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CAPÍTULO 1 REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: discussões, desafios e

1.6 A Reforma sob o ponto de vista Educacional

As transformações ocorridas mundialmente e que se denominam de globalização alterara os vários segmentos da agenda pública, entre estes a educação. Analisarei a partir de agora as mudanças que ocorreram com a educação pública, do ponto de vista da reforma administrativa, exigindo-se dela alteração e adequação aos interesses de mercado. Dizem Libâneo et al.:

A reorganização do capitalismo mundial, para a globalização da economia, assim como o discurso do neoliberalismo de mercado e das mudanças técnico-científicas trouxeram novas exigências, novas agendas, novas ações e novo discurso ao setor educacional, sobretudo a partir da década de 80 (2009, p. 96).

É importante destacar que as mudanças são significativas e extrapolam o que antes era realizado de forma setorizada com mudanças nos currículos, metodológicas ou de modernização de equipamento, entre outras. Vão além desses aspectos e demandam um novo estilo de se relacionar entre as instituições educacionais e a sociedade.

Na Reforma se vislumbra que se reforce um novo posicionamento dos atores envolvidos no sistema educacional. Estes deveriam se posicionar como sujeitos ativos, conscientes e responsáveis pela dinamização dos processos institucionais.

A Gestão Pública Educacional é uma expressão que ganhou destaque na literatura e aceita no contexto educacional, sobretudo a partir da década de 90, pelos defensores deste novo modelo. E obteve muita resistência dos professores contrários a essa mudança. Estes justificavam que os interesses capitalistas estavam interferindo na dinâmica da educação.

A mudança tem como objetivo a orientação para a melhoria do funcionamento e da qualidade da educação, assim como poder intervir nos sistemas de ensino e de escolas, tanto em ambiente macro, como no micro e na interação de ambos.

A Reforma foi também fortalecida pelo CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação que estabeleceu e mantém a gestão educacional como uma de suas políticas prioritárias desde os anos 90.

A lógica da Gestão Educacional é norteada pelos princípios democráticos e é caracterizada pelo reconhecimento da importância da participação dos atores envolvidos nas decisões. Entende-se que o conceito de gestão, tendo em vista seu caráter paradigmático, não se refere a este ou aquele segmento, mas ao sistema de ensino como um todo, tanto horizontal quanto verticalmente e, portanto, todos que fazem parte da instituição, desde o cargo/função menor ao maior, participam desse processo.

O marco da Reforma Administrativa Educacional se deu a partir da Conferência de Jontien na Tailândia na década de 90, que culminou com a

declaração do “Movimento de Educação Para Todos”. Contou na sua organização com a participação de 155 países e 120 organizações não-governamentais, tendo como seu principal financiador o Banco Mundial, que a partir da década de 70, volta prioritariamente sua atenção para área educacional.

O Banco Mundial desenvolve assim a lógica de investir capital nesse setor, considerado frágil para atender a globalização do capitalismo.

Nesse sentido, a orientação do Banco Mundial (1995) tem sido a de educar para produzir mais e melhor. Para o banco, o investimento em educação, em uma sociedade de livre mercado, permite o aumento da produtividade e do crescimento econômico, como se evidencia em certos países do Sudeste Asiático, como Indonésia, Singapura, Malásia e Tailândia (LIBÂNEO et al., 2009, p. 95).

A Conferência procurou, através do campo educacional, disseminar suas disposições ideológicas necessárias ao processo de manutenção da lógica do capital. É oportuno destacar que semelhante papel antes era assumido pela UNESCO e que nas décadas seguintes passa a ocupar um lugar secundário nas organizações dos fóruns mundiais e nacionais de educação.

O objetivo e as diretrizes elaborados na Conferência serviram como marco importante para formular uma série de recomendações direcionadas aos gestores da política educacional e enfatizam o papel da educação para enfrentar os desafios de uma nova ordem econômica mundial.

As Reformas Públicas Educacionais têm se pautado no entendimento segundo o qual a educação assuma importância substancial no processo de transformação social, muito embora grande parte dos atores envolvidos não saiba como concretizar seus discursos.

E, nesse sentido, a educação passa a ser considerada primordial dentre as políticas com vistas à preparação dos países em desenvolvimento para o enfrentamento da concorrência em uma economia globalizada. Libâneo (2008) se refere à educação sob o aspecto globalizado.

As instituições escolares vêm sendo pressionadas a repensar seu papel diante das transformações que caracterizam o acelerado processo de integração e reestruturação capitalista mundial. De fato, o novo paradigma econômico, os avanços científicos, a reestruturação do sistema de produção e as mudanças do mundo do conhecimento afetam a organização do trabalho e o perfil dos

trabalhadores, repercutindo na qualidade profissional e, por consequência, nos sistemas de ensino (LIBÂNEO, 2008, p. 45).

A reforma educacional obteve grande resistência às mudanças que alteraram as políticas públicas na área da educação. A justificativa dos que se posicionavam contrários era que fora realizada para exigir da educação a adequação aos interesses de mercado nas questões de orientação aos sistemas de ensino.

No tocante à educação, a orientação política do neoliberalismo de mercado evidencia, ideologicamente, um discurso de crise e de fracasso da escola pública, como decorrência da incapacidade administrativa e financeira de o Estado gerir o bem comum. A necessidade de reestruturação da escola pública advoga a primazia da iniciativa privada, regida pelas leis de mercado. Desse modo, o papel do Estado é relegado a segundo plano, ao mesmo tempo que se valorizam os métodos e o papel da iniciativa privada no desenvolvimento e no progresso individual e social (LIBÂNEO et al., 2009, p. 101).

Na prática, as escolas estão longe da realidade, onde a ciência e a inovação tecnológica estão longe de sua rotina escolar e ao alcance na fábrica, na televisão, nas ruas e em tantos outros espaços de aprendizagem.

