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No seguimento da revisão da literatura e da reflexão produzidas, o presente capítulo incidirá sobre a metodologia utilizada neste estudo.

Esta pesquisa analisa a relação entre a escolha do curso profissional de Técnico Auxiliar de Saúde (TAS), curso do ensino profissional e a origem social. Serão estes alunos filhos de classes populares? O seu percurso está marcado por sucessivas retenções ou abandono? Pretende-se também compreender as aspirações e expetativas profissionais dos alunos. A frequência do curso profissional TAS funciona como a antecâmara de um percurso profissional? As expetativas escolares estão em concordância com a profissão desejada?

5.3.1 TEMA DE INVESTIGAÇÃO

O problema deste trabalho pode ser equacionado da seguinte forma:

 Qual a importância que a origem de classe e o percurso escolar têm na orientação e construção dos projetos profissionais dos alunos do curso TAS (do ensino profissional)?

 Quais as expectativas escolares e profissionais dos alunos do 11.º J do TAS?

Tendo em conta a questão que orienta a pesquisa – Qual a importância que a origem de classe e o percurso escolar tem na orientação e construção dos projetos futuros profissionais dos jovens da turma J, do 11.ºano do curso profissional TAS? – foram definidas as seguintes hipóteses de investigação:

Hipóteses:

 As escolhas escolares são marcadas pela classe social de origem, pelo que os alunos do 11.º J são maioritariamente oriundos das classes populares.

 O percurso escolar dos alunos do 11.º J está marcado por sucessivas retenções e abandono escolar o que condiciona a sua opção pelo ensino profissional.

 A frequência do ensino profissional é uma forma de obter a equivalência escolar do 12º ano.

 O objetivo da escolha do ensino profissional é entrar no mercado de trabalho.

 A identidade do género orienta as escolhas escolares das raparigas no sentido de um curso aceite como tradicionalmente feminino, como é o caso do curso profissional TAS (Técnico Auxiliar de Saúde).

Estratégia de pesquisa

A estratégia de pesquisa a utilizar neste trabalho é o Estudo de Caso (EC), uma vez que se trata do estudo de um grupo específico de alunos, o 11.º J do curso profissional TAS que constituem o objeto de estudo, e num contexto específico, a ESFLG.

O método científico é o melhor processo de se chegar a soluções confiáveis para os problemas através da recolha sistemática e planeada e, da análise e interpretação dos dados. "É a ferramenta mais importante para o avanço do conhecimento, para promover o progresso e para permitir que o homem atinja as suas metas e resolva os seus conflitos" (Mouly, 1978, citado por Cohen, Manion e Morrison, 2001).

A investigação é, normalmente definida como quantitativa ou qualitativa em função do tipo de dados. O caso do 11.º J permite fazer uma análise qualitativa dos alunos quanto à sua origem social, ao seu percurso escolar anterior, às razões que os levaram a escolher o curso profissional TAS, como o avaliam e que expetativas têm em relação ao futuro.

Os investigadores que utilizam os métodos qualitativos procuram explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova dos factos, pois os dados analisados não são métricos e valem-se de diferentes abordagens (Portela, G. L. (2004).

Segundo Bogdan & biklen (1994), citados por Miranda (2009: 36), a fonte natural de dados é o ambiente natural. Uma vez que se assume que o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que ocorre, entende-se que as ações poderão ser melhor compreendidas se observadas no seu ambiente natural de ocorrência.

O instrumento principal de “recolha de dados” é o investigador. O instrumento de análise é, por isso, o entendimento que o investigador tem sobre os dados e sobre o contexto em que estes são recolhidos e complementados pela informação resultante do contacto direto do investigador com o ambiente de recolha.

Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia 117

Leonor Rosália Catarino

Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto das suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível.

Nesta pesquisa procura entender-se as características do 11.º J, segundo a perspetiva dos alunos e, a partir daí, interpretam-se as características estudadas.

O estudo de caso é uma das possibilidades oferecidas pela abordagem qualitativa.

Cohen, Manion e Morrison (2001) referem que o Estudo de Caso foi desenvolvido com base no paradigma de investigação interpretativo, com ênfase na interpretação do objeto de estudo no seu contexto e na subjetividade que lhe é inerente, tendo sempre presente que o objetivo da pesquisa determina a metodologia e a arquitetura da investigação.

Com o estudo pretende-se caracterizar o 11.º J, sob o ponto de vista das suas escolhas, do seu percurso escolar e expectativas escolares e profissionais, de que modo a origem social influenciou as suas escolhas, os seus percursos e as suas expectativas futuras.

