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A reforma tributária e o FNDR: um novo formato de guerra fiscal

SUMÁRIO

DA 51ª LEGISLATURA (1999-2003) 235 ANEXO B RELAÇÃO DOS SENADORES DA BANCADA NORDESTINA DA 51ª

5 NEM SUDEN

5.1 A tentativa de restabelecimento de uma política regional

5.1.2 A reforma tributária e o FNDR: um novo formato de guerra fiscal

Além da proposta de recriação da SUDENE, na campanha de 2002 o então candidato ia da República, Luís Inácio Lula da Silva, apresentou, em seu programa de Governo, mais duas propostas que teriam impacto importante para o Nordeste brasileiro: a criação de uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR e de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional – FNDR (que seria constitucional, sem prazo para encerramento).

Com essas duas propostas, o futuro governo demonstrava que teria um entendimento diferenciado em relação à problemática regional no País. Ao que parecia ser, o futuro governo havia comp

destinar 2% da arrecadação do Imposto de Renda e do IPI para um fundo nacional de voltada ao crescimento de regiões ou zonas menos desenvolvidas do País. (Jornal da

avam um baixo nível de dinamismo econômico. Isso, entretanto, permitiu um entendimento bastante controverso.

idas do País”, era que a nova política de desenvolvimento regional do País (da qual o reendido definitivamente que a política regional não era um problema apenas das regiões menos desenvolvidas do País, mas sim um problema nacional, que deveria, portanto, ser encarado de frente.

Ao assumir o comando do País, o novo presidente recomendou, de imediato, a recriação da SUDENE. Em seguida, seria a vez do FNDR, cuja criação surgiu durante a negociação da reforma tributária. Na exposição de motivos que encaminhava a reforma tributária ao Congresso Nacional, o desejado Fundo foi apresentado da seguinte forma:

Com vistas à promoção do desenvolvimento integrado e sustentado do País, propõe-se desenvolvimento regional, que terá seus recursos aplicados na realização de uma política Câmara, 11/05/2004)

Conforme consta na referida exposição de motivos, o novo Fundo seria um fundo nacional e destinar-se-ia às “regiões ou zonas menos desenvolvidas do País”, ou seja, às áreas menos desenvolvidas, mais estagnadas e que apresent

Para os governadores das três regiões menos desenvolvidas do País (Norte, Nordeste e Centro-oeste), o mesmo deveria destinar-se, apenas, a essas três regiões. Entretanto, a idéia original do novo governo, ao ressaltar que o mesmo seria destinado às “regiões ou zonas menos desenvolv

Fundo a s

mo se considerand

ra instituição de desenvolvimento regional (de forma similar, quando do projeto

-estrutura, que serviria para equipa

er criado seria apenas um dos instrumentos) iria além da compreensão dos governadores.

O Ministério da Integração Nacional parecia ter a clara percepção de que o desequilíbrio regional brasileiro não era mais coerente com a antiga divisão política do País. Assim, os Estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste seriam, certamente, beneficiados (mes

o que em várias partes dessas regiões havia “manchas de progresso” que não necessitavam tanto do novo instrumento). Mas não apenas essas áreas seriam atendidas. Na realidade, o novo Fundo a ser criado poderia aplicar seus recursos em áreas menos dinâmicas e mais pobres das demais regiões do País, como os Vales do Jequitinhonha / Mucuri, o Vale do Ribeira e o Extremo Sul do Rio Grande do Sul, entre outras.

Outro ponto de discórdia dos governadores, particularmente dos nordestinos, refere- se ao fato de que o projeto de recriação da SUDENE elaborado pelo GTI propunha que o novo Fundo fosse gerido pela futu

de recriação da SUDAM, propôs-se que a nova instituição gerenciasse a parte que lhe caberia). Dessa forma, com esses recursos, a SUDENE teria um orçamento que a permitiria, dentre outros, financiar educação, capacitação, centros de pesquisa e infra

r a região para melhorar sua competitividade.

Inicialmente, os governadores da região demonstraram que estariam de acordo com o recomendado pelo Grupo de Trabalho. Entretanto, quando da tramitação da Reforma Tributária no Congresso Nacional, os mesmos passaram a exigir do Governo o compromisso de que o Fundo seria gerido pelos próprios Estados. A SUDENE sequer recomeçara e já era alvo de disputas.

