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A reforma da década de 1990 e as diretrizes para educação profissional

3 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO E SUAS POLÍTICAS

3.3 A reforma da década de 1990 e as diretrizes para educação profissional

Nas últimas décadas do século XX, a educação brasileira passa a seguir mais estreitamente as definições dos organismos internacionais, que, por sua vez, defendem o ensino básico como o principal instrumento para sustentação econômica do país em detrimento da educação superior, avaliada como elitista e dispendiosa, enquanto que aquele nível educativo é visto como necessário para garantir a equidade entre as pessoas. Nesse sentido, o subsistema tecnológico é incentivado como alternativa de acesso à universidade, pois, segundo seus guardiões, proporcionaria a propalada inclusão social, o acesso rápido ao emprego, entre outras exigências mercadológicas.68

O atual governo, quase quatro décadas depois da reforma da ditadura do regime civil militar, reedita o discurso de reforma universitária, que a nosso ver, trata-se, na verdade, de uma contra-reforma universitária69. Vale lembrar que a ditadura operou sua reforma também amparada em organismos internacionais, particularmente nos chamados Acordo de Cooperação firmado entre o Ministério da Educação e Cultura do Brasil e a United States Agency for International Development dos Estados Unidos ou, Acordo MEC-USAID, como passou a ser conhecido e que tal reforma aprofundou, como pensa Ouriques, a dependência e o subdesenvolvimento. De acordo com esse autor, a atual “reforma” anunciada no país não passa de um “ordenamento do setor privado” que domina a educação superior brasileira e um circunstancial aumento dos

68 O ESNU, desse mesmo modo, também é apresentado como possibilidade de proporcionar o chamado desenvolvimento regional ou desenvolvimento regional sustentável.

69 Para esta investigação, como vai ficar claro no decorrer da exposição, a contra-reforma universitária já está em curso e a passos largos, pois está se dando por dentro das instituições. Os exemplos que nos provam essa tese são muitos. Por enquanto basta aludir sobre a convivência pacífica das fundações privadas dentro das universidades públicas e a enorme quantidade de cursos de especialização e de mestrados profissionais privados no interior dessas instituições.

recursos para custeio e, sempre que possível, de investimento (2005, p. 177, aspas do original).

Resgatando Florestan Fernandes (1975) destacamos as suas considerações ao analisar os desdobramentos da reforma universitária abafada pela ditadura civil militar, através, principalmente da Lei nº 5.540/68. Suas constatações continuam atuais e nos auxiliam no entendimento da atual proposta de reforma. Ele demonstra como a universidade se tornou, a partir de um processo histórico, conivente com a situação de subdesenvolvimento, contribuindo dialeticamente com a manutenção dele, que, pelo quadro do ensino superior engessado, corrobora com a dependência cultural e tecnológica aos países de capitalismo central.

Nas palavras de Florestan, podemos identificar como funciona a dialética de nosso (sub)desenvolvimento.

Existem, frente a frente, duas dialéticas de desenvolvimento. As chamadas nações hegemônicas alteram suas técnicas de organização e de dominação sob um ritmo histórico ultra-acelerado. Em conseqüência, elas tomam a dianteira tecnológica e se adaptam flexivelmente às transformações, impondo-lhes continuamente novas condições externas de dependência econômica e cultural. Por sua vez, as chamadas sociedades capitalistas subdesenvolvidas revelam crescente dificuldade até para acompanhar esse processo. Lutam contra as relações de dependência e subdesenvolvimento em tais níveis de espoliação econômica e de atraso sociocultural que quando logram êxito palpáveis, eles perdem qualquer sentido prático (1975, p. 113- 4).

A análise da reforma do ensino superior já em curso, toma como cenário a crise estrutural do capital, porém faz-se necessário alertar para a diferença categórica entre os conceitos de reforma e contra-reforma. Historicamente, o primeiro conceito carrega o otimismo de melhorar o que se tem; onde se busca um resultado final melhorado da realidade atual. No contexto de crise do capitalismo contemporâneo, com as reformas ufanistas postas a cabo pelos teóricos impressionistas do neoliberalismo, ocorre a inversão, ou seja, a reforma tira direitos antes conquistados pelas classes trabalhadoras. Nessa direção, quando nos referimos a reforma universitária ora posta em prática, estamos conceituando como sendo de “contra-reforma”, pois significa mudanças que não atende aos interesses da classe trabalhadora, mas ao grande capital em crise.

