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SUMÁRIO

DA 51ª LEGISLATURA (1999-2003) 235 ANEXO B RELAÇÃO DOS SENADORES DA BANCADA NORDESTINA DA 51ª

2 FINOR: O VILÃO DA SUDENE?

2.2 Breve histórico de um sistema de incentivos fiscais no Nordeste

2.2.3 FINOR-Debêntures

A nova versão do Sistema de Incentivos Fiscais administrado pela SUDENE diferia de seu antecessor em função basicamente de dois pontos cruciais: em primeiro lugar, porque passaram a ser permitidas duas formas de aplicação – a não-vinculada (aplicação direta no FINOR) e a vinculada (aplicação em projeto próprio) –; e, em segundo lugar, porque o Sistema deixou de trabalhar exclusivamente com ações e passou a trabalhar também com debêntures10.

Apesar dessas mudanças, a sistemática de funcionamento não se alterou significativamente. De acordo com a Lei 8.167, que aprovou o FINOR-Debêntures, a pessoa jurídica que optasse por aplicar até 24% do imposto de renda devido no FINOR (de acordo com a Lei 9532/97, a partir de janeiro de 1998 passou a ser apenas 18%, com previsão para ir decrescendo ao longo do tempo, até o ano de 2013, quando então se encerraria) recolheria, na sua declaração anual entregue à Receita Federal, o valor correspondente à dedução11.

Após isso, o Tesouro Nacional teria um prazo de quinze dias para recolher ao Fundo os recursos correspondentes à opção. Então, feito o processamento das opções dos contribuintes e verificada sua regularidade perante a Secretaria da Receita Federal, essa autorizaria o Banco

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Debêntures são títulos de dívida emitidos pelas sociedades por ações.

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Na realidade, o Decreto-Lei 2.397, de 1987, passou a permitir a opção por 40% do imposto de renda devido. Ocorre que os recursos que o PIN-PROTERRA absorvia das opções pelos Fundos de Investimento também foram reduzidas e passaram a comprometer 40% dos recursos. Assim, retirando os 40% do PIN-PROTERRA dos 40% do imposto de renda devido, resta para o FINOR apenas 24%. Da mesma forma, em relação à Lei 9532, o percentual permitido de opção passou a ser 40% do imposto de renda devido. Retirando a parte do PIN-PROTERRA, restavam para o FINOR apenas 18%.

Operador (no caso do FINOR, o Banco do Nordeste)12 a emitir, em favor do optante, certificados de investimento representativos de quotas escriturais do Fundo escolhido (no caso, o FINOR)13.

Tais quotas poderiam ser convertidas em títulos pertencentes às carteiras dos fundos, mediante leilões especiais realizados nas bolsas de valores, ou através de negociação direta entre os interessados.

De outro lado, a empresa “beneficiada”, para receber os recursos, teria que apresentar à SUDENE uma carta-consulta, com dados cadastrais sobre os acionistas e informações gerais sobre o empreendimento. Após a sua aprovação, a empresa entregaria à instituição o projeto detalhado do empreendimento, o qual, também sendo aprovado, permitiria que a empresa recebesse os recursos do Fundo.

2.2.3.1 Aplicação não-vinculada

A primeira forma de aplicação que a Lei 8.167 permitia baseava-se no seu art. 5º e ficou conhecida como aplicação não-vinculada. De acordo com a sistemática descrita no art. 5º, o funcionamento dar-se-ia através da aplicação dos recursos, pelo FINOR, sob a forma de subscrição de debêntures conversíveis ou não em ações (também chamadas de debêntures simples), emitidas pelas empresas beneficiárias de projetos aprovados pela SUDENE.

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Por esse serviço, o Banco do Nordeste cobrava uma taxa de administração, cujo valor foi objeto de inúmeros questionamentos, como teremos oportunidade de ver adiante.

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Segundo relatório da CPI do FINOR (2001, p. 59), “O número de quotas a que corresponde cada certificado é calculado dividindo-se o valor atualizado do recolhimento feito pelo contribuinte pelo valor patrimonial da quota do FINOR”.

No caso dos projetos em implantação, a subscrição pelo Fundo de debêntures não conversíveis em ações deveria obedecer ao limite de 30% de cada aplicação, ao passo que as debêntures conversíveis em ações corresponderiam a 70%. Nesse caso, tais debêntures deveriam ser convertidas, no prazo máximo de um ano após a implantação do empreendimento, mediante a emissão, pela SUDENE, do Certificado de Empreendimento Implantado (o qual, por sua vez, seria concedido à empresa mediante a implantação física de pelo menos 70% do empreendimento).

Assim, depois de o Projeto entrar em operação, as debêntures conversíveis seriam convertidas em ações da empresa emissora, e a sistemática seguiria, então, o caminho descrito anteriormente, ou seja, as ações seriam “posteriormente levadas a leilão para alienação aos interessados, que utilizam os Certificados de Investimento como meio de pagamento. Tais leilões representam o resgate das obrigações do Fundo perante os contribuintes optantes, cancelando-se as quotas correspondentes” (CPI DO FINOR, 2001, p. 60).

