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5.2 Revisão de literatura

5.2.2 A Evolução do Ensino Profissional em Portugal

5.2.2.4 A Reforma do Ensino Secundário em 1989

A tendência para encarar a qualificação profissional como parte integrante dos objetivos da política educativa acentua-se durante a década de 1980, em especial a partir da integração de Portugal na então CEE.

O ano de 1986 foi crucial para as políticas educativas portuguesas, “marcado por dois acontecimentos chave com repercussões, que podemos considerar importantes para a evolução futura do sistema de ensino, particularmente para a componente técnica e profissional” (Pardal, Ventura & Dias, 2003, p. 105). Um desses acontecimentos foi a aprovação, em 14 de Outubro, da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), que definiu o enquadramento estável para a educação, nomeadamente o lugar do ensino técnico e profissional de nível secundário. O outro foi a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, facto que se revelaria de grande importância, nomeadamente para o financiamento da educação.

A LBSE (Lei n.º46/86, de 14 de Outubro) consagra, no art. 6.º, um ensino básico universal gratuito e obrigatório de nove anos e integra o 12.º ano no ensino secundário, que a partir daí terá a duração de três anos. Esta organização prevê a existência de “cursos predominantemente orientados para a vida ativa ou para o prosseguimento de estudos, todos eles contendo componentes de formação de sentido técnico, tecnológico e profissionalizante e de língua e cultura portuguesas adequadas à natureza dos diversos cursos” (Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro, art. 10.º, citado por Dias, JCR, 2013).

O XI Governo, em 1987 ao fazer um retrato da população do país, traduzido por “um fraco índice de estudos, numa mão-de-obra profundamente desqualificada, numa taxa de analfabetismo sem paralelo na Europa, em sérios estrangulamentos no acesso à educação, na deficiente qualidade dos serviços educativos, a todos os níveis, e no grave índice de insucesso escolar, particularmente no âmbito do ensino básico” define uma série de iniciativas que enformaram a reforma do sistema educativo a implementar nessa altura.

Marcada pela Lei de Bases do Sistema Educativo, “apresentada normalmente como ponto de partida (e de referência) da reforma educativa” (Lima, 2002, p. 52), esta começou por ser concretizada através da criação da Comissão de Reforma do Sistema Educativo (CRSE), por resolução do Conselho de Ministros n.º8/89, que dá corpo às intenções da política educativa.

No âmbito desta reforma, o programa do XI Governo de 1987, defende a “multiplicação acelerada da oferta de formação profissional e profissionalizante quer no âmbito da reformulação do ensino secundário e da expansão do ensino superior politécnico, quer pelo apoio à implantação de uma rede de escolas profissionais, de iniciativa eminentemente local”, como um dos vetores em que a “modernização da educação portuguesa” deverá assentar.

Sustentada na LBSE, a ampla reforma do sistema educativo que surge nos finais da década de 1980, determina o surgimento do ensino profissional nas Escolas Profissionais, de iniciativa privada, mas apoiadas pelo Estado e pela União Europeia, criadas pelo Decreto-Lei n.º 26/89, de 21 de Janeiro, e a Revisão Curricular do Ensino Básico e Secundário, refletida no Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de Agosto, que sistematiza as principais intenções deste movimento de reforma da educação.

A criação do subsistema de escolas profissionais em 1989, com “tutela mista entre o ministério da Educação e outros promotores públicos ou privados” (Barroso, 2003, p.71) foi fundamental para a afirmação definitiva do ensino profissionalmente qualificante como modalidade alternativa ao ensino secundário regular. Esta oferta de ensino foi projetada para facultar o acesso a um diploma profissional de certificação de qualificação de nível III (técnicos intermédios) equivalente, para efeitos de prosseguimento de estudos, ao diploma do ensino secundário.

A partir desta reforma, todas as modalidades educativas de ensino secundário pós- obrigatório passam a contar com uma estrutura curricular composta por três componentes: geral ou sociocultural, específica ou científica e técnica ou tecnológica, variando o peso de cada componente em função do tipo de curso, e que se mantém até 2004, altura de nova reforma do ensino secundário. Passam a existir os Cursos Predominantemente Orientados para o Prosseguimento de Estudos (CPOPE) – os cursos gerais – e os Cursos Predominantemente Orientados para o ingresso na Vida Ativa (CPOVA) – os cursos tecnológicos (Cerqueira & Martins, 2011).

Desta forma, a via geral “apresentaria maior congruência com percursos posteriores mais longos e com componentes teóricas e académicas mais fortes” e os cursos tecnológicos mais orientados para “preparar os jovens aspirando a formações de nível superior mais curtas, de pendor dito mais prático e menos academizante (o ensino politécnico cujos estudantes seriam originários, em primeiro lugar, dos cursos tecnológicos) ” (Barroso, 2003, p 119).

Em 1994, na sequência desta revisão curricular são lançados 11 cursos tecnológicos nas escolas do ensino regular.

Os cursos tecnológicos foram distribuídos por quatro agrupamentos disciplinares: científico-natural, artes, económico-social e humanidades. Cada agrupamento inclui também um curso orientado para o prosseguimento de estudos, curso de carater geral (Cedefop, 1998).

Agrupamento 1: Científico-natural, além do curso de carater geral, possui os cursos de Informática, Construção Civil, Eletrotecnia/Eletrónica, Mecânica, Química.

Agrupamento 2: Artes, curso de carater geral e os cursos de Design e Artes & Ofícios. Agrupamento 3: Económico-social, curso de caracter geral e os cursos de Serviços comerciais e Administração.

Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia 105

Leonor Rosália Catarino

Agrupamento 4: Humanidades, curso geral e os cursos tecnológicos de Comunicação e Animador Social.

Os cursos gerais e tecnológicos apresentavam uma matriz curricular próxima: o mesmo n.º de horas de duração, as mesmas disciplinas na componente de formação geral e disciplinas comuns na componente específica nos cursos da mesma área de formação. Esta aproximação a nível de estrutura começa a preconizar a possibilidade de mobilidade entre os cursos (Cerqueira e Martins, 2011).

Fora do sistema escolar tutelado pelo Ministério da Educação, há que considerar ainda a experiência acumulada nesta área de formação pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), dependente do Ministério de Emprego. O IEFP, desde 1985, vem desenvolvendo a sua atividade, no âmbito da Lei da Aprendizagem através do Decreto-Lei n.º 102/84, de 29 de março. Segundo o modelo de formação em alternância – na empresa e em outro local de formação expressamente concebido para esse fim – o sistema de aprendizagem através da organização dos seus cursos em três componentes de formação – geral, tecnológica e prática – proporciona simultaneamente uma formação profissional de operário qualificado ou afins e a equivalência ao diploma escolar (Dias, 2012).