O Estudo de caso adequa-se à investigação em causa, uma vez que se trata de um caso real, uma turma com jovens de várias origens culturais, com várias percursos escolares, de diferentes idades e diferentes expectativas, unidos por uma mesma escolha. Trata-se de uma situação complexa que requer uma atenção específica.

Para Cohen, Manion e Morrison (2001) um estudo de caso consiste num caso específico, tem como foco uma situação particular, indivíduos, interligações entre indivíduos ou grupos em circunstâncias específicas, ilustra situações reais no seu contexto, e permite compreender de forma mais clara ideias teóricas ou princípios abstratos. Os autores consideram que o estudo de caso é a estratégia de investigação que mais se adequa quando se pretende: retratar, analisar e interpretar a especificidade de sujeitos e situações reais; considerar a complexidade das situações e ações, contribuir para ação e intervenção; ou apresentar e representar a realidade.

Procedimento

A presente investigação decorreu ao longo do ano letivo de 2012/2013, tendo coincidido com o período da realização do estágio profissional da professora estagiária. Como estratégias de recolha de dados recorreu-se à observação participante e à aplicação de um inquérito por questionário aos alunos do 11.ºJ.

Martins (2006) citando Vale (2000) considera que se um investigador pretende estudar o que um aluno pensa, então deverá observar e participar nas atividades com as quais o aluno está envolvido no seu contexto natural: a sala de aula. Num estudo de caso, o investigador, depois de recolher todo o tipo de dados de cariz qualitativo, tem poucas orientações ou caminhos para analisar os dados obtidos, portanto é essencial conhecer a perspetiva dos alunos e compreender o seu ponto de vista para tentar perceber o significado que os alunos atribuem às diferentes situações propostas pelo investigador (p. 71).

O investigador deve estar envolvido na atividade como um “insider” e ser capaz de refletir como um “outsider”. Conduzir a investigação é um ato de interpretação em dois níveis: as experiências dos participantes devem ser explicadas e interpretadas em termos das regras da sua cultura e relações sociais e as experiências do investigador devem ser explicadas e interpretadas em termos do mesmo tipo de regras da comunidade intelectual em que trabalha (Martins, 2006, p. 74).

A professora estagiária desenvolveu a observação participante nas aulas de Biologia e de Saúde do 11.º J, tanto nas aulas observadas como nas lecionadas. As observações foram realizadas com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre as atitudes, comportamentos, trabalho e empenho nas atividades propostas, em ambiente de sala de aula. A observação visou analisar o ambiente com o fim de orientar a pesquisa, tendo, o produto dessa observação, sido registado em notas de campo.

A observação participante constitui um instrumento poderoso na familiarização com o ambiente da escola, os seus diferentes cenários de interação e os seus atores, contribuindo simultaneamente, para o alargamento e aperfeiçoamento das perspetivas de análise.

Na recolha e análise de dados foi, também, utilizado um inquérito por questionário. O questionário aplicado (Anexo F), foi desenvolvido por Mendes (2009), tendo por base questionários de João Sebastião (2006) e Ana Rute Saboga (2005). Mendes (2009), na sua pesquisa sobre estudantes do ensino secundário profissional: origem social, escolhas escolares e expectativas, aplicou o referido questionário. Tem, portanto, a vantagem de já ter sido testado com sucesso.

A aplicação do questionário foi feita no final do ano letivo em 30 de Junho de 2013. O questionário elaborado por Mendes (2009) e aplicado ao 11.º J é constituído por 35 questões, distribuídas por 5 partes. As questões são claras com linguagem simples e acessível, tendo sido estruturado segundo dimensões que abarcam o contexto familiar, trajetórias escolares, escolhas e expectativas e projetos futuros.

O universo desta pesquisa é constituído por 15 dos 17 alunos da turma J, do 11.º ano do curso de Técnico Auxiliar de Saúde da Escola Secundária Fernando Lopes Graça situada na Parede.

Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia 119

Leonor Rosália Catarino

Tabela 10 - dimensões de análise e indicadores do questionário

Dimensões Indicadores

Caracterização Individual Sexo Idade Residência Ano de frequência Frequência do pré-escolar Contexto Familiar Classe Social

Mobilização Familiar para a Escola

Escolaridade do pai/mãe Profissão do pai/mãe

Situação na profissão do pai/mãe Ajuda nos estudos

Diálogos sobre a escola

Participação em reuniões/atividades na escola

Trajetória Escolar Número e ano(s) de reprovação(ões) Disposições face ao estudo

Abandono escolar

Escolhas e Expetativas Escolares Razões da escolha do ensino profissional

Grau de influência na escolha Expetativas em relação ao curso Avaliação do curso

Aspirações quanto à continuação de estudos