Como nos lembra Boron,

a palavra reforma, que na tradição do pensamento político ocidental tinha sempre um senso progressista, que apontava para uma maior igualdade e potencialmente para um conteúdo democrático, foi ressignificada e hoje reforma é o que o Banco Mundial diz que é. Hoje reforma é privatizar a saúde

no Brasil, reforma é privatizar a Educação Superior no Brasil, reforma é privatizar o sistema de previdência no Brasil. Isso, dizem os arqueiros do neoliberalismo que é reforma, quando, na verdade, isto é conta-reforma. Entretanto, impuseram a linguagem” (BORON, 2002, p. 2, itálicos do original).

Sobre essa ressignificação, as reflexões de Netto e Braz são bastante ilustrativas:

Essa ideologia legitima precisamente o projeto do capital monopolista de romper com as restrições sociopolíticas que limitam a sua liberdade de movimento. Seu primeiro alvo foi constituído pela intervenção do Estado na economia: o Estado foi demonizado pelos neoliberais e apresentado como um trambolho anacrônico que deveria ser reformado – e, pela primeira vez na história do capitalismo, a palavra reforma perdeu seu sentido tradicional de conjunto de mudanças para ampliar direitos; a partir dos anos oitenta do século XX, sob o rótulo de reforma(s) o que vem sendo conduzido pelo grande capital é um gigantesco processo de contra-reforma(s), destinado à supressão ou redução de direitos e garantias sociais (2007, p. 227, negritos e itálicos do original).

Isso posto, nossa tarefa agora será compreender a contra-reforma do Estado brasileiro, pois tal reformulação, segundo seus próprios proponentes, tinha como objetivo principal adequar o Brasil às transformações econômicas e tecnológicas que o mundo dito globalizado estava a sentir. A pretensão, portanto, de nossa exposição, daqui para frente, é entender qual a relação entre essas duas contra-reformas: a do Estado e a da universidade.

Dados os elementos analisados, ousamos apontar que ambas as reformas são mecanismos para possibilitar ao capital em crise crônica elementos de sobrevida para a acumulação do lucro. Dito de outro modo, com o capitalismo a agonizar, os seus ideólogos e defensores elaboram novas formas de perpetuação de sua inexorável lógica: garantir para a burguesia o lucro excedente produzido pela mais valia dos trabalhadores.

As contra-reformas aparecem como instrumentos necessários a essa perpetuação. Com o aumento da tecno-ciência convertendo trabalho vivo em trabalho morto e com as taxas de lucro dos burgueses comprometidas, o capital volta seu canhão contra todos os espaços públicos que ainda restam no planeta. Assim, a educação, a saúde, o fornecimento de água potável, entre outros serviços que ainda permanecem públicos em alguns países de capitalismo periférico, são alinhados como mais uma commoditie passando a fazer parte das bolsas de valores de Wall Street e suas congêneres espalhadas mundo a fora.

Para quebrar a resistência das bases populares, eis que surgem brilhando no centro do arco-íris pós-moderno as políticas focalistas e contingenciais. Mas, para que tais políticas soem como um caminho inevitável, o Estado é obrigado a intervir de forma a garantir a reordenação à nova ordem mundial. Para os ideólogos neoliberais, a sustentabilidade do capital estaria comprometida caso a economia continuasse sendo gerida com a intervenção direta do Estado. Daí, a partir da década de 1970, o mercado volta a regular a economia. Quando olhamos, entretanto, para além do ideário liberal, percebemos que o Estado se comporta de forma a proteger o capital privado, tanto é que no final do ano de 2008, dada a crise financeira do capital, o Estado voltou a intervir pesadamente na economia privada. Desse modo, é prognosticada uma série de reformas nos países de capitalismo dependente, com o objetivo unívoco de camuflar e obscurecer essa proteção. Assim, como escreve Roberto Leher, as reformas regressivas, privatistas, anti-republicanas e que beneficiam os ricos, são apresentadas aos de baixo como uma vitória da justiça frente aos privilégios (2003, p. 8).