No caso das debêntures não conversíveis em ações, as mesmas deveriam ser pagas em moeda corrente nos vencimentos previstos.

2.2.3.2 Aplicação Vinculada

A Lei 8.167 permitia ainda, em seu art. 9º, uma segunda forma de aplicação no FINOR-Debêntures, a aplicação vinculada (conhecida também como aplicação em projeto próprio). De acordo com o art. 9º, as pessoas jurídicas ou grupo de empresas coligadas, que detivessem, isolada ou conjuntamente, no mínimo 51% do capital votante da empresa titular

habilitada a receber recursos do FINOR, poderiam indicar a empresa controlada como a beneficiária das suas opções em favor do Fundo.

Nessa hipótese, a empresa optante receberia o equivalente a 70% do valor de suas opções em favor do FINOR, e os 30% restantes seriam destinados à carteira geral do Fundo. Assim, além dos 70% que os optantes receberiam diretamente do FINOR, 30% viriam em forma de quotas do Fundo.

Em relação à participação isolada e à participação conjunta, um ponto merece ser esclarecido: a diferença entre essas duas formas de participação é que, no caso de participação conjunta, as pessoas jurídicas ou grupos de pessoas jurídicas optantes, além de deterem, em conjunto, um mínimo de 51% do capital votante de sociedade titular de projeto aprovado, participam, isoladamente, com um mínimo de 10% desse capital, ou 5% no caso de projetos de infra-estrutura e estruturadores.

Entendido o funcionamento da sistemática dos projetos pertencentes ao art. 9º, dois pontos devem ser destacados: o primeiro é que o percentual de “projetos próprios” que foram concluídos no tempo previsto é muito superior aos regidos pelo art. 5º. Isso se deve ao fato de que a aplicação vinculada garantia a seus projetos os recursos necessários.

Um segundo ponto a ser destacado é que a experiência da aplicação em “projetos próprios” transformou-se numa forma de drenagem de recursos do FINOR. Na realidade, o que passou a ocorrer foi que empresas interessadas em obter esse benefício convidavam outras grandes a participar, e para isso se comprometiam a devolver significativa parte dos recursos liberados (valor que muitas vezes chegava a 50% do total disponível), o que algumas vezes vinha a comprometer a finalização da implantação do empreendimento. Conforme destacam Carvalho e Brasileiro (2002, p. 4-5):

(...) em significativo número de casos, empresários da região se especializaram em organizar empresas com o objetivo de desenvolver projetos financiáveis pelos fundos de investimentos, convidando a participar, como coligadas, empresas titulares de opções de valores elevados. As empresas optantes concordavam em aderir, desde que o empresário organizador assumisse o compromisso de lhes devolver, quando liberados os recursos para o projeto, uma determinada parcela do valor da opção, normalmente em torno de 40% a 50%.

Assim, a empresa titular do chamado “projeto próprio”, com freqüência, não passava de uma empresa voltada meramente para a captação de opções, agindo posteriormente por sua conta e risco, sem qualquer apoio empresarial e gerencial do grupo controlador.

Em relação às duas sistemáticas de funcionamento do Fundo, um ponto a ser salientado é que as mudanças implementadas procuram de alguma forma fazer uma espécie de “síntese” do que já se havia experimentado com os modelos anteriores, ou seja, em um caso o optante e o beneficiário são figuras diferentes; e, em outro, o optante pode ser o próprio beneficiário.

Outro ponto que merece ser salientado (e que mais tarde se tornaria um problema para a SUDENE) é que, quando essa nova sistemática das debêntures entrou em funcionamento, os projetos, que haviam sido aprovados pelo antigo sistema FINOR e que se encontravam em fase de implantação, tiveram que ser enquadrados no novo modelo. Portanto, empresas que haviam aprovado seus projetos quando vigia apenas o modelo de ações teriam que se enquadrar no novo modelo de debêntures. Ou seja, futuramente teriam que desembolsar uma quantia (no caso das debêntures não conversíveis em ações) que não estavam em seus planos.

Em relação aos problemas/distorções que a nova sistemática veio a apresentar, três pontos merecem ser citados. Em primeiro lugar, a versão “debenturista” dos incentivos não resolveu questões já presentes nas suas versões anteriores, como as altas comissões cobradas pelas corretoras.

Em segundo, os repasses da Receita Federal passaram a ocorrer com atrasos cada vez maiores, retardando, por sua vez, as liberações para os empreendimentos. Isso fazia com que os projetos não ficassem prontos no tempo previsto. Em outro caso, em que as empresas dispunham de recursos próprios suficientes, os empreendimentos entravam em operação sem sequer haver recebido todas as liberações a que teriam direito.

E por fim, os empresários, à medida em que iam concluindo seus projetos e viam-se obrigados a resgatar seus títulos, não o faziam alegando que as debêntures, que acompanhavam a TJLP, haviam-se tornado verdadeiramente “impagáveis”.

Diante de tudo isso, era de se esperar que, em algum momento, o Fundo começasse a apresentar fortes déficits orçamentários e entrasse em uma grande crise. Foi o que de fato ocorreu, e é o que veremos a seguir.