vemos a mesma coisa também no Estado feudal (LÊNIN, 1980, p. 183).

Portanto, para Lênin o Estado se reduz precisamente a esse aparelho destacado da sociedade humana. “É quando aparece esse grupo especial de homens cuja única ocupação é governar e que, para governar necessita de um aparelho especial de coação, de submissão da vontade alheia pela violência – prisões, destacamentos especiais de homens, exército, etc., aparece o Estado” (LÊNIN, 1980, p. 179).

Marx e Engels, antecessores de Lênin e nos quais este grande revolucionário se apoiou para o estudo de suas teorias, já no Manifesto Comunista demonstravam que na constituição do modo de produção capitalista, houve várias etapas da evolução da burguesia até que ela conseguisse se transformar na classe dominante, e ao se transformar na classe dominante, obter o controle do Estado burguês para os fins da reprodução do sistema capitalista, ou seja, dos seus interesses de classe:

Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna, aqui, república urbana independente, ali, terceiro estado tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania

política exclusiva no Estado representativo moderno. O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa. (MARX; ENGELS, 1983, p. 367).

Mais recentemente, o cientista político James Petras chama a atenção para a centralidade do Estado em oposição aos teóricos da globalização que sustentam o fim da importância do Estado-Nação. Ele explica que o aspecto teórico fundamental é que a atual configuração de poder na economia mundial não está baseada em uma ausência de Estados ou no poder das empresas multinacionais, mas em empresas multinacionais que colaboram intimamente com seus Estados imperialistas. Isto é, o estado burguês continua a existir e a representar o interesse dos capitalistas.

Tais como temos argumentado, o Estado retêm potencialmente grandes recursos, capacidade e uma posição estratégica entre os produtores e a economia mundial. A questão, pois, refere-se não tanto à globalização da luta, mas à transformação da natureza do Estado, reconfigurando sua relação com as EM (Empresas Multinacionais) e as CCT (Classes Capitalistas Transnacionais): isso significa que a luta de classes, dentro da nação, pelo poder do Estado é essencial no que diz respeito a garantir os recursos econômicos – centros de pesquisa tecnológica, meios de produção, terra – para redistribuir riqueza e restabelecer os mercados nacionais. As múltiplas e profundas atividades que os Estados imperialistas e recolonizados realizam para a EM e CCT indicam que aí existem recursos, poder e atividade que podem transformar e melhorar a vida dos trabalhadores desde que o Estado seja revolucionado. A ideologia da redução ou desaparecimento do Estado é uma manobra de desorientação imperialista destinada a desviar os movimentos populares para as instituições secundárias, que recebem seu poder diretamente do Estado. (PETRAS, 2002, p. 170).

Ao ter-se, como explanação introdutória, qual é o papel fundamental do Estado no modo de produção capitalista, passa-se a verificar como se deu o desenvolvimento capitalista em nosso país no que se refere, mais precisamente, à questão da industrialização.

2.3.2 O desenvolvimento do capitalismo no Brasil e nossa