A divisão social do trabalho no estágio de desenvolvimento do capitalismo internacional dito globalizado, que se encontra em crise crônica, mas que não conhece outra lógica que não buscar reverter a tendência decrescente das taxas de lucro, renova- se, desta vez, em feição neoliberal, prescrevendo para o Brasil, como para os demais países de economia periférica, várias reformas, entre elas, a de seu sistema educacional, procurando reordená-la a assumir papel central na nova ordem:

A conclusão de que os países periféricos devem importar os modelos dos países do Norte é crucial para o futuro do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços da OMC. Os países do Norte exportarão conhecimento escolar, como ocorre hoje com as patentes! Essa ofensiva, presente também na agenda do ALCA, tem como meta edificar um mercado educacional ultramar, sacramentando a heteronomia cultural. Mas o pré-requisito é converter, no plano do imaginário social, a educação da esfera do direito para a esfera do mercado, por isso o uso de um léxico empresarial: excelência, eficiência, gestão por objetivos, clientes e usuários, empreendedorismo, produtividade, profissionalização por competências, etc (LEHER, 2003, p. 8).

A atualização do discurso reformista processada por Lula da Silva e seus protetores para a universidade, portanto, nada mais é como, enxerga Sousa (2005, p. 191), do que a retomada da diretriz principal inaugurada pela ditadura civil militar, mas sob outras feições, [mas também] como uma anti-reforma.

Ainda com base em Florestan Fernandes, adiantamos que a universidade apta para o desenvolvimento não foi nem podia ser herdada dos modelos institucionais que vem do passado (1975, p. 109), sobretudo, quando a política pública proposta no

passado, bem como a defendida no presente, tem como pretensão a privatização do público. Privatizar o público como caminho para o desenvolvimento, usando a universidade como uma das estratégias, é uma das coincidências entre a atual proposta e a ocorrida nos marcos da ditadura.

As idéias burocráticas e tecnocráticas que vigoravam na ditadura estimulavam a privatização, alimentando o padrão de desenvolvimento dependente adequado aos interesses dos Estados Unidos e gerenciados por organismos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), o BM, o FMI, o BID, além dos já citados, acordos MEC-USAID. Se as análises de Florestan Fernandes estiverem corretas, como acreditamos, o que está em jogo, na proposta em vigor do sistema de educação superior é a adequação e perpetuação das condições para o desenvolvimento dependente, atrelado à aceitação de assistência externa e colaboração técnico-financeira.

Parece claro que tanto os modelos velho e novo comungam do desenvolvimento brasileiro com dependência externa, pois como partilham das orientações da força centrífuga da capital transnacional internacional, pretendem adaptar a universidade ou o que se produz nela, progressivamente, ao crescimento acelerado requerido pelo novo padrão de articulação dependente às sociedades hegemônicas70 (idem, p. 120, os negritos são nossos).

É nesse preciso ponto que a universidade, como demonstrado com muito rigor por Florestan Fernandes, precisa agir para garantir o inter-travamento71 da relação de dependência, ou seja, com o ensino superior engessado ao mercado, que prioritariamente é determinado econômica, científica e tecnologicamente pelos países de capitalismo central – por isso o apoio à reforma da universidade pelos organismos internacionais, sobretudo, o BM – será impossível ao Brasil, como a qualquer outro país periférico, reverter a situação de dependência e atrelamento das políticas sociais à situação econômica de estabilidade e sustentabilidade. Além disso, a educação, como argumenta Espíndola, é um dos últimos setores dos serviços públicos que o grande capital tem para devorar. É um setor de forte financiamento público e que cresceu muito rapidamente no último meio século (2005, p. 214, aspas do original). A reforma

70 Interessante registrar, como mais uma das coincidências entre o atual governo e a ditadura civil militar, que o documento definido como de maior importância para o segundo mandato de Lula da Silva (2007- 2010), chama-se justamente Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

71 Expressão utilizada pelas engenharias, sobretudo mecânica, elétrica e eletrônica, para destacar diapositivo de segurança pelo qual se espera que determinada operação não fracasse.

universitária, portanto, importa sobremaneira as necessidades do capitalismo doente. Pois,