A instituição escolar, portanto, já não é considerada o único meio ou o meio mais eficiente e ágil de socialização dos conhecimentos técnicos-científicos e de desenvolvimento de habilidades cognitivas e de competências sociais requeridas para a vida prática (LIBÂNEO

et al., 2009, p. 52).

A Reforma traz um novo modelo que resulta de um novo entendimento a respeito da condução dos destinos das organizações, que leva em consideração o todo em razão de suas partes e destas entre si, de modo a promover maior efetividade no conjunto, possibilitando com isso, gerir a dinâmica dos sistemas de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico. Assim, não se refere a este ou aquele segmento, mas ao sistema de ensino como um todo, tanto horizontal quanto verticalmente.

Observa-se que ao longo da história da educação os esforços para a melhoria da qualidade do ensino têm privilegiado ações que focalizam, de acordo com a prioridade definida na ocasião. E essas ações isoladas resultam em meros

paliativos aos problemas enfrentados e que a falta de articulação entre elas explicaria casos de fracasso e falta de eficiência na aplicação dos recursos materiais e humanos.

No mundo todo estão sendo implantadas reformas educacionais para adequar o sistema de ensino às mudanças na economia e na sociedade. Uma das palavras-chave é a qualidade. Qualidade da escola refere-se tanto a tributos ou características de sua organização e funcionamento quanto ao grau de excelência baseado numa escala valorativa (a qualidade desta escola é ruim, medíocre, boa, excelente). Embora haja uma grande diversidade de opiniões entre os educadores, administradores e pais sobre critérios de qualidade das escolas, os profissionais de cada escola precisam estabelecer um consenso mínimo sobre o padrão de qualidade que orientará seu trabalho. Quais seriam os critérios que definiriam uma qualidade social da escola? (LIBÂNEO, 2008, p. 65).

Curiosamente, a introdução do modelo de Gestão Pública Educacional no Brasil tem sido precedida por sistemas de avaliação institucional que, por sua vez, permitem aflorar certas fragilidades e oportunidades de melhoria do serviço público. A década de 90 trouxe uma série de sistemas avaliativos e instrumentos de medição da eficácia educacional no País.

Supõe-se que essas avaliações institucionais tenham gerado uma consciência de que os resultados educacionais poderiam melhorar, de que era possível buscar a excelência por meio do engajamento dos diversos atores envolvidos no processo educativo em sistemas gerenciais.

De fato, a Gestão Pública Educacional tem a pretensão de ser um modelo na busca da excelência mediante o envolvimento e o desenvolvimento de todos os envolvidos, pois, os sistemas tradicionais baseados no rigor, a partir das camadas hierárquicas superiores, têm cedido espaço a concepções mais democráticas e abrangentes, com ênfase no desenvolvimento das pessoas e eficiência no serviço.

A Gestão Pública Educacional não elimina e não abandona a tradicional Administração Educacional Burocrática, apenas a supera, dando a essa uma nova acepção mais significativa e de caráter potencialmente transformador.

A gestão orientada para o serviço público pode representar a própria busca pela excelência, uma vez que esta pressupõe o desenvolvimento contínuo de competências e a adequação dos instrumentos gerenciais à organização ou ao sistema em questão.

O aspecto inovador, presente em qualquer processo de mudança paradigmática, provoca reações explícitas ou subliminares, em nível de pensamentos ou atitudes, saudáveis ao processo de construção coletiva e à democratização da educação pública. A discussão em torno da adequação e da utilização dos modelos gerenciais tem sido permeada pelo reconhecimento da complexidade dos sistemas educacionais em virtude dos diversos processos e atores envolvidos. Conforme confirma Gonçalves (2005),

Esforços estruturados têm levado ao reconhecimento de modelos de gestão contemporâneos, que surgem na prática organizacional e em estudos avançados, lidando com a identificação de conceitos mais fundamentais, tanto culturais como de caráter científico, e com práticas e ações reconhecidas que estão sendo adotadas em algumas organizações numa dinâmica para sustentar resultados de melhoramento contínuo. São desempenhos esperados em ambientes onde influem aspectos humanos, tecnológicos humanos, econômicos e organizacionais – onde se insere a questão da gestão (2005, p. 71).

De fato, introduzir um modelo gerencial em um sistema educacional constitui tarefa bem mais complexa que introduzi-la num ambiente fabril. Há de se perceber os cenários atuais no que se refere à situação econômica, política e social, sem esquecer a história que interfere na dinâmica das instituições educacionais públicas.

No Brasil, os gestores educacionais em todos os níveis, federal, estadual e municipal, são escolhidos e indicados pelos representantes políticos eleitos, o que naturalmente “fideliza” e personaliza tais relações.

Nesse modo clientelista de indicação, a implementação de qualquer modelo gerencial revela grande dependência das lideranças políticas no âmbito da educação pública. Esse fato também gera os riscos da descontinuidade no processo de consolidação do modelo gerencial adotado, uma vez que as lideranças políticas envolvidas estão temporariamente nos cargos eletivos, exercem grande influência no processo e os seus sucessores eleitos nem sempre demonstram interesse pelo tema. Embora influencie, não é determinante.

O contraponto para a grande influência política no campo da gestão educacional pública será o fortalecimento dos atores que compõem os sistemas educacionais (professores, funcionários, estudantes, pais, parceiros, comunidade)

que aqui denominarei de stakeholders, expressão idiomática norte-americana traduzida para o português como “Partes Interessadas”.

Independente das preferências dos administradores educacionais (secretários, dirigentes, especialistas) é seu dever agir para defender os interesses e demandas de todas as Partes Interessadas do sistema ou instituição educacional, mantendo assim o equilíbrio do sistema.