Outro ponto de que discordavam os governadores refere-se à destinação e aplicação do Fundo. E aí o Ministério da Integração Nacional e os governadores pareciam ter o mesmo entendimento: de que os recursos do Fundo não deveriam se destinar ao setor privado, já que o mesmo con

presas (uma vez que a referida reforma unificaria a

ntonio Palocci tentou de todas as formas convencer os governadores de que, para o

da pressão que as bancadas das três regiões vinham fazendo), o Ministro apresentou a proposta de acabar o Fundo de Desenvolvimento Regional. Em seu lugar, o Governo destinaria, por meio de tava com outros instrumentos, como, no caso do Nordeste, o FNE. Assim, os recursos deveriam ser repassados a título de transferência de capital, ou seja, como repasses diretos.

Os governadores alegavam que, com a Reforma Tributária, os Estados ficariam impedidos de conceder incentivos para atrair novas em

s alíquotas do ICMS e acabaria com a “Guerra Fiscal” entre os Estados). Assim, argumentavam que, com a mudança a ser implementada, a única forma de atrair novas empresas para seus Estados seria realizando obras de infra-estrutura. E, uma vez que o nível de endividamento dos Estados era elevado, isso só seria viável se tivessem controle sobre o percentual que lhes coubesse. Ou seja, os Estados desejariam ter autonomia para resolver onde os recursos seriam investidos.

O Ministério da Fazenda, entretanto, alegava que a liberação desses recursos (calculados em torno de R$ 2 bilhões) via transferência de capital ampliaria sobremaneira o superávit primário (em mais R$ 4 bilhões), obrigando a um maior aperto.

O ministro A

governo, a única alternativa seria que os recursos do novo Fundo fossem repassados a título de empréstimos, como inversão financeira, jamais via transferência de capital. Entretanto, mostrando-se os governadores irredutíveis quanto a essa opção, e precisando o Governo avançar na tramitação das Reformas Tributária e Previdenciária (que se encontravam travadas em função

convênios com os Estados, um percentual fixo de seus investimentos às três regiões menos desenvolvidas. Dessa forma, o Governo manteria seu Orçamento, o que reduziria significativamente o desequilíbrio entre receitas e despesa.

Os govern que teriam a vantage

jeitaram a alternativa apresentada – de substituir o FNDR por investimentos com recursos do ento federal e empréstimos do BNDES.

Ao longo dos meses, os governadores das três regiões menos desenvolvidas do País iam ganhando espaço, e a possibilidade de se implementar uma verdadeira política de desenvolvimento regional ia, paralelamente, caindo por terra. Entendido pelos governadores como uma compensação aos Estados pela unificação da legislação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, o FNDR foi-se transformando numa espécie de segunda versão do Fundo de Participação dos Estados – FPE e perdendo a sua feição original.

excluir as demais áreas estagnadas do País dentre os beneficiários do Fundo.

de que os governadores nordestinos abrissem mão do controle do Fundo de Desenvolvimento Regional em prol da autarquia, o Fundo terminou ficando com os Estados59. Dessa forma,

adores inicialmente viram com bons olhos a proposta do Ministro, uma vez m de receber a verba diretamente. No entanto, recuaram rapidamente, e re

Orçam

No final das contas, os Estados das regiões menos desenvolvidas reconheceram-se como os vencedores. Depois de transformar em moeda de troca o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, conseguiram

No caso do Nordeste, apesar dos esforços do próprio Ministério da Integração Nacional e do relator do projeto que cria a nova SUDENE, deputado Zezéu Ribeiro, no sentido

59

Em diversas ocasiões, vários governadores se pronunciaram na imprensa afirmando que só abririam mão dos recursos do Fundo, em benefício da SUDENE, caso os mesmos ficassem, na Reforma Tributária, como fundo de

conseguiram retirar da SUDENE a gestão dos recursos do Fundo, e deram-lhe um “tiro mortal”. Como bem ressaltou, em editorial, o Jornal do Commercio:

“a possibilidade de repasse do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) interessou tanto aos governadores nordestinos, que os fez esquecer a ressurreição do velho órgão de desenvolvimento. A reforma tributária fez, simplesmente, os interesses estaduais sobreporem-se aos regionais”. (Jornal do Commercio, 13/12/2003 – Editorial)