A produção do conhecimento se desloca e se faz cada vez mais no interior do grande capital ou em universidades direta ou indiretamente dependentes dele, associadas com ele, financiadas por ele, fustigadas por ele. Significa dizer que a produção de conhecimento pela humanidade é cada vez mais privatizada em objetivos, produção, processo, organização, distribuição, consumo, e resultados (lucros). Seus efeitos negativos são sempre (como sempre) socializados. É a famosa socialização das perdas. Com certeza, há muitos efeitos benéficos, mas são apropriados desigualmente e com aprofundamento da desigualdade. E é assim entre países ricos e pobres, entre regiões e, dentro delas, entre classes sociais (ESPÍNDOLA, 2005, p. 211). A partir do final da década de 1960, início dos anos de 1970, o capitalismo passa a degustar de seu mais amargo resultado. Como clareado por Mészáros (2000, 2002, 2003, 2005), Hobsbawm (2001), entre outros autores, a crise crônica que passa a afetar o capital não se restringe mais apenas aos países dependentes; as nações de capitalismo central passam a acumular altos níveis de desemprego, desesperadores índices de violência, desordenamento urbano, diversos e cruéis ataques ao meio ambiente, entre vários outros problemas vistos no cotidiano. O esgotamento do padrão de acumulação baseado nas ferramentas fornecidas por Ford e por Taylor, começa a ser sentido com as taxas de lucro do capital a despencar. É o início de uma crise jamais vista na história do capitalismo; seu caráter agora é especialmente agudo e destrutivo, como já registramos, diferencia-se das demais crises cíclicas do passado (MÉSZÁROS, 2002).

A receita para corrigir tais problemas, acreditam os defensores da ordem, é a reordenação das relações entre Estado e mercado. O Estado de Bem-estar Social passa a ser acusado de desatualizado; o binômio da produção industrial taylorista/fordista é considerado démodé; Lord Keynes ultrapassado. A nova ordem globalizada, neoliberal e pós-moderna se levanta com a pompa de ter a solução para os problemas da humanidade, mas para que isso ocorra é preciso que o Estado pare de atrapalhar, pois não há mais lugar para políticas públicas universalistas e o Estado Providência é mera peça de museu.

A miopia idealista burguesa da maioria dos analistas econômicos do mundo, uns por pura falta de compreensão da realidade e outros por duvidoso perfil de caráter, não consegue enxergar que o capital é incorrigível e, por conseguinte, as crises cíclicas apenas servem para lhe proporcionar novas estratégias de sobrevivência. Portanto, as reformas dos Estados periféricos, particularmente, dos países da América Latina e,

mormente, a do Brasil, servem, quando muito, para expor seu próprio limite e impotência de reverter a situação de exploração em que a humanidade está a conviver.

E, assim, passamos a presenciar uma ofensiva cada vez maior de ataque do imperialismo, desta feita, representado por seus guardiões (as organizações internacionais), sobre os históricos direitos sociais duramente conquistados pela classe trabalhadora. A educação, destacadamente a superior, em meio a outros setores como saúde e previdência, passa a ser a presa predileta da política de desmonte do setor público.

A adesão à política de Estado mínimo, com a proposta de reforma do Estado pelo governo brasileiro é inaugurada efetivamente na década de 1990 com o mandato presidencial interrompido de Collor de Mello (1989-1992),72 que opta por aderir incondicionalmente às diretrizes da reunião conhecida como Consenso de Washington. Essa política consolida-se e toma corpo nos dois mandatos seguidos de Fernando Cardoso (1995-2002), e vem se aprofundando nas duas administrações também consecutivas de Lula da Silva (2003-2010).

O Consenso de Washington (1989) apresentou como solução para a crise que enfrentavam as denominadas economias em desenvolvimento, em linhas gerais, a ampliação de incentivos à iniciativa privada, na tentativa de enxugar os gastos do Estado, eximindo-o, cada vez mais, de suas responsabilidades sociais. Tais diretrizes, passam a ser impostas como condição para que as agências internacionais concedam créditos aos países latino-americanos. Dito de outro modo, esses países são coagidos e chantageados por tais organismos (no caso da educação, o BM é seu representante maior) a fazerem um ajuste interno de ordem estrutural capaz de viabilizar o pagamento dos ignominiosos juros e serviços da dívida, em favor do capital rentista.

Ao assinar um acordo com o FMI, o país "flexibiliza" a sua soberania, chegando, até mesmo, a mudar os seus textos constitucionais para atender "as condicionalidades” inscritas nesses acordos, como fizeram a Argentina, o Brasil e o México, tristes exemplos dessa situação. Em continuidade, os acordos reduzem as políticas sociais a ponto de, no limite, restringir os direitos sociais à manutenção vegetativa da vida dos miseráveis (campanhas contra a fome) e, para assegurar a governabilidade, sustentam medidas focalizadas capazes de aliviar a pobreza para assegurar o controle social, atualmente uma das maiores preocupações do Banco Mundial, em virtude da devastação social, e do conseqüente aumento na tensão social, provocado pelas políticas neoliberais (LEHER, 2003, p. 2, aspas do original).

72 Como já registramos neste texto, o neoliberalismo tem seu início ainda no governo militar, ganha continuidade com o mandato de José Sraney, mas é Collor de Mello quem definitivamente apóia com todos os recursos que dispõe a sua implementação em terras brasileiras.

É relevante lembrar que na seqüência da (neo)liberalização do Estado, efetivou- se no governo de Fernando Cardoso que teve a frente do Ministro da Administração e Reforma do Estado (MARE), o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que reformou do Estado e o conseqüente aprofundamento do grau de subdesenvolvimento ou desenvolvimento dependente do pais. Nesse leque de privatizações foi aprovado a Lei de Propriedade Intelectual que, segundo o Caderno ANDES n° 25, representa um freio às possibilidades de desenvolvimento autônomo do país, sob o ponto de vista científico e tecnológico. A reforma73 posta em prática, especificamente no ano de 1998, afetou praticamente todos os setores de infra-estrutura, que davam sustentação à máquina do Estado brasileiro, são privatizados ou terceirizados (2007, p. 12).

Os conjuntos de medidas reformistas tinham como objetivo a “publicização” do Estado – termo teorizado por Bresser Pereira. Para o Caderno MARE da reforma do Estado (1997, p. 18), tal processo é responsável pela transferência de atividades e recursos para o setor público não-estatal – tomado como sendo as “organizações sociais de interesse público” – dos serviços sociais e científicos que o Estado ainda presta; tirando a responsabilidade exclusiva do Estado em prestar os serviços sociais e em investir na produção científica acadêmica74 (apud, ANDES, 2007, p. 12, aspas do original).

Entre os muitos órgãos públicos que, ao longo do tempo foram se transmutando, transformando-se em “publicizados” destacam-se as fundações. Ou seja, como afirma o Caderno ANDES, passando a gerência, na prática, para as fundações privadas que se diz de apoio (2007, p. 12). Ganham estas fundações, no interior das universidades públicas brasileiras uma destacada importância. Pois, o suporte e fomento à pesquisa e às universidades, concedidos pelos centros de pesquisa das empresas estatais (agora privatizadas: energia, telefonia, mineração, entre outras) foi modificado para Fundo de Infra-Estrutura (CT-INFRA). O problema é que para que as universidades e os institutos de pesquisa tenham acesso aos recursos desse fundo: fomento e manutenção,

73 “As vagas deixadas pelos servidores públicos aposentados [escreve o Caderno n ° 25 da ANDES] falecidos ou afastados não foram mais preenchidas e um exemplo do resultado desta política pode ser visto na categoria dos docentes das universidades federais que acumula um déficit de 8.000 vagas” (2007, p. 12).

74 “Dentre esses chamados ‘serviços sociais e científicos’ estão: escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, creches, ambulatórios, hospitais, etc. Atividades essas que dizem respeito aos direitos sociais, mas que passam a ser concebidas como atividade sujeita à ‘constituição de quase mercados’ segundo argumentação dos documentos do MARE” (ANDES, p. 12, 2007, aspas do original).

e que agora apenas pode ser concedido por meio de editais, passam a depender dessas fundações75.

Embora tenha Fernando Cardoso plantado as bases do neoliberalismo no Brasil, com a importante reforma do Estado, as grandes reformas ficaram por conta de serem efetivadas durante o mandato do presidente eleito pelo Partido dos Trabalhadores, entre elas destacamos: Previdência social, reforma universitária e reforma trabalhistas, dentre outras.

O documento intitulado Carta ao povo brasileiro, elaborado pelo então candidato Luis Inácio Lula da Silva, ainda em junho de 2002, antes das eleições, garantiu e conquistou a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, bem como desfez as suspeitas dos empresários brasileiros, sobretudo do grupo da Federação da Indústria e Comércio do Estado de São Paulo (Fiesp/SP), dirigida à época pelo empresário Mário Amato. Essa carta declarada de compromisso com os organismos